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Terça-feira,
16/1/2007
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Redação
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Fotos e Charutos
Bar Otoni 16, Belo Horizonte, noite, 09/01/2007
Parei o carro debaixo da chuva e dei uma corrida rápida até o bar. Ia ver a exposição de fotos Fantasias de Fidel, de ´
Élcio Paraíso. Os bares às vezes são mínimos e esse não escapou, mas o essencial é o clima e, nesse, eu vi que era bom. (Deus fez o céu, a terra, os bares e também viu que era bom.)
Localizei Élcio, mesa lateral, cercado de conhecidos. Antenas ligadas, atento ao ambiente, o que dá a impressão contrária quando se conversa com ele, como se estivesse meio distraído. É uma falsa impressão. Está atento a você e a tudo mais. Imagino que é a marca do fotógrafo profissional.
Me explicou, em rápidas palavras, a idéia básica da mostra: Fidel faz um discurso de cinco, seis horas e depois vai fumar um charuto. A cabeça deve se soltar, depois do esforço. E isso deve gerar imagens...
Olhei pra parede e lá estavam algumas. Nove fotos em branco e preto, o ato de empunhar um charuto em diversas situações: uma enfermeira, um cãozinho (com um charuto na boca), freiras jogando cartas, um mecânico de motonetas, a barba maior que a do El Comandante, uma moça de perfil; todos manuseando um substancial tarugo.
Notei uma do sujeito na janela de um carro; me chamou a atenção o design daquela porta. Élcio percebeu e me apontou o carro, estacionado na rua, em frente ao bar: "é aquele, meu Karman Ghia." Élcio tem um Karman Ghia(!) prateado.
Um trio alegre e ladino tocava música latina. Ou vice-versa. Violão, percussão e sopros (sax e flauta). E vozes, claro. Três elementos de uma banda maior, União Latina (acho que é isso), formada de treze ou mais hermanos del continiente. O violonista e cantor, Sinuhé, competente e seguro na marcação, quase me fez acreditar que tocariam a "Rumba Azul", pedido meu. A moça da percussão não sabia que música era. Soube depois que não era um trio cubano, apesar da infalível "Guantanamera". Tudo bem, a música tava ótima.
Conheci Liliane Pelegrini, organizadora do evento, a simpatia dela deixa a gente logo à vontade. É jornalista cultural do jornal O Tempo, há tempos o melhor caderno de cultura de Belo Horizonte. Acho eu, mas há controvérsias.
Eu sou leigo em fotografia e me interesso pela transformação da coisa em arte. Quando uma foto entra pra essa categoria? Solicitei, no dia seguinte, uma pequena entrevista (duas perguntas) com Élcio, por e-mail.
Ele respondeu tão bem, por escrito, que o melhor é mostrar na íntegra:
1. O que, na sua opinião, define uma boa foto? (Já que uma foto que esteja nítida e enquadrada, pelo menos, está ao alcance de quase qualquer pessoa...)
Uma fotografia é fruto de como o fotógrafo vê o mundo. Eu, por exemplo, tenho consciência de que uso todo o feedback (que nem é tão grande assim) que tenho de literatura, história, cinema, arte, a serviço da minha fotografia. A técnica também é utilizada a serviço dessa criação, mas é uma parte disso.
A técnica fotográfica é bastante simples de aprender, não leva muito tempo, não. O mais difícil dentro da fotografia é entender, identificar e evoluir um estilo. A boa foto, para mim, tem a marca do fotógrafo e por si só diz a que veio.
E para dizer a que veio o processo de preparação é essencial, captar o momento é importante, mas primeiramente acho necessário identificar o que vai ser fotografado, criar uma história, estudar as possibilidades e sentir o clima. Só depois disso posso resolver qual filme usar, temperatura de cor e iso (sensibilidade do filme ou de captura digital).
2. Em quais momentos você escolhe tirar fotos em preto-e-branco? E coloridas?
Muitas vezes faço o material colorido e quando vou tratar no computador (isso no caso do digital e mesmo da digitalização de um filme) decido que deveria ser preto-e-branco e aí converto a imagem, mas isso é raro acontecer. Gosto de decidir, na hora, a melhor forma de captar o momento. No caso de Fantasias de Fidel decidi o tema, criei o argumento e imaginei as cenas. Neste ponto de preparação decidi que seria feito com uma câmera médio formato (hasselblad 6x6) e, como não conseguia imaginar as cenas coloridas, soube que todo o trabalho teria que ser feito em preto-e-branco. Podemos dizer que a cena nos pede como gostaria de ser captada.
