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Quinta-feira, 8/11/2012
Na calada do texto, Bentinho amava Escobar
Carla Ceres
+ de 12100 Acessos

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", assim começava o soneto de um senhor poeta outrora mui estudado por estas plagas, um tal de Luís Vaz de Camões. Quer ler? Clique aqui. Não conhece e não quer ler? Não tem importância. O sujeito era machista e preferia salvar a nado um poema quilométrico em vez de livrar sua musa da morte por afogamento. Bem, isso é o que dizem. E tem mais: era um bajulador da monarquia, portanto seus poemas, embora bem escritos, estão impregnados de valores antidemocráticos e ideologia colonialista. Imagine o perigo de ler um sujeito desses.

Agora um spoiler. Cuidado que vou contar o fim do soneto! O autor termina dizendo "Que não se muda já como soía". Traduzindo esse verso antiquado de quem viveu bem no meio do século XVI: o gajo quer dizer que não se muda mais como se costumava mudar. Nisso ele acertou. Mudamos mais rápido, por causa da tecnologia. Como leitores, sofremos influência da TV, da internet, dos inúmeros aparelhos que permitem a troca de mensagens escritas e acesso a redes sociais.

O Brasileiro, em especial, é sociável e noveleiro. Antes de entrar pra escola, já começou sua alfabetização audiovisual e, daí pra frente, continua pensando o mundo como teledramaturgia. Raciocina em termos de vilões e mocinhos, procura uma justiça maniqueísta, fecha-se em grupos homogêneos para combater outros grupos ou até indivíduos de opinião contrária. Temos grandes problemas em perceber tons de cinza. Pudera! Utilizamos personagens de telenovela como parâmetro para compreender os motivos e intenções de quem nos cerca. Falta-nos o acesso à complexidade emocional que só a boa literatura tem condições de oferecer.

Acontece que o raciocínio simplista abomina a complexidade. Procura valores absolutos. Por isso lida mal com a arte e os artistas. Quando endeusa um autor, recusa-se a ver qualquer aspecto questionável em sua obra. Mas se, de repente, descobre-lhe alguma falha, sente-se traído e adere à primeira campanha para mutilar seus trabalhos ou bani-los da face da Terra.

A alfabetização audiovisual do brasileiro médio não chega a completar-se. Identificamos conflitos em tramas ficcionais, mas quantos de nós percebem as técnicas de manipulação e sedução presentes nos comerciais e na propaganda política? E quanto à propaganda fora dos intervalos comerciais? Detectamos merchandisings tão rápido quanto percebemos um triângulo amoroso se formando? Quantos estão conscientes de que os telejornais, supostamente neutros, servem aos interesses de seus proprietários? Sim, muita gente já ouviu dizer que a televisão pode manipular os fatos. Somente uns poucos se dão conta quando isso acontece diante de seus olhos.

Ainda assim, estamos melhor preparados para interpretar narrativas audiovisuais do que textos cheios de letrinhas. Isso não se deve apenas ao fato de 38% de nossos universitários serem analfabetos funcionais. Sim, isso é vergonhoso, mas a tecnologia e o consumismo vão ajudar a resolver o problema. Graças aos celulares, muitos analfabetos e semianalfabetos estão voltando a estudar com o objetivo de mandar mensagens de texto aos parentes e amigos. Acontece que mesmo algumas pessoas letradas sofrem para acompanhar textos literários e só se aproximam deles com uma reverência quase paralisante.

Temos pouca intimidade com a literatura. Ao nos aproximarmos de Dom Casmurro, por exemplo, já sabemos o que procurar na obra e qual é a leitura aceita pelos professores que corrigirão as provas do vestibular. Nossa reverência permite, no máximo, que discutamos se Capitu traiu ou não traiu Bentinho. Ora, mudam-se os tempos e os leitores não mudam? Pois bem, se Dom Casmurro fosse uma novela comum, sem o peso das opiniões dos especialistas a seu respeito, muitos leitores modernos aventariam a hipótese de que Bentinho fosse, na verdade, apaixonado por Escobar, hipótese bastante plausível e já levantada pela crítica moderna. O romance se enriquece bastante quando abordado também por esse ângulo, mas por que precisamos esperar que os doutores em literatura levantassem a lebre? Como não vimos isso antes? Estamos, por acaso, presos à ideia de que a bissexualidade não existia no século XIX?

Cada época tem um modo próprio de abordar questões antigas. Machado não podia nem pretendeu ser mais explícito do que foi. Seu romance era realista, mas não era telenovela. Não tinha por objetivo saber quem dormiu com quem. Um leitor menos reverente poderia apreciar outros aspectos importantes da obra, como a ironia e a "sinceridade" de um narrador que talvez não admitisse nem para si mesmo quais eram seus verdadeiros sentimentos e motivações.

Nota do Editor
Carla Ceres mantém o blog Algo além dos Livros. http://carlaceres.blogspot.com/


Carla Ceres
Piracicaba, 8/11/2012

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