Pânico de aeroporto | Blog de Sonia Regina Rocha Rodrigues

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Segunda-feira, 30/11/2015
Pânico de aeroporto
Sonia Regina Rocha Rodrigues
+ de 3100 Acessos


Entendo, sim, ah, como entendo!
Você passou pela pior experiência de sua vida e está traumatizado; teve um colapso nervoso, quase perdeu o avião, passou meses à base de tranquilizante e o psiquiatra desistiu de tentar tratar você.
Você agora quer cancelar as férias, desistir da viagem planejada pela família, seus filhos o odeiam e a mulher quer o divórcio, A situação pede medidas desesperadas, eu sei. E creio ter a solução.
Nem sempre uma pessoa tem tempo de familiarizar-se com a situação problema em terreno amigável, experimentar o enfrentamento na infância, em grupo, em seu próprio país.
Eu, como você, vivi minha primeira experiência de horror na maturidade, na frente de filhos na pior idade, sentindo a pressão interna de ser o modelo, de dar exemplo, corresponder à imagem de pai herói, essas imposições mentais que nós, simples mortais orgulhosos, sofremos antes de conhecer o tamanho do monstro.
Em Guarulhos o estresse de aeroporto foi administrável. Aquela multidão apressada e indiferente comunicava-se em português. as placas e painéis idem, o cuidado maior era escapar de bandidos que roubam as meias sem tirar os sapatos do assaltado, sei que você me entende. Vai-se ao banheiro com um olho nas crianças e outro nas malas. Em minha primeira viagem, as danadinhas não tinham quatro rodas, como as de hoje. As malditas escorregam das escadas rolantes, tombam, rolam, entravam nas portas dos elevadores e pesam toneladas, balançando perigosamente na pilha arrumada no carrinho de bagagens, carrinho que insiste em desviar para um dos lados.
Meu batismo de fogo foi Toronto, onde eu fiz conexão e precisei fazer o translado das malas. Entendo porque muitos pagam cinco vezes mais caros por menos tempo de passeio. Sofre-se menos acompanhado.
Confiante em meu francês, logo descobri que do fora de Quebec quem se exprime em francês são somente as placas. Já no primeiro minuto senti-me perdido. Compreendi que teria de me bandear com crianças e malas para outro aeroporto, um doméstico. Ante o meu ar desesperado, um funcionário solícito chamou por outro, que "falava a minha língua": espanhol! Chamei de volta o canadense, Escrevi bilhetes, que não tem sotaque...
Enveredei por corredores sinuosos, desci, subi, enganei-me, refiz o percurso suando, embarquei em um pau-de-arara versão aeroporto, um ônibus que transporta gente em pé e de alguma forma as malas e as crianças têm de ser contidas - como? Em meio a olhares furiosos e críticos, atravessamos um viaduto e fomos finalmente despejados em um terminal do doméstico, infelizmente o terminal errado...
Claro, o número do vôo está impresso na passagem, só que o painel luminoso parecia não ter sido avisado. Infeliz, permaneci estático observando as conexões que se sucediam brilhando e piscando, insistindo em ignorar a cidade de Vancouver.Quando finalmente o portão de embarque resolveu aparecer no painel, precisei localizar o danadinho fisicamente. Havia um mapa imenso em uma das paredes, para facilitar a vida dos perdidos no labirinto. Bela tentativa, no meu caso, inútil. Meu cérebro disléxico interpreta mapas às invertidas. Disléxicos travam sob tensão.
Os elevadores, por alguma sinistra intervenção, escondiam-se de mim. O jeito era uitlizar rampas e exercitar os braços ladeira abaixo ou acima. A essa altura eu agradecia ao universo porque letras e números são iguais em português e em inglês, mas tive pouco tempo para alegrar-me por não estar no Japão ou na Arábia. O primeiro corredor desembocava em um segundo, e este em um terceiro, mais longo e deserto. Quando pensei ter chegado ao destino final, encontrava-me diante do blacão de entrega de malas. Depois de breve descando, a brincadeira de "descubra seu portão"recomeçou, sem as malas, felizmente.
Indicaram-se a direçao B4, embora no painel eu lesse C7...eu em francês, o outro em inglês, desconversamos em um mapa, rascunhado com um "x" que deduzir marcar o local de nosso embarque.
Não era no B nem no C e quando descobri isso eu já emagreceram alguns quilos, perdera a cor e a voz. Um anjo jogou em meu caminho outro brasileiro tão perdido quanto eu, mas com a vantagem de falar inglês.
Um guarda impaciente, aos gritos de "go! go!" apontou um túnel adiante. Corremos loucamente, o rapaz, eu e as crianças. (como era bom estar sem as malas!). Desembocamos em uma espécie de praça, onde uma senhora suspirou, aliviada ao nos ver, em português:
- Gente! Graças a Deus! Estou aqui já tanto tempo!
Nisto aproximou-se uma perua, vazia, a buscar pelos retardatários: nós. Ventie minutos depois parou e deu instruções ao rapaz que nos guiou até o embarque. Ouvimos no trajeto a úlitma chamada, como compreendi pela agitação do rapaz.
Fui o último a entrar, sem direito a banheiro, lanches, compras, nada.
As crianças me olhavam caladas, em um misto de decepção e piedade pelo pai desalojado do pódio. Consolaram-,me com beijos molhados e acariciavam meu rosto com mãozinhas trêmulas, a repetir como um mantra "está tudo bem".
A vida ;e impiedosa. A proxima viagem, onde eu ingenuamente pensara embarcar, para Paris, como um "connaîsseur", me surpreendeu com novas torturas: check-in eletrônico, drop-off de calçada, GPS, aplicativo para acompanhar informações de voo pelo celular.
O pobre viajante agora precisa ler uma lista telefônica de instruções antes de descobrir em dez segundos que com ele a tecnologia empaca e o direciona ao blacão, onde um profissional educado não coloca em palavras o eloquente olhar: "por que cargas d'água esse sujeito não fez tudo online?"
Segui pela vida, sofrendo entre senhas e terminais, simplesmente porque minha paixão por viagens é maior, miuto maior que meu pânico de aeroporto até que...

