Oiticica e a Tropicalondon | Paula Góes

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Segunda-feira, 12/11/2007
Oiticica e a Tropicalondon
Paula Góes
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O ano era 1969. Naqueles tempos, fumar no topo dos ônibus vermelhos de dois andares que ainda cortam as ruas de Londres não era contravenção, e cigarro era liberado ainda em salas de cinema, auditórios de teatro, galerias de arte. Naquele ano, Pelé marcou o milionésimo gol. O Led Zeppelin lançava o primeiro álbum homônimo, os Beatles se apresentavam em público pela última vez, num concerto improvisado no terraço da Apple Records que foi interrompido pela polícia. Caetano Veloso tinha acabado de chegar ao exílio.

Dentre os vários motivos para a perseguição política, pesou a exibição no palco da boate carioca Sucata, durante um show com Os Mutantes e Gilberto Gil, da imagem de uma bandeira com a figura de um traficante famoso na época, o Cara-de-Cavalo, estendido morto no chão, assassinado violentamente pela polícia. Em vez de legenda jornalística, lê-se no estandarte os seguintes dizeres: “Seja marginal, seja herói”. Aquela bandeira-poema, que revoltou as Forças Armadas e serviu de pretexto político para o fim da temporada na Sucata e posteriormente para o exílio para Gil e Caetano, era obra de um jovem artista plástico carioca, Hélio Oiticica.

Foi também uma obra do artista, o penetrável Tropicália, que batizou e ajudou a consolidar a estética do movimento tropicalista, que celebra 40 anos. Penetrável, ou o que hoje se chama por aí de "instalação", é uma obra de arte que vai além da experiência visual. O espectador entra na obra de arte construída na forma de um labirinto e nela vivencia várias experiências que passam pelo tato, olfato, audição e até paladar. Tropicália foi uma das primeiras instalações do mundo, tendo estreado em 1960 na exposição Nova Objetividade Brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Naquele ano de 1969, quando tudo parecia ser permitido do outro lado do mar, o penetrável Tropicália estava em Londres, em uma lendária exposição na Whitechapel Art Gallery. Essa exposição foi a maior da carreira de Hélio Oiticica e um dos eventos de artes visuais mais radicais já vistos na Grã-Bretanha. Estruturada em ambiente que estimulava a participação contínua do público, com pinturas, esculturas e instalações, Whitechapel Experience, como Oiticica a chamava, também contou com mais uma instalação do artista até então desconhecido do público inglês. Tropicália e Éden rapidamente conquistaram os visitantes – para quem nunca viu uma arara ou uma favela na vida, era muito difícil não interagir com todo aquele neologismo em forma de arte.

Quase 40 anos depois da primeira visita, Tropicália agora vive no 5º andar do Tate Modern, a galeria de Arte Moderna de Londres, onde a instalação, ou melhor, o penetrável, toma uma sala inteira. Há plantas tropicais em potes de barro por toda a parte, e em uma gigantesca gaiola, duas arraras vivas, uma vermelha e uma azul, que são responsáveis pela música de fundo da experiência. O chão, coberto de pó de serra, areia e pedregulhos, acrescenta à sonoridade da sala. As paredes são cheias de poemas, muitos deles intraduzíveis, com suas devidas meias versões em inglês.

Mas é o barraco de madeira e chita que fica no epicentro da sala que inevitavelmente deixa um sorriso no rosto de quem se deixa levar pela curiosidade. A experiência dura um minuto ou menos, 60 segundos surpreendentes. As pessoas esperam, educadamente, na fila para ver o que tem lá dentro. Dá um frio na barriga na entrada, o mistério, a cortina de retalhos de plástico coloridos, a volta em espiral entre quartos de tecido e, no final, uma velha TV preto e branco mal sintonizada em um canal brasileiro de televisão. A curiosidade é matada. Fica uma perplexidade quase sem explicação, e um quê de satisfação e um gostinho de liberdade.

Além do penetrável Tropicália, considerada uma peça de arte histórica, o Tate comprou oito outras obras do Oiticica para a sua coleção permanente de exibição gratuita, com a ajuda do Art Fund. As peças são intrinsecamente ligadas ao período que o artista morou em Londres, um ano apenas que desembocou na exposição em Whitechapel. O Tate também hospedou, no verão desse ano, uma retrospectiva completa do trabalho de Hélio Oiticica. Hélio Oiticica também representou as artes plásticas na grande exposição em homenagem à Tropicália, promovida em 2006 pelo centro cultural Barbican.

Hélio Oiticica, o artista rebelde e marginal brasileiro, morreu em 1980, aos 43 anos, de ataque cardíaco. Foi uma carreira breve, na qual mesmo tendo participado de diversas bienais e grandes eventos nacionais e internacionais, e sido reconhecido em vida como um grande nome da arte então de vanguarda e pensador importante, não apenas na Inglaterra, mas também na Suíça, EUA, Japão, França – Hélio Oiticica nunca traiu as suas raízes marginais – ele se considerava marginal, e marginal era. Marginal, mas não alienado. Por trás do movimento Tropicália nas artes plásticas, regia a inquietude e o inconformismo social, assim como também o alerta para os perigos do consumo de uma imagem folclórica, superficial e estereotipada de um Brasil tropical.

"Quando digo ‘posição à margem’ quero algo semelhante a esse conceito marcuseano: não se trata da gratuidade marginal ou de querer ser marginal à força, mas sim colocar no sentido social bem claro a posição do criador, que não só denuncia uma sociedade alienada de si mesma mas propõe, por uma posição permanentemente crítica, a desmistificação dos mitos da classe dominante, das forças da repressão, que além da repressão natural, individual, inerente à psichê de cada um, são a manutenção dessa mais-repressão."

* * *

Oiticica in London, livro editado por Guy Brett e Luciano Figueiredo e recém-publicado pela Tate Publishing, traz uma investigação cuidadosa, pela primeira vez executada, do período da vida do artista em solo inglês. Com entrevistas com contemporâneos do artista, escritos que nasceram durante esse ano em Londres (pela primeira vez traduzidos para o inglês), fotos, resenhas e cópias das páginas do catálogo original da exposição na Whitechapel Gallery, o livro foi considerado leitura essencial não apenas para quem quer saber mais sobre Tropicália, mas também conhecer a evolução da avant-garde londrina.

Nota do Editor
Paula Góes é jornalista e tradutora radicada em Londres. Ela escreve sobre tradução no Talqualmente e colabora com o projeto Global Voices Online.


Paula Góes
Londres, 12/11/2007
Quem leu este, também leu esse(s):
01. Eu nunca fui nerd de André Forastieri
02. A balela do Nacionalismo musical de Luís Antônio Giron


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