De pé no chão (1978): sambando com Beth Carvalho | Renato Alessandro dos Santos | Digestivo Cultural

busca | avançada
119 mil/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> São Paulo recebe show da turnê nacional ‘Metallica Symphonic Tribute’
>>> DR-Discutindo a Relação, fica em cartaz até o dia 28 no Teatro Vanucci, na Gávea
>>> Ginga Tropical ganha sede no Rio de Janeiro
>>> Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania abre processo seletivo
>>> Cultura Circular: fundo do British Council investe em festivais sustentáveis e colaboração cultural
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
Últimos Posts
>>> Salve Jorge
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Prática de conversação on-line
>>> Fatal: o livro e o filme
>>> Que tal fingir-se de céu?
>>> Publique eletronicamente ou pereça: Ken Auletta na New Yorker
>>> Cabeça de Francis
>>> Jornalistossaurus x Monkey Bloggers
>>> A alma boa de Setsuan e a bondade
>>> A alma boa de Setsuan e a bondade
>>> A alma boa de Setsuan e a bondade
>>> Primavera dos Livros do Rio 2005
Mais Recentes
>>> A Extraordinaria Viagem Do Faquir Que Ficou Preso Em Um Armario Ikea de Romain Puertolas pela Record (2014)
>>> 2083 de Vicente Munoz Puelles pela Biruta (2012)
>>> Albertina Desaparecida de Marcel Proust pela Nova Fronteira (1989)
>>> Os Prazeres E Os Dias E O Indiferente de Marcel Proust pela Nova Fronteira (1983)
>>> Réquiem Para Cézanne de Bertrand Puard pela Bertrand (2009)
>>> Krabat de Otfried Preussler pela Wmf Martins Fontes (2013)
>>> Krabat de Otfried Preussler pela Wmf Martins Fontes (2013)
>>> O Demônio No Freezer de Richard Preston pela Rocco (2003)
>>> Albertina Desaparecida de Marcel Proust pela Nova Fronteira (1989)
>>> Em Busca Do Tempo Perdido - A Fugitiva de Marcel Proust pela Ediouro (1995)
>>> Em Busca Do Tempo Perdido - Sodoma E Gomorra de Marcel Proust pela Globo (1983)
>>> O Segredo De Brokeback Mountain de Annie Proulx pela Intrínseca (2006)
>>> Albertina Desaparecida de Marcel Proust pela Nova Fronteira (1989)
>>> O Tempo Redescoberto - Em Busca Do Tempo Perdido de Marcel Proust pela Globo (1958)
>>> O Mágico de Oz de L. Frank Baum - Ligia Cademartori Tradução pela Ftd (2021)
>>> Teologia da História 606 de Hans Urs Von Balthasar pela Fonte Editorial (2003)
>>> Eu Sou Malala 606 de Malala Yousafzai pela Companhia das Letras (2014)
>>> A Menina Que Não Sabia Ler 1 de John Harding pela Leya (2020)
>>> Arte educação Leitura No Subsolo 606 de Ana Mae Barbosa pela Cortez (1997)
>>> Como Conquistar As Pessoas 606 de Allan & Barbara Pease pela Sextante (2006)
>>> Férias No Castelo Assombrado 606 de Elisabeth Loibl pela Melhoramentos (2012)
>>> Lições de Casa 606 de Cíntia Barbone Oliveira pela Giostri (2019)
>>> A História do Brinquedo - para as Crianças Conhecerem e os Adultos se Lembrarem de Cristina Von pela Alegro (2001)
>>> A Garota quase perfeita 606 de Regina Drummond pela Melhoramentos (2008)
>>> Português Descomplicado 606 de Carlos Pimentel pela Saraiva (2004)
COLUNAS

Terça-feira, 21/5/2019
De pé no chão (1978): sambando com Beth Carvalho
Renato Alessandro dos Santos
+ de 5200 Acessos



