Hussein não virou vilão da noite para o dia | Sérgio Augusto

busca | avançada
63805 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Movimento TUDO QUE AQUECE faz evento para arrecadar agasalhos no RJ
>>> A Visão de Bernadette – Estreia Nacional - 3 de Agosto – Teatro Ruth Escobar -18hs
>>> Teatro dos Sentidos, criado por Paula Wenke, comemora 25 anos e apresenta-se em Sã
>>> Isabelle Huppert e Hafsia Herzi protagonizam A Prisioneira de Bordeaux
>>> Barbatuques apresenta livros na Flip 2025
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
Colunistas
Últimos Posts
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Festa da Cerejeira
>>> Santo Antonio de Lisboa
>>> Dar títulos aos textos, dar nome aos bois
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Deitado eternamente em divã esplêndido – Parte 2
>>> Manoel de Barros: poesia para reciclar
>>> O maior programador do mundo? John Carmack (2022)
>>> Livro dos Homens
>>> 7 de Setembro
>>> Entrevista com João Moreira Salles
Mais Recentes
>>> Introdução Ao Conhecimento Logosófico de Carlos Bernardo Gonzales Pecotche pela Logosófica (1997)
>>> Geoinformação E Monitoramento Ambiental Na América Latina de Mateus Batistella pela Senac Sp (2008)
>>> Querido Diário Otário, É Melhor Fingir Que Isso Nunca Aconteceu de Jim Benton pela Fundamento (2012)
>>> Para Novos Gerentes de Varios Autores pela Editora Sextante (2019)
>>> Jose Alencar: Amor A Vida de Eliane Cantanhede pela Primeira Pessoa (2010)
>>> O Encontro Marcado de Fernando Sabino pela Editoria Record (2008)
>>> Youcat de Vários Autores pela Paulus (2011)
>>> Livro Selvagem de Juan Villoro pela Seguinte (2011)
>>> O Dia De Um Escrutinador de Italo Calvino pela Companhia Das Letras (2002)
>>> Reflexões Budistas - o Significado da Doutrina e Métodos do Budismo para os dias de hoje de Lama Anagarika Govinda pela Siciliano (1993)
>>> Matematica completa - ensino medio - resolucao de todos os exercicios de José Ruy Giovanni - José Roberto Bonjorno pela FTD
>>> Culinária Francesa, Cozinhas Brasileiras de Zôdio pela Schoba (2017)
>>> Atendimento Ao Publico Nas Organizações. Quando Marketing Serviços Mostra A Cara de Edmundo Brandão Dantas pela Senac (2004)
>>> Desenvolvimento Hoteleiro No Brasil: Panorama De Mercado E Perspectivas de Pedro Cypriano pela Senac Sp (2014)
>>> Meu Tataravô Era Africano (1º reimpressão) de Georgina Martins - Teresa Silva Telles pela Dcl (2010)
>>> Intermédio Logosófico de Carlos Bernardo Gonzalez Pecotche pela Logosófica (2000)
>>> Orson: Um Cachorro Para Toda A Vida de Jon Katz pela Ediouro Publicações (2007)
>>> Murais De Vinicius E Outros Perfis de Paulo Mendes Campos pela Civilização Brasileira (2000)
>>> Essencial Disney - os Infinitos Azares do Pato Donald Volume 15 de Walt Disney pela Abril (2012)
>>> A Arvore Contente (4º impressão - com suplemento de atividades) de Telma Guimaraes Castro Andrade pela Do Brasil (2014)
>>> Segurança Internacional - Praticas, Tendencias E Conceitos de Marco Cepik pela Hucitec (2010)
>>> O Que é a Neve? de Katie Daynes pela Usborne (2018)
>>> Volta Ao Mundo Em Oitenta Dias de Júlio Verne pela Editora Do Brasil (2011)
>>> É meu! (5º impressão - suplemento de atividades) de Telma Guimarães Castro Andrade pela Do Brasil (2010)
>>> Livro A Droga Da Obediência de Pedro Bandeira pela Moderna (2003)
ENSAIOS

Segunda-feira, 24/3/2003
Hussein não virou vilão da noite para o dia
Sérgio Augusto
+ de 4900 Acessos
+ 2 Comentário(s)

O texto a seguir foi escrito em 1991, quando Sérgio Augusto fazia a cobertura diária da Guerra do Golfo para o jornal Folha de S. Paulo. Dada a sua atualidade, e sua relação com o presente conflito no Iraque, o texto é republicado exclusivamente para os Leitores do Digestivo Cultural. (N. E.)

