Brasília à mercê das multidões | Daniel Piza

busca | avançada
78889 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Festival exibe curtas-metragens online com acesso livre
>>> Lançamento do thriller psicológico “ A Oitava Garota ”, de Willian Bezerra
>>> Maurício Einhorn celebra os 45 anos do seu primeiro álbum com show no Blue Note Rio, em Copacabana
>>> Vera Holtz abre programação de julho do Teatro Nova Iguaçu Petrobras com a premiada peça “Ficções”
>>> “As Artimanhas de Molière” volta aos palcos na Cidade das Artes (RJ)
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> 21 de Junho #digestivo10anos
>>> 3 Alexandres
>>> Blogueiros vs. Jornalistas? ROTFLOL (-:>
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> O poeta, de Vinicius de Moraes
>>> Crítica à arte contemporânea
>>> Pecados, demônios e tentações em Chaves
>>> Satã, uma biografia
>>> Críticos em extinção?
>>> DeepSeek by Glenn Greenwald
Mais Recentes
>>> Bela Maldade de Rebecca James pela Intrínseca (2011)
>>> Vivo - Um Incrível Pop-Up Do Corpo Humano (Sem Som) de Melbooks pela Melbooks (2007)
>>> Asesinato En El Barrio Gótic de Óscar Tosal pela Santillana-usal (2008)
>>> Lego Star Wars: The Yoda Chronicles (Não Acompanha o Lego) de Daniel Lipkowitz pela Dk Children (2013)
>>> Falar Bem Para Atender Melhor de Raquel Bahiense e Alexandre Medeiros pela Senac (2014)
>>> Ma - Eu. Mulher. Trans. de Marcela Bosa pela Appris (2023)
>>> Kiese História De Um Africano No Brasil de Ricardo Dreguer pela Moderna (2015)
>>> Vencendo O Medo de Jerilyn Ross pela Ágora (1995)
>>> O Caso Do Bolinho de Tatiana Belinky pela Moderna (2017)
>>> Guia De Produtos Cosmesticos de Tereza Rebello pela Senac (2004)
>>> Old Ireland / edited by Robert McNally de McNally, editor pela Fordham U Press (1965)
>>> Você É Especial de Max Lucado pela Hagnos (2017)
>>> Gwladfa Patagonia: The Welsh colony in Patagonia 1865-1965 de R. Bryn Williams pela Gwasg Prifysgol Cymr (1965)
>>> O Livro Das Respostas de Anselm Grün pela Vozes (2008)
>>> Sopa De Botão De Osso de Aubrey Davis pela Brinque-book (2016)
>>> Historia Dos Povos Arabes (ed De Bolso) - History de Albert Hourani pela Companhia De Bolso (2006)
>>> Meu Primeiro Livro Do Corpo Humano de Zada Editora pela Zada (2013)
>>> História Das Inquisições: Portugal, Espanha E Itália, Século Xv-xix de Francisco Bethencourt pela Companhia Das Letras (2000)
>>> E o Vento Levou Livro DVD 1 (Coleção Folha Clássicos do Cinema) de Clark Gable; Vivien Leigh pela Folha (2009)
>>> Science And Technology In Medieval Society (annals Of The New York Academy Of Sciences) de Pamela O. Long pela New York Academy Of Sciences (1985)
>>> Magistrados e Feiticeiros na França do Século XVII de Robert Mandrou pela Perspectiva (1979)
>>> Limite e Espaço - Uma Introdução A Obra De Winnicott de Madeleine Davies pela Imago (1982)
>>> Um Certo Capitão Rodrigo de Erico Verissimo pela Globo (1987)
>>> Centuries Of Childhood A Social History Of Family Life de Philippe Ariès pela Penguin Books (1973)
>>> Custos e Orçamentos nos Empreendimentos de Engenharia de Nildo Silva Leão pela Fontenele (2018)
ENSAIOS

Segunda-feira, 10/4/2006
Brasília à mercê das multidões
Daniel Piza
+ de 6700 Acessos
+ 6 Comentário(s)


Fonte: site da 4ª BIA no UOL

Brasília já nasceu decadente, apesar da cara de novidade. Há 45 anos ela é a sede do arcaísmo em forma de maquete modernista, o Politburo bossa-nova no meio do cerrado, a curiosa consagração do estilo arquitetônico que poderia ser batizado de futurismo retrô. A idéia era que a transferência da capital para o interior profundo fosse impulsionar o desenvolvimento do país, já que a população se apinhava no litoral. Tanto tempo depois, o centro-oeste realmente está mais desenvolvido – só que graças ao salto do agronegócio nos últimos 15 anos, movido por dinheiro e técnica investidos por produtores e pesquisadores oriundos do sudeste e do sul do Brasil. Ao mesmo tempo, a população continua amontoada nas grandes cidades, onde a informalidade e a violência dão as cartas das periferias; a parcela que vive em meios rurais caiu a menos de 20% dos habitantes. O Brasil profundo continua mal habitado, uma terra sem lei, na mão dos coronéis de paletó e gravata.

