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Sexta-feira, 16/11/2001
La Guerra del Fin del Mundo
Rafael Azevedo
+ de 6100 Acessos

Luto contra o tom professoral ao tentar escrever algumas palavras sobre o que li, n’ “A Guerra do Fim do Mundo”, livro já antigo do estimado escritor Mario Vargas Llosa. Sei bem que comentar um livro é sempre tarefa árdua (ainda mais para quem não tem a reprovável arrogância de considerar-se um “crítico”), pois, se o livro é ruim, não vale a pena o esforço de comentá-lo e, se bom, torna-se extremamente difícil, diria constrangedor, falar sobre ele, de igual para igual, com pessoas que não o leram. Em todo caso, é preciso dar voz ao turbilhão de emoções que sinto em meu interior, experiência fascinante pelo qual sempre passo após uma boa leitura. Não é um Grande Livro, dignos deste láureo título assim em maiúsculas – digamos que para bem lê-lo é necessária uma boa dose de interesse, como o que eu já tinha previamente à leitura, sobre o assunto Canudos. O autor romanceia, se é que posso assim dizer, o ocorrido n'Os Sertões, descrevendo com alto grau de detalhes o ocorrido (e por consequência inventando certas situações e personagens), o que talvez exija que se tenha lido o clássico de Euclides para melhor entendê-lo – não sei dizer ao certo, pois ainda estou na metade dele. Mas para que o caro leitor de minhas maltraçadas linhas não se assuste, já aviso – não estamos falando também de um romance histórico de Gore Vidal. Mas Vargas Llosa alcança, em diversos momentos, a profundidade de um Tolstói subtropical, na caracterização e empatia que nos imprime em cada um dos personagens. Não há um deles que nos passe desapercebido, assim como no fantástico “Hadji Murad”. Minha falta de familiaridade com “Os Sertões” me impedirá, no momento pelo menos, de comentários mais profundos sobre a relação da obra de Llosa com a História Real do que houve ali – mas como romance, como boa literatura, desfrutei cada página absolutamente imerso e envolvido por esse episódio de nossa história tão incrível e intrigante, necessário e elucidativo. Episódio esse que, como tudo aqui, precisou que um estrangeiro viesse estudá-lo, pesquisá-lo e escrever sobre ele para que pudéssemos ter uma narrativa sobre os fatos bárbaros que lá ocorreram além da obra de Euclides da Cunha, que tem um caráter muito mais científico, jornalístico do que literário, pelo menos em sua primeira metade. O livro é grande, mas correu rápido –tem o mesmo estilo dos outros livros de Vargas Llosa, com pequenos capítulos onde se alternam os personagens a quem está sendo dado o enfoque, e a ordem cronológica não é necessariamente “imexível”, sendo alterada diversas vezes durante o livro. O último episódio, por exemplo, um dos mais tocantes, coloca-nos acompanhando intimamente, em atos e pensamentos, um personagem com o qual não tivemos contato nenhum através do livro. Sentimos, no entanto, tanta simpatia por ele quanto por Galileu Gall ou o Beatinho, que aparecem ao longo da obra constantemente. Sem pretender ser um relato histórico, e sim um retrato do autor sobre o que ocorreu, com suas ênfases particulares. Passagens são puladas, e ficamos sem saber detalhes que lhe pareceram irrelevantes, como a escapada do jornalista (Euclides) de Canudos, do destino de sua Jurema. Alguns personagens nos acompanham durante toda a jornada, interessantemente, são as visões mais particulares do autor, pois são as visões “estrangeiras”, alheias ao sertão – o jornalista míope, Galileu Gall, o escocês revolucionário, o Barão de Canabrava – aristocrata fascinante, casado com a encantadora Estela, europeu demais para que eu acredite em sua verossimilhança (existiram aristocratas assim no Brazão?) – e do lado dos jagunços, podemos citar Jurema, o Leão de Natuba, o Beatinho, todos párias – portanto, estrangeiros ao meio em que viviam. É sempre curioso, para mim, pelo menos, ver a visão de nosso país por alguém de fora, mesmo que ele ainda seja da Latinoamerica; não pude deixar de ouvir ecos dos incas de “Lituma nos Andes” ao ouvir algumas das descrições e diálogos de alguns dos sertanejos. A tradução está muito ruim – atrapalha, e muito, neste ponto. Pois creio que Vargas Llosa tenha caracterizado seus personagens da maneira que lhe era familiar, na linguagem que lhe era familiar, e a tradução poderia (leia-se deveria) ter adaptado isso de alguma maneira, ao invés de deixar este estranho pot-pourri que faz os nordestinos utilizarem na mesma frase a expressão coloquial e regional “cabra”, referindo-se uns aos outros, ao mesmo tempo em que conjugam perfeitamente os verbos, colocando até mesmo no final deles os pronomes reflexivos -me, -se, -lhe, -os etc., algo que evidentemente vem da tradução espanhola, já que nesta língua os verbos se escrevem desta maneira, por exemplo, se diz “dame”, não “me dá” ou “me dê”, como nós lusófonos. Alguns dos personagens sobre os quais uma abordagem clichê do episódio centrariam sua atenção e descrição são utilizados, pela graça do Bom Jesus, com a devida parcimônia, e conseguem mesmo ser humanamente críveis, por mais que os tons usados nas suas descrições sejam por vezes fortes demais, beirando o exagero. Mas são pessoas que situaram-se na fronteira entre o real e o irreal, entre o verídico e o implausível – dizem que o Conselheiro virava-se de costas ante qualquer mulher – que inevitavelmente deve ser retratadas com cores e traços fortes. Curiosamente, fixou-se em mim uma idéia que, creio, ele mesmo (o autor) teve a impressão de querer passar, a certa altura – a de que Canudos não passou de um imenso mal-entendido, com incompreensões e pré-julgamentos terríveis de ambos os lados. Canudos foi algo notável, não só por ter ocorrido no Brasil, em pleno árido e atrasado Nordeste, mas foi algo pouco visto em toda a história da humanidade – uma sociedade que aboliu, satisfatoriamente, dinheiro, desfrutando das benesses a não existência desta comodidade lhes trouxe, e convivendo numa harmonia muito maior que as outras sociedades já conhecidas pelo homem. Que simples campônios tenham se organizado por conta própria, daquela maneira, é simplesmente notável, e por si só motivo de interesse. Que eles tenham sido massacrados pelo exército de seu próprio país torna o fato ainda mais digno de ser conhecido e estudado por todo aquele que deseje principiar a entender nosso tão confuso e cafuzo país.


Rafael Azevedo
São Paulo, 16/11/2001

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