De pé no chão (1978): sambando com Beth Carvalho | Renato Alessandro dos Santos | Digestivo Cultural

busca | avançada
42527 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> ZÉLIO. Imagens e figuras imaginadas
>>> Galeria Provisória de Anderson Thives, chega ao Via Parque, na Barra da Tijuca
>>> Farol Santander convida o público a uma jornada sensorial pela natureza na mostra Floresta Utópica
>>> Projeto social busca apoio para manter acesso gratuito ao cinema nacional em regiões rurais de Minas
>>> Reinvenção após os 50 anos: nova obra de Ana Paula Couto explora maturidade feminina
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Google Fontes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Ler, investir, gestar
>>> Caixa Dois, sem eufemismos
>>> Fé e razão
>>> all type
>>> Um cara legal
>>> Histórias de agosto
>>> O mal no pensamento moderno
>>> Yarny e My Writing Spot
Mais Recentes
>>> Brincando Com Móbiles de Thereza Chemello pela Global (1999)
>>> O Informante - Cinemateca Veja de Abril Coleções pela Abril (2008)
>>> Doncovim? - a História de uma Semente de Gente de Andre J. Gomes pela Volta e Meia (2015)
>>> Do Tamanho Certinho de Claudio Cuellar pela Paulinas (2005)
>>> O Temor Do Sábio de Patrick Rothfuss pela Arqueiro (2011)
>>> Brincando Com Colagens, Recortes e Dobraduras de Rosangela Paiva do Nascimento pela Global (1985)
>>> Bis (autografado) de Ricardo da Cunha Lima; Luiz Maia pela Cia das Letrinhas (2010)
>>> Lewis the Duck - Goes to Mexico de Bill Duncan; Christian Ducan pela Hilton (2010)
>>> Rex, o Cachorro Que Tinha Medo de Trovoada de Jorge Calife, Vinicius Vogel pela Record (2004)
>>> Os Legados De Lorien: Livro 4 - A Queda Dos Cinco de Pittacus Lore pela Intrínseca (2013)
>>> Brincar Com Arte - Argila de Patricia Vibien pela Ibep Nacional (2005)
>>> O Menino do Caracol de Fernando Pessoa pela Global (2022)
>>> Maquiavel Essencial - 200 Pensamentos Escolhidos de Wagner Barreira pela No Bolso (2017)
>>> O Natal do Avarento (acompanha Suplemento de Leitura) de Charles Dickens; Telma Guimarães pela Scipione (2004)
>>> Eu Escolhi Viver de Yannahe Marques; Rose Rech pela Citadel (2021)
>>> O Cardeal e a Sra White de Eduardo Paraguassu pela Dpl (2005)
>>> Os Grandes Exploradores - Vol. 01 de Laurosse pela Larousse (2009)
>>> O Soluço do Sol de Valeria Valenza; Pina Irace pela Melhoramentos (2018)
>>> A Descoberta da América - Disney de Disney pela Abril (2011)
>>> Terapia das Perturbações Espirituais de Romário Menezes pela Dpl (2015)
>>> Danubio Azul Valsa de Johann Strauss de Esther Abbog pela Casa Sotero
>>> Conchas e Búzios de Manuel Rui pela Ftd (2013)
>>> A Expansão da Consciência e as Vibrações Psíquicas da Alma de J. Humberto E. Sobral pela Dpl (2002)
>>> Corpo Feliz - Melhore Sua Postura sem Extresse de Penny Ingham; Colin Shelbourn pela Publifolha (2003)
>>> Alice No Pais Do Quantum de Robert Gilmore pela Zahar (1998)
COLUNAS

Terça-feira, 21/5/2019
De pé no chão (1978): sambando com Beth Carvalho
Renato Alessandro dos Santos
+ de 6900 Acessos



