Despindo o Sargento Pimenta | Luiz Rebinski Junior | Digestivo Cultural

busca | avançada
47679 visitas/dia
2,5 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Aluna da Alma vence festival nacional de violoncelistas
>>> Curta gravado na Chapada dos Veadeiros estreia no Teatro A Barca Coração
>>> Evento: escritora Flavia Camargo lança livro 'Enquanto Vocês Crescem' no dia 4 de maio
>>> Helena Black em Meu Avô Samantha leva diversão às Bibliotecas Municipais discutindo etarismo e preco
>>> Cristina Guimarães canta Luiz Melodia em seu primeiro álbum, Presente & Cotidiano
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
Colunistas
Últimos Posts
>>> El País homenageia Vargas Llosa
>>> William Waack sobre Vargas Llosa
>>> O Agent Development Kit (ADK) do Google
>>> 'Não poderia ser mais estúpido' (Galloway, Scott)
>>> Scott Galloway sobre as tarifas (2025)
>>> All-In sobre as tarifas
>>> Paul Krugman on tariffs (2025)
>>> Piano Day (2025)
>>> Martin Escobari no Market Makers (2025)
>>> Val (2021)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Pólvora e Poesia
>>> Sionismo e resistência palestina
>>> Era uma vez
>>> Como os jornais vão se salvar
>>> Legião fala a língua dos outros
>>> Raul Gil e sua usina de cantores
>>> Em defesa da Crítica
>>> Italo Calvino: descobridor do fantástico no real
>>> Prenda-me se for capaz
>>> Manual prático do ódio
Mais Recentes
>>> Harry Potter E O Cálice De Fogo de J. K. Rowling pela Rocco (2001)
>>> Oaska - O Misterioso Cha Da Amazonia de Wania Milanez pela Sama (2003)
>>> Minidicionario Espanhol Portugues Portugues Espanhol de Eugenia Flavian pela Atica (1998)
>>> O Uso Da Cor No Seu Dia A Dia de Pauline Wills pela Pensamento (1997)
>>> Os Prazeres e os Dias - Grandes Sucessos da Literatura Internacional de Marcel Proust - Fernando Py Tradução pela Riográfica (1986)
>>> Lendas de Itapetininga e região de Maria Nunes da Costa Menk; Luciane Camargo pela Regional (2014)
>>> Preconceito Linguístico de Marcos Bagno pela Loyola (1999)
>>> O Gosto Solitário do Orvalho de Matsuo Bachô pela Assirio & Alvim (1985)
>>> Graúna Ataca outra Vez de Henfil pela Geração (1984)
>>> Mowgli - Edicao Bolso De Luxo - Os Livros Da Selva de Rudyard Kipling pela Classicos Zahar (2025)
>>> Os Vagabundos Iluminados de Jack Kerouac pela L&pm (2011)
>>> Poemas Humanos (clasicos Universales / Universal Classics) (spanish Edition) de César Vallejo pela Mestas Ediciones, S.l. (2001)
>>> Olga Savary : Erotismo E Paixão.-- ( Estudos Literários ; 30 ) de Marleine Paula - Toledo, Ferreira Marcondes pela Ateliê (2009)
>>> Por Que Amo Barthes de Alain Robbe-Grillet pela Ufrj (1995)
>>> A Movement Of Movements: Is Another World Really Possible? de Tom Mertes, Walden F. Bello (contributor), Bernard Cassen, Jose Bove pela Verso (2004)
>>> Alberto Pasqualini: Trajetória Política E Pensamento Trabalhista de Roberto Bitencourt Da Silva pela Eduff (2025)
>>> The Threat Matrix: The Fbi At War In The Age Of Global Terror de Garrett M. Graff pela Little, Brown And Company (2011)
>>> O Brasil E As Operações De Paz Em Um Mundo Globalizado: Entre A Tradição E A Inovação de Kai Michael Kenkel, Rodrigo Fracalossi De Moraes, Antonio De Aguiar Patriota pela Ipea (2012)
>>> Countdown To Reform: The Great Social Security Debate de Senior Fellow Henry J Aaron Cox, President Robert D Reischauer pela Century Foundation Press (1998)
>>> Nehru - Escritos de Nehru pela Litoral
>>> Livro Cenas Da Nova Ordem Mundial Sergio A A Coutinho 2010 de Unknown pela Fisicalbook (2010)
>>> Relac§oƒes Internacionais Da America Latina: Velhos E Novos Paradigmas de Amado Luiz Cervo pela Fundac§aƒo Alexandre De Gusmaƒo (2001)
>>> Segurança Pública - Cinco dedos no gatilho de Joe Tadashi Montenegro Satow pela Nuria Fabris (2011)
>>> La Percepcion De Brasil En El Contexto Internacional: Perspectivas Y Desafios, Tomo 2 de Wilhelm Hofmeister, Francisco Rojas, Luis Guillermo Solis pela Flasco (2007)
>>> Adn: Mapa Genetico De Los Defectos Argentinos (spanish Edition) de Jorge Lanata pela Planeta (2004)
COLUNAS