* * *
Élcio me explicou sua formação, jornalista que usa sua experiência em fotojornalismo para a arte no ato de fotografar. Utiliza a técnica para criar seus próprios trabalhos ou projetos, "a possibilidade de contar uma história sem palavras me fascinou completamente". Possui uma agência de fotografia, a Benditafoto. Diz ainda ter tido excelentes resultados aplicando essa técnica em fotos de casamento, por exemplo e "presto serviço para assessorias de imprensa e produtoras culturais fotografando música, comportamento e moda. E ainda toco meus projetos pessoais e trabalho como professor de fotojornalismo em uma escola de fotografia, a Techimage."
Grande Élcio. Foi um prazer conhecê-lo.
Para ir além
As fotos podem ser vistas no site Benditafoto.
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Guga Schultze
16/1/2007 às 02h53
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Questão de estilo
Estilos, estilos... Eu conheço uma centena na literatura universal e entre nós só um, o do Machadão. E, ademais, estilo é a última coisa que nasce num literato - é o dente do siso. Quando já está quarentão e já cristalizou uma filosofia própria, quando possui uma luneta só dele e para ele fabricada sob medida, quando já não é suscetível de influenciação por mais ninguém, quando alcança a perfeita maturidade da inteligência, então, sim, aparece o estilo. Como a cor, o sabor e o perfume duma fruta só aparecem na plena maturação.
Monteiro Lobato, citado por Daniel Piza, cujo site comemora 5 anos.
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Julio Daio Borges
16/1/2007 à 00h04
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Cinema em Atibaia (Final)
Já se sabe quem são os grandes vencedores do segundo Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual . Marcado por curtas-metragens de diversas partes do país, o festival contrariou as previsões do público e premiou duas produções paulistas. Na categoria de 35mm, o escolhido foi Yansan, animação de Carlos Eduardo Nogueira. Já Saba, de Thereza Menezes e Gregório Graziosi, levou o prêmio de melhor vídeo.
Totalmente produzido em computação gráfica, Yansan reconta o mito de Iorubá vivido pelo orixá dos ventos e tempestades. O contexto é genuinamente brasileiro, até o filme se desenrolar num Japão futurista. Enquanto isso, Saba documenta o cotidiano apagado e monótono de um casal de idosos em um asilo. Filme de grande sensibilidade, porém tão parado quanto a rotina dos personagens. Talvez por traduzir tão bem esse espírito, conseguiu captar a simpatia do júri, superando expectativas como de O fim do mundo - Flashback society.
Sem poder questionar o resultado da premiação para a categoria em 35mm - já que não estive na sessão de Yansan - posso dizer que, entre opiniões compartilhadas, grande parte dos que assistiram a mostra profetizava a vitória quase certa de O maior espetáculo da Terra, de Marcos Pimentel ou de Eletrodoméstica, de Kleber Mendonça Filho - que, apesar de tudo, levou o troféu de melhor direção.
O filme de Mendonça não ficou com o prêmio principal do festival, mas angariou o prestigioso troféu Dom Quixote, concedido pela Federação Internacional de Cineclubes - que também concedeu menção honrosa a Canto de Cicatriz, da gaúcha Laís Chaffe, e a Tem um dragão no meu baú, da carioca Rosária.
Já o prêmio de melhor fotografia foi para o curta cearense Dos restos e das solidões, dirigido por Petrus Cariry. Na premiação de melhor atriz, Magdale Alves, também de Eletrodoméstica, levou o troféu para casa. Enquanto isso, o prêmio de melhor ator ficou com Augusto Madeira, de No princípio era o verbo - curta que merecia, pelo menos, uma menção honrosa.
O Festival de Atibaia promete crescer ainda mais nas próximas edições. Está disposto a chamar a atenção de todo o Brasil e até mesmo da Europa. Mas, para isso, seria interessante que corrigisse a má qualidade do áudio e as falhas com a legenda, como fez com o tempo de duração das sessões. Se mantiver o nível de 2007 com estes detalhes sanados, tem grandes chances de se firmar, sem falsa modéstia, como o "festival dos festivais".
