Jobim: maestro ou compositor? | Luís Antônio Giron

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Segunda-feira, 22/1/2007
Jobim: maestro ou compositor?
Luís Antônio Giron
+ de 5500 Acessos
+ 2 Comentário(s)

Costuma-se chamar Antônio Carlos Jobim de maestro, mas o termo é impreciso, e nem sequer o compositor se considerava assim. Com razão: “maestro” vibra como um título nobiliárquico, hipérbole tipicamente brasileira. Ora, o título não faz jus à real contribuição de Jobim para a música popular, nem faz justiça aos maestros que formaram o músico, como Radamés Gnattali, Lírio Panicalli, Alceu Bocchino e Léo Peracchi. Eles orientaram o jovem pianista de boate no início da carreira. Em 1952, por exemplo, Radamés o chamou para trabalhar com seu assistente na gravadora Continental, e lhe passou conhecimento de arranjo. Suas peças sinfônicas – como Sinfonia do Rio de Janeiro, de 1954 – ou as composições lançadas postumamente no CD Jobim Sinfônico (Biscoito Fino, 2002) – pecam pelo rebuscamento e excesso, plasmados na escritura de Radamés e Panicalli. Tom brincava que, toda vez que precisava fazer um arranjo, procurava os mestres como Panicalli. Segundo Tom, este maestro havia inventado um círculo mágico em que figuravam as 24 tonalidades e seus tons relativos. “Toda vez que queria consultar o Lírio, não o encontrava”, disse Tom a este articulista em 1992. “O Lírio era inteligente: morava em Niterói e não tinha telefone!”.

O fato é que Tom conhecia onde se encontrava a arte de escrever música, mas não era sua obsessão nem especialidade arranjar composições e reger orquestras, embora o tenha feito em algumas raras ocasiões. Na realidade, seu prato forte era a arte de compor. Para demonstrar a idéia, é necessário não só acompanhar a carreira do músico – influências, repulsas e interditos –, mas analisar algumas de suas composições. Ele marcou a música popular brasileira como autor semi-erudito (ou “semi-sério”, como querem os puristas). Aparentemente, a reflexão é ociosa. No entanto, caso o ouvinte prestar atenção na série produtiva da música popular brasileira, descobrirá a existência de duas correntes centrais que fazem a história dos gêneros avançar: a corrente espontânea e a por assim dizer artificial ou artificiosa – no sentido de obra de arte determinada e construída em registro culto.

Pertencente à segunda corrente, Tom Jobim não contou com a inspiração espontânea. Se improvisou, foi para registrar o que valia a pena em pentagrama. Isso o diferencia de autores intuitivos, como Cartola, Dorival Caymmi, Wilson Batista e Bororó. E o perfila com autores que fizeram a diferença no avanço da estrutura da música brasileira. Entre eles estão Sinhô, Ary Barroso, Custódio Mesquita, João Donato, Ivan Lins e Egberto Gismonti. Como seus irmãos de linhagem, Tom foi autor de música escrita, planejada e supervisionada até o resultado final. As duas correntes ora se misturam, ora rejeitam uma à outra, gerando a história, os conflitos e a fecundidade inigualável da música popular brasileira. No topo da correnteza, beneficiando-se delas, domina o Tom.

O músico deixou uma coleção de canções maravilhosas, com melodias e harmonias repletas de desvios da norma, sem, no entanto, romper com ela. Pelo contrário, toda a obra de Tom – cerca de 400 canções, feitas entre 1950 e 1994, 101 delas registradas no songbook de Almir Chediak – é o testemunho de uma educação musical consistente, em piano, harmonia, contraponto, solfejo, instrumentação. Isso para não mencionar a educação poética, que faz de muitas de suas letras exemplos máximos do gênero. Basta ouvir algumas canções compostas exclusivamente por Tom – “Pensando em você”, “Fotografia”, “Águas de Março”, “Wave” – para se dar conta dos ecos de outros compositores e poetas em sua produção – e, mesmo assim, de sua originalidade. Artista consciente de sua linguagem, escreveu música com o auxílio de um instrumento mais amplo do habitualmente usado na música popular: o piano.