Um disco que cai bem em qualquer churrasco onde o samba seja bem-vindo é este. Um ano depois de um grande álbum (Nos botequins da vida), Beth Carvalho retornava com este elepê, De pé no chão, de 1978, cercada mais uma vez de grandes compositores e músicos, além de si mesma, cantora de voz segura, amaciada por performances mil em que comandou o terreiro. Assim, contando com uma constelação de compositores e de músicos, que vai de Cartola e de Paulo da Portela a Martinho da Vila, passando por Candeia, Monarco, Nelson Sargento, Beto Sem Braço e gente nova àquela ocasião, como Jorge Aragão e Nei Lopes, além dos músicos, Dino, Copinha, Wilson das Neves, Luna, Genaro e outros, muitos outros, a sambista e os bambas, juntos, fizeram um disco pra cima na melodia, embora perpassado daquela peleja, aquela dor repleta de tristeza ou de nostalgia que, de certa maneira, acha sempre pouso no samba. Mas a alegria não fica para trás; pelo contrário, é ela ali que vai passando, o corpo, uma euforia, a despeito da elegia da alma.

Lado A

O lado A é um arrebatamento. “Vou festejar”, hit de Jorge Aragão, Dida e Neoci, chega em grande estilo, chorando na letra, mas sorrindo no ritmo e na harmonia. É um daqueles grandes momentos do samba em que não há como não reconhecer o valor que a música brasileira tem, apesar de tanta gente ainda não saber disso. “Visual”, de Neném e Pintado, continua o festim, mas cerrando o punho para criticar a apoteose visual que preteriu o sambista, o compositor, aquele que dá vida ao show. Imagine se fosse hoje, com o espetáculo global em que o carnaval se transformou. “Ô Isaura”, de Rubens da Mangueira, é outro ponto luminoso do disco, samba de terreiro em que cabe também uma sanfoninha tímida, ladeando os tambores. África sempre bem-vinda.

“Marcando bobeira”, de João Quadrado, Beto Sem Braço e Dão, tem um surdo que vai batendo o coração, marcando o ritmo com tamborins uníssonos, ao lado daquele cavaquinho sempre matreiro. É deixar a churrasqueira aquecida porque a cerveja continua de estalar a língua. “Meu caminho”, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, traz aquela pontinha de tristeza tão presente na obra daquele, dos maiores compositores de nossa música, e vai, em paradoxo, feliz e triste, a nostalgia acompanhando tudo.

“Goiabada-cascão”, de Wilson Moreira e Nei Lopes, a última canção do lado A, faz do partido-alto jeito para homenagear grandes mestres, lembrando de Sérgio Cabral, pai, é bom que se diga; assim, Beth, cantando, vai homenageando os mestres, enquanto o samba vai passando: Antenor Gargalhada, Geraldo Pereira, Silas de Oliveira, Zinco, Oswaldo Lima, Nelson Cavaquinho, Dona Ivone Lara, Mestre Fuleiro, Xangô da Mangueira, Aniceto, Monarco, Alvarenga, Martinho da Vila, Cartola, Noel Rosa...

Lado B

“Você, eu e a orgia”, de Candeia e Martinho da Vila, inicia o lado B, com a maré levando a gente para lá e para cá, enquanto na letra o triângulo amoroso do título segue elogiado e defendido pela cantora e pelos dois autores da canção, que só podem concordar com a permanência dessa santíssima trindade notívaga. “Lenço”, de Monarco e Francisco Santana, é um dos maiores sucessos da carreira de Beth Carvalho. “Pega esse lenço e não chora\ Enxuga o pranto\ Diga adeus e vá embora”: quem não se lembra desses versos? Cantados pelo coro, que tem em seu auxílio uma bateria de tamborins, são um festim. “Passarinho”, de Chatim, fala de voar por aí, sem direção, para um dia construir um ninho, mas sem prisão, por enquanto. Primeiro, a orgia, claro; depois, bem mais tarde, a dentadura dentro do copo, ao lado da cama.

“Linda borboleta”, de Monarco e Paulo da Portela, também vai pelos ares, com aquele céu azul, de sol dourado tingindo as flores e a vida. Uma cantiga de amor trovadoresca. “Que sejam bem-vindos”, de Cartola, muda um pouco a direção do leme; agora, aquele universo de acordes mágicos de violão povoa a cena, amparada pela ambientação de fim-de-noite de uma boate decadente. Só assim para mitigar a dor alheia, daqueles que vivem na berlinda, à luz desses desarranjos da vida.