Para ir além
Encontrei no YouTube o espirituoso curta caseiro O fim do mundo - Flashback society. Vale a pena espiar esse despretensioso humorístico, uma pequena amostra do que rolou no festival.
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Tais Laporta
15/1/2007 às 23h30
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Os prédios mais feios de SP
A Folha promoveu uma enquete entre arquitetos para saber quais seriam os prédios mais feios de São Paulo. Não houve unanimidade; no máximo, menções esparsas a coisas como a loja da Daslu, o prédio da Dacon e até o Edifício Martinelli.
É que a quantidade de coisas feias em São Paulo é tão grande, que qualquer escolha pode perfeitamente ser a melhor. Naturalmente, critérios estéticos e ideológicos se misturaram bastante nessa lista.
O edifício Martinelli, tanto quanto o prédio da Daslu, foram criticados pelo que significam de arrivismo das nossas "elites", imaginando um luxo europeu no que é puro esbanjamento subdesenvolvido. Mas é claro que, fora desse ataque a prédios luxuosos, muito mais coisa poderia ser apontada.
A Igreja "Deus é Amor", que mereceu um voto também, é muito mais feia, claro, do que o prédio da Dacon.
Mas eu citaria ainda aquele prédio preto do Unibanco, na Marginal do Pinheiros; o conjunto de edifícios chamado "Place des Vosges", no Morumbi; o hospital da saúde da mulher, na avenida Doutor Arnaldo; o edifício Viadutos (acho que é esse o nome), quase em frente à Câmara Municipal - um estafermo de Artacho Jurado que bloqueia completamente o horizonte de quem está na avenida São Luís em direção à rua Augusta; o Hotel Renaissance, de Ruy Ohtake, com suas listas pretas e vermelhas, na alameda Santos.
Menção especial, porque não é prédio, merece a marquise do premiado Paulo Mendes da Rocha na Praça do Patriarca, uma intrusão desproporcional e chatíssima no lugar.
Ainda nos ícones da arquitetura paulistana sempre elogiados pelos especialistas, acharia muito estranho se dissessem que o famoso edifício Esther, na praça da República, é bonito... E o consagrado edifício Louveira, de Villa Nova Artigas, na praça Villaboim, tem uma combinação de cores bastante infeliz, e quem está na rua vê uma parede inteira de fundos de cozinha e área de serviço envidraçada. Ah, mas vá falar mal...
Não esqueço das janelas do prédio do Sesc Pompéia, de Lina Bo Bardi, e, claro, do prédio da Folha, na Barão de Limeira... casa de ferreiro, espeto de pau.
Marcelo Coelho, em seu blog (porque eu nunca citei, porque, dia 10, foi aniversário dele, e porque nós poderíamos lançar um concurso...)
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Julio Daio Borges
15/1/2007 às 16h36
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DaniCast no Dynamite Pub
Devido a várias coisas que aconteceram, a vernissage da minha exposição foi transferida de local.
A festa se realiza hoje, dia 15/01, no Dynamite Pub: Rua Cardeal Arcoverde, nº 1857 (quase esquina com a Mourato Coelho), a partir das 20 horas, 11 3032-5623 (telefone), na Vila Madalena.
É uma festa fechada, então, por favor, quem quiser ir, confirme por e-mail diretamente: danielacastilho@gmail.com.
Peço desculpas pela repentina mudança de local, mas vai ter bebida para todos...
Atenciosamente,
Daniela Castilho aka DaniCast [por e-mail...]
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Julio Daio Borges
15/1/2007 às 10h49
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E-lovelados
Alguns meses já se passaram e vivamente se faz em mim o mundo noturno que se mantinha quando nos encontrávamos onde não sei se descia ou era aberta uma cortina pesada de veludo vinho, delimitando o começo de uma história-encenação à distância que os dedos separam uns dos outros. Confabulando ferozmente o que dizer, atento às sílabas esvoaçantes que envio num mexer de lábios, você, como um animal latente, também pressente meus movimentos, passeia ao meu redor roncando baixo, comprovante de que vivemos à nenhuma distância, pois meus ouvidos recebem sua respiração de fantasma recém-adormecido. Posso vê-lo em feitiçaria de bola de cristal onde, diluídos, nos tateamos longamente, em brincadeira surda-muda, no lugar algum, emaranhados nos fios de suor da noite, nos mantemos, bravamente acesos diante da manhã próxima, estraga-prazer. E, ao toque da tomada, altas horas - robôs que voltam à vida lata velha.
