As urbes e o pichador romântico | Pilar Fazito | Digestivo Cultural

busca | avançada
22100 visitas/dia
1,2 milhão/mês
Mais Recentes
>>> BuZum! encena “Perigo Invisível” em Itaguaí, Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty (RJ)
>>> Festival de Teatro de Curitiba para Joinville
>>> TIETÊ PLAZA INAUGURA A CACAU SHOW SUPER STORE
>>> A importância da água é tema de peças e oficinas infantis gratuitas em Vinhedo (SP)
>>> BuZum! encena “Perigo Invisível” em SP e público aprende a combater vilões com higiene
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O batom na cueca do Jair
>>> O engenho de Eleazar Carrias: entrevista
>>> As fitas cassete do falecido tio Nelson
>>> Casa de bonecas, de Ibsen
>>> Modernismo e além
>>> Pelé (1940-2022)
>>> Obra traz autores do século XIX como personagens
>>> As turbulentas memórias de Mark Lanegan
>>> Gatos mudos, dorminhocos ou bisbilhoteiros
>>> Guignard, retratos de Elias Layon
Colunistas
Últimos Posts
>>> Barracuda com Nuno Bettencourt e Taylor Hawkins
>>> Uma aula sobre MercadoLivre (2023)
>>> Lula de óculos ou Lula sem óculos?
>>> Uma história do Elo7
>>> Um convite a Xavier Zubiri
>>> Agnaldo Farias sobre Millôr Fernandes
>>> Marcelo Tripoli no TalksbyLeo
>>> Ivan Sant'Anna, o irmão de Sérgio Sant'Anna
>>> A Pathétique de Beethoven por Daniel Barenboim
>>> A história de Roberto Lee e da Avenue
Últimos Posts
>>> Nem o ontem, nem o amanhã, viva o hoje
>>> Igualdade
>>> A baleia, entre o fim e a redenção
>>> Humanidade do campo a cidade
>>> O Semáforo
>>> Esquartejar sem matar
>>> Assim criamos os nossos dois filhos
>>> Compreender para entender
>>> O que há de errado
>>> A moça do cachorro da casa ao lado
Blogueiros
Mais Recentes
>>> A política brasileira perdeu a agenda
>>> Livre talento, triste exílio, doces brasileiros
>>> Paris é uma Festa
>>> Belham: nossa maior voz infantil
>>> Por um Brasil livre
>>> Cordiais infâmias de Satie
>>> Dando a Hawthorne seu real valor
>>> Por que a crítica, hoje, não é bem-vinda
>>> Os últimos soldados da Guerra Fria
>>> Henry Ford
Mais Recentes
>>> A Cartilha da Lógica de Maria do Carmo Nicoletti pela Edufscar (2010)
>>> Macro e Micro Cosmos - Visão Filosófica do Taoísmo de Sidney Donatelli pela Ssua (2007)
>>> Chakras: Energy Centers of Transformation de Harish Johari pela Destiny Books (2000)
>>> A Segunda Guerra Mundial: Os 2174 dias que mudaram o mundo de Martin Gilbert pela Casa da Palavra (2014)
>>> O Guia dos Ufos de Norman J. Briazack, Simon Mennick pela Difel (1979)
>>> Origem de Dan Brown pela Arqueiro (2017)
>>> Sapiens: Uma breve história da humanidade de Yuval Noah Harari pela L&PM (2018)
>>> Mitologia Nórdica de Neil Gaiman pela Intrínseca (2017)
>>> O Poder do Hábito de Charles Duhigg pela Objetiva (2012)
>>> O Ocultismo Prático e as Origens do Ritual na Igreja e na Maçonaria de H. P. Blavatsky pela Pensamento (2009)
>>> O Nome do Vento (A crônica do Matador do Rei 1) de Patrick Rothfuss pela Arqueiro (2009)
>>> Cosmogonia dos Rosacruzes de Max Heindel pela Biblioteca Rosacruz (1981)
>>> O Mundo Alemão de Einstein de Fritz Stern pela Companhia das Letras (2004)
>>> Agassi Uma Autobiografia de Andre Agassi pela Intrínseca (2019)
>>> Livro - Além do 1 Décimo de Lobsang Rampa pela Record (1969)
>>> Transubstanciação o Problema do 3 e do 4 de Roberto Pantoja pela Tao Livraria (1980)
>>> Um Dono Para Buscapé de Giselda Laporta Nicolelis (Autor) pela Moderna (1984)
>>> The Walking Dead - Vol. 1: Dias Passados de Robert Kirkman; Tony Moore pela Panini Comics (2017)
>>> Livro - Que é Linguística? de Suzette Haden Elgin pela Zahar (1974)
>>> Robin Hood - o salteador virtuoso - 1 de Joel Rufino Dos Santos (Autor) pela Scipione (1998)
>>> Livro - Do In de Jacques de Langre pela Aquariana (2003)
>>> Para Entender A Inquisição de Prof. Felipe Aquino pela Cléofas (2017)
>>> Robin Hood - O Salteador Virtuoso de Joel Rufino Dos Santos (Autor) pela Scipione (1998)
>>> Livro - Místicos e Mestres Zen de Thomas Merton pela Civilização Brasileira (1972)
>>> Cântico de Natal - Grandres da Literatura Moderna de Charles Dickens pela Verbo (1971)
COLUNAS

