COLUNAS
Quarta-feira,
19/11/2008
Repetição: AC/DC, Satriani, Metallica e Extreme
Rafael Fernandes
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O rock certamente não morreu e não acho que deva ser "salvo". E evito, neste texto, discutir se ainda tem ou não a força de outrora. O que me importa é se, mesmo reprisando fórmulas, ainda tem algo a oferecer como sempre teve: bons riffs, solos, instrumental bem feito, união competente entre baixo e bateria e boas canções ― palavras e expressões que vão ser repetidas à exaustão nas próximas linhas. Muitos dos chamados pejorativamente de "dinossauros" mostram trabalhos muito bons; outros se repetem até demais. Mas em ambos os casos aparecem com alguns achados que poderiam virar clássicos. Poderiam, porque não só o mercado não está mais tão propício para alguns eles, com sua saudável e necessária "substituição" por grupos mais novos (não dá pra ficar só no passado). Mas também porque muitas vezes uma parte dos seus admiradores fica mais preguiçosa que seus ídolos e, a qualquer sinal de mudança, histeria; ao menor sinal de novos clássicos, grita para ouvir os antigos. Enfim, esse não é o tema desse texto, que apenas pretende mostrar como há artistas que repetem certas fórmulas (alguns mais, outros menos), eventualmente com alguns achados: AC/DC, com Black Ice; Metallica, com Death Magnetic; Joe Satriani, com Professor Satchafunkilus and the musterion of rock; e Extreme, com Saudades de Rock. Esses discos ficam entre a repetição por vezes maçante e o bom, com alguns momentos ótimos.
![](http://www.digestivo.com.br/upload/rafaelfernandes/acdc.jpg)
AC/DC ― Black Ice
Ouça um trecho de "Skies on fire"
AC/DC é uma banda que nunca mudou ― e nem quis. Seu estilo é o mesmo desde que surgiu e gera, como acontece com os Ramones, o comentário de que tocaria a mesma música sempre. Ironias à parte, da mesma forma que não dá pra esconder que a repetição de fórmulas cansa, é difícil ficar sem reação ao ouvir músicas como "Back in black", "Highway to hell" e "You shook me all night long". Black Ice é um disco de rock consistente e o melhor da banda desde Back In Black. É diversão. Rock sem compromisso ou "conceito". É incrível como a banda, dentro de um restritíssimo universo ainda consegue tirar cartas da manga como "Skies on fire", "Anything goes", "She likes rock n roll" (com uma linha de baixo bem legal), "Smash n grab", "Decibel" e a faixa-título (essas duas com riffs marcantes, mas bem parecidos), que podem tranqüilamente virar novos clássicos. O vigor do disco faz a banda parecer composta por garotos à procura de sucesso. O problema é que quinze faixas do mais do mesmo (como é o caso deste disco) torna a audição por vezes cansativa. Mas isso não parece incomodar os fãs, já que Black Ice vendeu mais de cinco milhões de cópias pelo mundo.
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Metallica ― Death Magnetic
Ouça um trecho de "All nightmare long"
Já o Metallica tentou enveredar por outros caminhos com Load e Reload, num rock mais direto, que era um caminho de certa forma natural depois de Metallica (o "álbum preto", que levou a banda de vez ao mainstream). O resultado foi bom, embora não brilhante. Load é um disco que contém ótimos riffs, boas melodias, variações de dinâmicas e arranjos e a pegada característica da banda, mas sem a linha metal, quase "progressiva" em alguns momentos, como em ...And justice for all. Mas é um disco de rock muito bom. É só ouvir a abertura "Ain't my bitch", "2x4", "Until it sleeps", "Hero of the day" e "Wasted my hate". Reload, mais fraco, teve seus bons momentos com "Fuel", "The memory remains" e "Bad seed". Houve chilique por parte dos fãs pela mudança de som e por coisas bobas como cortar cabelo e usar roupas "modernosas". St. Anger foi uma tentativa de volta com algo do trash em novas abordagens. O disco tem boas idéias, mas que mais parecem rascunhos de algo que poderia vir a ser interessante. Death Magnetic é, dentro do proposto, excelente, bem construído (apesar da controvérsia do áudio) e traz músicas que batem de frente com boa parte das antigas. "That was just your life", "Cyanide", "All nightmare long" e "My apocalypse" matam a saudade dos fãs do universo sonoro dos discos iniciais, com músicas longas, solos, riffs bem trabalhados e refrões que conseguem ser pegajosos dentro da brutalidade. E mostram que a banda ainda tem vários cartuchos pra queimar. Mas por vezes esse retorno às origens parece um pouco forçado, quase como covers de si mesmos. Fica uma sensação de que o Metallica, como aconteceu com outras bandas, pode ir a uma prisão de estilo pela resistência de seus fãs ― conservadores, avessos a mudanças.
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Joe Satriani ― Professor Satchafunkilus and The musterion of rock
Ouça um trecho de "Out of sunrise"
Sabemos exatamente o que esperar de cada disco lançado por Joe Satriani ― o universo sonoro raramente muda. Satriani é uma espécie de guitarrista rock/pop, que faz músicas com pegada e influência rock e que tem estruturas e algumas melodias que remetem ao pop. E isso não é uma coisa ruim. E, por mais que o tal do "mais do mesmo" enjoe, em cada disco há sempre três ou quatro músicas de boas para ótimas. No disco anterior, Super Colossal, há a faixa título (com jeitão de clássico), "A cool new way" e "The meaning of love", sendo que estas duas últimas se encontram entre as minhas preferidas de toda sua carreira. Apesar disso, o novo disco é o mais fraco dos últimos anos e inferior ao anterior. Mas ainda consegue apresentar boas canções como, por exemplo, "I just wanna rock" e "Out of the sunrise".
![](http://www.digestivo.com.br/upload/rafaelfernandes/saudades.jpg)
Extreme ― Saudades de Rock
Ouça um trecho de "Flower Man"
Dos citados neste texto, creio que o Extreme foi a banda que melhor se saiu com o lançamento mais recente, Saudades de Rock (assim mesmo, em português ― o guitarrista Nuno Bettencourt é de Açores). O disco tem um trabalho de guitarra soberbo ― tanto nas bases como nos solos, fenomenais. Somemos melodias ótimas, peso, suingue e instrumental muito bem amarrado e temos um grande disco. É um hard rock direto, sem grandes inovações, mas que não apresenta tantas repetições. Mostra diversos elementos de seus discos anteriores, mas com certo frescor. E as baladas estão bem menos melosas do que a horrenda "More than words", que fez a banda explodir, ao mesmo tempo em que ficou marcada injustamente como "farofa". Traz músicas muito boas, como "Star", com coros à la Queen; "Learn to love"; "Take us alive"; "Run"; "King of the ladies", com riff bem trabalhado e um solo incendiário; e minha favorita de todas, "Flower man", empolgante, com ótimo refrão.
Rafael Fernandes
São Paulo,
19/11/2008
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