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COLUNAS

Terça-feira, 22/10/2013
Expressar é libertar
Paula Ignacio
+ de 5800 Acessos

Já faz alguns meses que tenho pensado no poder libertador que tem a capacidade de expressar sentimentos.

Em um primeiro momento vem à mente as palavras, mas me refiro aqui as expressões corporais.

Existe algo de mais bonito, profundo e poético em não precisar falar. Um algo assim contraditório, uma vez que não é preciso dizer através das palavras mas é necessário dizer, comunicar.

Comunicarmos os sentimentos e pensamentos talvez seja uma das condições fundamentais da existência. Não apenas a existência humana, pois mesmo os animais em seus mundos particulares e cada um a sua maneira encontram meios para dizer o que estão sentindo, o que querem, do que precisam. Quem convive com animais de estimação pode reafirmar facilmente o que digo.

Mas por quê será que temos essa necessidade tão grande de comunicar? Por quê expressar nossos sentimentos, nossos pensamentos é tão libertador? E o quê fazer quando as palavras já não são mais suficientes para comunicar figuras sem sentido lógico presentes em nossas almas?

Li em um texto cujo título esqueci que se o corpo também não comunica aquilo que as palavras estão dizendo o interlocutor tem dificuldade para compreender a mensagem, ainda que em outra situação essas mesmas palavras lhe fossem muito claras.

Me lembro disso toda vez que tento mentir e não consigo. Ainda que algumas pessoas consigam conter seus corpos enquanto dizem algo que não querem dizer, eu afirmo e reafirmo mil vezes que para mim mentir e não ser desmascarada é quase impossível. Para mim conseguir mentir seria como negar o meu corpo, negar a relação entre minha alma e meu corpo, negar a humanidade que existe em mim.

Mesmo que meu corpo entregue as mentiras que não consigo contar, infelizmente existe um incômodo que me perturba o pensamento já faz algum tempo e optei por revelar aqui: Acredito que aos poucos, gradativamente, tenho perdido a capacidade de me expressar.

Mesmo que as palavras digam o que quero dizer em muitos casos não consigo me fazer compreender. Isso dói como se tivesse uma espada enfiada nas entranhas.

É impossível responder aqui o porque dessa necessidade de compreensão do outro. E eu sei lá dos motivos pelos quais existir é assim? Por quê temos que dizer aos outros o que se passa dentro dos nossos corpos, dos nossos sentidos, da nossa alma? Só sei que isso precisa acontecer, só sei que "foi assim".

Não precisamos discutir sobre linguagens, mas falar sobre a expressão através dos gestos, do corpo, da consciência corporal e que estão diretamente relacionados a consciência de si mesmo. Quanto mais você percebe seu corpo, melhor comunica o que quer dizer, seja com o auxílio das palavras ou não.

Me lembro da primeira vez que assisti a um espetáculo de dança que realmente me marcou. Eu tinha 15 anos e estava passando pela Av. Paulista quando percebi uma movimentação de pessoas no vão entre os prédios da Caixa Econômica Federal. Havia um grupo que apresentava uma peça, eles usavam recursos para "flutuarem" sobre as pessoas, dançavam no chão, no ar, expressavam beleza, graça, liberdade, vida.

Eu chorei.

Como explicar a catarse provocada, a capacidade que esses dançarinos tiveram de fazer brotar a necessidade de liberdade e beleza que eu tinha e ainda tenho?

Depois disso e anos depois assisti uma peça no Teatro Municipal que se chamava Pequeno Sonho em Vermelho. Havia o trabalho intenso dos atores para a expressão corporal, muito mais presente nessa obra do que o próprio texto. Era quase como um espetáculo de dança-teatro, de expressão da alma.

Já faz algum tempo que a dança não é apenas "propriedade" da elite europeia. As apresentações de espetáculos de grandes dimensões, peças de ballet magistralmente observadas pelos espectadores que compram ingressos caríssimos para ter acesso ao trabalho de companhias de dança reconhecidas internacionalmente como as melhores do mundo.

O conceito de dança em meados do século XX passou a ser encarado como meio de uma expressão mais libertadora. O trabalho da dançarina Isadora Duncan que o diga. É, na minha opinião, necessário reavivá-lo a todo instante.