Um disco que cai bem em qualquer churrasco onde o samba seja bem-vindo é este. Um ano depois de um grande álbum (Nos botequins da vida), Beth Carvalho retornava com este elepê, De pé no chão, de 1978, cercada mais uma vez de grandes compositores e músicos, além de si mesma, cantora de voz segura, amaciada por performances mil em que comandou o terreiro. Assim, contando com uma constelação de compositores e de músicos, que vai de Cartola e de Paulo da Portela a Martinho da Vila, passando por Candeia, Monarco, Nelson Sargento, Beto Sem Braço e gente nova àquela ocasião, como Jorge Aragão e Nei Lopes, além dos músicos, Dino, Copinha, Wilson das Neves, Luna, Genaro e outros, muitos outros, a sambista e os bambas, juntos, fizeram um disco pra cima na melodia, embora perpassado daquela peleja, aquela dor repleta de tristeza ou de nostalgia que, de certa maneira, acha sempre pouso no samba. Mas a alegria não fica para trás; pelo contrário, é ela ali que vai passando, o corpo, uma euforia, a despeito da elegia da alma.

Lado A

O lado A é um arrebatamento. “Vou festejar”, hit de Jorge Aragão, Dida e Neoci, chega em grande estilo, chorando na letra, mas sorrindo no ritmo e na harmonia. É um daqueles grandes momentos do samba em que não há como não reconhecer o valor que a música brasileira tem, apesar de tanta gente ainda não saber disso. “Visual”, de Neném e Pintado, continua o festim, mas cerrando o punho para criticar a apoteose visual que preteriu o sambista, o compositor, aquele que dá vida ao show. Imagine se fosse hoje, com o espetáculo global em que o carnaval se transformou. “Ô Isaura”, de Rubens da Mangueira, é outro ponto luminoso do disco, samba de terreiro em que cabe também uma sanfoninha tímida, ladeando os tambores. África sempre bem-vinda.

“Marcando bobeira”, de João Quadrado, Beto Sem Braço e Dão, tem um surdo que vai batendo o coração, marcando o ritmo com tamborins uníssonos, ao lado daquele cavaquinho sempre matreiro. É deixar a churrasqueira aquecida porque a cerveja continua de estalar a língua. “Meu caminho”, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, traz aquela pontinha de tristeza tão presente na obra daquele, dos maiores compositores de nossa música, e vai, em paradoxo, feliz e triste, a nostalgia acompanhando tudo.

“Goiabada-cascão”, de Wilson Moreira e Nei Lopes, a última canção do lado A, faz do partido-alto jeito para homenagear grandes mestres, lembrando de Sérgio Cabral, pai, é bom que se diga; assim, Beth, cantando, vai homenageando os mestres, enquanto o samba vai passando: Antenor Gargalhada, Geraldo Pereira, Silas de Oliveira, Zinco, Oswaldo Lima, Nelson Cavaquinho, Dona Ivone Lara, Mestre Fuleiro, Xangô da Mangueira, Aniceto, Monarco, Alvarenga, Martinho da Vila, Cartola, Noel Rosa...

Lado B

“Você, eu e a orgia”, de Candeia e Martinho da Vila, inicia o lado B, com a maré levando a gente para lá e para cá, enquanto na letra o triângulo amoroso do título segue elogiado e defendido pela cantora e pelos dois autores da canção, que só podem concordar com a permanência dessa santíssima trindade notívaga. “Lenço”, de Monarco e Francisco Santana, é um dos maiores sucessos da carreira de Beth Carvalho. “Pega esse lenço e não chora\ Enxuga o pranto\ Diga adeus e vá embora”: quem não se lembra desses versos? Cantados pelo coro, que tem em seu auxílio uma bateria de tamborins, são um festim. “Passarinho”, de Chatim, fala de voar por aí, sem direção, para um dia construir um ninho, mas sem prisão, por enquanto. Primeiro, a orgia, claro; depois, bem mais tarde, a dentadura dentro do copo, ao lado da cama.

“Linda borboleta”, de Monarco e Paulo da Portela, também vai pelos ares, com aquele céu azul, de sol dourado tingindo as flores e a vida. Uma cantiga de amor trovadoresca. “Que sejam bem-vindos”, de Cartola, muda um pouco a direção do leme; agora, aquele universo de acordes mágicos de violão povoa a cena, amparada pela ambientação de fim-de-noite de uma boate decadente. Só assim para mitigar a dor alheia, daqueles que vivem na berlinda, à luz desses desarranjos da vida.

