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Quarta-feira, 25/4/2012
Paulo César Saraceni (1933-2012)
Humberto Pereira da Silva
+ de 7500 Acessos

Há três nomes essenciais quando se tem em vista o contexto e situação histórica que deram origem ao Cinema Novo: Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha e Paulo César Saraceni. Desde "Rio, 40 graus" (1955), Nelson desponta como a figura impulsionadora do movimento: um pouco mais velho, torna-se uma espécie de guru da nova geração; já Glauber, principal agitador e idealizador, chamou a atenção internacional com seu primeiro longa metragem, "Barravento" (1962), premiado no Festival de Karlovy Vary, antiga Tchecoslováquia. Nesse mesmo momento, outros nomes merecem atenção - Ruy Guerra, Cacá Diegues, Leon Hirszman e Joaquim Pedro Andrade -, mas a Saraceni, entre os amigos conhecido como Sarra, deve-se dar um destaque especial. Como se pode ver nos arquivos de Glauber Rocha, disponíveis no Tempo Glauber, e no livro de memórias de Sarra, "Por dentro do Cinema Novo" (Nova Fronteira, 1993), é dos papos entre ele e Glauber nos bares da zona sul carioca ou em Salvador, no início dos anos 60, que se pode ter em mente o que os jovens cineastas queriam fazer para revolucionar o cinema brasileiro.

Em 1959, no apartamento da artista plástica Ligia Pape, foram exibidos para uma plateia seleta, que incluía artistas como Amilcar de Castro e Helio Oiticica, os primeiros filmes dos dois: "O Pátio", de Glauber, e "Caminhos", de Sarra. Foi nessa sessão que Reinaldo Jardim, editor do Caderno de Cultura do Jornal do Brasil, propôs abrir espaço para os jovens cineastas e publicar um manifesto com as novas ideias que traziam. A redação do manifesto acabou na intenção, mas em termos práticos é a partir desse incentivo que Glauber volta para a Bahia e filma "Barravento" na praia de Buraquinho, enquanto Sarra vai para o Arraial do Cabo e realiza o documentário "Arraial do Cabo" (1959).

Com esse filme, Sarra ganha uma bolsa para estudar no importante Centro de Cinema Experimental em Roma. Ele leva o filme consigo e o apresenta no Festival de Santa Margherita. "Arraial" causou impressão muito favorável, com suas imagens de forte apelo social, e revelou o que passou a ser em seguida chamado como Cinema Novo. Estimulado pelos debates e discussões suscitadas pelo filme, na volta ao Brasil ele fez "Porto das Caixas" (1962), "Integração Racial" (1964) e, um ano após o golpe de 64, "O Desafio".

Mesmo tendo aberto as portas para o Cinema Novo na Europa, ao contrário de Glauber, Nelson ou Ruy Guerra, esses filmes de Sarra, feitos em sequência, não foram exibidos em festivais importantes (barrado por Carlos Lacerda, então Governador da Guanabara, "O Desafio" foi apresentado clandestinamente no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, em 1965). Não tiveram, portanto, a ressonância de "Deus e o Diabo" (1964), "Vidas Secas" (1963), "Os Fuzis" (1964), respectivamente, que foram exibidos em Cannes e Berlim (Na Berlinale, o filme de Ruy Guerra foi premiado com o Urso de Prata). Depois desses filmes iniciais, a carreira de Sarra segue caminho um tanto errático e pouco profícuo. Ele fez ainda filmes como "Capitu" (1967), adaptação de Machado de Assis, e um projeto que acalentava há muito tempo, "A Casa Assassinada" (1970), baseado no livro de Lucio Cardoso. Mas a obra posterior de Sarra dá sinais de que sua verve criativa e seu espírito inovador se acomodaram. Quando se fala em Cinema Novo, impossível não lhe fazer referência, mas talvez por isso sua importância não seja devidamente considerada.

Com sua morte recente, em 14 de abril, nos cabe então lembrar que "Arraial do Cabo", "Porto das Caixas", "Integração Racial" e "O Desafio" são emblemáticos da estética cinemanovista. Mais que isso, são filmes deflagradores: "Arraial" antecipa "Aruanda" (1960), de Linduarte Noronha, "Porto das Caixas" toca a questão da mulher oprimida como o fará Leon Hirszman em "A Falecida" (1965) e "O Desafio", como "Terra em Transe" (1967), de Glauber, coloca em pauta o papel do intelectual diante da ditadura. Ou seja, a estética e os conteúdos social e político nesses filmes oferecem o germe para a filmografia por vir. Nesse sentido, Sarra é, de fato, aquele que abriu fendas, que se colocou adiante e, com isso, contaminou Glauber e outros ao redor para o desafio de se fazer cinema em transe.

Quando exibiu "Arraial" na Itália, ouviu do cineasta Jean Rouche que a nova onda era fazer cinema com "a câmara na mão". Rápido, escreveu para Glauber e lhe transmitiu essa ideia. Este, sensível, acolheu o sentido do que Sarra transmitiu e na 6ª Bienal de São Paulo, em 1961, expôs que o propósito de sua geração era o de fazer cinema com "uma câmara na mão e uma ideia na cabeça". Sem um manifesto formal, surge assim aquele que é o principal movimento do cinema brasileiro e um dos pontos altos de nossa história cultural.

Os filmes de inicio de carreira de Saraceni, hoje, são de difícil acesso (indisponíveis em DVD, podem ser vistos em acervos públicos, como na Biblioteca da ECA, ou sequências fragmentadas pelo you tube). Como decorrência, sua importância não é devidamente enfatizada: Sarra praticamente não é visto pelas novas gerações. É uma pena, pois "O Desafio", com suas imagens sombreadas, clima blasé e diálogos angustiantes, perfila-se entre as obras primas do cinema nacional nos anos 60. Ao lado de "Terra em Transe", reflete de modo intenso o impasse da intelectualidade brasileira diante da realidade da ditadura que se impôs. Assim como o filme glauberiano, "O Desafio", feito no calor da hora, revela a grande intuição de Sarra para sentir e expressar por meio de uma obra de arte o que foi o golpe de 64.

Sintomático desse sentimento é o plano que exibe o pôster de "Guernica", de Picasso, no quarto em que o casal protagonista conversa sobre a situação do país e a impossibilidade de uma relação amorosa naquelas condições. Mero elemento cenográfico, tão repleto de sentido quando se pensa nas razões que levaram Picasso a pintar o bombardeio de uma população indefesa durante a guerra civil espanhola. Enfim, Sarra se foi; fica sua obra, "O Desafio" do filme e, para nós, o de preservar a memória de um gigante de nossa cultura.


Humberto Pereira da Silva
São Paulo, 25/4/2012

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