2009: intolerância e arte | Gian Danton | Digestivo Cultural

busca | avançada
61129 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Simões de Assis | Individual de Carlos Cruz-Diez
>>> Jazz Festival: Primeira edição de evento da Bourbon Hospitalidade promete encantar com grandes nomes
>>> Coletivo Mani Carimbó é convidado do projeto Terreiros Nômades em escola da zona sul
>>> CCSP recebe Filó Machado e o concerto de pré-lançamento do álbum A Música Negra
>>> Premiado espetáculo ‘Flores Astrais’ pela primeira vez em Petrópolis no Teatro Imperial para homenag
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
Colunistas
Últimos Posts
>>> A melhor análise da Nucoin (2024)
>>> Dario Amodei da Anthropic no In Good Company
>>> A história do PyTorch
>>> Leif Ove Andsnes na casa de Mozart em Viena
>>> O passado e o futuro da inteligência artificial
>>> Marcio Appel no Stock Pickers (2024)
>>> Jensen Huang aos formandos do Caltech
>>> Jensen Huang, da Nvidia, na Computex
>>> André Barcinski no YouTube
>>> Inteligência Artificial Física
Últimos Posts
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Prática de atelier: cores personalizadas *VÍDEO*
>>> Cheiro de papel podre
>>> O Nome Dele
>>> Um Leitor sobre Daniel Piza
>>> Um Furto
>>> Homenagem a Pilar del Río
>>> O Debate...
>>> Crime e mistério nas letras nacionais
>>> Tempo di valsa
>>> O Príncipe Maquiavel
Mais Recentes
>>> Quem vai Salvar a Vida? de Ruth Rocha pela Salamandra (2015)
>>> Livro Cáuculo - volume 2 de Maurice D. Weir pela Pearson (2024)
>>> O Código da Vinci - Roteiro Ilustrado de Akiva Goldsman pela Sextante (2006)
>>> Delícias da Kashi - Gastronomia Vegana Gourmet de Kashi Dhyani pela Mauad X (2016)
>>> Livro Microbiologia Para As Ciências Da Saúde de Paul G. Engelkirk pela Guanabara Koogan (2005)
>>> Livro Comunicação E Comportamento Organizacional PLT 111 de Geraldo R. Caravantes pela Fisicalbook (2014)
>>> Livro Finanças Corporativas: Conceitos E Aplicações de Jose Antonio Stark Ferreira pela Pearson (2005)
>>> Livro Introdução a Genética PLT 248 de Anthony J F Griffiths ; RiCHARD C. Lewontin pela Guanabara (2008)
>>> Teoria Geral Da Administração. Da Revolução Urbana À Revolução Digital de Antonio Cesar Amaru Maximiano pela Atlas Br (2011)
>>> LivroTeoria Geral Da Administração: Da Revolução Urbana À Revolução Digital de Antonio Cesar Amaru Maximiano pela Atlas (2008)
>>> O Porco de William Hope Hodgson pela Diário Macabro (2024)
>>> Arvore Do Beto de Ruth Rocha pela Salamandra (2010)
>>> A Casa No Limiar e Outras Histórias Macabras de William Hope Hodgson pela Diário Macabro (2024)
>>> Ponto De Vista de Sonia Bergams Salerno Forjaz pela Moderna (2014)
>>> A Grande Campea de Maria Cristina Furtado pela Do Brasil (2015)
>>> Amigos De Verdade de Telma Guimarães Castro Andrade pela Brasil Literatura (2010)
>>> Bleach 57 - Out of Bloom de Tite Kubo pela Panini Comics (2014)
>>> O Fantástico Mistério De Feiurinha de Pedro Bandeira pela Moderna (2009)
>>> Cantigas Por Um Passarinho A Toa de Manoel de Barros pela Companhia Das Letrinhas (2018)
>>> Bleach 56 - March of the Stacross de Tite Kubo pela Panini Comics (2013)
>>> A Historia Do Natal. O Livro Animado Que Conta Como O Menino Jesus Nasceu de Justine Swain-smith pela Publifolha (2008)
>>> Amarílis de Eva Furnari pela Moderna (2013)
>>> De Ferro E Flexíveis de Maria Cecília De Souza Minayo pela Garamond (2004)
>>> O Abz Do Ziraldo de Ziraldo pela Melhoramentos (2003)
>>> Understanding And Using English Grammar With Audio Cd And Answer Key de Betty S. Azar; Stacy A. Hagen pela Pearson Longman (2002)
COLUNAS >>> Especial Melhores de 2009

