Jazz: música, política e liberdade | Relivaldo Pinho

busca | avançada
76393 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> 'O homem não foi feito para ser feliz' cearense Maurício Mendes lança romance de estreia
>>> Burnout, corpo, memória e ancestralidade: Verônica Yamada lança 'Tempos Amarelos'
>>> CCBB Educativo celebra o Dia do Patrimônio com experiências artísticas e gratuitas
>>> IV Festival SP Choro In Jazz, em setembro, faz homenagem a Hector Costita e Laércio de Freitas
>>> A Boca que Tudo Come Tem Fome (Do Cárcere às Ruas) reestreia na sede da Cia de Teatro Heliópolis
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Chegou a hora de pensar no pós-redes sociais
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
Colunistas
Últimos Posts
>>> Glenn Greenwald sobre as sanções em curso
>>> Waack: Moraes abandona prudência
>>> Jakurski e Stuhlberger na XP (2025)
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
Últimos Posts
>>> Jazz: música, política e liberdade
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> As noites insanas de Zizi Possi
>>> Ajustando o rumo
>>> Uma Santa História
>>> Notícias de uma guerra particular
>>> O Filho da Noiva
>>> MUQUIFU
>>> Ruy Castro e seus orgasmos amestrados
>>> O homem da paz celestial
>>> Contrary to popular beleif
>>> Necrófilos da vanguarda roqueira
Mais Recentes
>>> Os Supridores de José Falero pela Todavia (2020)
>>> Fale Tudo Em Italiano! ( Cd Audio) de Teresa Drago pela Disal (2009)
>>> O Caraminguá de Bia Bedran pela Nova Fronteira (2015)
>>> Tupinilândia de Samir Machado de Machado pela Todavia (2018)
>>> Talvez Você Deva Conversar Com Alguém de Lori Gottlieb pela Vestígio (2022)
>>> O Unico Aviao No Ceu - Uma Historia Oral Do 11 De Setembro de Garret M. Graff pela Todavia (2021)
>>> Conexão Galileia de Sandra Carneiro pela Vivaluz (2021)
>>> No Capricho: Caligrafia Integrada Com Ortografia E Gramática + Brinde: Caligrafia Divertida de Isabella Carpaneda pela Quinteto (2016)
>>> I Ching: o Livro das Mutações de Richard Wilhelm ( Prefácio de C. G. Jung ) pela Pensamento (2006)
>>> O Essencial Da Teoria U: Princípios E Aplicações Fundamentais de C. Otto Scharmer pela Editora Voo (2020)
>>> Scrum. A Arte De Fazer O Dobro Do Trabalho Na Metade Do Tempo de Jeff Sutherland; J J Sutherland pela Sextante (2019)
>>> O Grande Debate de Yuval Levin pela Record (2017)
>>> Alimentação - Problema e Solução para Doenças de Denise Madi Carreiro pela Do Autor (2007)
>>> O Pequeno Planeta Perdido de Ziraldo Alves Pinto pela Melhoramentos (2014)
>>> Benedicto Lacerda : E a Saudade Ficou de Jadir Zanardi pela Muiraquitã (2009)
>>> Charadas E Piadas Para Meninos E Meninas de Equipe Susaeta pela Girassol (2016)
>>> Variedades de Paul Valery pela Iluminuras (1991)
>>> Os Doze Trabalhos De Hércules (Monteiro Lobato Em Quadrinhos) de Denise Ortega pela Globinho (2015)
>>> Paz e guerra entre as nações de Raymond Aron pela Editora Universidade de Brasília (1979)
>>> Terra: O verdadeiro inferno? de José Alexandre dos Reis Cardozo pela Ipê das letras (2025)
>>> Filosofia Brincante de Marcia Tiburi pela Galerinha Record (2010)
>>> Freud apocaliptico? de Gerard Pommier pela Artes Médicas (1989)
>>> O Pai E Sua Função Em Psicanálise de Joel Dor pela Jorge Zahar (1991)
>>> Fator Caph: Capitalismo Humanista A Dimensão Econômica dos Direitos Humanos de Ricardo Sayeg e Wagner Balera pela Max Limonad (2019)
>>> Sociodrama familiar sistêmico de Maria Rita Dangelo Seixas pela Aleph
BLOGS >>> Posts

Sexta-feira, 8/8/2025
Jazz: música, política e liberdade
Relivaldo Pinho
+ de 100 Acessos


Uma vista de um espaço na exposição Entartete Musik de 1938. Fonte: https://holocaustmusic.ort.org/politics-and-propaganda/third-reich/jazz-under-the-nazis/



No dia 30 de abril se comemora no mundo o Dia Internacional do Jazz . A data foi definida em 2011 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para celebrar o gênero musical como símbolo de valores humanos, como a paz, o diálogo, a harmonia e a liberdade.