Termina com “Agoniza mas não morre”, de Nelson Sargento, com o pessoal da cozinha, do Bloco Cacique de Ramos, a se entender muito bem com as cordas dos violões e do cavaquinho, enquanto o samba vai exaltado e cantado, como na melhor poesia, a despeito dos novos rumos que, a partir da década de 1930, chegaram para eternizá-lo: “Samba\ Agoniza mas não morre\ Alguém sempre te socorre\ Antes do suspiro derradeiro\\ Samba\ Negro, forte, destemido\ Foi duramente perseguido\ Na esquina, no botequim, no terreiro\\ Samba\ Inocente, pé-no-chão\ A fidalguia do salão\ Te abraçou, te envolveu\ Mudaram toda a sua estrutura\ Te impuseram outra cultura\ E você nem percebeu...”.

Do maxixe, ao choro; do samba ao pagode é tudo samba, certo? Muita gente não gosta, mas é assim que as coisas são. No fundo, fica sempre a possibilidade do salto, do passo adiante, e termina De pé no chão, este belo LP de Beth Carvalho, um dos melhores de sua discografia.

LADO A

Vou festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci)
Visual (Neném e Pintado)
Ô Isaura (Rubens da Mangueira)
Marcando bobeira (João Quadrado, Beto Sem Braço e Dão)
Meu caminho (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito)
Goiabada-cascão (Wilson Moreira e Nei Lopes)

LADO B

Você, eu e a orgia (Candeia e Martinho da Vila)
Lenço (Monarco e Francisco Santana)
Passarinho (Chatim)
Linda borboleta (Monarco e Paulo da Portela)
Que sejam bem-vindos (Cartola)
Agoniza mas não morre (Nelson Sargento)



Renato Alessandro dos Santos, 47, é autor de Todos os livros do mundo estão esperando quem os leia e de O espaço que sobra, seu primeiro livro de poesia (ambos publicados pela Engenho e arte).


Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 21/5/2019

Quem leu este, também leu esse(s):
01. O futuro do ritual do cinema de Marta Barcellos
02. Michael Jackson: a lenda viva de Jardel Dias Cavalcanti
03. Crônicas do ordinário de Ana Elisa Ribeiro


Mais Renato Alessandro dos Santos
Mais Acessadas de Renato Alessandro dos Santos em 2019
01. A forca de cascavel — Angústia (Fuvest) - 24/9/2019
02. Meu Telefunken - 16/7/2019
03. Eu não entendo nada de alta gastronomia - Parte 1 - 20/8/2019
04. Cidadão Samba: Sílvio Pereira da Silva - 19/2/2019
05. De pé no chão (1978): sambando com Beth Carvalho - 21/5/2019


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Panorama das Idéias Estéticas no Ocidente
Fernando Bastos
Unb
(1986)



Livro Auto Ajuda A Vida Tende a Dar Certo (nós é Que Atrapalhamos)
Anna Sharp
Rocco
(1996)



Milagres já - 108 Ferramentas para Tornar Sua Vida Melhor
Gabrielle Bernstein
Paralela
(2014)



Estado , empresariado e desenvolvimento no Brasil
Organizadores wagner pralon mancuso - maria antonieta parahyba leopoldi - wagner iglecias
Cultura
(2008)



Iracema
José de Alencar
Livraria José Olympio
(1965)



Os invasores de corpos
Jack Finney
Nova Cultural
(1987)



Pippi a Bordo
Astrid Lindgren
Companhia das Letras
(2017)



História da América Latina
Halperin Donghi
Círculo do livro



Remember Acapulco
Guadalupe Loaeza
Mapas
(2012)



Livro Critica Literária Poesia e Estilo de Cecília Meireles Coleção Documentos Brasileiros Volume 149
Leodegário A. de Azevedo Filho
José Olympio
(1970)





busca | avançada
119 mil/dia
2,0 milhão/mês