- A mãe (de 87 anos) vai junto com você, levando duas malas de 32 quilos, mas não se preocupe que eu já pedi cadeira para ela.
- Mãe? Cadeira?
- Claro, irmão, caderia de rodas, para idosos, depois do balcão de embarque.Até lá você leva.

Chorei noite seguidas. Às escondidas. No escurinho do quarto. Meus pesadelos recorrentes versavam sobre a impossibilidade de atravessar os longos corredores de aeroportos com mãe, cadeira de rodas, malas. Como eu iria dar conta? Dessa vez emagreci antes do vôo.
A confusão começou já em Guarulhos, em reforma, sem sinalização, e o taxista folgado que desconhecia o caminho:
- O senhor desce lá e pergunta, faz o favor, que eu não posso deixar o táxi.
Lá fui eu, atravessei o estacionamento, cruzei duas pistas congestinonadas e falei ao atendente do balcão de informações:

- Minha mãe tem 87 anos, está lá no estacionamento, fiz o pedido de uma cadeira de rodas para p Delta Airlines, como faço para ...
O risonho rapaz nem me deixou terminar a frase. Chanmou alguém da Delta pelo telefone:
- Uma passageira de 87 anos está no estacionamento, tem como ri lá buscar? É uma situação especial.

Menos de cinco minutos depois um funcionário ligeiro e atencioso foi buscar mamãe, chamou outro colega eficiente para ajudar no transporte das malas. Segui atrás deles, em passo acelerado, maravilhado em ver como os elevadores apareciam magicamente quando precisávamos deles, passamos à frente na fila do despacho das malas e na de embarque. O rapaz só nos deixou à porta mesmo do avião.
Na descida, a comissária de bordo me avisou que nem levantasse. Após todos descerem á que a cadeira apareceria à porta da aeronave. Novamente fomos conduzidos diretamente à esteira, onde o funcionário pegou as malas e as acomodou na carrinho, passamos à frente no setor de imigraçao e, do lado de fora, fomos transportados por um carrinho elétrico por rampas seniosas e intermináveis até a saída.
Assim descobri: acompanhar idoso é tudo de bom!
Esqueça as dificuldades todas - rampas, painéis, elevadores, portões. Conheça finalmente a alegria de voar. Se você não tem o seu próprio idoso, procure-me, que eu alugo mamãe.
Isso mesmo. Eu alugo a mamãe.
Antes de me censurar, saiba que a idéia partiu dela. Mamãe adora viajar, é saudável, culta, bem-humorada. Ela se compromete a levar apenas bagagem de mão e despachar duas malas de 32 quilos para você. Faça as contas e confira. Pagar a passagem de mamãe sai mais barato que pagar excesso de bagagem.
Mamãe só pede que você pague a passagem dela com três dias de intervalo para os passeiios, nso quais, se você quiser, ela o convida para partilhar meais entradas e acesso preferencial para acompanhantes de idosos.
Mamãe paga pelas próprias refeições, passeios e diárias de hotéis.
Faça como eu, que já comuniquei a meus médicos que a partir de agora dispenso terapias, florais e ansioliticos ineficazes.
Mamãe é melhor que Prozac.

Leia mais sobre as viagens da autora


Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
Em 30/11/2015 às 15h21

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