Em sua origem, o jazz já mostrava sua ligação com a política e a liberdade. Exatamente porque ele é herdeiro das influências musicais dos descendentes de africanos que serviram como mão de obra escrava nas plantações de algodão nos Estados Unidos, especialmente na cidade que é considerada seu berço, Nova Orleans.

A virada dos Séculos XIX e XX marca a consolidação do jazz e sua posterior integração definitiva na produção cultural industrial.

Após a Primeira Guerra Mundial , com o surgimento dos EUA como potência econômica, o jazz seria tocado em outras cidades e capitais do país e seu sucesso o faria chegar à fervilhante Paris do anos 20.

Mas o trajeto desse gênero musical, bastante ignorado hoje, teve ainda mais relações diretas com importantes acontecimentos históricos e com a luta pela liberdade, tanto dentro, como fora dos Estados Unidos.

Conhecemos de algum modo a relação entre o jazz e a luta dos direitos civis, mas são pouco conhecidas as histórias sobre o ritmo em países que, nas primeira metade do Século XX, viviam sob regimes totalitários.

É o caso do jazz na União Soviética . Sim, senhoras e senhores, o gênero musical também grassou pelos arredores do Kremlin, em um movimento pendular entre a permissão e a proibição.


Cartão postal soviético de 1937 (cortesia de soviet-postcards.com). Fonte: https://jazzvocate.medium.com/a-beginners-guide-to-jazz-in-the-soviet-union-d287b377a352


Após sua chegada, por volta dos anos 20, houve depois a tentativa de criar um jazz voltado para uma música popular proletária dentro da ideia de que a arte deveria servir à revolução.

Ele também foi utilizado no exército vermelho, que tocava e ouvia a música como forma de entretenimento nas frentes da Segunda Guerra.

Mas, tanto as tentativas de proletarização do jazz sucumbiram em um arremedo do estilo, como, a partir de 1946, com o fim da Guerra, a perseguição aos músicos independentes do regime se intensificou.

A maioria desses músicos foi presa, acusada especialmente de manter relações próximas demais com a cultura do inimigo norte-americano. Como sempre, o inimigo sempre é o outro, ele é o bárbaro e é também o invasor.

Havia não só a ideia de que faltava arte popular e folclore nessa nova manifestação musical, mas também a ideia de que a penetração da cultura de fora, para uma União Soviética que queria se fechar a essas influências, era uma ameaça ao processo revolucionário.

De certo modo, essa atitude também refletia a ideia de Stalin de que a revolução deveria se consolidar em um só país, na URSS, ao contrário do que pensava seu opositor e sua vítima Leon Trotsky .

Nesse rastro, o processo revolucionário progrediria até a eliminação completa da burguesia, ou de qualquer traço (arte) da burguesia e, leia-se, do capitalismo.

Não esqueçamos que o jazz durante a história e, por muito tempo, continuou sendo acusado, por parte de seus detratores, de arte burguesa.

Se o processo revolucionário stalinista pensava em uma função para a arte, o regime nazista da Alemanha também pensava que aquilo que destoasse culturalmente e artisticamente da raça ariana (sic) deveria ser combatido e eliminado.

Um dos expoentes dessa visão foi a exposição “Entartete Musik” (Música degenerada) realizada em maio de 1938 em Düsserdolf.

Ela fez parte de uma campanha de difamação que atribuía ao estrangeiro não apenas a ideia do bárbaro, pode-se dizer, mas a ideia de que essa cultura externa não seguia determinados padrões de pureza da ideologia do regime.

O sistema reivindicava a pureza estética na composição e a pureza racial de quem a compunha e tocava.

A exposição foi idealizada pelo diretor do Teatro de Weimar, o hitlerista, Hans Severus Ziegler.

Suas falas são a verdadeira expressão da ideia de que os estilos musicais ali presente na exposição eram a verdadeira expressão da impureza (sic) que ameaçaria a verdadeira (sic) arte.

Ele denominou o jazz de “música negra ajudeuzada” e acusou a sociedade norte-americana e os simpatizantes do ritmo, que apreciavam artistas como Johnny (um famoso músico negro de jazz na época), de histéricos, doentes, confusos e sujos.

Em um cartaz da exposição, Johnny apareceria em uma caricatura abjeta e com uma estrela judaica na lapela, a mesma utilizada para marcar os lugares judaicos e os milhões de judeus que foram assassinados nos campos de concentração.


