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Sexta-feira,
14/1/2022
Fazer o que? Sextou.
Raul Almeida
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Começa a segunda semana, dia 14 do mês, juntamente com o seu próprio fim: sexta-feira. Tento parar o pensamento, o ruído das palavras sentidas e não pronunciadas, a interlocução comigo mesmo e perceber a inutilidade da constatação. Ora, apenas uma coincidência, uma travessura do calendário. A mente dá uma cambalhota e encontra o Papa Gregório, o patrono da marcação do tempo, tal como é hoje.
E tome elucubrações vazias,
E como seria no calendário lunar? Será que tem sexta-feira nos rodopios da lua? Não seria ele o mais adequado aos que vivem na e da noite? Afinal, o calendário lunar é usado por milhões de pessoas nesse mesmo mundo.
Antigamente o domingo dos noturnos era na segunda-feira.
Trabalhei e vivi da noite por um bom tempo. Folgava na segunda. Às vezes, já avançado na madrugada pensava na vida dos fregueses, alguns pagando contas, outros sem notar o tempo passando. Vez por outra uma altercação, um bradar, um desconforto, até alguma pancadaria assisti sem grande espanto, Tudo fazia parte do horário.
Luzes fortes, comida, bebida, música em volumes abissais, gente bonita, gente feia, cheiro de tabaco misturado com colônias, perfumes, molhos e bebidas.
O meu tempo de vida dentro da noite não foi muito longo, mas suficiente para conhecer um mundo , quase uma dimensão, fascinante, diferente, com regras próprias, com ritmo próprio, com sentimentos, paixões, cores e rotinas próprias. Nele as pessoas diurnas entram e saem. Sonham, sofrem, amam ou, apenas, se divertem.
Calendários à parte, o trabalho noturno ocupa uma enorme quantidade de tipos muito especiais de seres noturnos. Alguns eventuais, outros por rotina de escala, alternando a luz e a sombra, mas sem os quais a vida seria muito mais difícil. São os que têm que resolver os problemas causados pelo Acaso ou a Fatalidade. São os socorristas, os profissionais de Saúde, plantonistas, bombeiros, operários que dão suporte a ocorrências atípicas como queda de árvores, desligamentos de força e luz, policiais. Para esses não há festa, música, gente bonita falando alto. Aqui a dimensão não tem nenhum fascínio. E o tempo jogando contra, a dor gritando mais alto, o medo gargalhando em estrépito e escândalo, Muitas vezes a vida pedindo socorro.
O dia vai clareando, o pessoal da noite terminou o seu trabalho e vai procurar o seu descanso. Amanhã tem mais.
Hoje termina mais um ciclo de sete dias. Uma semana. Bem, hoje é sexta-feira, começa o fim de semana…
Não importa. O calendário não sinaliza fins de semana. Só sexta-feira.
Sextou!
Vamos festejar.
Postado por Raul Almeida
Em
14/1/2022 às 12h38
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