Tom se apossou de um repertório musical imenso. Sua marca foi a da diferença e da sofisticação. As modulações e acordes, o irrupção de um timbre ou de uma levada, tudo o que surpreende o ouvinte no decorrer de uma canção jobiniana pode surpreender por se tratar do contexto da música popular, sobretudo em um gênero como o samba, “elevado” à condição de objeto de arte pelos bossa-novistas. A obra de Tom só faz reforçar o sistema harmônico moderno, herdado de Frédéric Chopin e Claude Debussy, retraduzido por George Gershwin e os jazzistas norte-americanos, disseminado pela música popular.

Sua produção é divisível em três seqüências distintas. A primeira marca o início de carreira. A partir de 1952, Tom lançou sambas e sambas-canções camerísticos com envergadura harmônica erudita. Em canções tristes como a que marcou sua estréia – “Incerteza”, em interpretação de Maurici Moura (Sinter, 1952) – e as que se sucederam – como “Faz uma semana”, “Solidão” e a bem-humorada “Teresa da praia” – fazem-se ouvir aqui a influência de Radamés: dinâmica contrastante, acordes de nona e décima primeira, melodia cromática, modulações e a instrumentação camerística, com uso de instrumentos clássicos, como violoncelo, oboé e fagote. A segunda seqüência de imaginação jobiniana parte da forma de execução do samba formulada pelo cantor e violonista João Gilberto: a Bossa Nova. Tom adotou a suave melancolia bossa-novista (cujo teórico é Vinicius de Moraes), reduziu a dinâmica aos pianos e pianíssimos, concentrou a instrumentação e adaptou a técnica pianística ao esquema simplificado do violão (pela primeira vez, este instrumento, e não o piano, dava as cartas numa mutação da MPB) – ao mesmo tempo que ampliou o vocabulário harmônico. Assim nasceram “Samba de uma nota só”, “Água de beber” e “Insensatez” (acusada de plágio do “Prelúdio nº 4” de Chopin, peça tocada por iniciantes de piano), entre tantas canções hoje consideradas clássicas. A terceira e última seqüência pode ser definida como neo-sinfônica. As composições – “Águas de Março”, “Passarim”, “Urubu” – se tornam mais ecológicas e autobiográficas. As harmonias refluem para o esquema clássico da primeira fase, acrescidas de novas ousadias (clusters, acordes de sexta ou de quinta aumentada) e pedais que diluíam a rítmica da Bossa Nova num universo de citações em expansão. É como se o autor quisesse abafar a influência de João Gilberto no espírito de sua clave, em benefício das lições de Villa-Lobos.

Em 52 anos de vida artística, Tom revelou uma imensa capacidade de submeter todo tipo de informação musical ao próprio talento criador. Entre os interditos, destacam-se a música serial (que aprendeu na fonte, pois foi aluno de Hans-Joachim Koellreutter, pioneiro do dodecafonismo no Brasil), o samba “de raiz”, e o pop. Apesar de evidentes em sua música, o jazz e a tradição erudita jamais transpõem os limites da citação e da evocação. O que ressalta no estilo do compositor é o design sonoro concentrado, realizando a síntese de tudo o que a música tocou no século XX. Não se trata de um maestro, mas não está longe da verdade afirmar que Antônio Carlos Jobim é um dos mestres absolutos da música popular mais rica já sonhada.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Publicado originalmente no jornal Valor Econômico em janeiro de 2007.


Luís Antônio Giron
São Paulo, 22/1/2007
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* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
23/1/2007
18h27min
Brilhante ensaio. A terceira "fase" de Jobim é algo pra se ouvir... É interessante lembrar que Tom gravou poucas músicas de outros compositores, escolhendo sempre as que, de certa forma, cumpriam suas exigências muito refinadas. Uma das minhas melhores surpresas foi a gravação que ele fez do "Trem Azul", de Lô Borges, canção que Tom tinha em alta conta, o que evidencia que tinha as "antenas ligadas" no cenário musical brasileiro. Tom gostava do Clube da Esquina, da turma mineira. Que por sua vez sempre reverenciou sua música.
[Leia outros Comentários de Guga Schultze]
23/1/2007
23h21min
Poucas vezes a gente tem a oportunidade de ler uma crítica musical onde o articulista demonstra conhecer música, sabe do que está falando. Adorei! Concordo também que as obras inéditas gravadas no Jobim Sinfônico (do qual tive a honra de participar) não tinham sido gravadas antes por que o Tom não queria mesmo. Vale, claro, o registro. Acho também que Tom provou que, no Brasil, a distinção entre o erudito e o popular não é tão clara como em outras plagas - e isso é ótimo para a música em geral! Parabéns!
[Leia outros Comentários de léa freire]
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