Saxofonistas negros eram um dos alvos do nazismo. Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb. Fonte: https://www.dw.com/pt-br/jazz-e-outros-estilos-musicais-degenerados-foram-alvo-dos-nazistas/a-16843797


Internamente, a caricatura, a distorção e a mentira eram realizadas sobre o povo judeu e, como tantos outros artistas e cientistas de origem judaica, o famoso compositor austríaco, Arnold Schoenberg (um dos alvos da exposição sobre a “música degenerada”), criador do dodecafonismo, teve que fugir para os Estados Unidos após a ascensão do nacional-socialismo em 1933.

Caricaturar o inimigo se tornou uma prática que foi adotada em todos os espectros artísticos e, no período da Segunda Guerra Mundial, além da imprensa e cartazes, a máquina de propaganda utilizaria de modo massivo o cinema.

Mas, mesmo nesse ambiente no qual toda a arte devia ter um propósito, foi surpreendente que possam ter surgido maneiras do jazz se manifestar de alguma forma, seja para a diversão hipócrita dos guardas da SS, seja nos grupos de jovens que seguiam o estilo e deploravam o estilo da juventude hitlerista, como os swing kids , seja como alternativa para aplacar o sofrimento dos prisioneiros nos campos de concentração.


Uma das raras fotografias dos swing kids na Alemanha. Fonte: https://www.nationalww2museum.org/war/articles/swing-youth-jazz-nazi-germany


Como já se disse anteriormente, a história do estilo musical no mundo e, especialmente, nos Estados Unidos marcaria definitivamente a sua relação pela luta contra a supressão de direitos e pela convivência pacífica entre pessoas de diferentes origens. Mas essa longa história ficará para outra oportunidade.

Por enquanto, temos uma pequena visão de como o jazz esteve relacionado a períodos históricos totalitários e podemos ver as suas diferentes características.

Nunca será demais lembrar que seu dia, mesmo relembrando períodos históricos tão sombrios, deve nos remeter à ideia de paz, diálogo, harmonia e liberdade.

Chega de história por hoje. Nessa véspera de feriado, relaxe e escute a versão de Louis Armstrong de “La vie en rose” e lembre de algo ou alguém que mereça ser lembrado, ou abrace a pessoa ao seu lado e lhe diga, “Feliz dia internacional do jazz”.


Fontes consultadas:
Jazz under the Nazis. https://holocaustmusic.ort.org/
Martin Lücke. Vilified, Venerated, Forbidden: Jazz in the Stalinist Era.
Marita Berg. Jazz e outros estilos musicais "degenerados" foram alvo dos nazistas.
Petrônio Domingues. De Nova Orleans ao Brasil: o jazz no Mundo Atlântico.
Tanja B. Spitzer . "Swing Heil": Swing Youth, Schlurfs, and others in Nazi Germany.

Relivaldo Pinho é escritor, pesquisador e professor, é autor de, dentre outros livros, “Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia”, ed. ufpa.

relivaldopinho@gmail.com

Relivaldo Instagram
Esse texto foi publicado em O liberal


Postado por Relivaldo Pinho
Em 8/8/2025 às 18h27

Mais Relivaldo Pinho
Mais Digestivo Blogs
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!

* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Sonhos Mais Que Possíveis
Odir Cunha
Planeta do Brasil
(2008)



Política de Saúde Mental de Belo Horizonte: o Cotidiano de uma Utopia
Kelly Nilo - Auxiliadora Morais - Maria Betânia Gu
Smsbh



Livro Literatura Estrangeira Jogo de Poder
Stephen W. Frey
Record
(1996)



Voluntas: International Journal of Voluntary and Nonprofit...
Vários Autores
Plenum Press
(1998)



Timbolão
Francisco Candido Xavier - WAldo Vieira - Casimiro Cunha espirito
Feb
(1982)



Narrativas dos Povos de Angola
Guilherme José Ferreira de Assunção
Do Autor
(1993)



As Indias Negras
Julio Verne
Bertrand



Cambridge Ielts 4 - With Answers - Acompanha 2 Cds
Cambridge Books For Cambridge Exams
Cambridge
(2006)



Comentário e interpretação no regime geral da previdência social 2 290
Sergio Renato de Mello
LTr
(2013)



O Fim Da Era Do Petroleo e a Mudança do Paradigma Energético Mundial: Perspectivas e desafios para a atuação diplomática brasileira
Fernando Pimentel
Fundação Alexandre De Gusmão
(2011)





busca | avançada
76393 visitas/dia
2,1 milhões/mês