Termina com “Agoniza mas não morre”, de Nelson Sargento, com o pessoal da cozinha, do Bloco Cacique de Ramos, a se entender muito bem com as cordas dos violões e do cavaquinho, enquanto o samba vai exaltado e cantado, como na melhor poesia, a despeito dos novos rumos que, a partir da década de 1930, chegaram para eternizá-lo: “Samba\ Agoniza mas não morre\ Alguém sempre te socorre\ Antes do suspiro derradeiro\\ Samba\ Negro, forte, destemido\ Foi duramente perseguido\ Na esquina, no botequim, no terreiro\\ Samba\ Inocente, pé-no-chão\ A fidalguia do salão\ Te abraçou, te envolveu\ Mudaram toda a sua estrutura\ Te impuseram outra cultura\ E você nem percebeu...”.

Do maxixe, ao choro; do samba ao pagode é tudo samba, certo? Muita gente não gosta, mas é assim que as coisas são. No fundo, fica sempre a possibilidade do salto, do passo adiante, e termina De pé no chão, este belo LP de Beth Carvalho, um dos melhores de sua discografia.

LADO A

Vou festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci)
Visual (Neném e Pintado)
Ô Isaura (Rubens da Mangueira)
Marcando bobeira (João Quadrado, Beto Sem Braço e Dão)
Meu caminho (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito)
Goiabada-cascão (Wilson Moreira e Nei Lopes)

LADO B

Você, eu e a orgia (Candeia e Martinho da Vila)
Lenço (Monarco e Francisco Santana)
Passarinho (Chatim)
Linda borboleta (Monarco e Paulo da Portela)
Que sejam bem-vindos (Cartola)
Agoniza mas não morre (Nelson Sargento)



Renato Alessandro dos Santos, 47, é autor de Todos os livros do mundo estão esperando quem os leia e de O espaço que sobra, seu primeiro livro de poesia (ambos publicados pela Engenho e arte).


Renato Alessandro dos Santos
Batatais, 21/5/2019

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Lá onde brotam grandes autores da literatura de Renato Alessandro dos Santos
02. A poesia de Carol Sanches de Jardel Dias Cavalcanti
03. Os Doze Trabalhos de Mónika. Epílogo. Ambaíba de Heloisa Pait
04. A entranha aberta da literatura de Márcia Barbieri de Jardel Dias Cavalcanti
05. Sobre os Finais de Franco Fanti


Mais Renato Alessandro dos Santos
Mais Acessadas de Renato Alessandro dos Santos em 2019
01. A forca de cascavel — Angústia (Fuvest) - 24/9/2019
02. Meu Telefunken - 16/7/2019
03. Eu não entendo nada de alta gastronomia - Parte 1 - 20/8/2019
04. De pé no chão (1978): sambando com Beth Carvalho - 21/5/2019
05. Cidadão Samba: Sílvio Pereira da Silva - 19/2/2019


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




O Poder Disciplinar do Empregador
Arion Sayão Romita
Freitas Bastos
(1983)



Envelhecimento - Estudos e Perspectivas (lacrado)
Manuel José Lopes
Martinari
(2014)



A Armada do papa
Gordon Urquhart
Record
(2002)



As Armas da Persuasão
Robert B. Cialdini
Sextante
(2012)



Conjuntura Atual em OSPB 1º e 2º Graus
Gleuso Damasceno Duarte
Ed Lê
(1978)



The Moment Of Lift: How Empowering Women Changes The World
Melinda Gates
Flatiron Books
(2019)



História do Ministério Público de Minas Gerais Vol. 1 Joaquim Cabral
Joaquim Cabral Netto
Speed



Were in Business
Susan Norman
Longman
(1983)



Filhos Longe da Pátria - o Desafio de Criar Filhos Em Outras Culturas
Márcia Tostes
Vale da Benção
(2011)



Voo Fantasma
Bear Grylls
Record
(2016)





busca | avançada
42527 visitas/dia
1,7 milhão/mês