Quarta-feira, 16/7/2008
Despindo o Sargento Pimenta
Luiz Rebinski Junior
+ de 8400 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Investir em informações que durante muitas décadas soaram apenas como mera especulação é a característica mais cativante de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band ― um ano na vida dos Beatles e seus amigos (Conrad, 2007, 256 págs.), livro escrito pelo jornalista Clinton Heylin que investiga em detalhes a feitura do álbum mítico dos Beatles, lançado em 1967.

Entre as investidas de Heylin, talvez a que mais chame a atenção é a afirmação de que Pepper é uma criação quase que exclusiva de Paul McCartney, relegando, dessa forma, a John Lennon, por vezes exaltado como o gênio do grupo, um papel secundário. Apesar de não ser propriamente nova a informação (que sempre soou como especulação), Heylin apara as arestas e mostra os fatos de forma convincente por meio de uma investigação minuciosa. Em um trabalho de garimpo, vai buscar em arquivos declarações que validem suas insinuações. Utiliza, por exemplo, uma entrevista de Lennon, em 1980, para provar que foi Paul quem construiu aquele que seria apontado por muitos como o disco mais revolucionário da música pop de todos os tempos.

"Fiquei um pouco ressentido depois por causa desse álbum. Eu tinha uma vida mais suburbana na época, com mulher e filho, enquanto [Paul] ainda agitava na cidade, solteiro e saindo bastante. Ele preparava algo para uma música ou um álbum e me ligava dizendo: 'É hora de ir para o estúdio. Escreva algumas canções'. Ele já tinha tudo preparado, com idéias e arranjos prontos, enquanto eu começava do zero. Em Sgt. Pepper, que também foi idéia dele, consegui fazer [...] 'A day in the life', sob pressão e em apenas dez dias. Mesmo assim, eu participava mais no começo. Depois, eu meio que sucumbi ao casamento e à comida".

As palavras de Lennon revelam não só a distância dos membros do grupo no processo de elaboração do disco, mas também deixam transparecer que Pepper foi o começo do fim da banda, outra suspeita que sempre suscitou muitas dúvidas entre os fãs do grupo.

Muito além de mero comentário faixa-a-faixa, Heylin recria o contexto cultural e musical que forjou o ambiente ideal ao aparecimento de Pepper. Tal efervescência ficaria conhecida como psicodelia. Para contar a história de Pepper, Heylin narra a saga de bandas como Pink Floyd e Beach Boys, grupos que à época estavam tão inclinados ao som viajandão que começava a pipocar no underground inglês quanto os Beatles. O Floyd, liderado ainda por Syd Barrett, gravava seu primeiro disco, The piper at the gates of a dawn, no mesmo estúdio que os Beatles, o que facilitava a troca de informações entre os integrantes das bandas. Heylin disseca também o embate velado que Brian Wilson, o líder e cabeça dos Beach Boys, travava com os Beatles, tentando a todo custo produzir uma obra que rivalizasse com o ainda inédito, mas já muito comentado, álbum "psicodélico" dos Beatles. Wilson, infelizmente, sucumbiria à missão de fazer um disco à altura de Pepper, pois não conseguiu terminar Smile, o disco que ficou conhecido como um dos grandes fiascos do rock.

