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Segunda-feira, 8/4/2019
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Redação
 
Gryphus Editora



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Postado por Julio Daio Borges
8/4/2019 às 08h16

 
O NAVEGANTE DO TEMPO

Tomou o bonde circular e embarcou para o século passado. O condutor com a destreza de um malabarista aproximou-se, equilibrando-se no estribo como se já tivesse nascido ali. Balançou para ele a mão direita onde as antigas moedas de níquel chacoalhavam unidas umas às outras, feito soldados numa parada militar, cobrando a passagem.

O passageiro enfiou os dedos no bolso da calça, onde só havia moedas atuais, mas o condutor que o conhecia de há muito disse não haver problema algum. Amanhã o senhor acerta tudo, doutor. E levou a mão direita à pala do quepe de seu uniforme azul-marinho num gesto de deferência.

Está tudo muito estranho neste trajeto, pensou o passageiro, vários são meus contemporâneos, mas voltaram todos ao tempo de criança e nem sequer me reconhecem...

São fantasmas do passado ou estou delirando? Não sabia responder à própria pergunta nem como embarcara naquele veículo elétrico anacrônico, cujos trilhos tinham sido removidos da cidade fazia mais de meio século.

Deteve-se então no exame minucioso do interior do coletivo, onde os longos bancos de ripas de madeira envernizada causaram-lhe a sensação de familiaridade de quem neles se sentara incontáveis vezes. No teto do veículo, os mesmos reclames de antigamente propalavam a excelência dos produtos anunciados, inclusive a propaganda de um famoso elixir cujo nome ele guardara na memória: Rum Creosotado.

Após essa inspeção interna, lançou o olhar para a paisagem urbana que se desenrolava ao longo do percurso como num filme antigo que resgatasse a arquitetura das desaparecidas casas de centro de terreno, com árvores frondosas e flores nos jardins, enquanto o velho bonde sacolejava e rangia na bitola estreita dos trilhos. Comparando-o a uma caravela em mar revolto, chegou a esboçar um arremedo de sorriso ao se considerar uma espécie de navegante do tempo. Nisso, um insólito lampejo de consciência, como se, de repente, emergisse de um sonho, sacudiu-o de cabeça aos pés -- diabos, como vim parar aqui?

Jamais deixamos de fazer este trajeto, doutor, mas só os escolhidos se apercebem disso, pareceu-lhe escutar a voz do motorneiro que, bem distante dele, movia a manivela de direção, concentrado no comando do bonde.

Daqui a duas paradas, vai subir no bonde aquele viúvo, que levava sempre consigo o seu violino para tocar no túmulo da esposa a mesma música, ele se surpreendeu pensando, com uma certeza premonitória, e, ao mesmo tempo, recriminando-se por ter, quando menino, seguido secretamente aquele homem até o cemitério, junto com uma malta de colegas do ginásio, para depois imitarem, entre risos e zombarias, numa mímica grotesca, um recital de violino.

Estava ainda às voltas com esses pensamentos terríveis quando o bonde parou para que o violinista subisse no estribo e se acomodasse no mesmo banco onde se encontrava o passageiro idoso, que, olhando-o de soslaio, surpreendeu-se ao ver que o viúvo não envelhecera como ele, era, sim, o menino de outrora, carregando o estojo do violino para aula de música. É preciso ter calma e ponderação: na verdade esse garoto que vejo é muito mais velho que eu, e pelos meus cálculos o garoto e futuro viúvo já deveria estar debaixo da terra. E esses outros passageiros também permanecem imunes à passagem das décadas, inclusive o condutor e o motorneiro, enquanto ele já velho a tudo assistia através das grossas lentes dos óculos de grau que agora usava como um apêndice indispensável. Engoliu a custo um silêncio amargo - o que fizera outrora, quando adolescente, tinha requintes de uma crueldade inominável. Sentiu-se tremendamente envergonhado. Sim, estava pagando por isso um alto preço. Teve que fazer um esforço sobre-humano para não confidenciar ao menino e futuro viúvo que não se casasse com a mulher que morreria na flor da idade. Não queria passar por maluco e nem poderia imaginar como seria a reação do estudante de violino, agora apenas uma criança. Seria certamente internado num hospício como um louco perigoso e de lá só sairia morto. 

Esse dilema trágico aumentou ainda mais seu sentimento de culpa, quando voltou à realidade absurda do retrocesso no tempo, quem sabe por escapismo ou talvez por um gesto desesperado de autodefesa, como algo que ficaria dentro de si sem resposta alguma, sob a forma de uma eterna interrogação. Matar-se, cometer suicídio? Era covarde demais para isso.

