A proposta libertária | Gian Danton | Digestivo Cultural

busca | avançada
124 mil/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Bela Vista Cultural | 'Saúde, Alimento & Cultura'
>>> Trio Mocotó
>>> O Circo Fubanguinho - Com Trupe da Lona Preta
>>> Anaí Rosa Quinteto
>>> Chocolatte da Vila Maria
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Ele, Cardoso
>>> A morte de Gilberto Dupas
>>> Palavra na Tela – Literatura
>>> Kafka lendo/sobre Goethe
>>> O Presépio e o Artesanato Figureiro de Taubaté
>>> Alice e a História do Cinema
>>> Com-por
>>> Revista Ato
>>> Juntos e Shallow Now
>>> Contos Clássicos de Fantasma
Mais Recentes
>>> Sex And Landscapes de Helmut Newton; Philippe-garner pela Taschen (2004)
>>> O Tao da Física de Fritjof Capra pela Cultrix (1995)
>>> Robots de Peter Marsh pela Verbo (1985)
>>> Cozinha Tradicional Portuguesa de Maria De Lourdes Modesto pela Verbo (1984)
>>> Sopro Novo Yamaha de Yamaha pela Irmãos Vitale (2006)
>>> Um Passarinho Me Contou de José Paulo Paes pela Atica (2008)
>>> Procura-se Lobo de Ana Maria Machado pela Ática (2010)
>>> Nina Africa de Lenice Gomes pela Elementar (2010)
>>> O Feijao Fujao de Lulu Lima pela Mil Caramiolas (2019)
>>> Não Derrame O Leite! de Stephen Davies , Christopher Corr pela Zahar (2015)
>>> O Grande Rabanete de Tatiana Belinky pela Moderna (2002)
>>> O que não Viu Chapeuzinho Vermelho de Mar Ferrero pela Mov Palavras (2015)
>>> Yunis de Amal Naser pela Tabla (2021)
>>> Sr. Laranjeira de Filipe Furian pela Flora (2015)
>>> Atum, o Gato Grato de Thais Laham Morello, Juliana Basile pela Carochinha (2017)
>>> Araribá Plus Geografia - 8º Ano de Cesar Brumini Dellore pela Moderna (2018)
>>> Direito De Família No Novo Milenio de ÁSilmara Juny De Abreu Chinellato pela Atlas (2010)
>>> Mimosa Nao Consegue Dormir - 2 de Alexander Steffensmeier pela Telos (2020)
>>> Planejamento Tributário de Silvio Aparecido Crepaldi pela Saraiva (2012)
>>> Shanti And The Magic Mandala de F. T. Camargo pela Unkno (2014)
>>> Fundamentos Dos Mercados Futuros E De Opções de John C. Hull pela Bm&F (2005)
>>> Este Livro Comeu O Meu Cão! de Richard Byrne pela Panda Books (2015)
>>> Ada Batista Cientista de Andrea Beaty pela Intrinseca (2019)
>>> Livro Juca Mil Perguntas de Antonis Papatheodoulou pela Carochinha (2020)
>>> Expedições Geográficas 8 de Melhem Adas pela Moderna (2018)
COLUNAS

Sexta-feira, 5/2/2016
A proposta libertária
Gian Danton
+ de 37900 Acessos

Dias desses fiz uma postagem sobre o juiz parado na blitz da lei seca que processou a agente de trânsito que disse que ele não era Deus (recentemente a sentença foi confirmada e a agente terá de pagar 5 mil reais de indenização ao juiz). Para meu espanto, alguém viu a postagem e comentou que o tal juiz era um anarquista. Mais: defendeu que a corrupção que vemos hoje é resultado do anarquismo. Chegou a dizer que estávamos rumando para uma ditadura anarquista. Seria mais ou menos como dizer que vegetarianos têm como objetivo fazer as pessoas comerem carne. Expliquei (ou ao menos tentei) a ele o equívoco do uso da expressão só para descobrir que ele era um defensor da “intervenção militar constitucional”. Ao final, deixou uma ameaça: “Quando acontecer a intervenção, saberei onde te encontrar”.

Embora seja interpretado equivocadamente como sinônimo de bagunça, desordem e até de ditadura (razão pela qual muitos preferem a expressão “libertário”), o anarquismo é uma doutrina política heterogênea que engloba os mais variados grupos e filosofias, que vão do socialismo revolucionário ao capitalismo. O anarquismo capitalista, por exemplo, é representado pelo libertarianismo, uma corrente neo-liberal que prega a ideia de estado mínimo e imposto mínimo, com mínima intervenção do estado na vida dos indivíduos e na economia. Outro exemplo é Gandhi, que foi fortemente influenciado pelos ideias anarquista e tornou célebre a estratégia da resistência civil e da não-violência (vale lembrar que Gandhi nunca quis ocupar nenhum cargo público).