Segunda-feira, 4/1/2010
2009: intolerância e arte
Gian Danton
+ de 10300 Acessos
+ 3 Comentário(s)

2009 foi um ano de retrocessos e censuras e intolerâncias, mas também foi um bom ano, com bons filmes, bons quadrinhos e bons livros. No final, a arte parece ter vencido as hordas da irracionalidade.

Uma das primeiras boas novidade de 2009 foi Up, a nova animação da Pixar. Atualmente, o nível das animações melhorou muito. A maioria dos estúdios faz filmes bons. Mas só a Pixar faz obras-primas: Toy Story, Wall-E e, agora, Up.

Up, como Wall-E, é uma aula de como escrever um bom roteiro. O primeiro ato (que tem como objetivo mostrar quem são os personagens e o ambiente em que eles vivem, e que costuma ser chato) acaba sendo um dos melhores momentos do filme. A fórmula é a mesma de Wall-E: apelar para o lirismo. Assim, conhecemos um garoto apaixonado por aventuras, que conhece uma menina que compartilha da mesma paixão. E, numa bela sequência sem falas, vemos os dois crescendo, casando, envelhecendo, e sempre adiando os planos de sair em uma aventura. As cenas da gravata acabam sendo ótimas metáforas tanto da vida do casal quanto da evolução do tempo.

Já velho, viúvo, nosso protagonista acaba embarcando nessa aventura ao fazer sua casa voar com balões coloridos.

Não é necessário esperar a trama começar, no final do primeiro ato, para perceber que estamos diante de uma obra acima da maioria das animações produzidas por Hollywood. O restante não decepciona: o filme tem lirismo, emoção e muita ação. Todos os personagens são muito bem construídos; o velhinho, com voz de Chico Anysio na versão dublada em português, certamente é uma atração à parte.

Também no cinema, tivemos o polêmico Watchmen. Não houve meio-termo: alguns odiaram, outros amaram.

Watchmen é a história em quadrinhos mais reverenciada de todos os tempos. Escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons, ela revolucionou o modo como eram vistos os heróis, introduzindo o realismo no gênero. Existiram várias tentativas de transformar a série em um filme, algumas das quais pretendiam reformular completamente a história, atualizando o contexto da guerra fria para os dias atuais, em que o inimigo é o terrorismo. Quem acabou conseguindo a façanha foi Zack Snyder, diretor de 300. Fã da série, ele fez uma versão tão fiel que parece decalcada dos gibis.

Incrivelmente, algumas pessoas reclamaram das mudanças, como se fosse possível adaptar uma história em quadrinhos tão grande e complexa sem que algo se perdesse. As críticas mais sensatas vieram daqueles que acusaram o diretor de ter usado a história em quadrinhos como storyboard para o filme.

De fato, alguns dos poucos momentos em que ele ousou inovar, como a sequência inicial, mostrando as mudanças no mundo a partir do surgimento dos heróis, ao som de Bob Dylan, se tornaram os melhores momentos da película. O final também, muito criticado pelos puristas, é, na verdade, mais crível que o final dos quadrinhos, inclusive do ponto de vista científico.

Independente de outras questões,foi uma experiência interessante ver personagens de quadrinhos se movimentando na tela.

Ainda na tela grande, uma boa surpresa foi o novo Jornada nas Estrelas, de JJ Abrams. É empolgante, respeita a série original, dá uma explicação convincente para um recomeço. Só faltou um pouquinho de filosofia, afinal a série original tinha muita filosofia e até filmes de sucesso conseguem ser filosóficos, como Matrix. Mesmo assim, é um belo filme, que não fez feio nos cinemas e acabou salvando uma franquia já quase morta.