Segunda-feira, 7/9/2009
As urbes e o pichador romântico
Pilar Fazito
+ de 4100 Acessos
+ 4 Comentário(s)

Acho que antes de Eça de Queirós escrever A cidade e as serras, o tema campo versus cidade já deveria estar presente em todas as rodinhas sociais - dos intervalos de ópera, regados a casacas e charutos, aos convescotes em que mocinhas virginais exibiam seus vestidos róseos de tafetá.

Sei lá... Vai ver que antes disso, talvez bem antes, Roma deve ter sido considerada uma megalópole em relação às aldeiazinhas espalhadas pelas planícies italianas. Roma, the big city. Roma, a grande urbe, com todos aqueles aquedutos, as enormes construções, os grandes anfiteatros e o senado. Bem, o senado é um caso à parte, e se nos debruçarmos sobre esse assunto vamos acabar considerando que as querelas romanas, ao menos, eram mais originais do que as de Brasília. Mas voltemos à vaca fria...

Se a cidade é melhor ou pior do que as serras eu não sei. Mas um fato é incontestável: cidades grandes costumam fazer com que as pessoas entrem num ritmo mais rápido e intenso, um tempo diferente daquele de quem vive em lugares mais pacatos. Cidades grandes fazem com que as pessoas corram de um lado para o outro, preocupadas com a própria sobrevivência diária e acabem cegas em relação àqueles sentimentos que recheiam a lista de substantivos abstratos das aulas de gramática. Depois de um ano imerso no estilo de vida de uma megalópole, a gente passa a achar que solidariedade, inocência, paz, alegria, tranquilidade e outra série de termos parecidos não passam de clichês tirados de um filme romântico B, ou dos livros de cabeceira da Miss Universo, seja Pollyanna ou O pequeno príncipe.

A situação, aliás, é ainda mais bizarra: a gente passa a ter vergonha de dizer que acredita no amor. Ao menos essa foi a impressão que tive após passar um tempo trabalhando em São Paulo. Tá aí uma cidade de que gosto. Eu poderia passar a semana inteira sentada no meio-fio da Avenida Paulista ou em qualquer estação de metrô, bater perna na Liberdade, despingolar no Jabaquera atrás de um sebo qualquer, flanar pela Vila Mariana, inspecionar cada prateleira da Livraria Cultura, ouvir concertos dominicais na Osesp ou dar comida aos pássaros no Ibirapuera. São Paulo é uma cidade que tem tanta coisa para ser vista, ouvida, lida e aproveitada que, para mim, parece insano o fato de os paulistanos não terem tempo para degustar a própria cidade.

Mais insano ainda me pareceu o estilo de vida que muita gente leva ali. É o famoso métro-boulot-dodo francês que, traduzido, seria algo como metrô-trampo-"mimir". Não que em Belo Horizonte a gente não se entregue, vez por outra, a esse tipo de automatismo contemporâneo - BH também é uma grande cidade se comparada a muitas outras e não estamos livres disso. Sei que comparações não ajudam em nada, mas ainda assim elas são inevitáveis; e a questão é que, depois de conviver com paulistanos in natura, acompanhar seu cotidiano e observar seu desenvolvimento in loco, tive a impressão de que as pessoas que vivem ali sofrem de um mal terrível: a descrença coletiva.

Talvez eu estivesse frequentando um meio muito particular: o de jovens na casa dos 30, empenhados em progredir profissionalmente, formar patrimônio e consolidar o próprio nome. O fato é que, em diversas ocasiões, me senti meio pateta, até um pouco "caipira" - no sentido pejorativo do termo, para a infelicidade de quem não conhece o mundo caipira - ao falar de amor. Em círculos e grupos distintos, minha espontaneidade foi minguando enquanto ouvia meus interlocutores parolarem com augusta distinção sobre a condição humana e a inexistência do amor. Para não caírem na falta de modos, retribuíram-me com um cordial e piedoso "ingênua". Só faltou o tapinha sobre o cocoruto.

Pois eu fiquei com isso na cabeça por um tempo. Quer dizer que o amor seria tal qual Papai Noel, o Coelho da Páscoa e a gorda aposentadoria? Ou seja, não existem?

Como todo mineiro é mesmo desconfiado, comecei a desconfiar dos meus interlocutores. Todos estavam na mesma condição solitária. Mais do que solteiros, estavam sozinhos. E com uma ponta de mágoa em seus discursos; algo como "o amor tem que me provar que ele existe".

O que não faz a coerção social? Apesar de desconfiada, eu mesma já estava entregando os pontos e me achando uma tolinha, até então. Minha passagem por São Paulo estava me deixando uma pessoa mais triste nesse sentido; até que passei por um muro na Vila Mariana e fui salva pelo pichador romântico. Em meio ao caos urbano, uma singela interjeição me restituiu, em dose única, toda a capacidade de sonhar, de acreditar em anjos, fadas e pirilampos.

