O Nobel da crise | Sérgio Augusto

busca | avançada
76843 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Teatro do Incêndio mergulha no mito para ritualizar a dor em nova montagem
>>> SESI São José dos Campos apresenta exposição de Dani Sandrini com temática indígena
>>> Livro 'Autismo: Novo Guia' promete transformar a visão sobre o TEA
>>> Dose Dupla: Malize e Dora Sanches nos 90 anos do Teatro Rival Petrobras nesta quinta (3/10)
>>> Com disco de poesia, Mel Duarte realiza espetáculo na Vila Itororó neste sábado
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
Colunistas
Últimos Posts
>>> MBL sobre Pablo Marçal
>>> Stuhlberger no NomadCast
>>> Marcos Lisboa no Market Makers (2024)
>>> Sergey Brin, do Google, sobre A.I.
>>> Waack sobre a cadeirada
>>> Sultans of Swing por Luiz Caldas
>>> Musk, Moraes e Marçal
>>> Bernstein tocando (e regendo) o 17º de Mozart
>>> Andrej Karpathy no No Priors
>>> Economia da Atenção por João Cezar de Castro Rocha
Últimos Posts
>>> O jardim da maldade
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O Cabotino reloaded
>>> Papel, tinta, bluetooth e wireless
>>> Monticelli e a pintura Provençal no Oitocentos
>>> Nelson ao vivo, como num palco
>>> O novo frisson da Copa
>>> Vale ouvir
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Editor, corrija por favor!
>>> O grande livro do jornalismo
>>> Sinfonia nº 9 - Beethoven
Mais Recentes
>>> Educação Ambiental 1-planeta Terra de Zysman Neiman e Cristiane Pires da Motta pela Atual (1991)
>>> Grande Hotel de Vicki Baum pela Abril Cultural (1960)
>>> Matemática-2-parte 2-ciência e Aplicações-conecte Live de Gelson Iezzi e Outros pela Saraiva
>>> Hemingway - Oeuvres Romanesques - 1 de Ernest Hemingway pela De La Plêiade (1966)
>>> Entre Cobras e Lagartos de Cleide Morsoletto Tagliaferri pela Moderna (1991)
>>> Joy de Joy Laurey pela Circulo do Livro (1981)
>>> Hollywood de Charles Bukowski pela L&pm (1990)
>>> Educação Ambiental 4 - o Mundo que Se Tem e o Mundo que Se Quer de Zysman Neiman e Cristiane Pires da Motta pela Atual (1991)
>>> Valente - a Conquista de Merida - Disney Pixar de Elle D Risco e Outros pela Melhoramentos (2012)
>>> Rosetta - Disney Fadas de Disney e Natália Chagas Maximo pela Vergara & Riba (2013)
>>> Valor Turístico na Economia da Sustentabilidade de Leandro de Lemos pela Aleph (2005)
>>> Os Invasores de Corpos de Jack Finney pela Nova Cultural (1987)
>>> A Grande Sacada de Pedro - Série Tirando de Letra de Telma Guimarães Castro Andrade pela Atual (1993)
>>> Um Homem de Sorte Nicholas Sparks de Nicholas Sparks pela Novo Conceito (2012)
>>> Ecoguia - Guia Ecológico de a a Z de Fundaçao Nicolas Hulot pela Landy (2008)
>>> Física-suplemento de Revisão-moderna Plus de Fábio Martins de Leonardo pela Moderna (2015)
>>> Biblioteca do Escoteiro Mirim de Walt Disney pela Nova Cultural (1985)
>>> Um Capricho dos Deuses de Sidney Sheldon pela Record (1987)
>>> De Bar em Bar de Judith Rossner pela Círculo do Livro (1975)
>>> A Bruxa Apaixonada e o Lobo Fujão de Lilian Zieger pela Paulinas (2004)
>>> A Espada de Herobrine de Jim Anotsu pela Nemo Hq (2015)
>>> Vamos a La Granja las Vacas de Hannah Ray pela Qed Publishing (2006)
>>> The Picture of Dorian Gray - Level 5 - Students Book de Oscar Wilde pela Mm Publications (2005)
>>> Destruição e Equilíbrio - o Homem e o Ambiente no Espaço e no Tempo de Sérgio de Almeida Rodrigues pela Atual (1989)
>>> Também os Sorvetes Se Acabam de Carlos Nogeira pela Cratonagem (1988)
ENSAIOS