Buscava febrilmente outra solução, algo pragmático, que não iria decerto aplacar suas insônias que viraram uma constante em suas noites, e quando cochilava de pura exaustão era pior ainda, acordava berrando em agonia por causa dos pesadelos persecutórios.

Preciso encontrar, preciso encontrar, está aqui dentro de minha cabeça. Dizem que quem procura, acha, embora haja controvérsias.

Mas ele achou, pois essas coisas acontecem no universo ficcional, se o personagem conseguir impressionar o autor que o criou...

E foi isso que se deu, precedido dos toques de trombetas bíblicas que só o idoso escutou.

Vou consultar urgentemente o oculista, pois essas lentes estão fracas demais. Em seguida, retirou os óculos para limpar as lentes com o lenço, pensando que, além de fracas, estavam completamente embaçadas...

Ayrton Pereira da Silva



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Postado por Impressões Digitais
1/4/2019 às 16h38

 
LONDON LONDRES

A aldraba da porta,

o grifo brônzeo.


Ao lado, o Hyde Park:

sombra e assombro.


Entre névoas errantes,

o andar a esmo.


Pelas ruas de Londres,

a mão inglesa


surpreende de súbito:

salto e susto.


Fish and chips

ginger ale, pubs.


A cidade sorri,

dama discreta.


No quarto do hotel,

uma remota lembrança


é déjà-vu

e magia algo estranha


para a menina do quadro

e suas tranças.


O desconcerto chega

e toma conta


dos pobres dísticos

e sua circunstância...


Ortega ri seu riso

onde se encontra


na margem oposta

do Ebro lá de Espanha.


Esquento o chá

e seu aroma eleva


o espírito das flores:

primavera.


Enquanto sorvo

a cálida tisana,


o tempo tece

as teias das aranhas.


Ayrton Pereira da Silva



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Postado por Impressões Digitais
1/3/2019 às 09h59

 
Direções da véspera II

Do exílio, ficou o gosto das travessias.
O ermo das ruas aguardando os notívagos.
Ficou a tela da TV – mostrando guerras
e delícias – em compactos segundos.
Nosso reino pelo Cavalo de Tróia.
Nosso reino por um chope gelado.
Minha face por um castelo de festas.
Minha bolsa pelo aluguel do quarto.

Meu espelho pela minha imagem.

Nesse desajeito dos meus cabelos,
enlouquecem delírios de realidade.

(Do livro Travessias)

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Postado por Blog da Mirian
24/2/2019 às 17h23

 
Direções da véspera I

Foram-se os dourados da década travestida
de ouro. Por angústias, os dias se ressarciam
nas aventuras e músculos do Sheik de Agadir.

Nesse tempo, o anjo torto ensimesmou-se.
Nesse tempo, ser gauche tornou-se crime de guerra.
Mais tarde, disseram-me que:
saiu-de-moda. No desajeito da fala,
procuro meu verbo perdido.

Naufragando em papel, minhas palavras.

No desajeito destes versos, vagueiam
sonâmbulos da cidade prometida.

(Do livro Travessias)

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Postado por Blog da Mirian
10/2/2019 às 18h08

 
A Belém pulp, de Edyr Augusto



Edyr Augusto é hoje um dos nomes mais proeminentes da literatura contemporânea brasileira. Seus livros, editados a partir da década de 1990, pouco a pouco foram ganhando destaque da crítica e, já se pode dizer, do público leitor. Algumas de suas obras foram traduzidas para o inglês e francês. Desde então, o escritor paraense tornou-se um dos principais artistas que representam a complexa contemporaneidade da urbanidade amazônica, especialmente da capital paraense.

Longe de ser um porta voz de uma única e imutável identidade regional, sua literatura está muito mais ligada às últimas três décadas da realidade urbana da região. Essa realidade está situada principalmente em seus centros urbanos, mais especificamente, em Belém do Pará.

É com Os Éguas, de 1998, primeiro romance do autor, que essa trajetória e essa narrativa da cidade começam a se desenvolver. Nesse romance, já está presente uma caracterização da região que dista radicalmente das imagens consagradas pelos discursos regionalistas e midiáticos. A Belém que surge é povoada pela degeneração de seu ambiente.