O filme conseguiu até o que parecia impossível: colocar outros autores para fazerem os papéis de Spock e Kirk e ainda assim agradar os fãs.

Bastardos Inglórios foi, sem dúvida, um dos filmes do ano. Tarantino parece ter chegado à maturidade narrativa num filme que junta o que tem de melhor em toda a sua cinematografia e ainda acrescenta um fundo histórico interessante.

A sequência mais memorável do filme é a primeira, em que uma calma conversa de um fazendeiro francês com um oficial nazista termina em um banho de sangue. Nessa cena, duas coisas se destacam: a ótima direção de Tarantino (quando a câmera começa a se movimentar em círculo ao redor dos dois homens, sabemos que algo vai acontecer) e o talento do ator Christoph Waltz, que faz o Coronel da SS Hans Landa. O charme desse personagem é um dos atrativos do filme. Onde Hans Landa aparece, ele rouba a cena.

Na área de quadrinhos, tivemos alguns ótimos lançamentos nacionais, como 7 vidas (Conrad), de André Diniz e Antonio Eder, e Flores manchadas de sangue (Devir), do mestre Cláudio Seto, que morreu em 2008. Em 1968, Seto começou a publicar a revista O Samurai. Pela semelhança de temas, muitos hoje acham que se tratava de uma imitação do Lobo Solitário, de Kazuo Koike e Goseki Kojima, mas a maioria dos historiadores concorda que o trabalho de Seto é dois anos mais velho. Mesmo que não fosse pelo pioneirismo, Flores manchadas de sangue, álbum que reúne as melhores histórias do personagem, já valeria pela qualidade das histórias, belos e muitas vezes apavorantes estudos sobre a natureza humana.

Mas nenhum ano é feito apenas de coisas boas. Se este ano não teve tsunamis, teve muita polêmica provocada por aqueles que acham que quadrinhos são feitos para crianças e não podem falar de assuntos mais sérios.

A polêmica começou com a escolha do álbum 10 na área, um na banheira e ninguém no gol, para ser distribuído para bibliotecas de escolas públicas de ensino fundamental de São Paulo. O álbum não é destinado ao público infantil e a escolha foi infeliz, mas o governador José Serra preferiu jogar a culpa nos quadrinhos, dizendo que o álbum era de "mau-gosto".

Motivados pela polêmica ou por questões políticas, começaram a pipocar supostas denúncias sobre quadrinhos impróprios que teriam sido comprados pelo MEC para escolas públicas de ensino médio (obras, portanto, voltadas para adolescentes, não para crianças). O principal alvo foi o quadrinista Will Eisner, cuja obra toda foi retirada das bibliotecas por causa de uma única sequência, em que uma garota levanta a saia para enganar um vigia.

Posteriormente, o álbum O sonhador foi banido das escolas por causa de uma cena em que uma mulher aparece semi-nua. Eisner é um dos mais importantes artistas do século XX e sua obra é séria e profundamente humana. Mas os críticos só conseguiam ver a mulher com as costas de fora. Seria mais ou menos como banir a Bíblia das escolas por causa da sequência de Sodoma...

O mais surpreendente é que essa polêmica toda aconteceu justamente nas escolas, local de onde se esperava um pouco mais de inteligência ao julgar uma obra.

Claro que a polêmica não poderia deixar de respingar nos quadrinhos de banca e até Maurício de Sousa teve que vir a público se explicar. Primeiro por causa de uma tira do Chico Bento que foi adulterada (um palavrão foi colocado onde não existia) e colocada em um livro didático na Bahia.

Posteriormente, outra polêmica, agora por causa de um personagem supostamente gay, que apareceu numa revista da Tina (voltada para o púbico adolescente). A sequência era muito sutil, mas causou a ira dos moralistas, esquecidos de que Maurício prima pela diversidade em suas revistas, com personagens negros, cegos, cadeirantes. "Uma posição vai se manter em todas as nossas produções: o respeito pelo ser humano, pela pessoa, e a elegância no trato de qualquer tema", declarou o quadrinista, numa comunidade oficial.