A capital poderia, então, ser transferida para São Paulo? Há algumas vantagens à primeira vista. Diminuiriam, por exemplo, as desculpas para não trabalhar só de terça a quinta, pois a maioria dos parlamentares estaria mais perto de suas bases eleitorais; e quem sabe a mística do trabalho desenfreado não os contaminasse um pouco. Mais importante, eles estariam à mercê constante de multidões. Como o presidente Lula, que não foi ao estádio de Brasília ver a seleção brasileira por medo de ser vaiado (o que fez muito bem a ela, que enfiou cinco gols no Chile), eles pensariam duas vezes antes de se expor. E não só no Morumbi, no Pacaembu, no Palestra Itália. Qualquer restaurante lotado seria uma câmara de apupos em potencial. Já pensou Severino Cavalcanti andando em direção ao bufê do Fogo de Chão ou na espera do Sujinho? Outro possível ganho seria para a cidade: bairros esquecidos no passado industrial como Mooca e Brás poderiam abrigar alguns ministérios ou o Congresso.

Haveria também a mera lição visual. Aqui os políticos conheceriam tanto a riqueza que ergue prédios sofisticados na Vila Olímpia e Brooklyn como a pobreza ilustrada por favelas nesses mesmos bairros e em tantos outros. Certo, talvez isso estimulasse seus dois lados ruins: eles estariam mais perto do dinheiro privado, que tanto gostam de achacar, em geral com prazer recíproco; e estariam mais perto da miséria humana, à qual tanto gostam de prometer, em geral com credulidade recíproca. Mas pelo menos eles não se sentiriam tão protegidos quanto se sentem na Las Vegas tropical, sob as marquises de concreto daquele cassino político. Teriam a vigilância maior de uma mídia – jornais, revistas, TVs, sites – cuja capital é cada vez mais São Paulo. O chato é que isso implicaria ver essa gente mais de perto, ocupando lugares do cidadão honesto nos restaurantes, cinemas e parques, aumentando o trânsito com carros oficiais, multiplicando os custos da burocracia local.

O maior problema, no entanto, seria outro. Com seu urbanismo feito para ser visto do avião, não vivenciado por gente normal e trabalhadora, o Distrito Federal continua a ser um encrave de políticos, amanuenses, lobistas e jornalistas, todos morando no que parece ser uma sucessão de condomínios, símbolos irônicos do loteamento do Estado pelos grupos de interesse. A cidade sem esquinas chocou críticos do porte de Kenneth Frampton (arquitetura) e Robert Hughes (arte) por sua tentativa de planejamento fundada na ilusão, por seu monumentalismo seco, cercado de cidades-satélites nada modernas. Ao contrário de Washington, D.C., a aridez se expande para a vida cultural, sem museus, bibliotecas, centros de pesquisa, etc. Por isso mesmo, Brasília é representativa. Paradoxo móvel entre o atraso e o sonho, representa melhor as contradições do Brasil do que qualquer outra cidade. E é muito mais fácil rir dela como um todo ao vê-la distante. Como piada, é perfeita. Alimenta com a mera existência a desconfiança saudável que o cidadão deveria ter dos políticos.


Catedral de Brasilia, por Ulrike WF


Daniel Piza
São Paulo, 10/4/2006
Mais Daniel Piza
Mais Acessados de Daniel Piza
01. Arte moderna, 100 anos - 10/9/2007
02. Saudades da pintura - 16/5/2005
03. Como Proust mudou minha vida - 15/1/2007
04. A pequena arte do grande ensaio - 15/4/2002
05. André Mehmari, um perfil - 20/11/2006