A cidade se faz presente pela violência, pela corrupção, pelas drogas, pela simulação, pelo medo. Através do Personagem Gil, um investigador de polícia, a capital do Pará e seus “tipos” salta para fora, agônica e doente, como um instinto represado pela dor, que implode, página por página, a realidade.

Essa caracterização se seguirá nos livros posteriores, como Moscow (2001), Casa de caba (2004), Um sol para cada um (2008), Selva concreta (2013) e Pssica (2015). As imagens da caótica vida urbana que alimenta o noticiário “mundo cão” das capitais, como Belém, é um dos temas dos livros de Edyr, mas neles não está apenas uma imagem aterradora em fragmentos demonstrada, mas sim um projeto de escrita que formaliza a contemporaneidade decrépita que a todo dia cintila e obscurece nossos olhos.

Vejam, por exemplo, a abertura do conto Sujou, do livro Um sol para cada um, que integrou, em 2010, a Antologia Pan-Americana: 48 contos contemporâneos do nosso continente:


“Eu já sacava o cara. A gente fica ali na esquina e vai vendo as figuras da vizinhança. Basta qualquer barulho e eles chegam na janela dos prédios. Fica tudo lá, olhando. Mas parece que tem uma fronteira, sabe? Daqui para lá e de lá pra cá. Lá pra frente os barões. Aqui pra trás a zona. Mas é que às vezes tá roça mesmo. Ele chegou com o carrão e ficou esperando abrir o portão da garagem. Encostei, disse oi, pedi uma ponta, cigarro qualquer coisa. Disse que dava chupada, essas porras. Me deu uma banda. A Maricélia disse que podia dar merda, o cara se queixar, sei lá, segurança do edifício. Não deu. Disse que outro dia, tava de nóia, rolou discussão e mandaram chamar a polícia por causa do barulho” .



Reprodução

Na cidade de Edyr, a Belém é, ao mesmo tempo, dividida e indivisível, vigilante e vigiada, repleta de gente e solitária. A prostituição é, aqui, uma de suas marcas. Presente no centro da cidade, ao lado de suas praças, de suas ruas centenárias, de seus orgulhosos prédios históricos.

O que está em jogo é essa possibilidade de observamos essas outras faces dessa contemporaneidade da cidade, não apenas para atestar esses aspectos desoladores. Mas, fundamentalmente, compreender que não os reconhecer, ignorá-los, é também ignorar essa história, essa configuração social, essa realidade. É desconsiderar uma das mais importantes formalizações estéticas que se encarrega de representá-la.

Não é apenas negar, como reação, uma Belém idealizada veiculada ainda hoje por vários discursos (midiáticos, sociais, institucionais). Mas é – sob pena de virarmos as costas para o contemporâneo e sua decisiva importância que, gostemos ou não, transformaram parte do ethos do ser amazônico, belenense – dar visibilidade a uma representação que dialoga decisivamente com essa experiência.

Mais do que uma outra face da Amazônia, de suas cidades, essa caracterização surge como uma possibilidade de reconhecermos que, se a arte não é, obrigatoriamente, uma reprodução da realidade, ela não é apenas uma manifestação extemporânea.

No caso da literatura de Edyr Augusto isso é ainda mais revelador. Exatamente porque ela pode nos proporcionar uma representação da cidade que está, ao mesmo tempo, próxima demais do leitor e distante demais (o jornalismo a aproxima pelo fragmento, pelo fait divers) de uma representação estética que a formalize, que a reúna em um corpo discursivo que tem nessa experiência urbana seu fundamento.

Esse fundamento é esteticamente construído em estreita relação com o gênero de literatura policial. Mas ao contrário do clássico romance policial que primava por um detetive sóbrio, talentoso, genial e pela decifração lógica do crime, precisa, implacável e por uma representação da cidade onde o criminoso é ainda um elemento que se esconde na multidão, a literatura de Augusto está muito mais próxima do gênero pulp. Desse gênero no qual o crime é parte essencial da grande cidade, que nela habita como um hematoma indissolúvel, como nas cidades norte-americanas povoadas pelo crime das primeiras décadas do século XX.


Os “Éguas”/Belém, publicado em francês. Reprodução


Nesse ambiente, o detetive é alcoólatra, a violência é um de seus recursos, ele não é excepcional e a cidade que passa diante dele lhe parece como um acúmulo de seres e paisagens decaídos.

