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Sexta-feira, 7/10/2016
A selfie e a obsolescência do humano
Marta Barcellos
+ de 8500 Acessos

Uma multidão de jovens espreme-se diante da celebridade que sorri e acena – Hillary Clinton, a candidata à presidência dos Estados Unidos pelo partido Democrata. Diante dela? Não. Mais ou menos. Espera: a foto não faz sentido. Os jovens estão enfileirados de costas para Hillary! Uma pegadinha/montagem da internet?

Não: uma pegadinha para o meu cérebro. Em frações de segundo e de espanto, a imagem passa a fazer sentido. Meus olhos e neurônios, desenvolvidos numa sociedade pré-tecnológica, primeiro captam as dezenas de braços estendidos, depois identificam os celulares que seguram e finalmente percebem que se trata de uma selfie coletiva. Mais tarde, saberei (lendo na BBC) que a própria candidata propôs a brincadeira – o que me traz algum alívio. Pelo menos a cena, que meu cérebro “primitivo” demorou a decifrar, ainda não é tão espontânea assim.

Espontânea? Pois é disso que quero tratar aqui. Talvez esteja na hora de pararmos de ser ingênuos em relação à espontaneidade em nossa era de aceleração tecnológica. Já não existe a “natureza humana”, como romanticamente gostamos de acreditar. O professor Laymert Garcia dos Santos, sociólogo da tecnologia, costuma dizer que há uma nova natureza humana na sociedade tecnologizada. Um processo que começou a se acelerar na década de 1970. Ele diz que todas as transformações tecnológicas do século XX poderiam ser comprimidas em 16 anos, concentrados na parte final. Sabe quantos anos de aceleração tecnológica caberão no século XXI? Vinte e cinco mil anos.

É meio confuso, mas a conclusão é que, comparativamente ao que seremos daqui a duas gerações, eu, você e os que estão nascendo agora somos uma espécie de povo primitivo. Laymert usa também a metáfora do trem bala, para mostrar como a estratégia de aceleração total impõe um ritmo difícil de acompanhar. Quem não entrar no trem bala corre o risco de ser excluído, um “loser” ou “diferente” que acabará sendo descartado. Um refugiado na Europa, um pobre no Brasil, alguém que não importa porque está fora do jogo.

Agora, imagine o impacto de uma aceleração que tende a nos transformar em neoprimitivos dentro de nossa própria cultura. É imenso, esse impacto. No entanto, ficamos aqui nos agarrando à ideia de que todo tipo de comportamento novo, como o de fazer uma selfie coletiva, reflete uma característica “humana”, pré-existente, potencializada pela tecnologia. Observo isso desde o início da internet. Ah, as pessoas não ficaram exibidas e vaidosas por causa das redes sociais e das câmeras no celular (porque afinal sempre foram assim), não ficaram violentas e radicais por causa do anonimato (porque sempre foram assim), não se tornaram voyeurs e stalkers obsessivos e deprimidos (porque sempre foram assim).

Nesse ritmo do trem bala, talvez acreditemos que somos o que sempre fomos por absoluta falta de tempo para refletir. Por falta de pausa. Ou, ainda, porque a ideia de uma “obsolescência do humano” é insuportável – principalmente por nos parecer um problema individual; e não social, global, como de fato é.

A tecnologia está nos transformando, e precisamos admitir isso. A nossa experiência cotidiana, nosso modo de pensar e de existir, tudo está mudando. A atualização do IOS 9.3.4, que fiz hoje cedo, já começou a ter um impacto sobre mim, bem como os novos algoritmos do Facebook me induziram a atitudes que talvez jamais tomasse. Sim, eu não abri mão de estar no trem bala. Ainda. Mas olho em volta e vejo... amigos desempregados, amigos deprimidos, amigos que acreditam ser culpa sua este difuso sentimento de obsolescência. E são amigos jovens, diga-se de passagem.

Para não terminar este texto deprimindo ainda mais as pessoas, ressalto que acredito em lugares de resistência – como as artes, a literatura, os espaços de afeto, místicos e comunitários. Afinal, as mudanças tecnológicas não fazem parte de um grande complô alienígena para nos substituírem por robôs. Por trás delas, estão apenas (?) corporações do setor investindo para ter mais lucros, perenidade, monopólios; enfim, está o nosso conhecido sistema capitalista.

Vamos tirar divertidas selfies coletivas? Claro! Mas que exista sempre um fotógrafo para flagrar a situação desconexa, viralizar a imagem por aí, e desafiar nossos cérebros neoprimitivos a pensar no assunto.



Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 7/10/2016

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