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Segunda-feira, 24/6/2002
United States of Brazil
Sérgio Augusto
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Estados Unidos do Brasil ou United States of Brazil era como, na década de 40, Orson Welles e outros americanos chamavam o país do mulato inzoneiro. Ou, simplesmente, Brazil, que é como hoje os gringos grafam a nossa república federativa, a "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, e aquele filme do Terry Gilliam. Claro que muito antes de 1939 já se escrevia Brasil com z, mas só naquele ano descobrimos que a nossa mais profunda aspiração era que o Brasil fosse mais Brazil do que Brasil – vale dizer, mais americano. Percebemos isso durante uma feira internacional, inaugurada em Nova York em 30 de abril de 1939, a acintosamente montada para embasbacar o resto do mundo com os prodígios tecnológicos dos Estados Unidos da América. Nela boquiabertos entramos e boquiabertos saímos. Boquiabertos e orgulhosos, pois enquanto durou a feira – e até o fim da guerra que em seu curso teve início – vivemos a ilusão de que havíamos estourado no norte, que éramos ou podíamos ser iguais aos americanos, tantas foram as referências e reverências feitas a nós e à nossa cultura na mídia americana naquele período.

Os americanos já haviam organizado várias outras feiras, nenhuma, porém, tão ambiciosa e dispendiosa (US$150 milhões) quanto a New York World's Fair. Vendendo uma imagem otimista do futuro e propondo aos visitantes a transformação de qualquer sonho em realidade, seu mote era o mundo de amanhã (The world of tomorrow), subliminarmente entendido como um domínio das incomparáveis invenções americanas: da meia de náilon da Dupont aos mais mirabolantes aparelhos eletrodomésticos da Westinghouse, da televisão RCA ao robô Eletro ("que em breve tornaria a dona de casa obsoleta"). Um vôo simulado percorrendo todos os Estados Unidos e avançando 21 anos no tempo era a atração do Futurama, da General Motors, a mais procurada pelos 45 milhões de visitantes da feira. Que maravilhoso mundo novo a General Motors previa para 1960! Ecologicamente equilibrado, sem câncer, com carros zerinho custando apenas US$200, fontes de energia alternativas e abundantes, criados cibernéticos.

Como ficaríamos sabendo em 1960, nada disso vingou. Mas o domínio americano medrou. Por força, inclusive ou sobretudo, da estupenda esperteza dos gringos.

Uma prova dessa esperteza foi a criação da Política de Boa Vizinhança, coordenada por Nelson Rockefeller, durante o governo Roosevelt. Boa vizinhança com a América Latina para fortalecer não só laços de amizade continentais, mas também assegurar aos EUA uma reserva de matérias-primas que a guerra tornaria ainda mais escassas e, por isso mesmo, mais preciosas. Para não falar da ampliação do mercado para os produtos made in USA que o avanço do nazismo praticamente baniu de várias praças européias. Impunha o programa a adulação de todos os países latino-americanos. Uns seriam mais paparicados que outros. A ordem de preferência era ditada pela dimensão do país, por sua posição estratégica, por suas riquezas naturais e por sua simpatia pelo nazifacismo europeu. O Brasil tirou a nota máxima em todos esses quesitos e por isso pôde promover seu café na Feira de Nova York como se o colombiano e o guatemalteco nem existissem. "Toda hora que você tomar um café brasileiro, você estará comprando a Política de Boa Vizinhança", alardeava-se nas rádios, nos jornais e nas revistas americanas.

Apesar de nominalmente mundial, a Feira de Nova York acabou sendo, por causa da guerra, uma Disneyworld ou um Epcot Center a serviço da Política de Boa Vizinhança. Erguemos lá um pavilhão desenhado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer e fomos tratados pelos anfitriões, em reportagens, artigos e discursos, como uma "pujante democracia" – pura cortesia da PBV, pois desde o final de 1937 vivíamos debaixo de uma ditadura. Expusemos na feira 25 obras de Portinari, produtos da terra como madeiras, minérios, tecidos, tapetes, mobiliário, goiaba em calda, o indefectível café; até uma Brasiliana completa acondicionamos numa estante e um busto de Getúlio Vargas, esculpido por Hildegardo Leão Veloso, exibimos à curiosidade dos circunstantes.