Unindo essas diversas correntes, uma ideia básica: a de que o estado será sempre ocupado por pessoas que usaram o poder em benefício próprio e que quanto mais concentrado o poder estiver nas mãos de algumas pessoas, pior será para a sociedade. Em contrapartida, quanto mais distribuído o poder, melhor para todos. Em outras palavras: a ideologia libertária é o oposto do fascismo, seja ele de direita ou esquerda.

Filosoficamente podemos remontar às teorias de Hobbes e Rousseau.

Hobbes argumentava que o homem é o lobo do próprio homem. De forma simplista: o homem é mau. Se não houver alguém fiscalizando-o, impedindo-o de praticar o mal, o homem inevitavelmente irá enveredar pelas maiores barbaridades. Esse pensamento, na época, serviu de desculpa para os regimes absolutistas. Se o homem é mau, justifica-se a existência de um rei todo poderoso para manter a sociedade sob controle e impedir que as pessoas se matem umas às outras. Essa é a premissa básica do fascismo.

Rousseau, ao contrário, dizia que o homem é, originalmente bom. Se ele se torna mau, é porque foi corrompido pela sociedade. Em outras palavras: as próprias estruturas criadas para impedir a maldade humana, na verdade acabavam provocando-a.

Em outras palavras: o poder corrompe e quanto mais poder alguém tiver, mais corrupta essa pessoal será. A ideia básica da proposta libertária é de que o poder é uma droga, que vicia, e o viciado fará de tudo para permanecer no poder. O fascismo é baseado na coersão. Essa coerção pode ser a simples ameaça de violência física ou, o que é muito mais efetivo, a ameaça de não pertencer ao grupo. Relatos de observadores do nazismo dizem que os comícios de Hitler eram pensados para criar um sentimento grandioso de grupo e fazer com que os que não pertenciam a esse grupo se sentissem excluídos e culpados. A “grande Alemanha estava sendo construída” e quem não era nazista estava de fora desse sentimento.

Um exemplo dessa conformidade ao grupo foi a experiência levada a cabo pelo psicólogo Solomon Asch na década de 1950. Ele reunia em uma sala oito pessoas, oito das quais eram atores orientados a dar respostas erradas. Em seguida, eram mostrados dois cartões. Um deles mostrava uma linha e, no outro, três linhas de tamanhos diversos, uma das quais era igual ao do outro cartão. O psicólogo perguntava qual era a linha que correspondia ao tamanho do outro cartão. Ao verem todo o grupo darem a resposta errada, mesmo em uma situação tão clara, a maioria das pessoas acompanhava o grupo. Apenas 25% contrariava o grupo e dava respostas certas.

O experimento mostrou como a coerção do grupo pode levar as pessoas a fazerem algo nitidamente errado. É impossível ler sobre esses e outros experimentos sem lembrar a ideia de Rousseau, de que o ser humano é corrompido pela sociedade. Quanto maior a concentração de poder dessa sociedade, maior o poder de uma ou algumas poucas pessoas terão sobre o grupo e maior a coerção que exercerão.

Se o fascismo é baseado na coerção, a proposta libertária é baseada na consensualidade. A liberdade individual, inclusive liberdade de pensamento, é um elemento mais relevante que a adesão ao grupo. A pessoa participa do grupo porque quer, não porque foi coagida a isso.

O fascismo é a base ideológica de todas as ditaduras e regime totalitários, tanto de esquerda quanto de direita. Já a visão libertária deu origem desde o movimento de resistência civil de Gandhi e Martin Luther King às proposta de democracia semi-direta, como na Suécia e Suíça, em que cidadãos comuns podem propor leis e até pedir o impeachment de governantes. Não por acaso, a Suíça era a terra natal de Rousseau.


Gian Danton
Curitiba, 5/2/2016

Mais Gian Danton
Mais Acessadas de Gian Danton
01. Uma norma para acabar com os quadrinhos nacionais? - 25/7/2014
02. A Teoria Hipodérmica da Mídia - 19/7/2002
03. Público, massa e multidão - 30/8/2002
04. A teoria do caos - 22/11/2002
05. A proposta libertária - 5/2/2016


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Nos labirintos da moral
Mario Sergio Cortella e Yves de La Taille
Nos labirintos da moral
(2005)



Vínculos - Sexo e Amor na Evolução do Casamento (lacrado)
Márcia Esteves Agostinho
Odisséia
(2013)



Gente como a gente
Judith Guest
Record
(2023)



A Cura Popular pela Comida
Drº Flávio Rotman
Record
(1984)



Jk Triunfo e Exílio um Estadista Brasileiro Em Portugal
Jacinto Guerra
Thesaurus
(2005)



Meu Avô Japonês
Juliana de Faria
Panda Books
(2016)



Diário de um Vampiro Banana - Porque os Mortos Também Têm Sentimentos
Tim Collins
Novo século
(2010)



O Picapau Amarelo
Monteiro Lobato
Brasiliense



Minha Arquitetura
Oscar Niemeyer
Revan
(2000)



Encontros, Desencontros e Reencontros
Maria Helena Matarazzo
Gente
(1996)





busca | avançada
124 mil/dia
2,0 milhões/mês