De pé no chão (1978): sambando com Beth Carvalho | Renato Alessandro dos Santos | Digestivo Cultural

busca | avançada
42280 visitas/dia
1,3 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Filó Machado apresenta 60 anos de música em concerto inédito com a Brasil Jazz Sinfônica
>>> Especialista em investimentos com mais de 750 mil seguidores nas redes sociais lança livro
>>> Artista mineira cria videogame e desenho animado premiado internacionalmente
>>> Dia Nacional de combate ao Bullying é lembrado com palestra gratuita dia 02/04
>>> Estúdio Dentro estreia na SP-Arte com três lançamentos
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O batom na cueca do Jair
>>> O engenho de Eleazar Carrias: entrevista
>>> As fitas cassete do falecido tio Nelson
>>> Casa de bonecas, de Ibsen
>>> Modernismo e além
>>> Pelé (1940-2022)
>>> Obra traz autores do século XIX como personagens
>>> As turbulentas memórias de Mark Lanegan
>>> Gatos mudos, dorminhocos ou bisbilhoteiros
>>> Guignard, retratos de Elias Layon
Colunistas
Últimos Posts
>>> Barracuda com Nuno Bettencourt e Taylor Hawkins
>>> Uma aula sobre MercadoLivre (2023)
>>> Lula de óculos ou Lula sem óculos?
>>> Uma história do Elo7
>>> Um convite a Xavier Zubiri
>>> Agnaldo Farias sobre Millôr Fernandes
>>> Marcelo Tripoli no TalksbyLeo
>>> Ivan Sant'Anna, o irmão de Sérgio Sant'Anna
>>> A Pathétique de Beethoven por Daniel Barenboim
>>> A história de Roberto Lee e da Avenue
Últimos Posts
>>> Nem o ontem, nem o amanhã, viva o hoje
>>> Igualdade
>>> A baleia, entre o fim e a redenção
>>> Humanidade do campo a cidade
>>> O Semáforo
>>> Esquartejar sem matar
>>> Assim criamos os nossos dois filhos
>>> Compreender para entender
>>> O que há de errado
>>> A moça do cachorro da casa ao lado
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Estamos nos desarticulando
>>> Clássicos para a Juventude
>>> É Julio mesmo, sem acento
>>> Poesia para jovens
>>> Rodolfo Felipe Neder (1935-2022)
>>> O cinema brasileiro em 2002
>>> Cuba e O Direito de Amar (1)
>>> Elogio Discreto: Lorena Calábria e Roland Barthes
>>> Daily Rituals - How Artists Work, by Mason Currey
>>> House M.D.
Mais Recentes
>>> Histoire Générale Du IV Siécle a nos Jours - Tome II de Ernest Lavisse e Alfred Rambaud pela Armand Colin & Cie (1893)
>>> Lor Du Pôle de Danielle Darthez pela Hachette (1910)
>>> Les Villes Dart Célébres - Madrid de Paul Guinard pela Renouard H Laurens (1935)
>>> De Individualidades Preservadas á Incredualidade do Meu Zíper de Wanderlino Teixeira Leite Netto pela Graphos Industrial (1980)
>>> Vocabulário Ortográfico Brasileiro da Língua Portuguêsa de Manuel da Cunha Pereira - Org pela Livro Vermelho dos Telefones (1954)
>>> História Secreta da Guerra- Vol 10 de Século pela Século
>>> Força para Viver de Jamie Buckingham pela Betania (1983)
>>> Manhattan Sensual- Vol 1 de Katia Zero pela Makron (2000)
>>> Dicionário da Junta Comercial de José da Silva Ribeiro pela Contasa
>>> Town Planning Review - Vol. 45 Nº 1 January 1974 de Josephine P Reynolds - Editor pela Department of Civiv Design (1974)
>>> Crescendo na Quadra de Lino de Albergaria pela Lpm (1986)
>>> Crustáceos -estudos Práticos de Walter Narchi pela Polígono (1973)
>>> Bonecas Acorrentadas de Alistair Mac Lean pela Record (1969)
>>> Frei Orlando o Capelão Que Não Voltou de Tenente Gentil Palhares pela Biblioteca do Exercito (1982)
>>> Como Dar um Sentido á Vida Interior de Robert Powell pela Pensamento (1980)
>>> à Luz da Realidade Brasileira de Friedman pela Sem. Turma Pedro Ll
>>> The Cats Elbow de Alvim Schwartz pela Sunburst (1982)
>>> O Segredo de Chimneys de Agatha Christie pela Record
>>> Obras Completas-- o Sol dos Mortos de Agrippino Grieco pela José Olympio (1957)
>>> O Erotismo de Francesco Alberoni pela Racco (1987)
>>> As Mulheres Não Querem Amor...- Autografado de Benedicto Mergulhão pela Irmãos Pongetti (1943)
>>> Aquisições, Fusões & Incorporações Empresariais de U W Rasmussen pela Aduaneiras (1989)
>>> Primeiro Aventura no Mundo da Música de Maria Guiomar pela Verbo
>>> Graça Nº. 39 de Cleber Nadalutti pela Sociedades Biblica (2002)
>>> O Mensageiro de Sto Antonio- Nº 3 de Antonio Molisani pela Prol (2003)
COLUNAS

