LLMs gastam muita energia e água, envolvem muita exploração de trabalho e envolvem o roubo de propriedade intelectual. Então, agora, é impossível escapar dessas coisas. Não temos uma LLM que é eficiente de energia e que foi feita somente com práticas de trabalho justas e que foi treinada somente em trabalho de domínio público. Nesse sentido, portanto, não há uma LLM realmente ética.
Para seguir com a análise do veganismo, como falei, não sou um vegano de verdade. Eu sei sobre todos os problemas éticos com a produção de carne. Então, não estou aclamando que sou perfeito ou santo ou algo assim. Sou muito ciente dos problemas éticos e conflito sobre eles.
Mas, diferentemente do veganismo comum, todo mundo já era "vegano de LLM" até cinco anos atrás. Isso foi um hábito que as pessoas só adotaram recentemente, então não é como se estivéssemos pedindo para as pessoas desistirem de algo ou viver um tipo de vida que elas nunca viveram. Nós todos vivemos, estávamos perfeitamente bem sem eles.
Os usos mais comuns são terríveis, que é basicamente criar spam. A quantidade de bobagem e ruído que você tem que lidar no seu dia a dia aumentou significativamente nos últimos anos por causa de LLMs.
Pode haver algum uso bom, mas a questão é: o que foi gerado em LLM que realmente fez a diferença na sua vida, que te deixou mais feliz do que estava antes?
2025 marca o centenário do nascimento da escritora norte-americana Flannery O'Connor (1925-1964). A agenda para a celebração inclui, em sua Georgia natal e no resto dos EUA, uma série de palestras, exposições, leituras, releituras - incluindo aí tentativas de cancelamento, motivadas por certas posições da autora sobre questões raciais - e, claro, muitas novas edições. Não será diferente no Brasil, com a publicação, através da editora É Realizações, do livro de ensaios "Mistérios e Costumes" (296 páginas, tradução de William Campos da Cruz).
"Mistérios e Costumes" reúne ensaios e palestras, a maior parte deles inéditos, recolhidos por Robert e Sally Fitzgerald, amigos de Flannery O'Connor. O título refere duas tendências presentes em sua obra: o Mistério, oriundo de sua formação católica, e os Costumes ("Manners", no original) do Sul dos EUA, de onde ela vem. Por um lado, a busca pela transcendência; pelo outro, os hábitos consagrados da vida sulista, seus códigos e suas regras escritas e não-escritas.
Essas duas tendências, quando combinadas, dão origem em um problema complexo de identidade: católica de origem irlandesa, Flannery era uma outsider no sul dos EUA profundamente anglo-saxão, profundamente protestante e, por vezes, profundamente anti-irlandês e anti-católico. Ao mesmo tempo, sendo uma mulher sulista, era alvo dos muitos estereótipos sobre os nativos daquela região cultivados pelos americanos do Norte, onde estavam - e estão - os maiores centros literários dos EUA. Essas e outras inquietações da autora permeiam os ensaios "O escritor de ficção e o seu país", "O escritor regional" e "Alguns aspectos do grotesco na ficção sulista". O processo de criação literária é contemplado em "A natureza e o objetivo da ficção", "Escrevendo contos" e "Sobre sua própria obra". O volume traz ainda ensaios sobre a posição do escritor católico diante da Igreja e de sua missão como artista. A leitura é saborosa, bem temperada pelo senso de humor de O'Connor.