O conflito no Golfo já derrubou pelo menos um mito: a Guerra Fria não acabou. Na melhor (ou pior) das hipóteses, mudará de nome. Sugiro qualquer coisa que lembre hipocrisia. Se os soviéticos decidirem ter voz mais ativa num emergente plano de paz para o Oriente Médio, como ontem se anunciou, a Guerra Fria velha de guerra nem sequer perderá um dos seus dois principais protagonistas.

O sinal mais evidente de que a Guerra Fria não foi removida junto com Muro de Berlim é a sobrevivência da principal regra de conduta diplomática, segundo a qual os inimigos dos nossos inimigos são nossos amigos automáticos. Foi sempre por ela que os EUA nortearam sua política externa. O que explica as espúrias, e invariavelmente nefastas, relações de Washington com gente da laia de Chiang Kai-Shek, Diem, Somoza, Rezah Pahlevi, Strossner, Pinochet, Ferdinando Marcos, Noriega. E Saddam Hussein.

Quando ouço e vejo o presidente Bush comparar Hussein a Hitler e ameaçá-lo com todos os raios do céu, peço logo os meus sais. Hussein já possuía um razoável currículo de sanguinário antes de invadir o Kuwait. Bush era vice de Reagan quando o Iraque usou contra os curdos as mesmas armas químicas que agora ameaça usar contra os soldados aliados. Reagan fez vista grossa, mas Bush deveria ao menos ter anotado no seu caderninho: "Hussein, perigoso, não confiável". Bush já era presidente quando Hussein mandou enforcar o correspondente de um jornal inglês, no começo do ano passado, e nada fez. Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei.

Reagan não moveu uma palha em favor dos curdos para evitar atritos não apenas com Hussein, mas também com o turco Turgut Ozal, outro odioso ditador, violador contumaz dos direitos humanos, a quem os EUA não se envergonham de apoiar. Ozal não deveria ter lugar numa "nova ordem mundial livre e justa", em nome da qual Bush diz ter apertado o botão da guerra no Golfo. Nem o homem forte da Siria, Hafez Assad, responsável pelo massacre, nove anos atrás, da cidade de Hama, onde mais de 5 mil civis foram dizimados pelas tropas do governo.

Por enquanto, Bush está com Assad e não abre. Como já esteve com Hussein quando ele virou inimigo do maior inimigo dos EUA no Oriente Médio nos anos 80, o Irã de Khomeini. Apavorados com as intimidações de uma guerra santa contra o Ocidente, lançadas pelo fanático aiatolá, os americanos ficaram do lado do Iraque quando Hussein mandou invadir o Irã em 1980. Certo de que o atual "Hitler do Oriente Médio" era o mais confiável fator de equilíbrio no Golfo - o que vale dizer a melhor sentinela para os interesses da comunidade petrolífera - o governo Reagan deixou o Iraque se armar até o último camelo.

A partir do momento em que o Irã ameaçou vencer a guerra, ali por volta de 1983, Reagan também abriu o seu bazar de guerra para Hussein, organizou um embargo no fornecimento de armas ao Irã, trocou figurinhas com o serviço de inteligência iraquiana e, de lambujem, transformou o Iraque no segundo (o primeiro é o México) cliente de cereais subsidiados dos EUA.

