Guerras sujas: a democracia nos EUA e o terrorismo | Humberto Pereira da Silva | Digestivo Cultural

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COLUNAS

Quarta-feira, 7/5/2014
Guerras sujas: a democracia nos EUA e o terrorismo
Humberto Pereira da Silva
+ de 4300 Acessos

1.
A queda do regime de Ben Ali na Tunísia em dezembro de 2010, e em seguida de Hosni Mubarak no Egito, desencadeou um processo em cadeia que logo a mídia ocidental denominou como a "Primavera Árabe". Com efeito, as quedas desses dois regimes precipitaram os de Muammar al Gaddafi na Líbia e de Abdullah Saleh no Iêmen, que foram varridos por uma onda insurgente frequentemente apoiada pelos órgãos de imprensa. Nesse contexto insurgente aberto pela "primavera", no momento apenas o regime de Bashar al Assad na Síria ainda se mantém em pé.

O caso é que a insurgência em regimes "tirânicos" árabes exigiu dos mais diversos órgãos de imprensa a presença de especialistas que se esforçavam para explicar como se moviam as mais diferentes facções, milícias, grupos com nomes que surgiam de hora para outra numa profusão de informações vazias e imprecisas num espaço geográfico amplo e extremamente complexo. Da noite para o dia Ben Ali, ou Abdullah Saleh, despontou como um tirano que até então não havia merecido a atenção midiática.

Ou seja, o tratamento midiático dos acontecimentos que levaram à Primavera Árabe, essencialmente sazonal, acabou marcado pelas conveniências de momento e com isso fortaleceu distorções por meio de vaguezas e imprecisões nas informações e presunçosas análises sobre o quê e o porquê do desenrolar dos eventos. De uma hora para outra, tiranos ganharam páginas e páginas na imprensa, assim como os excessos de seus regimes; mas também tão logo os regimes citados foram derrubados, uma onda de silêncio deixa no ar como as nações varridas pela Primavera Árabe se acomodaram ao novo contexto político. Como ficou o Iêmen de Abdullah Saleh? Melhor: como seu regime se impôs sob o "silêncio" ocidental e, depois de sua queda, caiu novamente no esquecimento?

2.
A complexidade do mundo árabe e do Islamismo, assim como o desenrolar dos acontecimentos que precipitaram a "primavera", não cabe em explicações superficiais e clichês midiáticos, os quais quando muito reforçam preconceitos e lugares comuns. A compreensão da presença e dos interesses americanos no vasto espaço geográfico onde vigora o islamismo é vital para se ter uma pátina de como certos regimes se sustentam, mas igualmente são derrubados. A cumplicidade com os americanos e as fortes dissenções entre os seguidores do Islã exigem esforços de compreensão sobre o que está efetivamente em jogo para além da propaganda que opõe o lado do bem e do mal.

É com esse intuito de compreensão que se oferece o livro Guerras sujas: o mundo é um campo de batalha (Companhia das Letras, 830 pág.), do jornalista Jeremy Scahill. Trata-se de um relato amplo e bem documentado dos bastidores do mudus operandi americano no mundo árabe. Tomando como ponto de inflexão o Onze de Setembro, Scahill tem como objetivo principal em seu caudaloso livro destrinchar e explicar as diversas teias que ligam e ajustam o novo paradigma da política externa americana ante a guerra contra o terror: a luta longe dos campos de batalha declarados, por unidades que oficialmente não existem, em operações para as quais não há dados oficiais.

Assim, a partir de entrevistas com agentes secretos, mercenários, líderes terroristas e parentes de vítimas, Scahill procurar dar sentido e consistência a personagens por trás das sombras, assim como esmiuçar a forma de organização e modus operandi de unidades secretas (criadas em decorrência de interpretações casuísticas na legislação americana, portanto que não prestam contas ao Congresso) como os SEALS (Sea, Air, Land Teams) e o JSOC (Joint Special Operations Command). Ao detalhar as relações de hierarquia e as operações secretas realizadas por estas unidades, Scahill traz à tona um relato que, no mínimo, deve perturbar quem ouve ou lê noticiário sobre eventos do mundo governado por fiéis ao Islã com mensagens que separam "mocinhos" e "bandidos", o lado do bem e do mal, a democracia e a tirania imposta por ditadores sanguinários.

3.
O dado relevante do livro não é que ele revela a "verdade" de que fora das fronteiras dos Estados Unidos o mundo é um campo de batalha; vale dizer: que um relato jornalístico seja neutro; imune, portanto, a contaminação ideológica ou interpretação parcial; mas tão somente que, se parte significativa de suas 800 páginas for fruto de imaginação, a que não é revela não haver diferença entre a prática de tortura e de violação de direitos humanos e de acordos internacionais na democracia americana e os regimes tirânicos que acobertam terroristas. Com isso, claro, para muitos, nenhuma novidade, seria ingênuo justamente pensar o contrário. Com isso, claro também, muito de oportunismo, leviandade e senso de sensacionalismo pode ser imputado ao trabalho de Scahill.

Certo, o jornalismo, para pensarmos nos pressuposto da sociedade de espetáculo forjados por Guy Debord, se alimenta de interpretações forçadas que geram controvérsias; polêmicas, enfim, que dificilmente são devidamente confrontadas com dados que minimizariam conclusões apressadas. Mas deve-se considerar que no caso de Guerras sujas, uma coisa é a mera suspeita, conjectura, ou especulação, outra é confrontar os dados que Scahill apresenta e as 123 páginas com notas para as fontes de consulta. Ou seja, o leitor que ficar desconfiado de manipulação de informações da parte de Scahill, pode bem percorrer o vasto material que ele pesquisou e coloca à disposição de quem suspeita da origem de suas afirmações e revelações.

4.
Em síntese, Guerras sujas é um livro a ser lido por todos que desconfiam da retórica americana, comprada convenientemente pela mídia ocidental, e que separa "mocinhos" e "bandidos". Se o bem é inevitavelmente alcançado por meio do mal, como sabem os leitores de Maquiavel - ou na prática se revelam as motivações subliminares de regimes totalitários e ditaduras - eis uma controversa e perturbadora questão filosófica. Ocorre que admitir a adoção do mal para alcançar o bem é uma distorção que não condiz com a prerrogativa de um regime democrático.

Sendo líquido e certo que a realização do bem convive inequivocamente com o mal, a palavra "democracia" não passa de mero exercício retórico. Não há democracia, em sentido estrito (a transparência de decisões que se referem a todos e a todos afetam), por trás de ações secretas que caçam terroristas pelos quatro cantos do mundo em nome do bem (na conta, quantos morreram porque estavam na hora errada e no lugar errado?). Justamente por isso os abusos em sessões de tortura que não diferem os Estados Unidos de qualquer ditatura ou regime tirânico, e que são tratados exaustivamente por Scahill como política secreta de Estado.

Para ir além



Humberto Pereira da Silva
São Paulo, 7/5/2014

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