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Elisa Andrade Buzzo
15/1/2007 à 00h27
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Cinema em Atibaia III

Depois da última sessão de curtas brasileiros, a cidade de Atibaia entrou em clima de expectativa. Em 2007, o Festival de Atibaia Internacional Audiovisual alcançou a popularidade esperada: as mostras receberam uma quantidade considerável de espectadores e as intervenções artísticas, promovidas por uma delegação francesa, atraíram quem passava por perto. Os que circularam pelo Centro de Convenções entre uma sessão e outra puderam assistir à performance do grafiteiro Blade e do músico Khalid K., que criou sons extraordinários apenas com a voz e recursos eletrônicos.
Outra grande sensação do festival - fora as mostras de cinema - foi o show com o cantor e compositor Luiz Melodia. Com voz de veludo que lembra os grandes mestres do jazz e do blues, Melodia deitou seu repertório musical entre as quatro paredes do Cine Itá, no centro de Atibaia. Levou o público ao êxtase com as músicas "Estácio, eu e você", "Codinome beija-flor" e "Ébano". Quando encerrou a apresentação, a platéia aglomerou-se em frente ao palco, aos delírios, com pedido de bis. Melodia voltou com "Negro gato" na ponta da língua.
Antes do show, aliás, os últimos filmes da mostra competitiva vieram a público. Em termos de qualidade, a média da seleção foi razoável se comparada às sessões anteriores. O primeiro curta a rodar, no formato de vídeo, foi Tinha a gata Gioconda, de Ivan Spacek. O diretor fez um passeio nostálgico pela infância em Atibaia, por meio de colagens e recortes com fotografias, trabalho que desembocou em engraçadas criações. Entre elas, os quatro super-heróis que habitam a antiga cidade. O curta é um criativo projeto de humor.
Em seguida, o documentário Lectures percorreu os metrôs e trens da França para documentar as principais leituras dos passageiros. Flagrou momentos de introspecção e cenas curiosas, como a de uma mulher contando uma história, através de um livro, para o filho pequeno. Pautado pela imagem, o vídeo foi totalmente gravado por uma câmera de telefone celular, o que rendeu uma baixa qualidade visual. Apesar do feito experimental, não merece maiores elogios.
Já o também curta-metragem de não-ficção A resistência do vinil faz uma interessante imersão pelo universo dos que resistem em colecionar, vender ou pechinchar discos de vinil, dez anos depois de sua substituição pelo CD - e, agora, pelo DVD e pelo MP3. Capta depoimentos curiosos e engraçados e resgata memórias já esquecidas sobre o tempo em que as agulhas choravam em muitas vitrolas. Grande filme, completo e sem lacunas evidentes, foi merecidamente indicado para figurar na mostra.
Quanto ao curta De Glauber para Jirges, de André Ristum - o mesmo diretor de 14 Bis, um dos mais bem orçados da história brasileira, também exibido no Festival de Atibaia - relê trechos de cartas enviadas por Glauber Rocha ao amigo Jirges Ristum - pai do diretor - em meados dos anos 70. Mostra o olhar crítico de Glauber sobre as características brasileiras da época e presta uma homenagem aos dois amigos, ambos falecidos na década de 80. A ótica de Ristum, assim como em 14 Bis, é predominantemente emotiva. No desenrolar do filme, os movimentos de câmera são sempre atribulados e inconstantes. Pode ser definido como um documento memorável, mas não como uma obra-prima.
No caso de No princípio era o verbo, ficção de Virgínia Jorge, descortina-se um forte resgate de situações tipicamente brasileiras e há muito esquecidas pelo cinema. O roteiro desenvolve três histórias simultâneas em um dia de Carnaval, que se fundem em ritmo poético e bem-humorado. Tece uma reflexão simples, porém brilhante, sobre os mistérios do cotidiano pelo prisma de pessoas comuns. Um retrato fiel do cotidiano que se repete todos os dias no Brasil. Este, sim, um filme de sensibilidade ímpar.
