O jornalismo cultural no Brasil | Luiz Rebinski Junior | Digestivo Cultural

busca | avançada
43364 visitas/dia
1,2 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Inscrições abertas para o Concurso de Roteiros e Argumentos do 11º FRAPA
>>> BuZum! encena “Perigo Invisível” em Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty (RJ)
>>> Festival de Teatro de Curitiba para Joinville
>>> TIETÊ PLAZA INAUGURA A CACAU SHOW SUPER STORE
>>> A importância da água é tema de peças e oficinas infantis gratuitas em Vinhedo (SP)
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O batom na cueca do Jair
>>> O engenho de Eleazar Carrias: entrevista
>>> As fitas cassete do falecido tio Nelson
>>> Casa de bonecas, de Ibsen
>>> Modernismo e além
>>> Pelé (1940-2022)
>>> Obra traz autores do século XIX como personagens
>>> As turbulentas memórias de Mark Lanegan
>>> Gatos mudos, dorminhocos ou bisbilhoteiros
>>> Guignard, retratos de Elias Layon
Colunistas
Últimos Posts
>>> Barracuda com Nuno Bettencourt e Taylor Hawkins
>>> Uma aula sobre MercadoLivre (2023)
>>> Lula de óculos ou Lula sem óculos?
>>> Uma história do Elo7
>>> Um convite a Xavier Zubiri
>>> Agnaldo Farias sobre Millôr Fernandes
>>> Marcelo Tripoli no TalksbyLeo
>>> Ivan Sant'Anna, o irmão de Sérgio Sant'Anna
>>> A Pathétique de Beethoven por Daniel Barenboim
>>> A história de Roberto Lee e da Avenue
Últimos Posts
>>> Nem o ontem, nem o amanhã, viva o hoje
>>> Igualdade
>>> A baleia, entre o fim e a redenção
>>> Humanidade do campo a cidade
>>> O Semáforo
>>> Esquartejar sem matar
>>> Assim criamos os nossos dois filhos
>>> Compreender para entender
>>> O que há de errado
>>> A moça do cachorro da casa ao lado
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Um Coração Simples, de Flaubert, por Milton Hatoum
>>> Portas se abrindo
>>> Escrever não é trabalho, é ofício
>>> As turbulentas memórias de Mark Lanegan
>>> Elon Musk
>>> O 4 (e os quatro) do Los Hermanos
>>> Poesia como Flânerie, Trilogia de Jovino Machado
>>> 7 destaques do cinema brasileiro em 2005
>>> Façam suas apostas
>>> Mãos de veludo: Toda terça, de Carola Saavedra
Mais Recentes
>>> Livro - Moll Flanders de Daniel Defoe pela Abril Cultural (2003)
>>> Skeptics and True Believers de Chet Raymo pela Doubleday (1998)
>>> Livro - Beleza Negra de Anna Sewell pela Dracaena (2020)
>>> Seis Estudos de Psicologia de Jean Piaget pela Forense Universitária (1987)
>>> Uma Amante Maravilhosa de Lori Foster (Autor), Vera Vasconcelos (Tradutor) pela Harlequin (2017)
>>> Livro de Bolso- Memórias de um Sargento de Milícias de Manuel Antônio de Almeida pela Ateliê Editorial (2011)
>>> Livro - Cada um por Si: Titanic de Beryl Bainbridge pela Companhia das Letras (1998)
>>> Aprenda a desenhar Cartoons para produção com Animação e Computadores de Ricardo e Rodrigo Piologo c7b6 2004 pela Axcel Books (2004)
>>> As Rimas de Camões de Emmanuel Pereira Filho pela Companhia José Aquilar (1974)
>>> Livro - Xadrez Internacional e Social-democracia de Fernando Henrique Cardoso pela Paz e Terra (2010)
>>> Deuses e Heróis de Mary Renault pela Nova Fronteira (1984)
>>> Livro - Manifesto do Partido Comunista de Friedrich Engels; Karl Marx pela Vozes (1999)
>>> Livro - Álbum de Família de Armando Silva; Sandra Martha Dolinsky pela Senac Sp (2008)
>>> Imagens de Pensamento: Sobre o Haxixe e outras Drogas de Walter Benjamin pela Autêntica (2015)
>>> Livro - Templários - História da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão de Alfredo Paschoal pela Madras (2006)
>>> Terapia de Vida Passada de Org. Livio Tulio Pincherle pela Summus (1990)
>>> Livro - A Ciência Médica de House - A verdade por trás dos diagnósticos da série de TV de Andrew Holtz pela Best Seller (2008)
>>> Livro - Leite Derramado de Chico Buarque pela Companhia das Letras (2009)
>>> Livro - O Baú do Raul - o Diário Pessoal e Escritos Inéditos de Globo pela Globo (1993)
>>> Terra Papagalli de José Roberto Torero, Marcus Aurelius Pimenta pela Alfaguara (2011)
>>> Um pressentimento funesto de Agatha Christie (Autor) pela L&pm (2011)
>>> Livro - Lembranças de Lennon de Jann S. Wenner pela Conrad (2001)
>>> Livro - Outros Céus de Ricardo Daddio pela Da Boa Prosa (2013)
>>> Mais Pesado que o Céu - Uma Biografia de Kurt Cobain de Charles R. Cross pela Globo (2004)
>>> Livro - De moto pela américa do sul: Diário de viagem de Ernesto Che Guevara pela (2003)
COLUNAS

