A poesia de Carol Sanches | Jardel Dias Cavalcanti | Digestivo Cultural

busca | avançada
65269 visitas/dia
2,0 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Núcleo de Artes Cênicas (NAC) divulga temporada de estreia do espetáculo Ilhas Tropicais
>>> Sesc Belenzinho encerra a mostra Verso Livre com Bruna Lucchesi no show Berros e Poesia
>>> Estônia: programa de visto de startup facilita expansão de negócios na Europa
>>> Água de Vintém no Sesc 24 de Maio
>>> Wanderléa canta choros no Sesc 24 de Maio
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
>>> The Nothingness Club e a mente noir de um poeta
Colunistas
Últimos Posts
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
>>> O robô da Figure e da OpenAI
>>> Felipe Miranda e Luiz Parreiras (2024)
>>> Caminhos para a sabedoria
Últimos Posts
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
>>> Ser ou parecer
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Notas de Protesto
>>> Um imenso Big Brother
>>> O enigma de Lindonéia
>>> Breve reflexão cultural sobre gaúchos e lagostas
>>> Orson Welles
>>> Crônica do Judiciário: O Processo do Sapo
>>> O produto humano
>>> O Conselheiro também come (e bebe)
>>> Do Manhattan Connection ao Saia Justa
>>> O Presépio e o Artesanato Figureiro de Taubaté
Mais Recentes
>>> Livro SASTUN - Meu Aprendizado com um curandeiro Maia de Rosita Arvigo com Nadine Esptein pela Nova Era (1995)
>>> Livro Ele e Ela - Ditado pelo Espírito Maria Nunes de João Nunes Maia pela Fonte Viva (1999)
>>> A Arte De Morrer de Antônio Vieira; Alcir Pécora pela Nova Alexandria (1994)
>>> Superando o racismo na escola de Kabengele Munanga pela Mec (2008)
>>> A Vida Pré-Histórica: O Homem Fóssil - Coleção Prisma de Josué C. Mendes / Michael H. Day pela Melhoramentos (1993)
>>> Jack definitivo de Jack Welch / John A. Byrne pela Campus (2001)
>>> Você não está sozinho de Vera Pedrosa Caovilla/ Paulo Renato Canineu pela Abraz (2002)
>>> Livro Direito Empresarial e Tributário 220 de Pedro Anan Jr. e José Carlos Marion pela Alínea (2009)
>>> Paradiplomacia no Brasil e no mundo de José Vicente da Silva Lessa pela Ufv (2007)
>>> O mundo em que eu vivo de Zibia M. Gasparetto pela Espaço vida e consciência (1982)
>>> Orar é a solução de Joseph Murphy pela Record (1970)
>>> La ciencia sagrada de Swani Sri Yukteswar pela Self realization fellowship (1920)
>>> Livro Legislação Educacional de Marcia Siécola pela Iesde (2016)
>>> Perante a eternidade de Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho pela Petit (1994)
>>> 71 segundos - O jogo de uma vida de Luiz Zini Pires pela Lpm (2007)
>>> Nossas riquezas maiores de J. Raul Teixeira pela Fráter (1997)
>>> A barca do destino de Amilcar Del Chiaro Filho pela Minas (2000)
>>> Luís Antônio- Gabriela de Nelson Baskerville pela Nversos (2013)
>>> Vozes do Brasil: Luiz Gonzaga de Vozes do Brasil pela Martin Claret (1990)
>>> Woody Allen de Eric Lax pela Companhia das letras (1991)
>>> Aprendendo a conviver com adolescentes de Francisco Baptista Neto/ Luiz Carlos Osorio pela Insular (2002)
>>> Lumes- uma antologia de haikais de Pedro Xisto pela Barlendis & Vertecchia (2008)
>>> Terapêutica do perdão de Aloísio Silva pela Sgee (2016)
>>> Livro Uma Igreja Centenária de Anderson Sathler pela Idéia (2003)
>>> Livro Manual De Orientação: Estágio Supervisionado de Ana Cecilia de Moraes BianchiMarina AlvarengaRoberto Bianchi pela Thomsom Learning (2002)
COLUNAS

Terça-feira, 12/5/2020
A poesia de Carol Sanches
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 3000 Acessos



A poeta Carol Sanches lançou em 2019 o livro de poesias Não me espere para jantar, publicado pela editora Patuá. O livro é composto de 50 poemas, divididos em 5 séries, denominadas, na seguinte ordem, “o ipê lá de casa”, “um ovário a menos”, yo soy el arma de fuego”, “do tempo do lambari” e “dois minutos".