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
10/4/2006
12h36min
Para ficar mais realista, o JFK tupiniquim poderia ter feito a reforma da capital no Rio, transferindo-a para a Barra - e haviam planos na época nesse sentido. Além do Rio ser a grande vitrine do Brasil, a cidade já agrega uma parte considerável dos orgãos federais. A transferência de capital, além de render frutos nas contas suiças dos deputados e empreiteiros, também acabou com o cartão postal brasileiro, que após anos de penúria econômica está retornando agora com o petróleo... Quanto à tara dos paulistas como sendo o centro do universo, e inclusive "capitar", só penso que os deputados passariam a usar o trânsito como desculpa para não comparecerem... E ficariam bem mais próximos das idéias criativas de Maluf, Palocci, etc... Desde a república do café que continuamente temos o domínio paulista/mineiro da política nacional. (E veja, você, agora até o petróleo é deles, com o remapeamento do litoral brasileiro, para transferir parte do que é hoje do Rio/ES para SP... Lula aí, ó!)
[Leia outros Comentários de Ram]
24/4/2006
22h26min
Comcordo cm Daniel Piza. Brasília parece monumental, mas se chegamos perto do Palácio do Planalto ele fica insignificante, a mesma coisa os outros palácios. Também o complexo de tatu que o Oscar Niemayer tem, tudo fica debaixo da terra, só o adorno fica acima da terra. Vejam a Catedral, o Teatro. E a maioria das pessoas que lá moram pesam que sabem mais e que são melhores que os habitantes das outras cidades. É a ilha da fantasia, não se sabe, verdadeiramente, o que se passa no Brasil.
[Leia outros Comentários de CleusaArantes]
8/5/2006
05h23min
Brasília é apenas o ponto de encontro: políticos com vida pregressa duvidosa, que são eleitos a qualquer custo; empresários em busca de "oportunidades"; lobistas; migrantes miseráveis que, derrotados em sua terra natal, buscam uma chance de "vencer na vida"... A lista é grande, mas a cidade e sua população não devem ser culpadas por todos esses infortúnios, precisamos, apenas, que o povo brasileiro aprenda a escolher melhor seu representante.
[Leia outros Comentários de carlos fonseca]
23/5/2006
12h15min
Generalização e preconceito, os males do texto são. Apenas São Paulo pode nos salvar da praga da corrupção, como se de São Paulo não tivesse saído alguns dos melhores "quadros" corruptores. Ah, São Paulo também foi decisivo na eleição de Collor de Mello. E não há jornais nem vida inteligente fora de São Paulo? A propósito, sou paulista, paulistano, e gosto incondicionalmente da terra onde nasci. Mas não sou bairrista-quase-xenófobo, nem consigo aceitar essa visão, digamos, etnocêntrica. E um PS: morei em Brasília durante alguns meses, e não considero um lugar ruim para viver, pelo contrário.
[Leia outros Comentários de Vitor Nuzzi]
23/5/2006
12h27min
Escrevi esse texto a pedido de uma revista que queria um exercício de imaginação caso a capital fosse transferida de Brasília para São Paulo. É uma brincadeira, não uma defesa. Claro que a distância e o urbanismo do Distrito Federal favorecem a politicaiada... Mas São Paulo tem outros e muitos defeitos.
[Leia outros Comentários de Daniel Piza]
24/5/2006
15h03min
Caro Daniel, obrigado pelos esclarecimentos. Um abraço, Vitor
[Leia outros Comentários de Vitor]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




A Aura Enfeitiçada - O Fetiche como Espetáculo
Valton de Miranda Leitão
Annablume
(2009)



Cozinha Regional Brasileira Rio Grande do Norte
Abril Coleções
Abril Coleções
(2009)



Marca D'água ( tradução de Júlio Castañon Guimarães)
Joseph Brodsky
Cosacnaify
(2006)



Fortalecendo o Sindicalismo
Fatima Reis/ João Paulo Ribeiro
Ctb
(2013)



Livro Auto Ajuda Nunca Desista De Seus Sonhos
Augusto Cury
Sextante
(2004)



Feminismo Em Disputa
Beatriz Costa/ Camila Rocha/ Esther Solano
Boitempo
(2022)



Sangue de Índio
Rogério Andrade Barbosa
Melhoramento
(1999)



Livro Ecologia Dicionário Ilustrado de Meio Ambiente
Patricia Narvaes
Yendis
(2011)



Beijing - Insight Compact Guide
Diversos autores
Apa
(2000)



Livro de Bolso Música O Que é Música - Coleção 75
J. Jota de Moraes
Nova Cultura, Brasiliense
(1986)





busca | avançada
78889 visitas/dia
1,7 milhão/mês