Quarta-feira, 2/1/2008
O jornalismo cultural no Brasil
Luiz Rebinski Junior
+ de 12400 Acessos
+ 3 Comentário(s)

A revolução tecnológica que se intensificou a partir dos anos 1990, com a conseqüente popularização da internet e a introdução de novas mídias ao consumidor, modificou de forma radical a configuração e veiculação da notícia, tendo forte impacto na maneira de se fazer e consumir jornalismo. Esse foi o principal ponto de convergência entre os profissionais que ministraram o curso de Jornalismo Cultural promovido pela Revista Cult durante os dias 24 e 25 de novembro. Nomes como Marcos Augusto Gonçalves (editor do caderno "Ilustrada" da Folha de São Paulo), Sergio Rizzo (crítico de cinema), Ivan Marques (editor do programa Entrelinhas da TV Cultura), Sergio Martins (crítico musical de Veja) e Marcos Flamínio Peres (editor do caderno "Mais!") discutiram o jornalismo cultural no Brasil e suas transformações nos últimos 50 anos.

Com o fortalecimento da
Web 2.0, que deu ao leitor/internauta status de "colaborador", e com a febre dos blogs, os meios de comunicação tradicionais, principalmente impressos, vêm perdendo força ano a ano ― seja em termos de tiragem ou em relação a sua influência na sociedade como formador de opinião. Ou seja, os jornalistas de certa forma perderam a exclusividade da notícia, já que hoje qualquer cidadão pode disseminar informações, sem que para isso tenha formação acadêmica ou esteja ligado a uma empresa de comunicação.

O jornalismo cultural, por sua vez, além da adaptação ao novo contexto tecnológico, desde a metade dos anos 1980 vem se modificando ao migrar de um modelo pedagógico para um jornalismo utilitário, onde o que importa não é mais ensinar, mas suprir as necessidades de consumo e as preocupações de ordem individual de seus leitores.

Os cadernos culturais, com suas exíguas páginas, que precisam ser distribuídas entre os diversos segmentos da cultura ― da literatura à dança ―, não conseguem mais dar cabo à cobertura da cultura nacional. Essa limitação física do papel relegou à internet grande importância, já que na web o espaço é ilimitado, o que possibilita, pelo menos em tese, maior aprofundamento dos temas. O caráter híbrido da internet também oferece muito mais possibilidades ao leitor, que pode interagir com outros formatos. Tudo isso vem alterando de forma significativa a maneira como os leitores se relacionam com a informação e, conseqüentemente, dando nova configuração à notícia.