O nome de um livro de poesia pode servir de chave interpretativa para o conjunto dos poemas que ele possuiu. Creio que o livro de Carol Sanches se encaixe nessa categoria. Não que a leitura individual de cada poema deva estar sujeita a uma interpretação unicamente através dessa chave. Cada poema é um universo particular, sendo escrito ao sabor de alguma indagação pessoal, tensão momentânea ou referências culturais específicas do poeta. Embora - não podemos deixar de pensar assim - nessa chave interpretativa que é o título, esteja também a possibilidade de demarcar um aspecto saliente no livro, que não deixa de chamar a atenção.

O título do livro reproduz a famosa frase “não me espere para jantar”, que é dita quando alguém tem outra coisa para fazer fora do universo doméstico. Ou seja, quando a vida vai se desenrolar, nem que seja por alguns instantes, fora de casa. No caso dos poemas de Carol Sanches, nota-se uma espécie de interesse pelo universo da cidade, seja em sua relação com a paisagem urbana, da natureza, ou de aspectos corriqueiros da vida cotidiana. A cidade é peremptoriamente sua casa. No poema de abertura do livro, denominado I (todos os 50 poemas são nomeados por números romanos), já se pode ver a demarcação desses espaços dos “outros quarteirões” praticamente assimilados como se fossem a própria casa da poeta.

o ipê lá de casa

acordou rosa

assim acordaram todos os outros ipês

de todos os outros quarteirões

lá de casa



O foco da atenção - embora à primeira vista seja o ipê, que é um elemento externo à casa -, são os quarteirões, morada da poeta, lugar onde tem sua captura dos elementos do mundo, pois ali, parece, é sua morada ideal e local de confronto com as possibilidades da vida. Nessa primeira série de poemas é mais marcante como “a natureza urbana das árvores” define a relação da poeta com o mundo externo. Seja na sua apreciação ou mesmo dando voz às árvores, prisioneiras do espaço da cidade, tal qual a própria poeta: “talvez um dia/ a mais rebelde delas/ se junte a mim/ num impulso feroz/ (...) somos tão parecidas/ abro o vidro e estico involuntariamente o pescoço/ por favor/ preciso respirar/ mais alto”.

Para além das árvores, outros animais e eventos da natureza (morcego, vento, minhocas, peixes, planetas, são elementos onde a poeta enfrenta seu Eu numa projeção de possibilidades de existência ou revolta, de afetos ou desafetos ou algum problema relativo à existência doméstica, o que é mais desenvolvido na série “um ovário a menos”. Nesse contexto o “hoje eu volto para casa” fermenta uma tensão maior do que nas situações onde a vida se desenrola fora de casa.

Na série “yo soy el arma de fuego”, inscreve-se a poética da escritora, na definição e afirmação clássica do (des)lugar da arte e de sua utopia (desde Platão, quando o poeta é expulso da República), dita diretamente na afirmação do poema XXII: “a arte pertence ao campo/ das inutilidades/ (...)/ reivindiquemos, pois/ o direito ao campo das inutilidades (...) só o que é inútil/ não faz partido com guerras movimentos de ódio intersecção/ de ideais/ só o que é inútil é capaz de mudar/ o mundo”. A essa perspectiva (leminskiana) da arte como objeto inutilitário, soma-se o conclame utópico do “não existe poesia neutra/ tímida/ poesia de meta/ o que há é o fundo sem/ perspectiva de chão”.