Segunda-feira, 27/10/2008
O Nobel da crise
Sérgio Augusto
+ de 6600 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Se o Nobel de Literatura poupou o governo Bush e a candidatura McPalin de mais um embaraço (poderia ter dado Philip Roth, contumaz patrulheiro do bushismo), o de Economia lhes impôs, e também aos corifeus do livre mercado à outrance, uma tunda ainda mais expressiva que a vitória do professor Joseph Stiglitz em 2001. Paul Krugman, o Nobel deste ano, talvez seja o mais lido e respeitado crítico da era Bush. Stiglitz, embora autor de best-sellers e igualmente profético em suas análises sobre a atual crise econômica, não dispõe de um púlpito poderoso como a página de articulistas do New York Times, onde Krugman pontifica duas vezes por semana, às segundas e sextas.

Ainda que a Academia Sueca não o tenha premiado por sua performance jornalística, e sim por sua valiosa contribuição a uma nova teoria sobre o comércio internacional, desenvolvida a partir de 1979 no recesso acadêmico, vale o que está implícito. Ou seja, sua vitória foi também uma vitória do liberalismo, do jornalismo crítico, de tudo aquilo que a candidatura de Barack Obama representa, e, por extensão, um triunfo do Times, que acreditou no taco do professor de economia e relações internacionais da Universidade de Princeton.

Há oito anos colunista do jornal, Krugman pegou o reinado Bush desde o início e o oba-oba globalizante em seu apogeu. Cercado por uma dezena de comentaristas políticos de variada plumagem ideológica ― que podem, no máximo, ambicionar o prêmio Pulitzer, conforme salientou a sempre irônica Maureen Dowd ―, Krugman concorre mais diretamente com Thomas L. Friedman, o guru do empresariado panglossiano.

Concorre ou concorria? Autor de O Mundo é Plano, bíblia da evangelização globalizante, cuja visão otimista vem sendo diariamente desmoralizada pelo atual caos econômico-financeiro, Friedman (formado em filosofia e detentor de três Pulitzers) passou a escrever mais, nos últimos tempos, sobre percalços ecológicos do que sobre as panacéias da economia mundialmente integrada. Sábia decisão, com a vantagem de ter sido tomada antes de seu êmulo ser ungido com o Nobel, justamente por duvidar (e provar matematicamente) que o mundo não é "plano". Se tomada esta semana, soaria como uma humilhante capitulação.

Beneficiado por seus conhecimentos de economia, pelo destemor com que defende suas idéias, por sua aversão à promíscua relação de jornalistas com a fauna de Washington, e, dado fundamental, por escrever com clareza, sem firulas, mas com uma dose razoável de humor, Krugman transformou-se no mais importante colunista político dos EUA desde Walter Lippmann. Admirado e odiado quase que com a mesma intensidade, ninguém parece melhor equipado do que ele para analisar e denunciar as intricadas relações da política com os interesses corporativos e as exorbitâncias de Wall Street.

Krugman foi o primeiro a eviscerar sem meias palavras as fraudes da administração Bush em todos os níveis e setores. Onde os demais comentaristas viam lucidez, astúcia, clareza moral, ele enxergava confusão, ineficiência e desonestidade. Quando não um surto paranóico dos mais brabos: em março de 2003 comparou Bush ao alucinado comandante Queeg, interpretado por Humphrey Bogart no filme A Nave da Revolta.

Valendo-se unicamente de seus conhecimentos, Krugman detectou fraudes e manipulações posteriormente reconhecidas pelo comentariado político não atrelado à Casa Branca, mas de percepção lenta. Por que tão lenta? "Preguiça intelectual", segundo Krugman. "Mais despreparo e excessiva dependência de informantes e insiders do mundo político."

Já no primeiro orçamento apresentado por Bush vislumbrou números que não batiam, promessas impossíveis de ser cumpridas, e um corte de 40% nos impostos visando beneficiar os americanos mais ricos. Bush, escreveria mais tarde, inventou a "economia Dooh Nibor" (Robin Hood ao contrário). Em outra oportunidade, equiparou-o a Robespierre, o revolucionário exterminador. Questionou a invasão do Iraque, criticou acerbamente a utilização política do 11 de setembro e quase todas as medidas de alcance social dos últimos oito anos, e alertou, com três anos de antecedência, para a bolha que se formava no mercado imobiliário, qualificando-o, com absoluta precisão, de "a fonte de alimentação do hedonismo nacional". Invejável superavit.