Elemento central na psicodelia inglesa dos anos 1960, o LSD surgiu como a grande fonte de inspiração para os jovens da época que se arriscavam a fazer música. E claro que os Beatles também sentiram a influência da nova droga que surgiu e rapidamente foi glamorizada por gente importante como o escritor Aldous Huxley. O mais irônico da história é que Pepper, à época (e ainda hoje) eleito como símbolo máximo da psicodelia nascente, foi concebido pelo mais careta dos Beatles. Paul McCartney era o certinho da banda, enquanto Lennon "estava muito fora na época [...] porque tomava uma quantidade enorme de ácido". Isso coloca em xeque muitos significados que as letras do disco adquiriram por conta do ambiente altamente tóxico em que foi concebido. "Lucy in the sky with diamonds", composta por Lennon, não tem nada a ver com LSD (o título da canção seria uma referência à sigla pelo qual o ácido é conhecido) e seus efeitos. É mais uma das histórias mal contadas que ganhou ao longo dos anos contornos verossímeis. O que para muitos é uma ode à viagem lisérgica, na verdade é fruto de um ingênuo exercício escolar. A música foi feita a partir de um desenho de Julian, filho de John, em que a criança imaginava Lucy, uma coleguinha de escola, em um "céu com diamantes".

Com a mesma incisão, Heylin desconstrói outra verdade absoluta que se conta sobre Pepper e que freqüentemente é citada como um dos grandes méritos do álbum: sua unidade conceitual. É incontestável que a idéia de subtrair os intervalos entre as faixas foi o "pulo do gato" do disco. Mas a idéia de um álbum fechado em um conceito artístico, tal como uma ópera-rock, só existiu na cabeça dos mais exaltados. Isso fica claro nas palavras de George Martin, o quinto elemento, que também tem sua participação contestada por Heylin, ao falar sobre a disposição das faixas. "Percebi que tínhamos um conjunto muito curioso de canções, na verdade pouco relacionadas umas às outras, músicas díspares. Observando o todo, eu comecei de fato a me preocupar se não estávamos sendo um pouco pretensiosos, um tanto metidos a espertos".

O que não significa que Heylin conteste o valor artístico do álbum ― apesar de ser bastante crítico com relação aos pequenos (mas duradouros) desencontros difundidos ao longo das décadas acerca da realização de Pepper. Além disso, Heylin enumera ao longo de sua grande reportagem, as barreiras conceituais e mercadológicas que o disco derrubou antes mesmo de ser iniciado, como a decisão dos Beatles de não sair mais em turnês, nem lançar compactos (discos com apenas duas canções que tinham como único objetivo disputar posições nas paradas de sucesso), rompendo com um dos pilares da indústria fonográfica da época. Heylin enumera os prós e contras do disco de forma bastante lúcida, o que, felizmente, não faz de seu livro um panfleto de louvação a uma obra em que o elogio vem sempre acompanhado de um ar de déjà vu.

A tão propagada influência que Bob Dylan exerceu sobre o grupo, sendo crucial no momento em que os Beatles rompem com o tipo de música que vinham fazendo antes de Revolver, é esmiuçada a ponto de deixar os fãs do FabFour ruborizados. O respeito messiânico que os Beatles tinham por Dylan fica claro quando McCartney mostra ao ídolo em primeira mão o acetato de "Tomorow never knows" (música de Revolver) e tem como resposta um irônico "ah, já sei, vocês não querem mais ser bonitinhos". Apesar de todo o sarcasmo, Dylan mais uma vez estava certo. A partir de Revolver, os Beatles elevariam o nível de suas canções e partiriam para uma empreitada audaciosa. E com certeza, Dylan seria peça fundamental nessa ruptura. A forma com que o artista rompeu com o público folk em Newport, alguns meses antes, ao eletrificar seu som, certamente teve grande influência nas decisões que os Beatles tomaram antes de gravar Pepper. Harrison, um dos mais afetados pela poesia de Dylan e que décadas depois tocaria com o ídolo no Traveling Wilburys, chegou a declarar em 1966 que "tudo o que fizemos até agora foi lixo, do modo como vejo hoje. Outras pessoas podem gostar do que fizemos, mas nós não nos enganamos".

