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Quarta-feira, 15/10/2008
Bukowski e as boas histórias
Luiz Rebinski Junior
+ de 9700 Acessos

Desde a edição de Cartas na rua, publicada pela editora Brasiliense em 1983, Charles Bukowski tem sido um escritor prestigiado no Brasil, principalmente pelos leitores. De lá para cá, o velho safado, como é conhecido, ganhou uma tardia, mas importante, revisão de sua obra. Prolífico, Bukowski escreveu e publicou muito, fato louvável quando se leva em consideração que só foi escritor em tempo integral depois que saiu do trabalho que tinha nos correios, aos 49 anos. Antes disso, além do formato convencional dos livros, Bukowski publicou muitos trabalhos em livretos e inúmeras revistas literárias de pequeno porte.

É o caso dos contos reunidos em Ao sul de lugar nenhum ― Histórias da vida subterrânea (L&PM Editores, 2008, 224 págs.), publicados em livro pela primeira vez em 1973 com o nome de South of the north, mas que já circulavam em revistas de literatura no fim dos anos 60 e começo dos 70. Com uma prosa direta e sem floreios, as 27 narrativas da coletânea trazem a galeria de tipos que Bukowski se acostumou a chamar de seus. Bêbados, prostitutas e mendigos são os protagonistas de histórias que falam de desilusão, pobreza, sexo, desemprego e vício. Espécie de messias de um american way of life às avessas, em que a esperança só dura o tempo de um bom pileque, Bukowski fez de experiências pessoais o traço mais marcante de sua prosa. Na pele de seu alter ego Henry Chinaski, o escritor conquistou o público leitor com histórias cruas, de enredo pouco engenhoso, mas que cativam pela simplicidade e espontaneidade com que são contadas, quase sempre terminando de modo abrupto e sem o fator surpresa que caracteriza o gênero conto.

Como um bom comediante, Bukowski não poupa nada nem ninguém. A predileção pelo contraditório e o desprezo pelo consenso se tornam elementos-chave, quase que matéria-prima, para sua narrativa. Afinal, só um espírito anárquico para ousar escrever um conto colocando-se como defensor de Hitler, ainda que apenas de pilhéria.

"No City College de Los Angeles, logo antes da Segunda Guerra Mundial, eu me fazia de nazista. Mal sabia distinguir Hitler de Hércules, mas não me importava nem um pouco. O negócio é que ficar na sala de aula ouvindo todos aqueles patriotas discursando sobre como deveríamos atravessar o oceano e acabar com tudo aquilo me entediava profundamente. Decidi fazer oposição. Não me dava sequer ao trabalho de ler sobre Adolf, simplesmente vomitava qualquer coisa que me parecia maléfica ou insana", escreve o apolítico Bukowski em "Política", conto que mostra todo o seu desprezo pelas ideologias, o que lhe valeu a pecha de "alienado".

Sob o signo da liberdade de criação, Bukowski vai fundo em temas que beiram o ridículo e flertam com o cômico. Cria, assim, a seu bel-prazer, histórias sobre homens que se apaixonam por bonecas infláveis ("Amor por $17,50") e mulheres que andam com seres humanos em miniatura para saciar o desejo sexual ("Nenhum caminho para o paraíso"). Acerta a mão também em histórias de tom menos pessoal, como "Matador" e "Os assassinos", em que o sexo dá lugar ao noir.

O biografismo não era apenas um recurso em sua ficção, mas uma opção e um desejo consciente de transformar uma vida errante em boa literatura. É famosa a frase em que o escritor afirma que noventa e três por cento de sua obra eram autobiográficos, e os sete por cento restantes também eram sobre sua vida, só que "melhorados". E nos contos de Ao sul de lugar nenhum a afirmação parece bastante crível. Em "Um despachante de nariz vermelho", uma das melhores histórias do livro, Bukowski conta a trajetória de um poeta americano, bêbado e escrachado, que somente depois da maturidade teve seu trabalho literário reconhecido.

"Randall começou a escrever com 38 anos. Com 42, depois de três pequenos livros de contos ('A morte é uma cadela mais suja que o meu país', 'Minha mãe trepou com um anjo' e 'Os cavalos desenfreados da loucura'), estava começando a receber o que pode se chamar de reconhecimento da crítica. Mas não ganhava grana com seus textos".

A semelhança entre o poeta Bukowski e o personagem Randall não é mera coincidência. Assim como o fictício Randall, Bukowski só passou a se dedicar à literatura quando seu editor, John Martin, ofereceu-lhe um salário de cem dólares para que apenas produzisse literatura. Mas, como escreve Howard Sounes, um de seus biógrafos, em Charles Bukowski: Vida e loucuras de um velho safado, "ainda que possa ter sido extraordinariamente franco como escritor, um exame cuidadoso dos fatos de sua vida leva-nos a questionar se, para tornar-se mais picaresco para o leitor, ele não 'melhorou' sua história de vida muito mais do que afirmou".

Ao virar ele mesmo um personagem, que se esconde atrás do beberrão Chinaski, Bukowski escolheu bem como e de que forma seria conhecido, fazendo previamente o roteiro de sua trajetória e arquitetando os traços de sua personalidade. Apesar da espontaneidade de seu discurso, o Bukowski visto na pele de Chinaski é também parte de uma invenção ― algo como um personagem dentro de outro personagem. Diferentemente do rude Henry Chinaski, Bukowski era um homem quase culto, que apreciava música clássica e era leitor de escritores que faziam parte do primeiro time das letras americanas, como Ezra Pound, Ernest Hemingway, John dos Passos, Walt Whitman e Robinson Jeffers, este último seu poeta preferido.

E foi exatamente esse misto de erudição e escracho ― que atinge seu ápice em "Foi isso que matou Dylan Thomas" ― que fez de Bukowski um escritor singular. A mistura aparentemente antagônica entre a alta cultura e o rasteiro linguajar das ruas adquire uma forma bastante natural na prosa do escritor. Naturalidade que muitos de seus imitadores, que no Brasil se proliferaram com intensidade impressionante, não têm.

Mesmo sem ser um escritor brilhante, Bukowski fez de suas limitações intelectuais uma espécie de trunfo, dando origem a uma prosa rápida, econômica e irresistivelmente gostosa de ler. Uma ficção sem amarras, livre de conceitos e maneirismos estéticos, apenas preocupada em contar uma boa história.

Nota do Editor
Leia também "Quixotes de Bukowski".

Para ir além






Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 15/10/2008

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