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Segunda-feira, 25/10/2010
Maria Erótica e o clamor do sexo
Gian Danton
+ de 9600 Acessos
+ 3 Comentário(s)

No ano de 2003, o jornalista baiano Gonçalo Júnior chamou a atenção com um livro essencial para qualquer um que queira entender o mercado editorial brasileiro. A Guerra dos Gibis mostrava como alguns dos principais impérios editoriais haviam sido erguidos a partir das vendas astronômicas dos gibis, em especial nos anos 1940 e 1950. Focado na vida de Adolfo Aizen, o livro contava também a perseguição aos gibis, feita por padres, professores e políticos. Mas, como a narrativa terminava na década de 1960, faltava uma segunda parte. É exatamente a segunda parte dessa epopéia que a editora Peixe Grande está lançando agora, com o livro Maria Erótica e o clamor do sexo (Peixe Grande, 2010, 496 págs).

Se o primeiro livro tinha como personagem principal o editor Adolfo Aizen (dono da Ebal), este segundo é focado em dois outros personagens: Minami Keizi e Cláudio Seto. Ambos viveram a fase mais difícil dos quadrinhos nacionais, quando a perseguição aos gibis nacionais era institucionalizada e fazia parte do programa da ditadura militar. E ambos revolucionaram a linguagem dos quadrinhos ao introduzir os mangás em nosso país.

Minami chegou a São Paulo com pouquíssimo dinheiro no bolso, foi rejeitado pela maioria dos editores da época (que estranharam seu traço com fortíssima influência oriental), mas acabou criando uma das melhores editoras de quadrinhos da década de 1970, a Edrel.

Vindo da mesma cidade que Minami, Lins, no interior paulista, Cláudio Seto foi um dos principais e mais revolucionários artistas da Edrel e, posteriormente, comandou o setor de quadrinhos da Grafipar, a maior trincheira dos quadrinhos nacionais no final da década de 1970 e início da década de 1980. Maria Erótica e o clamor do sexo acompanha ora um, ora outro, oscilando entre as histórias desse personagens tão interessantes quanto as histórias que criaram.

A forma como Minami consegue sair da miséria para se tornar dono de uma editora é digna de nota. Após ter seu trabalho rejeitado, ele investiu seu pouco dinheiro num sistema de venda de livros por reembolso postal (os anúncios do serviço eram conseguidos em publicações em troca de tiras de quadrinhos produzidas por ele) que deu tão certo a ponto de Sebastião Bentivegna, dono da editora Pan-Juvenil, convidá-lo para ser supervisor editorial. Com o tempo, afundado em dívidas com agiotas, Sebastião chamou Minami e o dono da gráfica que fazia fotolitos para a editora, e ofereceu a Pan-Juvenil, de graça, desde que eles assumissem as dívidas.

Minami investiu em quadrinhos ousados tanto pelo erotismo quanto pelas inovações estéticas, que aproximavam os gibis dos mangás e teve tanto sucesso que a editora, agora chamada Edrel, não só conseguiu quitar seus débitos, como ainda cresceu e chegou a ameaçar as grandes.

Foi nesse momento que começou a calvário de Minami com a ditadura. Felizmente, o editor guardou todo o histórico de correspondências com a censura, o que permitiu a Gonçalo Júnior fazer um raio-x da repressão ditatorial, nos brindando com alguns dos momentos mais interessantes do livro.

O argumento da ditadura é que, por trás da liberdade sexual, que se mostrava através das publicações da Edrel, escondia-se o comunismo internacional, que pretendia desestabilizar a família brasileira. Curiosamente, o mesmo fenômeno era também combatido na União Soviética como um vício capitalista.

Gonçalo amplia a investigação sobre a censura na época, abarcando de revistas como Garotas de Piadas da Edrel aos gibis do Pato Donald e Luluzinha, além de revistas de reportagens, como a Realidade.

Mas a perseguição ao Pato Donald nem se comparava à repressão ao erotismo. Sem querer perder o negócio, Minami procurava se informar sobre como continuar publicando sem ter suas revistas apreendidas. Logo descobriu que não havia parâmetros. Tudo dependia muito da cabeça do censor.