Terça-feira, 21/5/2019
De pé no chão (1978): sambando com Beth Carvalho
Renato Alessandro dos Santos
+ de 4100 Acessos



Um disco que cai bem em qualquer churrasco onde o samba seja bem-vindo é este. Um ano depois de um grande álbum (Nos botequins da vida), Beth Carvalho retornava com este elepê, De pé no chão, de 1978, cercada mais uma vez de grandes compositores e músicos, além de si mesma, cantora de voz segura, amaciada por performances mil em que comandou o terreiro. Assim, contando com uma constelação de compositores e de músicos, que vai de Cartola e de Paulo da Portela a Martinho da Vila, passando por Candeia, Monarco, Nelson Sargento, Beto Sem Braço e gente nova àquela ocasião, como Jorge Aragão e Nei Lopes, além dos músicos, Dino, Copinha, Wilson das Neves, Luna, Genaro e outros, muitos outros, a sambista e os bambas, juntos, fizeram um disco pra cima na melodia, embora perpassado daquela peleja, aquela dor repleta de tristeza ou de nostalgia que, de certa maneira, acha sempre pouso no samba. Mas a alegria não fica para trás; pelo contrário, é ela ali que vai passando, o corpo, uma euforia, a despeito da elegia da alma.

Lado A

O lado A é um arrebatamento. “Vou festejar”, hit de Jorge Aragão, Dida e Neoci, chega em grande estilo, chorando na letra, mas sorrindo no ritmo e na harmonia. É um daqueles grandes momentos do samba em que não há como não reconhecer o valor que a música brasileira tem, apesar de tanta gente ainda não saber disso. “Visual”, de Neném e Pintado, continua o festim, mas cerrando o punho para criticar a apoteose visual que preteriu o sambista, o compositor, aquele que dá vida ao show. Imagine se fosse hoje, com o espetáculo global em que o carnaval se transformou. “Ô Isaura”, de Rubens da Mangueira, é outro ponto luminoso do disco, samba de terreiro em que cabe também uma sanfoninha tímida, ladeando os tambores. África sempre bem-vinda.

“Marcando bobeira”, de João Quadrado, Beto Sem Braço e Dão, tem um surdo que vai batendo o coração, marcando o ritmo com tamborins uníssonos, ao lado daquele cavaquinho sempre matreiro. É deixar a churrasqueira aquecida porque a cerveja continua de estalar a língua. “Meu caminho”, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, traz aquela pontinha de tristeza tão presente na obra daquele, dos maiores compositores de nossa música, e vai, em paradoxo, feliz e triste, a nostalgia acompanhando tudo.

“Goiabada-cascão”, de Wilson Moreira e Nei Lopes, a última canção do lado A, faz do partido-alto jeito para homenagear grandes mestres, lembrando de Sérgio Cabral, pai, é bom que se diga; assim, Beth, cantando, vai homenageando os mestres, enquanto o samba vai passando: Antenor Gargalhada, Geraldo Pereira, Silas de Oliveira, Zinco, Oswaldo Lima, Nelson Cavaquinho, Dona Ivone Lara, Mestre Fuleiro, Xangô da Mangueira, Aniceto, Monarco, Alvarenga, Martinho da Vila, Cartola, Noel Rosa...

Lado B

“Você, eu e a orgia”, de Candeia e Martinho da Vila, inicia o lado B, com a maré levando a gente para lá e para cá, enquanto na letra o triângulo amoroso do título segue elogiado e defendido pela cantora e pelos dois autores da canção, que só podem concordar com a permanência dessa santíssima trindade notívaga. “Lenço”, de Monarco e Francisco Santana, é um dos maiores sucessos da carreira de Beth Carvalho. “Pega esse lenço e não chora\ Enxuga o pranto\ Diga adeus e vá embora”: quem não se lembra desses versos? Cantados pelo coro, que tem em seu auxílio uma bateria de tamborins, são um festim. “Passarinho”, de Chatim, fala de voar por aí, sem direção, para um dia construir um ninho, mas sem prisão, por enquanto. Primeiro, a orgia, claro; depois, bem mais tarde, a dentadura dentro do copo, ao lado da cama.