Entrevistado no último dia 13 por Jim Lehrer, da PBS, Krugman revelou ter decidido estudar economia influenciado pela ficção científica do americano de origem russa Isaac Asimov, mais especificamente pela leitura da série Fundação, paráfrase da queda do império romano em clave science-fiction que Asimov escreveu entre 1941 e 1948. Seu herói é um matemático (Hans Seldon) empenhado em preservar a cultura do império galático, cuja decadência e posterior desintegração antevira com seus conhecimentos de "psicohistória". Krugman identificou-se com Seldon e sua missão salvacionista. E a "ciência" mais próxima da psicohistória inventada por Asimov que encontrou no mundo real foi a economia.

Depois, é claro, entraram os economistas de carne e osso. Uma influência determinante foi John Kenneth Galbraith, morto há dois anos mas a cada dia mais atual. Andei lendo seu relato sobre a alvorada da Grande Depressão, O Colapso da Bolsa 1929, na velha tradução da Expressão e Cultura. Assustador. Escrito há 54 anos, em plena euforia da "sociedade afluente" por ele tão bem dissecada, lembra, nos mínimos detalhes, o que temos acompanhado pelo noticiário das últimas semanas. Seu quarto capítulo, por exemplo, intitula-se "Em Goldman Sachs nós confiamos", ironicamente, é claro. Nem sempre a história se repete como farsa. Às vezes é como tragédia mesmo.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no "Aliás", d'O Estado de São Paulo, em 18 de outubro de 2008.


Sérgio Augusto
Rio de Janeiro, 27/10/2008
Quem leu este, também leu esse(s):
01. Amy e a hipocrisia coletiva de André Barcinski
02. Ser mãe de Lélia Almeida
03. Vivendo de brisa de João Ubaldo Ribeiro
04. Um coração de mãe de Cintia Moscovich
05. 77 anos do Mercado Municipal de Eugenia Zerbini


Mais Sérgio Augusto
Mais Acessados de Sérgio Augusto
01. Para tudo existe uma palavra - 23/2/2004
02. O melhor presente que a Áustria nos deu - 23/9/2002
03. O frenesi do furo - 22/4/2002
04. Achtung! A luta continua - 15/12/2003
05. Filmes de saiote - 28/6/2004


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
30/10/2008
13h21min
Muito perceptiva a observacao de Sergio Augusto sobre a "tunda" indireta aplicada à Era Bush pela Academia Sueca com o Nobel dado a Paul Krugman, bem como o apoio inferido da candidatura de Barack Obama. Sobre as teorias economicas do Seculo XX, à referencia de Galbraith, adiciono duas outras que representam os extremos do continuo que fornece o pano de fundo para a atual crise economica, John Maynard Keynes (pre 2a guerra) e outro Friedman, o Milton (pos 2a guerra, Nobel de Economia 1976). A pergunta crucial é qual o nivel apropriado de regulamentacoes governamentais? Regimes socialistas seguem Keynes, e nao permitem correcoes que contrabalancem a natureza humana. Por isso nao conseguem se sustentar (Uniao Sovietica é o exemplo mais recente). Regimes capitalistas seguem Friedman, e permitem correcoes periodicas (1929, 2008...) que contrabalancem a natureza humana (os Estados Unidos sao a democracia mais duradoura da historia da humanidade). A virtude, como sempre, está pelo "meio"...
[Leia outros Comentários de Claudio Spiguel]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Teoria Microeconômica
Gilson de Lima Garófalo / Luiz Carlos Pereira
Atlas
(1995)



A Realeza de D. Miguel - resposta a um livro do Sr. Tomaz Ribeiro
D. Miguel Sotto-Mayor
Livraria Atlântida
(1929)



Administração Financeira: Teoria e Prática
Eugene F. Brigham
Cengage
(2016)



A Ciência que sonha e o verso que investiga
Evando Mirra
Papagaio
(2009)
+ frete grátis



Livro Infanto Juvenis Quinho e o Seu Cãozinho Ferias na Fazenda
Laé De Souza
Eco Arte
(2011)



A vida de Joana D'Arc
Erico Verissimo
Globo
(1978)



Sandman: Prelúdio Vol. 1
Neil Gaiman; J. H. Williams III
Panini Books
(2015)



O Jovem Sherlock Holmes - Nuvem da Morte
Andrew Lane
Intrinseca
(2011)



Desenho Técnico 2
José Luiz de Oliveira e Outros
Tetra



Transporte marítimo de petróleo e derivados
Pedro Paulo Saraceni
Interciência
(2006)





busca | avançada
76843 visitas/dia
1,7 milhão/mês