A todos aqueles signos de nossa pujança agregamos um restaurante típico, animado por uma orquestra comandada por Romeu Silva, curiosa figura da música popular que começou tocando saxofone no rancho carnavalesco Ameno Rosedá, compôs maxixes, criou uma banda de jazz, gravou discos com Josephine Baker nos anos 20, acompanhou Carmen Miranda numa excursão à Argentina, importou o clarinetista Booker Pittman e acabou no Cassino da Urca. Aliás, foi mais para rever o amigo Romeu do que para badalar o café brasileiro que Carmen Miranda bateu ponto na feira tão logo desembarcou em Nova York, em maio de 1939.

Antes mesmo de sua construção, o pavilhão brasileiro foi motivo de festa, com direito a discurso ufanista, hino (o Nacional, claro) e uma peça de Villa-Lobos, Descobrimento do Brasil, regido pelo autor. Transmitido em ondas curtas pela NBC e retransmitido para todo o Brasil pelo DIP (o Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo), o lançamento da pedra fundamental do Brazilian Pavilion foi o primeiro de uma série de programas radiofônicos apadrinhados pela PBV através das quais os americanos tomaram conhecimento de nossa existência e de nossa cultura. Entre 1939 e 1945, o Brasil esteve sempre presente nos lares americanos, especialmente através do rádio, o mais poderoso veículo de informação e entretenimento da época. E não apenas representado pelos expoentes de sua música popular, como Carmen Miranda, o Bando da Lua e Ary Barroso, que em 1939 compôs "Aquarela do Brasil" e depois viajou para Hollywood nas asas desse e outros sucessos promovidos por dois desenhos animados que Walt Disney aqui ambientou, como parte de sua contribuição à PBV.

Villa-Lobos, Bidu Sayão, Arnaldo Estrela, Camargo Guarnieri também eram ouvidos e homenageados a torto e a direito. Até uma soprano especializada em música folclórica, Olga Coelho, ganhou certa notoriedade. Para não falar de Elsie Houston, soprano de repertório ortodoxo que, apesar do nome e do pai americano, era brasileira da gema e diversas vezes foi comparada a Carmen Miranda.

Quando a guerra acabou e o mercado internacional reabriu-se às necessidades e à volúpia dos americanos, a PBV virou peça de museu e o Brasil voltou a ser, para a maior parte dos gringos, aquele gigante adormecido onde se fala espanhol e cuja capital é Buenos Aires – até porque essa confusão havia sido induzida pelo filme de Carmen Miranda rodados nos EUA, Serenata tropical (Down Argentine Way). Ainda estão para ser avaliadas com rigor – o que vale dizer sem passionalismo e corporativismo gay – as conseqüências da passagem de Carmen Miranda pela América e sua entusiástica cumplicidade com o sincretismo rítmico que, rotulado de samba – embora mais parecesse ramba ou sumba –, Hollywood ajudou a difundir, empastelando as diferenças culturais entre o Brasil e o Caribe. Não surpreende que os três murais feitos por Portinari para a Biblioteca do Congresso, em Washington, estejam na "Hispanic Division".

A passagem de Orson Welles pelo Brasil é outro capítulo da PBV ainda à espera de uma análise menos ingênua que as esboçadas até hoje. Com o passar dos anos e o acúmulo de leituras, passei a desconfiar que Welles não era aquele sincero, devoto e crucificado amigo do Brasil e sua gente que desde 1942 nos tentaram vender. Se nos amava com tanta intensidade por que nunca sequer esboçou o desejo de voltar? Simples: Welles nunca morreu de amores por esta terra. Numa entrevista a Peter Bogdanovich, publicada no livro This is Orson Welles, o cineasta foi bem claro: não foi idéia sua vir aqui e rodar It's All True porque seu interesse pelo Brasil era e continuou sendo nenhum. Daqui só apreciava a música: "Gostava de samba, mas não me passava pela cabeça visitar e viver na América do Sul – que é a parte do mundo que menos me interessa."

Poor Brazil.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado, em maio de 1999, na revista Bravo!.


Sérgio Augusto
Rio de Janeiro, 24/6/2002
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