O próximo curta, Deu no jornal, é uma animação que mostra as fantasias sexuais de um solitário leitor de jornal. Nos classificados, o personagem dá asas ao desejo e a lembranças eróticas. Arrancou risos da platéia, mas constrangeu algumas mães com crianças pequenas. Já o filme mais aguardado da noite, Eletrodoméstica, de Kleber Mendonça Filho, não é nenhum lampejo de genialidade, mas faz o gênero do gosto popular. Havia sido bem comentado em outros festivais. O roteiro desenvolve a relação de uma dona de casa com seus afazeres domésticos e com os recursos eletrônicos que cercam seu trabalho. Mas as cenas finais, dependendo da ótica pessoal, podem ser interpretadas como uma idéia sem graça ou como uma saída fantástica. As opiniões se dividiram.
Agora resta aguardar o resultado final da competição. O melhor curta-metragem em 35mm receberá 16 mil reais dos organizadores, mais oito mil em equipamentos de filmagem. Já o melhor vídeo recebe oito mil reais dos organizadores, mais quatro mil em equipamento. O melhor diretor, fotógrafo, ator e atriz também recebem premiações. Além do prêmio do júri, a Federação Internacional de Cineclubes vai conceder o prestigioso Troféu Dom Quixote a um dos trabalhos apresentados.
O Digestivo vai fazer um balanço, aqui no blog, dos resultados que saem esta noite.
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Tais Laporta
13/1/2007 às 14h27
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Foi assim
Rolei de lado, ajeitei o travesseiro pela última vez. Lá fora, barulho de hóspedes colocando malas, coisas em carros, voltando para os lugares de onde vieram. O quarto já estava cheio de uma luz bem fraquinha, me dizendo que eu podia desistir de tentar dormir, levantar. Levantei. Lavei o rosto, vesti a camiseta regata verde amassada, peguei o livro, saí. Desejei BOM DIA aos hóspedes que se preparavam para a viagem de volta, sorri OLÁ para a menininha sentada na escada da pousada. O dia prometia ser bonito, recompensa para a noite mal-dormida, ruim. Resolvi caminhar até a praia, sentei na areia, abri o livro, olhei o mar. A quatro dedos acima da linha do horizonte, umas nuvens de chuva, lá longe. No meio da página 152, vi o sol surgindo devagarinho. Ele foi nascendO nascENDO nASCENDO e em pouco tempo estava INTEIRO, sobre o mar, sob as nuvens. Sorri o meu segundo sorriso do dia. Tinha esquecido como é bonito ver o sol nascer. Fiquei feliz.
Do Tiago A., cujo blog, claro, linca pra nós.
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Julio Daio Borges
12/1/2007 às 16h24
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Cinema em Atibaia II

Depois de um dia marcado por exibições mornas, finalmente a segunda edição do
Festival de Atibaia Internacional Audiovisual começa a ferver. Ontem foi a vez de fragmentos de genialidade ganharem espaço na sala de projeção do Centro de Convenções. A seleção de curtas mostrou temáticas mais diversificadas e abriu portas para o humor inteligente. Grandes surpresas lançaram luzes, inclusive, sobre produções mais medianas, tornando a média de ontem bem superior ao dia anterior.
A mostra não competitiva dos filmes exibidos durante o Festival de Emden, na Alemanha, trouxe ficções com roteiros
indiscutivelmente bem-elaborados. Seria melhor que todos fossem exibidos com legendas em português, assim como os brasileiros receberam cuidadosa tradução para o francês. A organização se desculpou pela falha, mas o detalhe não passou batido. Um festival aberto para o grande público - que, não necessariamente, entende mais de uma língua - não poderia se dar a esse luxo. Um curta alemão, recheado de diálogos, ganhou projeção sem qualquer legenda. Outro foi traduzido em inglês. Por sorte, o público captou a expressividade na dupla "forma-conteúdo" dos filmes.
Dentro da sessão, o curta Clube de Chicxu metaforizou a tragédia de um casal diante do acidente da filha. O "choque humano", sempre abordado por óticas convencionais, ganhou adequada comparação ao período em que um meteoro se chocou à Terra, há 65 milhões de anos. Transportou o horror do fim do mundo dentro de duas pessoas. Outro curta que literalmente emocionou o público foi Romance. Embora discutisse o velho estigma da solidão e da enfermidade em um quarto de hospital, transbordou em delicadeza e sensibilidade, sem cair no perigo da comoção "barata".
