Anjo de dor | Gian Danton | Digestivo Cultural

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Segunda-feira, 22/2/2010
Anjo de dor
Gian Danton
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Até há pouco tempo existia um grande preconceito contra a literatura de terror brasileira. Acreditava-se que uma história passada em São Paulo, com personagens com o nome de Ricardo, não conseguiriam chegar aos pés dos livros escritos nos EUA, com personagens chamados, por exemplo, Richard. Era um preconceito que dominava a literatura do gênero, incluindo a ficção científica. Editoras colocavam banners em seus sites com os dizeres: "Não aceitamos originais de ficção científica" ou "Não aceitamos originais de terror".

Felizmente as coisas mudaram, e muito. O sucesso dos vampiros de André Vianco (Os sete) e da fantasia de Orlando Paes Filho (série Angus) abriu os olhos das editoras para os talentos nacionais. Graças a isso, podemos hoje ler obras como Anjo de dor (Devir, 2009, 212 págs.) de Roberto de Sousa Causo.

Roberto Causo é um dos mais importantes e respeitados nomes da literatura desse gênero, no Brasil. Começou a publicar profissionalmente no início da década de 1990, mesmo período em que organizou a I Convenção de Ficção Científica do Brasil, em Sumaré, São Paulo. O evento contou com a presença do badalado escritor Orson Scott Card. Roberto foi um dos classificados no Concurso de Contos Jerônymo Monteiro, promovido pela célebre Isaac Asimov Magazine, editada pela Record, que marcou época, influenciando toda uma geração de fãs e escritores. Colaborou com a revista publicando, além de contos, entrevistas e resenhas.

Desde então, tem publicado textos sobre o gênero de horror nos mais diversos veículos, de Playboy à Cult. Também é um conhecido organizador de coletâneas, como Dinossauria Tropicalia (GRD, 1994), Rumo à Fantasia (Devir, 2009) e Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica (Devir, 2008), além de ter publicado romances, como A corrida do rinoceronte (Devir, 2006).

Anjo de dor, sua mais recente publicação, mostra que o preconceito contra o horror nacional é apenas isso: preconceito. Causo começou a escrevê-lo em 1990, num barracão que foi o que restou da cozinha e do banheiro da casa de seus pais, derrubada pela prefeitura de Sumaré para ampliação de uma avenida. Antes dele, quem ocupava o lugar era um ex-pugilista chamado Ricardo. O texto era escrito de madrugada, em uma velha máquina Olivetti. O clima em que foi escrito certamente influenciou a obra. O ex-pugilista deu nome ao protagonista, um barman de uma casa noturna, e a história se passa toda em Sumaré.

Anjo de dor inicia com a chegada à cidade de uma cantora talentosa e bonita, mas repleta de mistérios, Sheila Fernandes. O responsável por pegá-la na rodoviária é justamente o barman Ricardo. Começa aí uma relação de paixão e desconfiança que desembocará no terror quando o passado da cantora a alcançar.

O romance tem óbvia influência de Stephen King (o filme Cemitério Maldito é inclusive citado em um trecho em que o protagonista vai ao cinema, e a primeira epígrafe do livro é justamente de King), inclusive no estilo, mais próximo do chamado dark fantasy (em que uma narrativa aparentemente realista vai se distorcendo até ser dominada por elementos fantásticos) do que do terror puro. No livro O cemitério maldito, de King, acompanhamos a vida normal de um médico, salpicada aqui e ali de elemento de terror, como um pesadelo, ou a história de um cemitério de animais de estimação, capaz de fazê-los renascer. O terror em si só começa muito lá na frente, quase no meio do livro, mas aí já estamos plenamente fisgados pela história, simpatizando com os personagens como se fossem vizinhos. King usa muito bem o realismo na primeira parte, para introduzir aquilo que os roteiristas de cinema chamam de suspensão de descrença: a partir de determinado ponto, o leitor acreditará em qualquer coisa.

Anjo de dor segue uma estrutura semelhante. A trama fantástica propriamente dita só começa na página 73. Até ali acompanhamos Ricardo em sua vida aparentemente contraditória de homem capaz de usar a violência a qualquer momento, mas, ao mesmo tempo, vegetariano.

Antes disso, há pequenos elementos de suspense, que deixam entrever o desenlace, como na página 50: "Fugindo. Sheila, aos gritos no salão superlotado, para os ouvidos de todos, dizia-lhe que estava fugindo. De quem, ou de quê?", que procuram manter o interesse. São poucos e o leitor mais apressado talvez largue o livro pela metade. Se persistir, encontrará uma trama envolvente, um thriller de perder o fôlego e um livro muito bem escrito.

O domínio da narrativa ajuda a manter o leitor. Frases como "O silêncio da cidade adormecida é o silêncio das histórias não contadas" lembram Alan Moore (que revolucionou o terror com Monstro do Pântano na década de 1980) e ajudam a manter o leitor enquanto a trama não engrena.

Uma curiosidade da história é a inclusão, na trama, de elementos de espiritismo. Esse talvez seja um diferencial do terror nacional. O Brasil é o único país em que o espiritismo fez sucesso como religião, talvez por conta das influências indígenas e negras. O brasileiro, mesmo o católico, acredita em comunicação com espíritos com uma naturalidade que não é encontrada em outros países, muito menos no racional EUA, lar da maioria dos escritores de terror de sucesso. O próprio King já disse que não acredita em espíritos e não tem nenhum interesse na comunicação com eles.

Roberto Causo parece não só acreditar em espíritos, como tem com eles uma relação de naturalidade kardecista. É como se o romance dissesse: o terror não está no mundo dos espíritos, mas no coração dos homens encarnados.

Anjo de dor é, portanto, um livro que não se prende a simplesmente copiar o terror norte-americano, embora, evidentemente, o autor tenha aprendido muito bem com ele. E, mais do que um bom livro de terror, é uma boa obra.

Para ir além






Gian Danton
Macapá, 22/2/2010

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