Isadora era uma bailarina que negou a rigidez acentuada do ballet. Ela deixou de lado as técnicas rigorosas que aprendeu durante anos para expressar-se de maneira mais livre, mais libertadora. A começar pelas roupas e sapatilhas apertadas, essas foram abandonadas. Uma vez que o corpo deveria soltar as amarras do inconsciente, tudo o que pudesse ser feito para expressá-lo seria aceito.

"Sua proposta de dança era algo completamente diferente do usual, com movimentos improvisados, inspirados também, nos movimentos da natureza: vento, plantas, entre outros. Os cabelos meio soltos e os pés descalços também faziam parte da personalidade profissional da dançarina. Sua vestimenta era leve, eram túnicas, assim como as das figuras dos vasos gregos. O cenário simples, era composto apenas por uma cortina azul. Outro ponto forte na dança de Isadora é que ela utilizava músicas até então tidas apenas como para apreciação auditiva. Ela dançava ao som de Chopin e Wagner e a expressividade pessoal e improvisação estavam sempre presentes no seu estilo." (trecho daqui)

Alguns amigos leitores da filosofia nietzschiana também tem trabalhado novas maneiras de expressões através da dança-teatro. Já publiquei aqui minhas considerações a respeito.

No ano passado assisti no cinema o filme Pina, um documentário sobre a vida e a obra da dançarina e coreógrafa Pina Bausch. Ela se inspirava nas histórias da própria vida e dos bailarinos da companhia para desenvolver as coreografias, baseadas nas capacidades, personalidades e vivências de cada um.

Também chorei quando assisti.

Uma outra referência bem recente e fresquinha é o filme A Dançarina e o Ladrão, de Fernando Trueba, cuja protagonista é Ariadna Gil, dançarina também na vida real. Na história, ela perde a capacidade de falar ainda na infância, quando seus pais são sequestrados e mortos pela ditadura de Pinochet. Cresce em instituições e um dia foge para viver nas ruas, mas se emociona todos os dias enquanto espia uma professora que dá aulas de ballet em casa. Ela tem a oportunidade de entrar e é recebida por essa professora, que a adota.

Ainda assim não conseguia desenvolver a fala, mas aprendeu a expressar seus sentimentos, necessidades e fragilidades com expressões que poucos corpos são capazes de ter.

Os olhares, os sorrisos, os movimentos, a dança libertadora. Ela consegue criar uma coreografia para expressar o sentimento intenso que viveu com a morte dos seus pais. Vale a pena assistir:



Depois de ter tido contato com a história desse filme há apenas dois dias, ainda o estou digerindo.

Sinto uma certa angústia por não ter ensinado ao meu corpo a capacidade de expressar de maneira tão grandiosa o mundo gigantesco de imagens e beleza que existe em mim.

Falo demais e desesperadamente na tentativa de compensar essa falta e comunico exatamente o contrário do que gostaria.

Durante muito tempo pensei que a falta de compreensão das pessoas se dava apenas por culpa delas, por interpretações superficiais das coisas que eu dizia e queria dizer. Mas conforme trabalhei meu crescimento pessoal e tive consciência de aspectos importantes da personalidade percebi que a culpa pelas falhas de comunicações era toda minha.

A comunicação via internet também complica bastante, uma vez que não há corpo, apenas palavras. Não há corpo, olhar, tom de voz. Se passamos a utilizar apenas a internet para comunicar, é bem provável que a mensagem não chegue, e que muitos sentimentos e emoções continuem pairando no ar a espera de alguém que as perceba.

Gostaria de conseguir comunicar o que estou sentindo agora. Gostaria de comunicar a sensação de liberdade que experimentamos toda vez que conseguimos nos expressar e alguém recebe a informação como gostaríamos. Toda vez que conseguimos sem desespero nenhum um pouco da compreensão do outro, e é como se realmente estivéssemos ligados, como se nossos corpos fossem um só.

Nota do Editor:
Texto gentilmente cedido pela autora. Originalmente publicado no blog O Que Faremos Aqui.


Paula Ignacio
São Paulo, 22/10/2013

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