Em 1986, Hussein mandou executar sumariamente centenas de iraquianos, a maioria desertores, membros de partidos políticos banidos e estudantes. A 4 de novembro de 1987, o código penal iraquiano sofreu uma emenda estendendo a pena de morte a quem insultasse em público o presidente da Republica, o partido Baas e o governo. Hussein já era um demônio na década de 80. Os EUA o fizeram mais poderoso, ironicamente com a ajuda dos emirados árabes, que emprestaram US$ 40 bilhões ao Iraque ao longo do conflito com o Irã. Hussein não estava mentindo quando disse que os iraquianos derramaram o seu sangue para manter os emires a salvo de uma revolução xiita.

O ministro das Relações Exteriores do Iraque, Tariq Aziz, também não mentiu quando, numa conversa com Milton Viorst, enviado especial da revista The New Yorker a Bagdá, acusou os emirados árabes de acumular fortunas, consumir supérfluos, investir US$ 220 bilhões em países do Ocidente e nada fazer para melhorar a situação dos árabes esquecidos por Alá. Enclave de milionários, o Kuwait foi uma invenção geopolítica do imperialismo britânico para manter os poços petrolíferos da região do Golfo fora do alcance dos turcos, dos alemães e, mais tarde, dos iraquianos. Sua independência, em 1961, foi ditada pelos mesmos objetivos que levaram os EUA a comandar a guerra em curso no Golfo. Na hora de demarcar as fronteiras com o Iraque, os ingleses se guiaram pela posição das palmeiras. Pode?

Não deveria poder. Se outras voltas o mundo tivesse dado, o otomano Kuwait seria um território do Iraque, que há decadas o reivindica, mas só agora levou a cabo o que Israel há muito fez com territórios palestinos. Apoiado pelos EUA. Amigos é pra essas coisas.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo, em sua edição de 1º de fevereiro de 1991.


Sérgio Augusto
Rio de Janeiro, 24/3/2003
Mais Sérgio Augusto
Mais Acessados de Sérgio Augusto
01. Para tudo existe uma palavra - 23/2/2004
02. O melhor presente que a Áustria nos deu - 23/9/2002
03. Achtung! A luta continua - 15/12/2003
04. O frenesi do furo - 22/4/2002
05. Filmes de saiote - 28/6/2004


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
25/4/2003
07h05min
Adorei o texto, que não tive conhecimento do mesmo na época da sua publicação. Se possível, publicar outros textos relacionados para maior análise dos leitores. Sucesso. Gina Paola
[Leia outros Comentários de Gina Paola]
25/4/2003
11h53min
Conhecer a história do que se escreve,é, não somente importante, mas fundamento básico, para quem queira escrever artigos e publicá-los. Este artigo do Sérgio Augusto de 1991 mostra um pouco da história das relações promíscuas dos EUA. Quem tem este fundamento não escreve superficialidades ingênuas. César de Paula.
[Leia outros Comentários de César de Paula]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Livro Literatura Estrangeira A Farsa
Christopher Reich
Sextante
(2008)



Guerra de gueixas
Nagai Kafu
Estação Liberdade
(2016)



Novas Tendências da Criminalidade Transnacional Mafiosa
Alessandra Dino; Walter Fanganiello Maierovitch
Unesp
(2010)



Livro Poesia Libertinagem e Estrela da Manhã Coleção Folha Grandes Escritores Brasileiros 7
Manuel Bandeira
Folha de S. Paulo



Encontro com O Quarto Evangelho
Johan Konings
Vozes
(1975)



Pequenas Atitudes, Grandes Vitórias
Gustavo Hohendorff
Dragonfly
(2017)



Livro Infantil Procura-se Um Rei
Orígenes Lessa
Global
(2015)



Psicanálise entrevista - Volume 1
Mara Selaibe (org)
Estação Liberdade
(2014)



Livro Dicionários Key-word Dictionary
Chambers Harp
Martins Fontes
(1999)



A Espiã de Vermelho
Aline Condessa de Romanones
CasaMaria
(1988)





busca | avançada
63805 visitas/dia
2,1 milhões/mês