O risco maior não era só a apreensão de revistas: as sedes das editoras poderiam ser invadidas a qualquer momento, e seus funcionários poderiam ser presos.

O esquema da censura era cruel especialmente para os pequenos editores, com poucas ligações com o poder. Na fase mais cruel da ditadura, as bonecas das revistas tinham de enviadas para Brasília, onde muitas vezes demoravam meses para serem analisadas. Se houvesse algum corte ou pedido de mudança, uma nova boneca deveria ser feita e enviada para Brasília para uma análise igualmente demorada.

Se a revista focasse em assuntos do momento, esse esquema era morte certa. No final, a repressão levou ao fechamento tanto da Edrel quanto da editora seguinte de Minami, a M&C.

Para fugir da repressão, Cláudio Seto, escondeu-se no único lugar onde não se esperava encontrar um subversivo: no partido do regime, o Arena, pelo qual foi eleito vereador em Lins. Quando se casou, resolveu pegar a estrada e fazer uma viagem pelo sul do país. Ao chegar em Curitiba, encontrou a cidade envolta pela neve e, encantado, resolveu morar lá.

Sua ida para Curitiba parece ter sido arquitetada pelo destino, pois na mesma época um editor local pretendia entrar no mercado erótico, aproveitando a abertura da censura e o interesse da população pelo tema. Era o início da Grafipar. Deu tão certo que virou uma verdadeira trincheira do quadrinho nacional, a ponto de alguns dos mais importantes artistas da época se mudarem para a capital do Paraná.

Mas erros editoriais, perseguição política e a crise econômica selaram o fim da editora, o que não a impediu de deixar uma marca poderosa nos quadrinhos brasileiros.

Maria Erótica e o clamor do sexo se torna ainda mais importante pelo fato de tanto Minami quanto Seto terem morrido recentemente, quase no esquecimento, em especial Minami. Numa época em que os mangás dominam as bancas, poucos se lembram desses grandes artistas e editores que introduziram a linguagem oriental nos quadrinhos nacionais.

Nas palavras de Toninho Mendes, que escreve a orelha da publicação: "Gonçalo Júnior faz ressurgir do limbo um segmento da imprensa nacional quase desconhecido: o dos pequenos editores de revistas e livros de sexo que desafiaram a polícia e os censores com formas criativas de enganar a repressão e fazer o brasileiro participar mais ativamente - em vários sentidos - da revolução sexual, que a ditadura tanto se empenhou por não deixar entrar no país".

Para ir além






Gian Danton
Macapá, 25/10/2010

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
26/10/2010
10h43min
Não dá para deixar de fora a obra do Carlos Zéfiro começada antes da ditadura, cujo tempo atavessou incólume, terminando apenas com a morte seu criador. Sempre "underground", os "catecismos", como eram conhecidas as revistinhas, circulavam de mão em mão, escondidas dentro de publicações comuns. A produção e distribuição das histórias do Carlos Zéfiro nunca foram interrompidas. Vendidas "secretamente" dentro de discretos envelopes opacos, em bancas de jornais, os quase folhetos, um tanto rudimentares, nunca encalharam. Carlos Zéfiro até que merecia um livro sobre seu pioneirismo, audácia, coragem, e criatividade do seu extenso trabalho.
[Leia outros Comentários de Raul Almeida]
4/11/2010
19h42min
Oi, Raul. Existem, pelo que sei, dois livros sobre o Zéfiro. Um é do Ota, ex-editor da MAD. O outro é de vários autores, inclusive com um artigo do antropólogo Roberto DaMatta. Infelizmente, os dois são raros.
[Leia outros Comentários de Gian Danton ]
5/11/2010
09h28min
Os livros de Gonçalo dão merecidos contornos épicos e heroicos a certas figuras da área editorial que já partiram, como Minami e Claudio Seto, e a outras que continuam entre nós, como Shimamoto, Alvaro de Moya e Franco de Rosa. Parabéns, Gian, pelo artigo.
[Leia outros Comentários de rene ferri]
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