Modernismo e Modernidade | Alberto Beuttenmüller

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ENSAIOS

Segunda-feira, 9/9/2002
Modernismo e Modernidade
Alberto Beuttenmüller
+ de 54700 Acessos

O modernismo é, antes de tudo, um estilo, uma linguagem, um código, um sistema de signos com normas e unidades de significação. Ou seja, implica em uma visão de mundo. Ser moderno é estar em um tempo e espaço que promete aventura, poder, crescimento, alegria, transformação do ego e do mundo ao redor, mas, ao mesmo tempo, ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que somos e sabemos. O que se disser aqui acerca de modernismo e modernidade vale também para o pós-modernismo e a pós-modernidade.

Antes vamos definir modernismo e modernidade. Modernismo é o fato; modernidade, a reflexão sobre o fato. Teixeira Coelho no seu livro Moderno Pós-Moderno (Iluminuras) nos lembra que Henri Lefebvre definia modernismo como a consciência que cada uma das gerações sucessivas teve de si mesma e a consciência que as épocas e os períodos tiveram de si mesmos. Teixeira Coelho crê que consciência é uma palavra forte demais e a substitui por representação, que se encaixa melhor, e por épocas e períodos entende-se um conjunto de pessoas, num certo espaço-tempo, e as relações estabelecidas entre elas. Representação é melhor porque não elimina, como o uso de consciência, o fenômeno da alienação, uma constante histórica.

"O mais comum – diz Teixeira Coelho – é que as pessoas, numa situação de alienação, se façam uma representação de suas condições de existência e das relações que com estas mantêm – representação nem sempre pertinente. De todo modo, resta saber se as épocas e os períodos se sabem realmente modernistas ou se vêem a si mesmos como modernos, apenas" (Os grifos são de T.C.).

"Sendo uma representação, o modernismo é mais uma fabricação do que uma ação. Ambas têm um ponto de partida, mas só a fabricação conta com um plano claro para a viagem e um ponto determinado de chegada". Digamos que talvez os "grandes" modernismos, os modernismos radicais, sejam uma ação; a maioria é fabricação. Neste caso pode-se abrir uma discussão na História da Arte para saber quais os movimentos modernos de ação e de fabricação. Exemplo: o Dadaísmo seria um modernismo de ação, enquanto o Cubismo seria um modernismo de fabricação. E a Pop Art seria modernismo de ação ou de fabricação?

O leitor pode fazer a sua aposta. Quanto ao nosso modernismo, que está comemorando 80 anos da Semana de Arte Moderna (1922), não há dúvida, foi um modernismo de fabricação. Os integrantes sabiam aonde queriam chegar, desde 1917, quando Anita Malfatti expôs o Expressionismo aprendido na Alemanha, e o escritor Monteiro Lobato, pintor acadêmico e domingueiro, escreveu o famoso artigo: "Paranóia ou Mistificação", publicado em O Estado de S. Paulo, destruindo a carreira da pintora paulista.

Concluindo: se o modernismo é fabricação, a ação é a modernidade. Voltamos ao ponto de partida: o modernismo é o fato, a modernidade é a reflexão sobre o fato; e, segundo Henry Lefebvre, a modernidade é a crítica ou o esboço de crítica, menos ou mais desenvolvidos; é ainda a autocrítica, quando esta existe. É uma tentativa de conhecimento. O modernismo é a certeza e não raro a arrogância do produtor, enquanto a modernidade é a interrogação, a dúvida e a reflexão. É claro que existe muita reflexão arrogante, demasiadamente certa, mas de suas dúvidas.

A modernidade é uma ação por ser um processo de descoberta; tem um ponto de partida e um programa de trabalho, mas o ponto de chegada é incerto e desconhecido. Seu trajeto não é resultante de um projeto individual de uma só pessoa, mas da somatória ocasional, por acaso, da escolha de vários e variados projetos.

Teixeira Coelho lembra que "A modernidade, sim, poderia ser a consciência que uma época tem de si mesma (e fica evidente que toda consciência é uma modernidade) – não fosse a alienação um processo social interveniente cuja finalidade é, exatamente, evitar essa consciência de si ou gerar uma consciência de si neurotizada. O moderno é, não raro, a consciência neurotizada da modernidade". Uma tal época (será a nossa?) pensa a si mesma mais como moderna do que como modernidade; possui seus modernismos e às vezes os identifica, tem consciência de sua própria existência, mas não se pensa como modernista e sim, quase sempre, neuroticamente como moderna.