Quem acompanhava o que acontecia com os quadrinhos já devia adivinhar que 2009 seria lembrado pelo caso da aluna da Uniban que foi hostilizada pelos alunos por causa de um vestido curto. Mais absurdo: o reitor, em vez de punir os agressores, resolveu expulsar a agredida. Isso numa faculdade, ambiente em que deveria prevalecer o bom senso, a inteligência e a tolerância para com as diferenças.

No final, fica o desejo de que 2010 seja um ano um pouco mais tolerante.


Gian Danton
Macapá, 4/1/2010

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Reflexões na fila de Adriana Baggio


Mais Gian Danton
Mais Acessadas de Gian Danton em 2010
01. Os dilemas da globalização - 8/11/2010
02. Glauco: culpado ou inocente? - 29/3/2010
03. Maria Erótica e o clamor do sexo - 25/10/2010
04. 2009: intolerância e arte - 4/1/2010
05. As fronteiras da ficção científica - 3/5/2010


Mais Especial Melhores de 2009
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
18/1/2010
08h47min
Interessantes os casos envolvendo os quadrinhos. Quanto ao filme "UP", não concordo. Perda de tempo, desnecessário. Um viúvo vem de balão para a América do sul, pousa em Salto Angel, na Venezuela, e desperdiça nosso tempo correndo atrás de um pássaro imaginário. Onde estão os nativos da Venezuela? Seus costumes, sua cultura, o intercâmbio? Seria muito bom ver um senhor moralista e conservador, como o criado pelo desenho, ser confrontado em suas crenças por um povo guerreiro, e sofredor, como o latino. Realmente, perderam a oportunidade de fazer um filme que contribuísse não apenas com efeitos especiais para a humanidade. Mais um filme-pipoca irritante e alienante que Tio Sam nos empurra com seus milhões de $... Não assistam.
[Leia outros Comentários de Luciano Pita]
18/1/2010
08h50min
O ano de 2009 foi um ano difícil em relação a construção de um sonho intelectual, de uma melhoria da leitura, de lançamentos que fossem além das arquiteturas das cidades, ou seja, que extraíssem a alma das cidades como poemas, crônicas e contos, que trouxessem personagens populares, que conseguissem falar da beleza de uma flor entre a arquitetura, que elaborassem um sonho de vários grupos de poetas e escritores do Brasil, com todas as suas dificuldads e sucessos, ou seja, que expressassem as contradições do viver... A literatura tem esse poder de imitar a vida e dizer verdades, o que às vezes falta às reportagens ou notíciais... Sinceramente, faltou isto; e isto é a alma desta nossa realidade chamada literatura.
[Leia outros Comentários de Manoel Messias Perei]
14/2/2010
17h48min
Não acompanhei a repercusão da tira do Maurício de Sousa porque estou fora do Brasil há quase dez anos, mas é um caso exemplar, mesmo que muito sutil e o Maurício está de parabéns pela ousadia.
[Leia outros Comentários de wellington almeida]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Madre Coraje y suas hijos - Bertolt Brecht (Teatro alemão) - Em ESPANHOL
Bertolt Brecht
Biblioteca del Pueblo



Livro Literatura Estrangeira O Mundo Mágico de Harry Potter Mitos, lendas e histórias fascinantes
David Colbert
Sextante
(2001)



Tempo de Semear - Cultivando Valores no Campo da Educação
Miguel Campos Sepúlveda
Canteiros
(2008)



Literatura - Tempos, Leitores e Leituras - Parte 2 e 3
Maria Luiza M Abaurre e Marcela Pontara
Moderna



O Chamado De Cthulhu E Outros Contos
H. P. Lovecraft
Principis
(2021)



Evolutionary biology
Douglas J. Futuyma
Sinauer
(1986)



O Misterio Da Discoteca Arruinada
Carol Lawrence
Ciranda Cultural
(2012)



Matemática - 2º Grau - Volume 1
Maria Helena Soares e Walter Spinelli
Scipione
(1996)



O Mago - A Incrivel Historia De Paulo Coelho
Fernando Morais
Planeta



Como Ter Suas Preces Atendidas
Irwin Katsof
Larousse
(2011)





busca | avançada
61129 visitas/dia
2,1 milhões/mês