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COLUNAS
Quarta-feira,
7/10/2009
Os donos da voz
Rafael Fernandes
+ de 3900 Acessos
Os donos da voz (Boitempo Editorial, 2000, 184 págs.), de Maria Tosta Dias, faz um panorama da construção do mercado fonográfico brasileiro. O livro não vai muito a fundo no assunto, nem pretende, mas é eficaz ao mostrar os atores desse mercado e o desenvolvimento dos meios de produção. Também tem boas observações sobre como o negócio da música se monta através das tecnologias do momento e de como sua estrutura principal se acomoda em grandes empresas que raramente têm a música como negócio principal.
Antes de prosseguir, um porém. O livro tem uma linguagem de tese, que por vezes cansa, em especial quando faz referências teóricas e tende para um lado mais sociológico. Mas não atrapalha sua leitura por dois motivos. Primeiro, o mais óbvio: sabemos de antemão que livro surgiu a partir de uma tese de mestrado de sociologia da autora, ou seja, já é de se esperar as referências e a linguagem. Segundo, as informações são muito boas, amenizando essa pequena objeção.
Em relação à evolução do negócio, observamos no livro como o piano e as partituras podem ser a origem da "música de massa" e como a edição padronizada de tais partituras pode ter sido um dos primeiros momentos do mercado fonográfico. A partir do advento dos tocadores é que os discos se afirmaram como produto principal.
No capítulo sobre difusão são interessantes os comentários sobre a Rádio Nacional, mostrando sua importância como empresa e como centro de entretenimento. Tinha um cast fixo, incluindo cantores. Por causa disso, mantinha relações com a indústria do disco, mas fazia uso da música apenas para conquistar fidelidade de programação. Ou seja, na maioria das vezes, o artista era simplesmente um veículo para alguma outra finalidade. Nessa época, as rádios produziam muito mais conteúdo e não apenas focavam na difusão, tendência que se iniciou a partir dos anos 70.
Nesse mesmo momento, as verbas para publicidade das empresas começaram a passar para a TV, deixando um pouco de lado as rádios e provocando mudanças significativas.Também nos anos 70 apareceram os LPs, que dominaram o mercado e deixaram para trás o consumo de compactos. Com o domínio desse formato, outra mudança: os artistas e suas obras se tornam mais importantes do que o disco e a consequência disso é que as gravadoras começaram a apostar em casts mais estáveis.
Interessante que isso também confirma o que André Midani, um dos grandes gestores de gravadora do país, coloca em seu livro de memórias: na era do disco, o artista era a figura mais importante; assim, as pessoas iam às lojas e peguntavam pelo "novo disco da Bethânia". Com a internet e a fragmentação, as músicas se tornaram mais importantes que o artista (e que o disco, claro!). Dessa forma, uma nova pergunta surgiu: "você tem o disco que tem a música tal?". Hoje são as músicas avulsas que "comandam".
Já no fim dos anos 70, no Brasil, começam os movimentos de aproveitar o segmento de mercado do público jovem, principalmente no rock. Como a frase do mesmo André Midani colocada em Os donos da voz: "O futuro imediato da MPB está no rock" (posicionamento reforçado, novamente, em seu livro de memórias). O mercado do rock proporcionou um barateamento das produções (não precisa de arranjadores, maestro, músicos acompanhantes etc.). De certa forma, nesse momento começou o processo de democratização do acesso a gravações.
A partir da organização mais profissional do mercado brasileiro, aconteceu o fenômeno de acomodação: de apostar no retorno certo, deixando pouco espaço para inovação ou melhora na qualidade dos produtos. Maria Tosta Dias afirma, no livro, que o negócio do disco (ou seja, gravadoras) se baseou e se manteve através do desenvolvimento e da "propriedade das máquinas de gravação e reprodução". Daí inferimos que o mercado baseado no disco não faz mais sentido nos dias de hoje, já que os meios de gravação estão difundidos, democratizados e a reprodução não mais centralizada nas gravadoras.
O universo do estudo foca na produção nacional até os anos 90. É o retrato de uma época; em especial até o meio da década, que foi o auge de venda de discos no Brasil, diferente da derrocada atual. Por exemplo: cita gravadoras que não têm mais a relevância anterior, como Velas, ou Paradoxx Music, que fechou. Mas isso não deprecia em nada a observação. Ou melhor, evidencia a evolução e auge do negócio. Mostra, ainda, que o que se chama de mercado independente no Brasil pode não ser tão recente quanto parece. Nesse contexto muitos grupos dos anos 80, sem acesso a gravadoras, usavam o precedente de vender discos em shows, muitas vezes com sucesso ― algo que voltou a estar "na moda" e é citado por muitos artistas de hoje como um fator importante para o mercado atual.
Por todo o livro vão sendo citadas algumas práticas comerciais das gravadoras que contribuíram para o desgaste do mercado e no plano cultural. Por exemplo, o grande número de lançamento de coletâneas (produtos quase totalmente amortizados e com retorno certo), divulgação de artistas que tocam o ritmo do momento (que demandam baixo investimento e têm alto retorno em curto prazo) e insistência em fórmulas musicais conhecidas. As argumentações são muitas vezes entrecortadas por declarações de gente do meio.
Os donos da voz escancara (apesar de rapidamente) a existência do jabá, citando, inclusive, exemplos e valores. Ressalta o boom de faturamento gerado pelas vendas de CDs a partir do fim dos anos 80 graças, principalmente, à reedição de álbuns que estavam fora de catálogo e à reposição da coleção de LPs. O fim dos anos 90 trouxe a união do declínio dessa reposição de catálogo ao aparecimento dos softwares de trocas de arquivo via internet.
Como dito no começo deste texto, é curioso notar o fenômeno de como as mudanças no mercado de venda de música vieram e continuam vindo de empresas de outros tipos, em geral produtoras de hardware, como empresas de aparelhos de som, eletrônicos e tecnologia. Ou, num momento anterior, de casas noturnas, estúdios e lojas. Para muitas dessas, em especial as grandes corporações, o mercado fonográfico era apenas mais um dos negócios. Seu declínio faz com que tais empresas apenas façam cortes ou até deixem de atuar nesse segmento, sem grandes perdas para elas. O sucesso do iTunes e iPod corrobora essa observação. E essa e muitas outras possíveis soluções para o mercado da música não estão saindo de empresas estritamente musicais.
É importante voltar a citar que livro cobre, basicamente, uma era pré-internet (assunto que é tratado no apêndice da segunda edição) e o desenvolvimento da indústria fonográfica; ou seja, indústria do disco e não da música. O apêndice se fez necessário na nova edição para tentar passar pelas tendências geradas pela internet, como serviços de música on-line, em celulares, a circulação de música de forma avulsa (apenas uma canção) e a possibilidade do fim do álbum. Os donos da voz não encerra seu assunto apenas no descrito neste texto, o livro tem outros elementos não explorados aqui. Ao término da leitura fica a sensação de ser um dos livros seminais sobre a indústria da música no Brasil.
Para ir além



Rafael Fernandes
São Paulo,
7/10/2009
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