“Linda borboleta”, de Monarco e Paulo da Portela, também vai pelos ares, com aquele céu azul, de sol dourado tingindo as flores e a vida. Uma cantiga de amor trovadoresca. “Que sejam bem-vindos”, de Cartola, muda um pouco a direção do leme; agora, aquele universo de acordes mágicos de violão povoa a cena, amparada pela ambientação de fim-de-noite de uma boate decadente. Só assim para mitigar a dor alheia, daqueles que vivem na berlinda, à luz desses desarranjos da vida.

Termina com “Agoniza mas não morre”, de Nelson Sargento, com o pessoal da cozinha, do Bloco Cacique de Ramos, a se entender muito bem com as cordas dos violões e do cavaquinho, enquanto o samba vai exaltado e cantado, como na melhor poesia, a despeito dos novos rumos que, a partir da década de 1930, chegaram para eternizá-lo: “Samba\ Agoniza mas não morre\ Alguém sempre te socorre\ Antes do suspiro derradeiro\\ Samba\ Negro, forte, destemido\ Foi duramente perseguido\ Na esquina, no botequim, no terreiro\\ Samba\ Inocente, pé-no-chão\ A fidalguia do salão\ Te abraçou, te envolveu\ Mudaram toda a sua estrutura\ Te impuseram outra cultura\ E você nem percebeu...”.

Do maxixe, ao choro; do samba ao pagode é tudo samba, certo? Muita gente não gosta, mas é assim que as coisas são. No fundo, fica sempre a possibilidade do salto, do passo adiante, e termina De pé no chão, este belo LP de Beth Carvalho, um dos melhores de sua discografia.

LADO A

Vou festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci)
Visual (Neném e Pintado)
Ô Isaura (Rubens da Mangueira)
Marcando bobeira (João Quadrado, Beto Sem Braço e Dão)
Meu caminho (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito)
Goiabada-cascão (Wilson Moreira e Nei Lopes)

LADO B

Você, eu e a orgia (Candeia e Martinho da Vila)
Lenço (Monarco e Francisco Santana)
Passarinho (Chatim)
Linda borboleta (Monarco e Paulo da Portela)
Que sejam bem-vindos (Cartola)
Agoniza mas não morre (Nelson Sargento)



Renato Alessandro dos Santos, 47, é autor de Todos os livros do mundo estão esperando quem os leia e de O espaço que sobra, seu primeiro livro de poesia (ambos publicados pela Engenho e arte).


Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 21/5/2019

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Promoarte 2001 de Adriana Baggio


Mais Renato Alessandro dos Santos
Mais Acessadas de Renato Alessandro dos Santos em 2019
01. A forca de cascavel — Angústia (Fuvest) - 24/9/2019
02. Meu Telefunken - 16/7/2019
03. Eu não entendo nada de alta gastronomia - Parte 1 - 20/8/2019
04. Cidadão Samba: Sílvio Pereira da Silva - 19/2/2019
05. K 466 - 26/3/2019


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Ludwig Wittgenstein Philosophische Grammatik
Ludwig Wittgenstein
Suhrkamp
(1973)



A Noite das Mulheres Cantoras
Lídia Jorge
Leya
(2012)



Livro - A Casa do Silêncio
Orhan Pamuk; Eduardo Brandão
Companhia das Letras
(2013)



Historia de los Pampistas
Lazaro Schallman
Zlotopioro
(1971)



Minhas Atividades de Xadrez
Juliana Kyoko Kamada; Renata Trevelin
Câmara Brasileira de Livro
(2008)



O Vírus Final (deu no Jornal)
Pedro Bandeira
Ftd
(2002)



Manual de Orientações
Conselho Regional de Psicologia
Conselho de Psicologia Sp
(2006)



Livro - A Graça da Coisa
Martha Medeiros
L&pm Editores
(2013)



São Bernardo
Graciliano Ramos
Martins
(1973)



Vida a Dois, Vida Solitaria:como Curar Sua Solidão Oculta
Dr. Dan Kiley
Rocco
(1991)





busca | avançada
42280 visitas/dia
1,3 milhão/mês