Assim surge a cidade na literatura do Augusto paraense. Sua narrativa, preenchida por essas características, adota uma série de imagens do lugar, imagens que remetem a espaços físicos, às caracterizações profundamente cênicas de situações e focalizações de seus “tipos” urbanos que, propositalmente, contrastam com um romântico discurso acostumado e atrofiado sobre a região e a “Cidade das mangueiras”.

A capital do Pará surge em sua literatura em um ritmo vertiginoso, sua escrita mimetiza o diálogo coloquial, o caos citadino, a fragmentação noticiosa dos jornais, o choque, a indiferença.

Uma representação que tem por temática o urbano e sua contemporaneidade, uma escrita que é realizada como um roteiro cinematográfico, repleta de imagens que nos levam diretamente para fisionomias imagéticas/fílmicas de Belém do Pará.

Nessa cidade pulp, nem sempre se pode lamentar o reluzente passado. Pode parecer desolador, mas, talvez, não se tenha mais tempo para essa lamentação, diante das cenas que implodem, diariamente, página por página, a realidade.


Texto publicado em Diário online. Em 12 jan. 2019. E em Relivaldo Pinho

Relivaldo Pinho é autor de, dentre outros livros, Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia . ed.ufpa, 2015.

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Postado por Relivaldo Pinho
5/2/2019 às 12h19

 
Por que ler poesia?

A Crivo Editorial, editora de Belo Horizonte, lançou na última semana a promoção “Por que ler poesia?”. No desafio, o leitor deve responder a questão de forma criativa, utilizando o formato em que achar mais interessante. Pode ser através de vídeos de até 20 segundos, fotografias, textos, desenhos ou da maneira que o candidato acreditar ser mais conveniente.

A proposta da editora é instigar os leitores a responderem a questão “Por que ler poesia?” de um jeito inspirado. E o resultado será a divulgação de mais poesia. Os 15 primeiros a enviar respostas receberão o livro estar onde eu não estou (Crivo Editorial: Belo Horizonte, 2018), de Olivia Gutierrez. Já as 15 respostas mais criativas receberão um kit com os vencedores do Prêmio Poesia InCrível que, além do livro da Olivia, também laureou ano bissexto (Crivo Editorial: Belo Horizonte, 2018), de Neilton dos Reis.

Para participar, é preciso seguir a Crivo Editorial nas redes sociais (Facebook ou Instagram), marcar um amigo ou amiga que se interesse por poesia e enviar a resposta por mensagem direta. A promoção é válida até o dia 13 de fevereiro de 2019. As respostas mais criativas serão divulgadas pela editora em suas redes sociais.



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Postado por Luís Fernando Amâncio
4/2/2019 às 09h39

 
MOMENTOS

Hypocrite lecteur, mon semblabe, mon frère

Baudelaire



Não recordo onde nem quando, mas faz muito tempo. Era madrugada e as luzes das casas estavam todas apagadas. Parecia uma cidade fantasma, enquanto eu perambulava pelas ruas desertas, quando me deparei com uma jovem deitada na grama de um jardim público, contemplando as estrelas. Era uma cena insólita. Movido pela curiosidade e vencendo minha habitual timidez, aproximei-me e lhe pedindo licença deitei ao seu lado.

Incomodo você? Não, pode ficar. Guardei, por precaução, uma distância regulamentar, nem muito longe nem muito perto.

Você é formada em astronomia? Não, não sou. E ela parou por aí. Acho que chutei uma bola fora, pensei, mas fui compelido a não deixar a conversa morrer. Então o que você é?

Sou astróloga, pela conjunção dos astros e estrelas posso prever certos eventos, mas nem todos. A ideia de conjunções astrais me pareceu conter um toque erótico, embora fosse só uma suposição, talvez por causa de seu hálito envolvente, que me tonteava. A essa altura comecei a duvidar de minha sanidade mental. O que será que tá bulindo comigo, perguntei-me em pensamento. Era de fato muito estranho, como se algo surreal se intercalasse com a realidade e eu estivesse flutuando a esmo entre a verdade e a mentira dos sentidos. Então a moça indagou se não queria ler nos astros meu futuro.

Já sei qual é, querida: um dia qualquer vou morrer, viu?

Não me referi à morte, seu bobo, mas aos detalhes da vida. Estes é que valem! Um longo silêncio, denso, palpável desceu sobre nós. Bem, já que você não quer saber, vou tomar a iniciativa.

