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Sexta-feira, 13/6/2014
A vingança dos certinhos
Marta Barcellos
+ de 3500 Acessos

Nos primeiros anos escolares da minha filha, reconheci naquele ambiente algo bastante familiar. Atenta às regras do colégio, ela cumpria suas tarefas, contribuía para que o sistema (rotinas de aprendizado, integração etc) funcionasse, esforçava-se como aluna, pensava coletivamente. Resultado: desaparecia na turma. Era ignorada. No meio do caos típico dos individualismos exacerbados (bagunça), seu comprometimento virava... nada. Toda a atenção dos professores, coordenadores, psicólogos era direcionada para os problemáticos, ou aqueles que percebiam o status propiciado pela habilidade de causar problemas.

Aquilo me era tão familiar (sim, também fui a certinha, ignorada inclusive em casa por ter irmãos mais "problemáticos"), que resolvi fugir do papel de mãe de aluno certinho. Em vez de dizer: ah, meu filho não dá trabalho, nem preciso ir às reuniões da escola, fiz o contrário. Estava sempre presente e disposta, nos encontros de pais, a discutir "coisas sem importância" relacionadas à vivência escolar da minha filha. Depois que todos os pais tinham perguntado sobre os critérios para a recuperação e a reprovação, por exemplo, eu questionava por que os estudantes que já tinham passado de ano não eram dispensados oficialmente nos últimos dias do calendário escolar. Na prática, as aulas eram o reforço para as provas finais, e cabia aos pais perceber a embromação e deixar seus filhos "já passados" faltarem.

A pergunta, claro, parecia inconveniente. Imagino que alguns pais achavam que eu me gabava. Mesmo assim eu mantinha-me firme em meu propósito. Por que a questão de premiar o mérito era menos importante do que a de encontrar soluções para alunos com dificuldades?

Houve uma fase em que o colégio colocava os professores, separados por matérias, à disposição dos pais, para um atendimento individual que acontecia durante uma manhã de sábado, todo semestre. Cada um deles ficava dentro de uma sala, e formava-se uma fila de mães e pais de cenho franzido, a preocupação devidamente autorizada por boletins em vermelho e advertências disciplinares. Na minha vez, eu acabava confirmando a mágoa de minha filha: muitos não sabiam quem ela era. Pegavam uma fichinha com as fotos da turma para reconhecê-la, e então vinha a pergunta: se ela tem boas notas, por que você está aqui? Aí eu perguntava sobre "coisas sem importância", como o relacionamento dela na turma, as dúvidas sobre pesquisas na internet ou o objetivo de alguma atividade promovida pela matéria. Lembro de uma vez ter me explicado:

- Pensei que havia algum problema, porque ela tem sido obrigada a mudar de lugar nas suas aulas, e está bastante chateada com isso.

- Ah, é porque essa turma tem muito problema de disciplina, e eu tento separar os mais bagunceiros.

- Colocando a minha filha no meio, entre dois bagunceiros?

- Exato.

Assim é o certinho que ainda não aprendeu a necessidade de... fazer marketing pessoal. Ele é usado para "ficar no meio", ignorado e utilizado para fazer a estrutura funcionar. Acabará sendo confundido com o "bonzinho", se não mostrar enfaticamente que conhece as próprias qualidades e que seu espírito cooperativo - em relação aos que valorizam problemas e dificuldades - tem limites.

Se na minha vida escolar e familiar cheguei a desempenhar com resignação este desprezado papel cooperativo, na vida profissional logo percebi que era preciso me rebelar. Afinal, para melhorar, a estrutura precisa da contestação dos certinhos - em geral mais embasada que os "pitis" e fricotes dos "problemáticos". Na prática, a tal acomodação "problemático-certinho-problemático", com o certinho na carteira escolar do meio, nivela a tal estrutura (agora sem tanta bagunça) por baixo, pois desloca o foco da competência ou da criatividade discreta para a incompetência histriônica de supostos gênios em potencial.

Pois é, faz parte do pacote "a vingança dos certinhos" denunciar a preguiça dos enrolados, a arrogância dos mimados, as desculpas esfarrapadas dos que sempre parecem vítimas (da sorte, do governo, do chefe, do professor) mas não são vítimas de verdade. Até para distingui-los daqueles que realmente precisam de uma atenção especial para seus problemas.

Ultimamente fala-se muito de meritocracia de um jeito torto. Ela passou a ser defendida por conservadores para atacar a defesa das minorias - por meio das cotas, por exemplo. Pois eu sou a favor das cotas, da defesa das minorias e também da meritocracia. O mérito deve ser adotado como regra justamente para se combater os privilégios estabelecidos por uma elite que aprendeu a perpetuar seus privilégios. São os filhos/herdeiros dessa elite que se valem de relacionamentos e jeitinhos para escamotear a preguiça ou a falta de competência. É um raciocínio de "mereço mais atenção que os outros" que começa lá na escola particular da classe média alta. E que acaba sendo avalizada vida afora, graças a indicações, fisiologismo, ajudinhas entre compadres abastados.

Se alguém realmente precisa de apoio, por ser vítima de discriminação ou de um problema real, defendo a total compreensão dos certinhos - inclusive institucionalizada. Mas, se tudo não passar de fricote de mimado, viva a meritocracia.



Marta Barcellos
Rio de Janeiro, 13/6/2014

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