O bode das drogas | Ilana Mountian | Digestivo Cultural

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Sexta-feira, 18/5/2001
O bode das drogas
Ilana Mountian
+ de 10300 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Em todas as épocas, sociedades criam e elegem seus bodes expiatórios. Perseguição a "bruxas", judeus, homossexuais. Os exemplos são muitos. Claro que cada sociedade tem seus específicos bodes (pode-se pensar nas várias populações excluídas). Com isso, algumas conseqüências podem ser percebidas, como a segregação, mistificação e conseqüentes maneiras de lidar com estas instâncias. Uma das manifestações deste fenômeno é o medo, e com isso, muitas vezes o ataque. Hoje, na nossa sociedade de uma maneira geral, pode-se citar vários exemplos, mas daremos ênfase neste artigo ao entendimento e ação em relação às drogas.

Este é um tema que diz respeito a vários setores da nossa sociedade, tratando de complexos mecanismos, das esferas: política, valores morais e éticos, cultura e economia. Os EUA declaram guerra contra as drogas ilegais e parece que todos apóiam EUA. Este é um assunto que independente da posição política e ideológica de pessoas e países, todos parecem apoiar homogeneamente. Com este apoio cego à guerra, perde-se de vista o debate sobre aspectos fundamentais relacionados a esta ação.

Primeiro, qual é a justificativa da pressão aos países que cultivam plantas transformadas em substâncias consideradas ilegais? Os fatos não correspondem às justificativas. Os EUA são os maiores consumidores de cocaína do mundo, então perguntamos: por que os EUA não resolvem seus problemas internos ao invés de declarar guerra contra drogas em paises da América Latina? E caímos no senso comum da resposta: é pela saúde. O que é saúde? Saúde de quem? O que são drogas afinal?

Por um lado, a noção de saúde atual merece uma discussão mais aprofundada. É possível encontrar pessoas que vivem sob a constante sombra do medo de doenças e junto com a perda de confiança do conhecimento do seu próprio corpo, nos faz repensar sobre qualidade de vida (como vivem o presente e como projetam o futuro) e noção de sentido (do que procuram, valores morais, culturais, sociais).

Por outro lado, não se sabe ao certo o que são drogas, mas parece haver um consenso de que são ruins. Com esta homogeneidade de opinião, sobra pouco espaço para o debate e uma visão crítica sobre o assunto, não permitindo olhar para a situação com clareza. Voltando à historia das drogas. Drogas são substâncias psicoativas, por exemplo, café, cigarro, álcool, remédios, anfetaminas, solventes (bom exemplo de como drogas são aquilo que nós nomeamos e vemos o que é na sua utilização - quando usa-se solvente na construção não ha problema, quando inala-se solventes é diferente), maconha, cocaína, ecstasy, etc. É possível ver a utilização de drogas pelo ser humano durante toda sua história, e podemos levantar, basicamente, quatro modos do uso: religioso (como álcool nas cerimônias judáico-cristãs), médico, celebrativo e cotidiano. Desta forma, drogas são produtos que nossa sociedade denomina e utiliza, contextualiza como droga. Por exemplo, até o inicio do século XX, nos EUA, tomates eram proibidos por serem considerados frutos de bruxa, ao mesmo tempo que cocaína e heroína não eram consideradas drogas ilegais ainda. Não trivialize este exemplo, usando o argumento de que isso era diferente. Claro que tomates são diferentes de maconha, mas o que importa é a ação a partir desta convenção, ou seja, o fato de pessoas terem sido perseguidas e presas. Assim como o são hoje em dia com outras substâncias. (Convém apontar que existem posturas persecutórias não apenas em relação às drogas ilegais, mas também ao usuário de outras substâncias, como parece estar acontecendo em relação ao tabaco, de novo restringindo o espaço para dialogo).

Claro que com a criminalização de algumas substâncias psicoativas, temos uma grande mudança na história, na forma como a sociedade entende drogas e como age a este entendimento, levando a uma mudança de comportamento. Por exemplo: o surgimento de mercados paralelos, a criação do crime e da violência relacionados às drogas, o aprisionamento de pessoas, o não-controle de qualidade de substâncias consideradas ilegais, diferentes formas de uso de drogas (um dos fatores para o uso obsessivo). E daí vemos a contradição com o discurso saúde, uma vez que a preocupação inicial deveria ser com a saúde do individuo. Ao pensarmos neste discurso, mais uma vez apontando EUA como exemplo, parece que a posição não está muito clara, como podemos ver no discurso sobre as patentes dos remédios:

"O resultado da votação deixa claro o isolamento de Washington sobre o tema. No total, 52 países votaram a favor da resolução e um - os Estados Unidos - se absteve. A alegação é de que não consideram saúde um direito humano e que a melhor política de saúde é a proteção das patentes dos produtos farmacêuticos." Estado de São Paulo - 23/abril/2001

Então saúde é ou não prioridade? E porque a ênfase à guerra e à opressão e não ao debate sério? Mais precisamente, sobre educação, saúde e cidadania - promoção de saúde, formas de utilização das substâncias psicoativas, tratamento de adições, revisão das leis relacionadas as drogas, entendimento do contexto social, da criação destas leis e da aplicação delas na sociedade (e outras questões relacionadas ao como, por quê e formas de uso).

E vemos o outro discurso corrente: "save our children". Leitor, não deixe que frases prontas nublem a sua visão. Que children? Por que children? Por que falam em crianças? Por que só as crianças? Talvez devêssemos falar: Salvem nossos idosos, que têm que presenciar estas enormes mudanças no mundo sem poder participar delas integralmente por não serem ouvidos, sendo portanto, silenciados e excluídos. Também é necessário apontar que a quantidade de drogas prescritas aos idosos é um fenômeno que deve ser, no mínimo, refletido. Como e quais são as formas de uso de drogas medicamentosas pelos idosos? Quais são os aspectos envolvidos nesta questão?

Enfim, temos o bode expiatório, o mau, o inimigo. E com isso, persegue-se usuários de substâncias psicoativas consideradas ilegais assim como os envolvidos neste comercio e com isso não se vê outros aspectos envolvidos na questão: como criam este inimigo? o que está por trás disso? E mais uma vez o espaço para debate fica restrito.

Em Quebec, durante a reunião sobre a ALCA, Bush declara que "a preocupação com os padrões trabalhistas e ambientais não deve servir de pretexto para o protecionismo". Segundo o jornal O Estado de São Paulo de 22 de abril, "A declaração do presidente americano coincide com a posição do governo brasileiro, em relação a esse ponto, nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Essa tem sido, também, a opinião brasileira nas discussões preliminares da nova rodada global de negociações comerciais, que poderá ser lançada em novembro, numa reunião ministerial no Catar."

E qual é a posição dos outros paises da América Latina? Nenhum representante se declarou contra esta posição? Qual é a prioridade das Américas? Como estão sendo tratadas as questões éticas, de democracia, de direitos humanos e ambientais? Enquanto isso, do lado de fora da convenção, manifestantes tentam chamar atenção com seus gritos, faixas, e O Estado de São Paulo diz: "Ontem de madrugada ainda era difícil transitar em várias partes de Quebec, por causa da enorme quantidade de gás lacrimogêneo usada contra os manifestantes. A polícia só deu por encerrado seu trabalho mais pesado às 3h30 da manhã, prometendo retomá-lo poucas horas depois."

Também na Avenida Paulista, protestos ocorreram sobre a questão da ALCA, embora com bem menos repercussão que os protestos de Quebec. Por que essas pessoas estão lá? Qual é o dialogo que não está ocorrendo entre estas instâncias?

E, em meio a este importante momento histórico, prendem um traficante brasileiro na Colômbia. E uma das consequências dessa prisão foi vermos a discussão sobre a ALCA perdendo destaque na imprensa, que se ocupou mais em retratar a prisão do traficante, ofuscando portanto, o debate sobre a política e perspectiva de futuro das Américas.

Este artigo teve a intenção de apontar um dos usos dos bodes expiatórios da sociedade, da sua criação e conseqüências. A intenção por trás disso é que o leitor possa, ao ler qualquer artigo, noticia, etc., parar e refletir sobre o que está lendo. Ou seja, tenha possibilidade uma leitura mais critica ("consciente") da realidade.

I - Bode expiatório: a) o bode que, na festa das expiações, os judeus expulsavam para o deserto, depois de o terem carregado com as maldições que queriam desviar de cima do povo: b) pessoa sobre quem se faz recair a culpa dos outros ou a quem se imputam todos os reveses e desgraças.


Ilana Mountian
Manchester, 18/5/2001

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
2/2/2007
07h19min
Matador, seco e direto, sem meneios!
[Leia outros Comentários de Gilson Correa Pereir]
3/7/2008
20h11min
Claro e direto, diz o que muita gente não tem coragem de dizer...
[Leia outros Comentários de Lauane Rocha]
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