Não é engraçado que logo na cidade dos descrentes alguém se lembre de lembrá-los sobre a importância do amor? Pois eu concordo com o pichador romântico. O amor é mesmo importante. Aliás, importantíssimo; deixar de acreditar no amor é algo muito sério e nocivo para todos e, principalmente, para um artista, porque, simplesmente, ele deixa de criar, de produzir, de inspirar os outros, de respirar. O mundo fica mais cinza, mais triste e entediante.

Desconheço o nível de descrença dos romanos medianos, mas posso afirmar que todo o legado artístico deixado pela cidade que escreve AMOR ao contrário só se tornou possível graças a esses históricos "ingênuos".

Quanto ao pichador romântico de São Paulo, mais do que uma lenda urbana é alguém que teve a coragem de nadar contra a maré. Normalmente, sou contra pichações. Mas essa até que me fez um bem danado. Só posso agradecer a esse super-herói dos tempos atuais e gritar a plenos pulmões: "o amor é importante, porra!".


Pilar Fazito
Belo Horizonte, 7/9/2009

Mais Pilar Fazito
Mais Acessadas de Pilar Fazito em 2009
01. Leis de incentivo e a publicação independente - 5/1/2009
02. O tamanho do balde - 2/11/2009
03. @mores bizarros - 6/4/2009
04. Guerra dos sexos: será o fim? - 1/6/2009
05. Plantar bananeira, assoviar e chupar cana - 20/7/2009


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
7/9/2009
16h03min
Ah, Pilar, que delícia é ler seus textos! São Paulo é isso, São Paulo é aquilo... São Paulo é o "petit a" de Lacan... Loucura encantadora, amo São Paulo! Trata-se de uma cidade cosmopolita, nossa capitalista "pequena notável New York"; nela você encontra de tudo (ah, flanar pelas ruas de Sampa é meu hobby!), e seu texto explorou Sampa de forma mineira, isto é, amorososamente. bjs do Sílvio. Campinas, é quase primavera de 2009.
[Leia outros Comentários de Sílvio Medeiros]
21/9/2009
21h22min
Acho que o problema está na sua amostra: São Paulo é uma cidade pejada de amor e sexo, sexo e amor. Por onde você anda tem gente amando, gente à procura de alguém para amar, gente em grupos, gente... Os escritórios, as escolas, o comércio, o metrô, as ruas, os bares, as academias, cinemas, teatros, shows, tudo pleno de amor. Mas também existem os solitários, pessoas muito exigentes, que se dão com muita dificuldade.
[Leia outros Comentários de José Frid]
23/9/2009
09h24min
Pilar, você não faz ideia de como me identifiquei com o seu texto... Também me sinto muitas vezes ridicularizado, inclusive por meus amigos, por acreditar no amor. Até mesmo em Goiânia, uma pequena metrópole "caipira", o corre-corre distancia cada vez mais as pessoas desse sentimento tão importante. Observo, pelas ruas, que elas estão o tempo todo ligadas em seus mp3, provavelmente ouvindo músicas que falem sobre o amor; consomem livros e filmes que retratam o amor, mas parecem não ter tanto interesse de protagonizar alguma história que tenha o amor como tema principal... Parabéns pelo texto!
[Leia outros Comentários de Túlio Moreira Rocha]
29/9/2009
12h52min
Olhaí, Pilar, tá vendo? Não ficou na (já não tanto) pacata Natal. Estive em SP no fim do ano passado e me senti espremido por toda aquela cidade grande de anônimos que não se conhecem e da correria dos metrôs, das pessoas que não se olham, não sentem. É triste, mas ainda bem que temos corajosos e românticos como esse pichador para nos dar um punch e nos fazer voltar à realidade.
[Leia outros Comentários de Fábio Farias]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Triste Pampa - Resistência e Punição de Escravos Em Fontes Judiciárias
Solimar Oliveira Lima
Upf
(2006)



Livro Físico - A Agenda Icarus
Robert Ludlum
Guanabara
(1989)



Análise Estruturada Moderna - Tradução da 3ª Edição Americana
Edward Yourdon
Campus
(1990)



Livro Físico - Em Algum Lugar do Paraíso
Luis Fernando Ver!ssimo
Objetiva
(2011)



Curso Processual do Trabalho
Amauri Mascaro Nascimento
Saraiva
(2015)



Livro - One Piece 8
Eiichiro Oda
Panini Comics
(2012)



Os Impressionistas
Editora Três
Três
(1973)



Liberdade antes do liberalismo
Quentin Skinner
Unesp
(1999)



High Renaissance Art in St. Peters and the Vatica
George L. Hersey
Chicago University
(1993)



De olho em lampião: Violência e esperteza
Isabel Lustosa
Claroenigma
(2011)





busca | avançada
22100 visitas/dia
1,2 milhão/mês