E foi esse pensamento de mudança estética que permeou as gravações de Pepper, que contou também com inovações técnicas até então inéditas na música pop. E muito da magia do disco se deve às soluções de estúdio, que hoje soam corriqueiras, encontradas pelos Beatles para idéias inicialmente abstratas. Foi realmente surpreendente como a banda concebeu sons que naquela época eram impossíveis de se ouvir em uma canção pop gravada no limitado sistema de quatro canais. Mas ainda assim, apartado das experimentações técnicas, o disco se sustenta por si só. Ainda hoje, músicas como "A day in the life" e "With a little help from my friends" guardam um frescor impressionante, enquanto outras, como "Getting Better" e "Lovely Rita", entrariam em qualquer parada de sucesso pop dos últimos 40 anos.

Deixando de lado o alegre misticismo que cerca Pepper, o jornalista Heylin fez um livro crítico e de apuração exemplar, que revela ao leitor o exato valor de uma obra que sintetizou uma época. Tudo isso sem um pingo de tietagem.

Para ir além






Luiz Rebinski Junior
Curitiba, 16/7/2008

Mais Luiz Rebinski Junior
Mais Acessadas de Luiz Rebinski Junior em 2008
01. O jornalismo cultural no Brasil - 2/1/2008
02. Bukowski e as boas histórias - 15/10/2008
03. Despindo o Sargento Pimenta - 16/7/2008
04. Dobradinha pernambucana - 23/1/2008
05. O óbvio ululante da crônica esportiva - 27/8/2008


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
16/7/2008
15h41min
Parabéns, Luiz. A matéria está cativante. Mas uma das coisas q mais provam nossa sujeição cultural é q temos o primeiro, o segundo e, quiçá, o terceiro maior compositor individual da música pop de todos os tempos e, se um jornalista nativo contar a história deles, dificilmente chegaremos a editar o livro em mais q 3 idiomas. Quanto mais se contarmos peculiaridades da vida deles, como as dos ídolos da língua inglesa. Sabemos a cor das ceroulas dos roqueiros internacionais quando promoveram "revolutions" na música e, se morrem, então, sabemos até se a empadinha encontrada na dissecação era de palmito ou de camarão. As gentes do primeiro mundo só têm conhecimento de nossos gênios se um dos ídolos internacionais assume que foi influenciado pelo ídolo tupiniquim. Temos pelos menos 5 dos 10 mais geniais compositores em atividade e o mundo não conhece nossa música. A ñ ser quando um Pedro Ribamar se transforma em Peter Ribasea ou um Roberto Alves vira Bob Elvis. Ah, se este comentário fosse em Braile!
[Leia outros Comentários de mauro judice]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Onde Moram os Tatus
Ivan Camargo
DO Autor
(2008)



Livro Elza A Garota
Sérgio Rodrigues
Códice
(2009)



Papagaiada
Liliana Iacocca e Michele Iacocca
Atica



O documento Holcroft
Robert Ludlum
Círculo do livro



Livro Literatura Estrangeira The Penguin Guide To Compact Discs And DVDs Yearbook 2002/3
Ivan March, Edward Greenfield, Robert Layton
Penguin Books
(2002)



Mistérios e Magias do Tibete: Viagens, Yoga, Ocultismo
Chiang Sing;
Freitas Bastos
(1989)



Film and the director
Don Livingston
The Macmillan Company



Beyond Inflation Targeting: Assessing the Impacts and Policy
Gerald A. Epstein
Ee
(2009)



Dicionário Dos Simbolos
Gerd Heinz-Mohr
Paulus
(1994)



Folk Dolls in the World (chie Koike Collection)
Chie Koike Collection
Chie Koike Collection
(2006)





busca | avançada
47679 visitas/dia
2,5 milhões/mês