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Segunda-feira, 3/6/2002
Moderno antes do Modernismo
Sergio Amaral Silva
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Conhece a obra de Alexandre Marcondes Machado? (não confundir com Antônio de Alcântara Machado...). E o jornalista e escritor Juó Bananére? Se você respondeu não às duas perguntas, aqui vai uma pista: trata-se da mesma pessoa, aliás, criador e criatura; ou melhor, vamos por partes...

Alexandre Ribeiro Marcondes Machado (Pindamonhangaba, 1892 - São Paulo, 1933) era engenheiro formado pela Escola Politécnica e foi sócio de um escritório de arquitetura. Publicou só um livro, sobre as construções barrocas de Minas Gerais (A arquitetura colonial no Brasil, de 1919), além de uns poucos artigos de jornal. Mesmo entre seus contemporâneos, era praticamente um desconhecido, já que costumava escrever com o pseudônimo de Juó Bananére.

Bananére foi o cronista mais popular de São Paulo entre 1911 e 1915, sendo a principal atração da revista semanal O Pirralho, criada por Oswald de Andrade. O fato de que, hoje, poucos o conhecem, tem algumas explicações além do tempo que passou.

Primeiro, porque a maior parte de sua obra, o conjunto de crônicas publicadas em O Pirralho, ainda está por organizar; segundo, pela dificuldade de acesso do leitor atual ao livro La divina increnca, só agora relançado: a obra, de 1915, teve outras oito edições até 1925 e a décima, hoje rarissima, somente em 1966; outro motivo: o fato de ter sido um escritor humorista e satírico, gênero em geral sub-valorizado em relação aos considerados "sérios".

Entre as características de Bananére, que escreveu crônicas, poesia e teatro, destaca-se a originalidade. A começar pela linguagem: ele criou seu próprio idioma, combinando italiano e português, como se imitasse a fala dos primeiros imigrantes europeus que se concentravam nos bairros paulistanos do Brás, Bexiga, Barra Funda e Bom Retiro. A essa mistura proposital de duas línguas para fazer uma paródia literária, chama-se macarronismo.

Assim, quando se diz que o dialeto inventado por Bananére era "macarrônico" , o termo, embora de origem italiana, não se aplica exclusivamente aos ítalo-paulistas. Também se costuma chamar de inglês ou francês "macarrônico" à língua falada por quem não a conhece bem. Já o macarronismo como técnica literária, intencional e criativa, exige o domínio dos dois idiomas. No caso de Marcondes Machado, o conhecimento do italiano foi um dos atributos emprestados a Bananére, segundo depoimento de Mário Leite, seu colega de turma.

A nova edição de La divina increnca reproduz integralmente o texto original de 1915. No abrangente estudo que a acompanha, intitulado Juó Bananére - o abuso em blague, Cristina Fonseca ressalta o pioneirismo do autor. Seus textos, ainda na primeira metade da década de 1910, já incorporam inovações formais de vanguardas européias como o futurismo, o dadaísmo ou o cubismo, que seriam mais difundidas no Brasil a partir da Semana de Arte Moderna de 1922. Entre os autores que influenciou, está Oswald de Andrade.

Críticas e Paródias

Juó Bananére foi um crítico ferino da política brasileira do início do século passado. Seu alvo preferencial, o presidente da República entre 1910 e 1914, marechal Hermes da Fonseca (que tratava por "Maresciallo", "Hermese" ou "Dudú"), a quem não poupava também a noiva, a caricaturista Nair de Teffé (a "Nairia"). Ironizava ainda a eminência parda do governo, o político gaúcho Pinheiro Machado (o "Pignêro"). Essas três personagens aparecem no poema O Dudú, que no trecho final os denuncia como responsáveis pelo desvio de dinheiro público:

"O Maresciallo co'a Nairia i co Pignêro
Azuláro cos dignêro
Gá du Banco da Naçô.
I un restigno che scapô distu pissoalo
O ermó du Maresciallo
Passô a mó, abafô !

I o Brasile goitado !
Ficô pilado, pilado !!..."

Outra faceta notável da poesia de Bananére é representada pelas versões populares de fábulas de La Fontaine, bem como pelas paródias de escritores consagrados, como Gonçalves Dias, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Luís de Camões, Edgar Allan Poe ou Olavo Bilac. Este último, segundo Cristina Fonseca, era das únicas personalidades brasileiras do início do século 20 "sobre as quais pouca gente, mesmo os humoristas, se arriscaria, em sã consciência, a fazer críticas ou piadas, por desfrutarem de um sólido respeito popular". Pois o famoso soneto Via Láctea XIII, do "príncipe dos poetas", ("Ora, direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso... ") inspirou a Bananére o divertido Uvi strella:

"Che scuitá strella, né meia strella !
Vucê stá maluco ! e io ti diró intanto,
Chi p'ra iscuitalas moltas veiz livanto,
I vô dá una spiada na gianella.

I passo as notte acunversáno c'oella,
Inguanto che as otra lá d'un canto
Stó mi spiano. I o sol come un briglianto
Naçe. Oglio p'ru çéu: - Cadê strella !?

Direis intó: - Ó migno inlustre amigo !
O chi é chi as strellas ti dizia
Quano illas viéro acunversá contigo ?

E io te diró: - Studi p'ra intendela,
Pois só chi giá studô Astrolomia,
É capaiz di intendê istas strella."

Resgatar os textos do autor, colocando-os ao alcance das novas gerações de leitores, já seria um mérito deste lançamento duplo. Mas não é o único: em sua análise, Cristina Fonseca demonstra que Juó Bananére não foi apenas um autor "exótico" ou "folclórico", mas um dos escritores mais importantes do Pré-Modernismo brasileiro.

Quanto a La divina increnca, a reprodução das "Notas" da edição de 1966 teria facilitado ao leitor de hoje, identificar as personagens citadas nos poemas, com as quais por certo não está familiarizado. Fica faltando ainda outro trabalho: a compilação dos demais escritos de Bananére, abrangendo as crônicas publicadas na imprensa e seu teatro, de modo a permitir uma avaliação, pelo público, do conjunto de sua admirável obra.

Para ir além

La Divina Increnca, de Juó Bananére, 72 págs.; Juó Bananére - O Abuso em Blague, de Cristina Fonseca, 208 págs., Editora 34, R$ 29 os dois volumes.





Sergio Amaral Silva
São Paulo, 3/6/2002

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