Me puxou pelas mãos e então levantamos juntos, nossos lábios quase se tocando... Sei que você aí, meu presumível leitor, está se babando de curiosidade para saber o que irá acontecer. Eu também. Mas isso é o futuro próximo e distante, e não seremos nós que iremos vivê-lo. Somente aqueles dois. Não eu e nem você. Nós viveremos cada qual o nosso futuro (se vivermos até lá).

Em suma: a eles o que é deles, a nós o que é nosso. Chato, não é? Mais que isso: frustrante. Mas assim funciona a dinâmica da vida, sempre imprevisível, desconcertante.

E ponto final.

Ayrton Pereira da Silva



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Postado por Impressões Digitais
3/2/2019 às 16h47

 
O Livro e o Mercado Editorial



N'O Planeta Azul

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Postado por Julio Daio Borges
29/1/2019 às 21h56

 
A Nova Era do Rádio


O Woody Allen foi meu diretor internacional favorito por um bom tempo, deixando seu posto ser ocupado por Bergman, mas quem o conhece sabe que ele aprovaria tal decisão. Muitas coisas me atraem em Woody Allen. Sua excentricidade herdada de seus anos de comédia. Sua nostalgia que me faz sentir tão parte de seus filmes.

São muitas as coisas que me deixam nostálgico, o rádio é uma delas. Mesmo com programas de TV que proporcionam uma melhor análise (através da imagem), ainda passo horas escutando programas radiofônicos. Tenho histórias como as de Joe em A Era do Rádio (Radio Days, 1987). A história narrada pelo próprio Allen conta lembranças da infância de Joe, sempre ligadas ao rádio, que vivia sua Era de Ouro nos EUA. Mostrando a importância do rádio na época, o filme retrata o caso de Kathy Fiscus, uma garota de três anos que caiu em um poço enquanto brincava com a irmã. Enquanto a TV dava seus primeiros passos em transmissões ao vivo, muitas pessoas acompanharam o caso através do rádio e hoje é visto em seu túmulo as seguintes palavras: “uma menina que uniu o mundo por um momento.”

Vivemos uma nova era, que vai além das ondas AM e FM. Com o avanço tecnológico e o fácil acesso as novidades, hoje o rádio não se limita apenas a transmissões AM/FM, por intermédio de plataformas streaming os programas agora são transmitidos ao vivo e em cores. Talvez essa seja a melhor aposta para a sobrevivência da plataforma e de pessoas que trabalham nela. Sabemos que faz parte da evolução tecnológica, mas eu poderia apostar que muitos sentem falta do rádio como era antes, ainda mais após assistir A Era do Rádio. Programas como Guess That Tune, The Mask Avenger e Breakfast With Irene and Roger, que acompanham a família de Joe durante todo o filme, lembra a época das rádio novelas nacionais, além de programas informativos e transmissões de jogos de futebol.

Falar em transmissão de futebol me lembrou uma cena de O Filme da Minha Vida (2017) onde Paco (Selton Mello), após uma emocionante transmissão de futebol, dizer a Tony (Johnny Massaro), ainda no ano de 1963, “na casa da dona Mafalda agora tem televisão... Nada vai substituir o rádio, nada. Televisão é uma invenção que não vai para frente, aquilo ali é uma caixa para bobo olhar”. É inegável o fato de que o rádio proporciona mais emoção que a TV, já que quando o jogador está saindo do seu campo de defesa o narrador descreve a jogada como se um gol estivesse prestes a sair, e ainda hoje vemos algumas pessoas acompanhando partidas com o famigerado radinho de pilhas colado na orelha.

Assim como Joe, eu tinha meus programas favoritos. Na minha casa a MTV não funcionava, então me restava as rádios Kiss FM (acompanho o Bem Que Se Kiss desde seu começo) e a Rádio 89, imortalizada pelo slogan: A Rádio Rock. Vi a 89 cair e a Kiss entrar em uma monotonia causada pela falta de novidades no meio, mas também as vi reerguer e hoje, com a ajuda dessa Nova Era, voltarem a um ótimo patamar em sua transmissões e programas.

Sinto a mesma saudade que Joe quando se fala em rádio. Juntar os amigos para escutar as novidades e depois debatê-las. Ouvir entrevistas (ainda hoje me lembro de uma com o Humberto Gessinger por volta de 2005) e formar opiniões que seriam discutidas no dia seguinte. Essa Nova Era do Rádio não me é interessante, se fosse para assistir eu iria para a TV, mas parece que só assim o rádio vai sobreviver, então que assim seja.

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Postado por A Lanterna Mágica
21/1/2019 às 11h59

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