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Terça-feira, 8/7/2025
A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 1800 Acessos


Acaba de ser publicado no Brasil Ontens Minúsculos, uma seleção de poemas da poeta catalã Montserrat Rodés. Quem nos brinda com a tradução é o também poeta e tradutor catalão Josep Domènech Ponsatí. Publicado no final de 2024 pela editora Folheando, o livro reúne uma seleção de poemas que contempla oito livros, publicados entre 1991 e 2020.

A poesia de Rodés transita entre as muitas camadas da realidade e a complexidade da relação entre essas camadas quando inseridas no campo da linguagem poética.

A primeira característica que salta aos olhos dentro do percurso poético de Rodés é o tamanho dos poemas, que têm entre dois a dez versos no máximo, sendo a maioria de pequeno tamanho. É evidente que é uma escolha que tem suas consequências, pois a exigência de sintetizar imagens e sentimentos se torna imperativa dentro dessa poética. Enxugada ao máximo, essa poesia pretende deixar de lado qualquer rococó da linguagem, fazendo-se direta (sem comprometer a imaginação, por vezes fantasiosa, que envolve a existência e os objetos numa nebulosa transmutação poética).

A terra se fecha cansada.
Clamor de sinos. Dorme
o silêncio de cinza
no vácuo dos galhos.
Ríspido, o vento fere
a nossa tarde. Fogem
aves com fogo nas asas.

A relação entre a temporalidade da existência e objetos que parecem guardar parte daquilo que se viveu também perpassa o mundo natural que parece interferir (ou dar sentido) ao tempo do Ser. É nessa dobra que se estabalece a relação entre objetos (uma gaveta), a natureza (o vento) e a existência (aquilo que se sente ou se percebe do mundo) sendo que as camadas que se vão entrelaçando não guardam hierarquicamente nenhuma precedência de uma sobre a outra.

Por vezes, a natureza é capturada como imagem, um objeto por sua forma, um sentimento pelo que representa na tensão da existência. Também, na relação que essas ordens (natureza, objeto, existência) estabelecem na imagem que a poeta cria, podem ser a alegoria de uma experiência total de um momento capturado em sua singularidade no tempo da existência que se quer, também, ruina.

Quando ouvir bater as portas
que fecham os dias, esconda
o intruso no âmago do pensamento.

A problemática do tempo, esse devorador da existência, assume na poesia de Rodés a posição de um emblema daquilo que se precipitou ou se precipitará no vazio. A ideia de uma oxidação da luz como metáfora da existência do “ser para a morte” heideggeriano tinge sua poesia de uma melancolia notável. Por isso a ideia de ruina, não simplesmente como restos do que um dia esteve presente no passado, mas como provas de que o passado esteve animado por uma estranha instabilidade, inquietude que faz com que nada subsista completamente.

Provocar o jogo do tempo,
o inaudível respiro
— que nada abrange.
Precipitar a luz,
que se oxida lá fora.
Assumir a ruína.

A irresolvível condição do Ser, num tempo que se esvai, mesmo que a memória (que aparece em alguns poemas) guarde fragmentos de algo de valor, concentra-se nesse “se eu puder” evaporando, que denota a impossibilidade da completude (seja no que for). Por isso, “É inútil indagar\ além desse talvez”.

Seria o momento de achar,
antes de acabar, esse último
se eu puder — quase se evaporando.

A “realidade perdida” que aparece num poema se resolve extraviando o caminho, meta da poeta ao entranhar na (e através da) linguagem a possibilidade de “chegar até\ o próximo desvio”, esse lugar da dobra, espaço da diferença deleuziana, um devir que é um processo contínuo onde a existência é reinventada, depois de perdida, só podendo ser recuperada no signo da poesia como “o fogo da coisa evocada”.

E depois nada mais fará
sentido. Tudo é outro. Só
o fogo da coisa evocada
te segue até que, sinuoso,
devore o último pensamento.

A poesia de Rodés faz com que as palavras percam a força, mas continuem a mobiliar a existência, como se fossem uma cartografia do que se viveu, daquilo que mobiliou nossos desejos e que guardam as nossas promessas de felicidade passadas – que só se realizam, a poeta sabe, ao retornarem via criação poética.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 8/7/2025

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