Influência da Academia
Historicamente ligado à academia, o jornalismo cultural brasileiro durante muitas décadas foi feito exclusivamente de (e para) doutores, que utilizavam as páginas dos jornais para falar de suas teses a respeito de determinado autor ou livro. Para isso dispunham de espaço quase que ilimitado, totalmente fora dos padrões do jornalismo atual, onde o número de caracteres (toques) de cada texto é rigorosamente calculado e perde cada vez mais espaço para a publicidade. A linguagem acadêmica dos textos, por vezes hermética, era também um fator que afastava o leitor "comum" dos suplementos de cultura, tornando o espaço um nicho exclusivo de letrados. Símbolo de ruptura desse modelo, o caderno "Mais!", lançado em 1992 pela Folha de São Paulo, rompeu com o formato acadêmico dos suplementos, que desde os anos 1950 ― época em que surgia a "Ilustrada" ―, eram feitos exclusivamente por gente da academia. Produto direto da transformação gráfica e editorial empreendida pelo "Projeto Editorial da Folha" (1985-86), o "Mais!" substituiu o "Folhetim", caderno dominical que circulou até 1989 e que mantinha características dos primeiros suplementos: poucas fotos, predominância do preto-e-branco, projeto gráfico sofrível e textos longuíssimos, que não raras vezes preenchiam todo o espaço físico do jornal, de ponta a ponta.

O "Mais!" apostou em um jornalismo leve, que além de literatura contemplasse outros temas como sociologia, antropologia, história e artes plásticas. Tudo isso em textos enxutos ― quando comparados aos cadernos anteriores ― que dessem cabo à diversidade de opiniões. Os acadêmicos passaram então a dividir espaço com escritores, repórteres e críticos desvinculados das universidades, tendo que adaptar seus textos a um novo padrão, bem menos denso e mais acessível do ponto de vista da linguagem.

O conceito de cultura a partir daí também ganhou contornos bem mais amplos na imprensa brasileira. A chamada alta cultura, que outrora reinava absoluta, foi gradativamente perdendo espaço para assuntos antes considerados pouco relevantes. A linha divisória entre a cultura erudita e a cultura de massa praticamente deixou de existir. Temas do cotidiano ganharam força, ampliando o leque de assuntos dos cadernos e suplementos. Hoje praticamente tudo é tema de cultura. Qualquer assunto pode ganhar interpretações sociológicas ou antropológicas e ser esmiuçado em uma grande reportagem. Essa flexibilização dos temas teve impacto direto na forma com que o conteúdo passou a ser levado ao leitor.

As transformações ocorridas nas grandes cidades também influenciaram. O ritmo veloz dos grandes centros praticamente eliminou a ociosidade, escasseando o tempo vago. Com isso, os textos jornalísticos, não só da área de cultura, hoje precisam ser concisos, de leitura fácil e rápida, tudo em nome do "tempo do leitor", que nunca foi tão minguado. O jornalismo cultural não fugiu à regra, teve que se adaptar também. Mas dessa mudança surgiram novos desafios. Se por um lado o jornalismo de cultura passou a ser mais acessível ao leitor, com diagramação atraente e texto leve, por outro a cultura passou a ser tratada quase que exclusivamente como "produto". Os assuntos são escolhidos cada vez mais de acordo com critérios de mercado. Os cadernos hoje estão muito mais preocupados em indicar para o consumo do que em discutir ou polemizar sobre assuntos pontuais. É claro que as publicações segmentadas, como revistas e jornais especializados, que melhoraram muito ao longo dos anos 1990, em termos de quantidade e qualidade, diferenciam-se da fugacidade dos cadernos diários dos jornais justamente por ter um espaço maior para discussões aprofundadas e por estarem falando para um público menos heterogêneo.

Se antes o problema era o excesso de erudição, que limitava o acesso dos não-especialistas, agora é a falta de profundidade dos assuntos que incomoda. O que parece claro é que, com o impacto da internet, o jornalismo cultural, especialmente em jornais, ainda procura um formato que dê conta das exigências do leitor do século XXI. A única certeza que se tem é que o papel não pode e não deve competir com a internet. Achar um novo modelo, que contemple interatividade e seja ao mesmo tempo inteligente e profundo, parece ser o grande desafio do jornalismo cultural hoje.


Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 2/1/2008

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Por que HQ não é literatura? de Cassionei Niches Petry
02. Em noite de lua azul de Elisa Andrade Buzzo
03. Todas as Tardes, Escondido, Eu a Contemplo de Duanne Ribeiro
04. O fim do futebol-arte? de Humberto Pereira da Silva
05. A letargia crítica na feira do vale-tudo da arte de Jardel Dias Cavalcanti


Mais Luiz Rebinski Junior
Mais Acessadas de Luiz Rebinski Junior em 2008
01. O jornalismo cultural no Brasil - 2/1/2008
02. Bukowski e as boas histórias - 15/10/2008
03. Despindo o Sargento Pimenta - 16/7/2008
04. Dobradinha pernambucana - 23/1/2008
05. O óbvio ululante da crônica esportiva - 27/8/2008


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
3/1/2008
20h34min
Eu tenho um blog, leio diariamente textos de internet e pretendo ser jornalista cultural. Graças à pouca idade que tenho só comecei a ler textos culturais há pouco tempo (3 anos, sei lá...). Não acho o jornalismo cultural de jornais (Estado de S. Paulo) superficial, mas o de revistas semanais (Veja) costuma ser beeem pobrezinho, principalmente se tratando de cinema (Transformers seria cinema?).
[Leia outros Comentários de Cris A.]
12/1/2008
04h34min
Vou tentar ser "conciso", "rápido" e "fácil": 1. Quem é esse leitor "comum" que parece ser compreendido como o oposto desse outro ser misterioso, o "letrado"? O sujeito que lê o caderno de cultura afinal de contas não é mais letrado? Então para quê ele lê o caderno de cultura? 2. Um texto "menos denso" é o quê? Menos idéias por centímetro quadrado de papel? A falta de densidade não parece uma perda do tal precioso e escasso tempo desses curiosos leitores "comuns"? 3. E o tal novo texto além de ter que ser "conciso", precisa também ser "menos denso". Um texto "conciso" e "menos denso" é o equivalente para mim a uma sopa bem aguada servida numa taça de café. Esse jornalismo cultural "mais acessível", "de leitura fácil e rápida", não passa de um engodo de gente que se acha inteligente e culta, mas não tem tempo para ler nem o caderno de cultura do domingo, quanto mais um livro inteiro quanto mais uma mísera dúzia de livros por ano.
[Leia outros Comentários de Paulo Moreira]
18/1/2008
19h13min
Luiz, Desculpa ficar enchendo o saco, mas achei que isso seria interessante em vista da nossa conversa. legenda traz uma nota rápida sobre o cara que edita 2 cadernos importantes do NYT - o Review of Books e o Week in Review [uma espécie de retomada analítica das notícias principais da semana]. Note que o cara é conservador [portanto, não tenho a menor simpatia por ele em termos políticos], mas acho que estávamos conversando sobre algo que vai além da posicao política.
[Leia outros Comentários de Paulo Moreira]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Sexo, Amor e Violência
Cloe Madanes Mlivrej
Psy
(1997)



Pensão Riso da Noite
José Condé
Record
(1987)



Delta 500 Anos
Jim Taylor 1
Campus
(1999)



Saga Judaica na Ilha do Deserto
Jacques Schweidson
José Olympio
(1989)



Esboços de Samuel Nystrom
Samuel Nelson
Cpad
(2007)



X-men Anual - Nº 2
Marvel Comics
Abril Jovem
(1995)



O Estatuto do Trabalhador Rural ao Alcance de Todos
Gilberto Catro de Oliveira
Sor
(1968)



Quem Não Trai?
Anna Sharp
Rocco
(2005)



O Motorista e o Milionário
Joachim de Posada, Ellen Singer
Sextante
(2007)



A Arte de Lutar Karatê
Aldo Peres Siqueira
Sr3





busca | avançada
43364 visitas/dia
1,2 milhão/mês