DIGESTIVOS
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Quinta-feira,
27/6/2002
Dar de comer ao ódio
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 88 >>>
Embora a intenção não tenha sido a mesma, o espectador, quando vir “As três Marias”, vai ficar com a impressão de que o tema da vendeta se repete (como em “Abril Despedaçado”). Afinal, Maria Francisca (Julia Lemmertz), Maria Rosa (Maria Luisa Mendonça) e Maria Pia (Luiza Mariani) nada mais são do que três irmãs, instigadas pela mãe, com sede de vingança. O filme começa bem (leia-se: é, nos primeiros minutos, convincente), com as cenas de violência (por quê sempre ela?), quando o pai e os dois irmãos das referidas Marias são brutalmente assassinados, a mando do amante de sua mãe (elas não sabem, é amor antigo), o patriarca da “família inimiga”. Apesar do roteiro que se segura firme na primeira meia-hora, o grande destaque fica por conta, sem dúvida, das tomadas, dos planos, da fotografia em paisagens pedregosas, árias e tensas, do nordeste brasileiro. Aluizio Abranches (também diretor de “Um Copo de Cólera”) foi igualmente feliz no registro da dor e do horror da viúva, Filomena Capadócio (Marieta Severo), na cena em que esta recebe a notícia das mortes. É, portanto, a matriarca que comanda o esquema de vingança, ordenando a cada filha que encomende a cabeça de cada um dos culpados. Como se vê: olho por olho, dente por dente. Um início cheio de possibilidades, não fosse por Walter Salles (que não tem culpa nenhuma) e pela má condução do longa a partir daí (culpa dos realizadores, certamente). O que ocorre é que, graças às três histórias agora em paralelo (cada uma das Marias atrás de um matador), a carga dramática se dilui e acaba irremediavelmente prejudicada, até pelas performances pouco convincentes do elenco. Como dizia Machado, lágrimas não são argumentos. No final, a vingança, obviamente, se consuma; mas sem aquele efeito redentor sobre quem pagou o ingresso. Fica para a próxima vez.
>>> "As três Marias" - Aluizio Abranches - Lumiere
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Julio Daio Borges
Editor
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