Ainda na mostra alemã, a animação em
stop motion, Kater, alucinou o público com sua veia humorística - gênero que quebrou, em boa hora, a sequência de filmes dramáticos. O curta alcançou visibilidade no Anima Mundi e provou que a técnica em stop motion agrada tanto ou mais que o desenho em três dimensões. Para finalizar a sessão estrangeira, o curta Chinese take away foi daquelas ficções em que o conteúdo fala mais alto que a forma. Propositadamente engraçado e catártico, completou a lista dos grandes trabalhos da mostra.
Quanto aos curtas brasileiros, ontem foi o dia dos documentários e filmes de humor. Todos trouxeram um dinamismo que esteve em falta na média da mostra anterior. Os trabalhos de não-ficção Z.inema, de Carol Thomé, e Canto de cicatriz, de Laís Chaffe, exploraram lacunas inéditas em suas respectivas temáticas. O primeiro contou a história de um homem que construiu uma sala de cinema com sucatas encontradas na rua. Já o segundo discutiu um problema ainda indigesto no Brasil: a exploração sexual de crianças. Ambos redondos e bem documentados, valeram pelo conteúdo.

O esperado Alguma coisa assim, de Esmir Filho e Mariana Bastos, se salvou pela composição visual e pelo jogo de câmeras, mas se apagou perto dos outros curtas. O roteiro, cheio de mensagens subentendidas, começa e termina com uma indefinição confusa. Ontem foi mesmo o dia dos humorísticos. A começar por Santa de casa, animação inspirada em conto de Aldir Blanc que satiriza a sociedade brasileira sem agressividade. Os grandes estereótipos presentes no país do Carnaval ganharam destaque em um enredo leve e bem-humorado.
Já
O fim do mundo - Flashback Society, classificado como documentário, é um retrato propositadamente engraçado sobre a tensão do ser humano perante o fim do mundo, durante a virada do ano de 1999 para 2000. O vídeo caseiro e sem comprometimento com a forma chamou a atenção pelas brincadeiras ilustrativas sobre a posição dos planetas no momento da "destruição final". Também captou depoimentos e cenas igualmente sarcásticos. Um tipo de humor que não estaciona na superficialidade ou nos preconceitos sociais. Alcança as bases da sociedade - fé, morte, religião e amizade.
Mas o
projeto que realmente surpreendeu foi A espera da morte, de André Luís da Cunha. De longe o mais comentado, chamou a atenção quando ninguém mais esperava produções ímpares. No curta, a companhia de teatro brasiliense Os Melhores do Mundo interpreta a tripulação do submarino soviético Krushev. O cenário, o figurino e os planos de câmera convencem. E o roteiro também impressiona por intercalar, de forma apropriada, momentos de tensão e de humor. Um detalhe curioso: os diálogos são todos em russo. O elenco ensaiou por meses para satirizar as tripulações russas com mais intimidade. Outra surpresa foi a interpretação de Jovane Nunes no papel do comandante. O público ovacionou o curta, que encerrou a mostra com saldo positivo.
O Festival de Atibaia encontra, aos poucos, o seu norte. Mas ainda é cedo para tirar conclusões definitivas. Faltam mais dois dias de exibições. E o Digestivo vai cobrir os melhores momentos.
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Tais Laporta
12/1/2007 às 15h16
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Banheiros
O templo sagrado da humildade é o banheiro. Estamos ali a sós, percebendo a fragilidade da carne, olhando o espelho que nos confronta com um outro ser que nos olha, pasmo, atrás do vidro e nos mostra a realidade de uma anatomia que sente, mais do que supúnhamos, a passagem do tempo.
Ali permanecemos às vezes quietos e pelas paredes, em silêncio, reverberam memórias, alguns sonhos, uma gota de água estala musicalmente em algum canto e acordamos de repente no meio de uma função qualquer, extremamente física.
Ali testamos, meio sem graça, algumas posturas a serem talvez usadas a posteriori, mas não, não funcionou.
Ali descobrimos recantos do corpo ainda não mapeados, testamos as juntas, joelhos, juventudes idas, nos tocamos como desconhecidos e em silêncio, até que a água de um chuveiro nos absolva e, talvez, cantemos alegres porque sentimos, estamos vivos.
Acredito piamente que a água de uma pia é um bálsamo e que o brilho nos ladrilhos, latrinas e canos dissipam o engano, o humano engano.
Todos aqueles que saem de um banheiro são, em proporção direta com o tempo em que lá estiveram e ainda que minimamente, seres humanos melhores.
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Postado por
Guga Schultze
11/1/2007 às 15h51
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