Há também espaço para a existência amorosa nessa mesma série e na seguinte “no tempo do lambari”, nos poemas XXX e XL. No mais belo e lírico poema do livro, o de número XXX, a presença do amado transtorna e transborda o desejo da poeta, que se vê como uma bomba, pronta para ser desarmada. Vale reproduzi-lo aqui para deleite do leitor:

“só de te ver assim
passando por mim
minhas partes se recolhem
apertando os lábios
guardando-me em carne
segredos úmidos
num perplexo estado de gerúndio

só de te ver assim
passando por mim
comprimo o desejo como quem
(prende o ar e)
estufa por dentro
embolando infinitos nós por todo o meu
corpo inteiro
ativando a bomba num tic tac de-que-aguarda-ser
desarmada

só de te ver assim, passando por
mim
me entra até enxame de abelhas africanas
enquanto vou pedindo rogando implorando
que me enxague as picadas
numa marola demorada que vai do atlântico
ao pacífico sul

daí me perco
nas voltas de mim e da terra
vou-me dando em manobras
durante a pele
aguardando em meus poros côncavos
os carinhos de mim
vou hasta el fin da fronteira da areia
com o mar das minhas correntezas
translúcidas
só de te ver assim
passando por mim”.

Na série final, denominada “dois minutos”, o espaço para o niilismo diante da existência que se faz passado se exprime no poema XLV, quando o bater da meia noite deixa entrar o maior vazio na imagem dos “degraus com suas passadas de ar”: "o passado estala no piso/ envergado pelo tempo/ as paredes escondem/ camadas de perfumaria antiga/ os ponteiros do relógio se debatem/ confusos, sem saber se ficam/ ou continuam/ a atmosfera escura/ cheira a vazio/ mas nada disso se compara aos/ degraus/ com suas passadas de ar/ à meia noite”.

Os poemas exalam vida, seja nas reflexões sobre a velhice, os amores passados, o tempo que tudo corrói, a incerteza do presente, a maternidade, o esquecimento, a desilusão, todos elementos intrincados nesse emaranhado de pensamentos e emoções filtradas pela linguagem, por vezes entrecortada, por vezes numa dicção coloquial, onde o obscuro e a clareza da existência existem como luz e sombra, se debatendo para gerar a fagulha da poesia, “como princípio do fogo/ minutos antes do incêndio” da vida.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 12/5/2020

Mais Jardel Dias Cavalcanti
Mais Acessadas de Jardel Dias Cavalcanti em 2020
01. A pintura do caos, de Kate Manhães - 8/9/2020
02. Um nu “escandaloso” de Eduardo Sívori - 21/7/2020
03. Entrevista com o tradutor Oleg Andréev Almeida - 7/4/2020
04. Casa, poemas de Mário Alex Rosa - 8/12/2020
05. Entrevista com Gerald Thomas - 7/1/2020


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Fantasma
Jason Reynolds
Intrinseca
(2017)



Planejamento Familiar
Gilda de Castro Rodrigues
Ática
(1990)



Conheça a Bíblia
Ivo Storniolo
Paulinas
(1986)



Maré de Sangue
Melvin Burgess
Rocco
(2009)



Astronauta Do Além
Vários Autores
Grupo Espírita Emmanuel
(1973)



O Deus escorpião
William Golding
Nova Fronteira
(1971)



Livro Didático Matemática Compreensão e Prática 6 Caderno de Atividades
Enio Silveira e Cláudio Marques
Moderna
(2019)



Coleção 10 livros Finanças Pessoais Femininas As Leis Invisíveis do Dinheiro + Por que Homens Amam as Mulheres Poderosas + Mulheres Boazinhas não Enriquecem
Sherry Argov; Marie Forleo; Fay Weldon
Sextante; Gente
(2016)



Comércio Exterior Brasileiro
José Lopes Vazquez
Atlas
(2001)



Livro Capa Dura Musica Século XX Uma Cronologia Musical
Olavo Vio
Método
(2008)





busca | avançada
65269 visitas/dia
2,0 milhão/mês