O moderno é o novo e o novo não passa da consciência neurotizada da modernidade. Moderno vem do latim vulgar modernus, de modo, quer dizer recente, da mesma forma que hodierno derivado de hodie, hoje. Essa idéia de novo e sua valorização desmedida não é uma constante na história da cultura. O novo ou o original não chamava a atenção nas culturas orientais, notadamente na China. Pelo contrário. Um pintor só era considerado bom quando conseguia copiar fielmente um mestre, portanto, ser igual a um mestre. No século XVII, os pintores eram considerados bons quando pintavam à maneira de outros grandes pintores. A partir do século XIX, com a industrialização e a mercantilização exacerbada, incluindo-se a cultura e a arte, o original (ou novo) passa a ter um valor supremo, por exigência de um mercado sempre ávido em coisas novas, diferentes, que possam, exatamente por isso, gerar mais dinheiro. O mercado tem fome de novidades e a novidade é a consciência neurotizada do novo. Portanto, o moderno é a consciência neurotizada da modernidade.

Moderno e Pós-Moderno
A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais e une a espécie humana, mas de forma paradoxal, uma união sem unidade, pois despeja todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de angústia e ambigüidade. Para Nietzsche, bem como para Marx, as correntes da história moderna eram irônicas e dialéticas: o ideal cristão de integridade da alma e aspiração à verdade levou a implodir o Cristianismo. O resultado foi o que Nietzsche chamou de a morte de Deus e o advento do niilismo. A humanidade moderna se vê em meio a um enorme vazio de valores, ao mesmo tempo em que se percebe cercada de imensas possibilidades. Temos progresso, mas nos falta civilização, no sentido mais amplo da palavra.

No Fausto de Goethe, o herói é levado a um impulso de desenvolvimento, mas a este desenvolvimento associa-se um custo. Ao mesmo tempo em que Fausto consegue realizar um grande empreendimento, ao expulsar os antigos moradores de uma área e criar uma nova sociedade, ele sofre um processo de esvaziamento. É como se o processo de desenvolvimento criasse uma terra arrasada no âmago do próprio herói. O desenvolvimento é colocado por Goethe como tragédia. Construir São Petersburgo implicou em um processo semelhante de destruição criativa. Para que fosse erigida em tempo recorde aquela cidade moderna, muitas vidas humanas foram perdidas. O modernismo é atraente, envolvente e dinâmico, mas traz a destruição em sua essência.

"A moderna sociedade burguesa, uma sociedade que liberou tão formidáveis meios de produção e troca é, como a feiticeira, incapaz de controlar os poderes ocultos desencadeados por seu feitiço" – escreveu Marx.

O pós-modernismo depende de um modo particular de interpretar, experimentar e ser no mundo – o que nos leva talvez ao que seja a mais problemática faceta do pós-modernismo: seus pressupostos psicológicos quanto à personalidade, à motivação e ao comportamento. Em oposição ao modernismo, no qual predomina a alienação e a paranóia, o pós-modernismo é marcado pela esquizofrenia como desordem lingüística, como ruptura na cadeia dos significados. Quando essa cadeia se rompe, temos a esquizofrenia na forma de uma reunião de significantes distintos entre si e sem relação entre si, ou sem significados.

Diferença esquemática entre modernismo e pós-modernismo
Modernismo/ Pós-Modernismo
Simbolismo/ Dadaísmo
Forma/ Antiforma
Propósito/ Jogo
Projeto/ Acaso
Hierarquia/ Anarquia
Presença/ Ausência
Centralização/ Dispersão
Paranóia/ Esquizofrenia
Seleção/ Combinação
Significado/ Significante
Metafísica/ Ironia

Nota do Editor
Texto inédito, especialmente redigido pelo autor, para o Digestivo Cultural. Alberto Beuttenmüller é poeta, jornalista e crítico de arte (membro da AICA).


Alberto Beuttenmüller
São Paulo, 9/9/2002
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