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Domingo, 13/1/2019
Blog
Redação
 
Um sujeito chamado Benício

Como os cartazes de filmes são criados? Embora pareça um trabalho fácil, criar um poster pode ser um tarefa complicada, já que tudo é feito antes mesmo do filme ser lançado. Segundo Alex Griendling, designer que trabalhou com produções como Tá Chovendo Hambúrguer “o projeto de um pôster para um filme começa de 6 meses a um ano antes do filme ser lançado”. Se hoje, mesmo com toda a tecnologia disponível, esse processo exige bastante estudo, imagina como era feito o trabalho dos artistas algumas décadas atrás. Um desses artistas é José Luiz Benício da Fonseca, ou apenas Benício, que desenhou e ilustrou cartazes de filmes nacionais nas décadas de 70 e 80, só deixando estes de lado quando a Embrafilmes foi fechada por Vargas.

Sempre gostei dos cartazes ilustrados que tomavam os cinemas naquele tempo, porém nunca procurei saber quem os fazia. Recentemente em um curso sobre introdução ao cinema brasileiro, na Mário de Andrade, descobri que o artista responsável pela maioria deles era Benício. Logo fui atrás de saber mais sobre ele, então cheguei e esse texto que lhes entrego, esperando que os instiguem a procurar mais sobre esse artista tão singular.

José Luiz Benício da Fonseca, nascido em Rio Pardo, Rio Grande do Sul. Deixou a carreira de músico de lado para, ainda nos anos 50, estudar desenho. Logo se firmou na área, trabalhando na Editora Rio Gráfica. Seu primeiro trabalho com cinema foi o cartaz do filme Os Carrascos Estão Entre Nós (1968), filme de Adolpho Chadler, produção que trazia em seu elenco Átila Iorio e Karin Rodrigues. Sabe-se que ele produziu mais de 300 cartazes para o cinema (além de propagandas para empresas como Coca-Cola e Esso), sendo 30 deles, filmes dos Trapalhões.

Segundo o próprio Benício, seu trabalho mais elaborado foi o cartaz do filme Independência ou Morte (1972), filme de Carlos, Coimbra estrelado por Tarcísio Meira. A história que mostra, de maneira romantizada, a trajetória de Dom Pedro I na emancipação do Brasil em relação a Portugal traz um cartaz bem elaborado. Se prestarmos atenção em todo o trabalho de Benício, vemos que nesse pôster ele trabalha com mais cores e um cenário mais completo, diferente do fundo branco usado em outros trabalhos.

Um dos seus grandes destaques é o cartaz de A Super Fêmea (1973). O filme dirigido por Aníbal Massaini Neto conta a história de uma modelo que é contratada para fazer campanha de uma pílula contraceptiva para homens. Um dos grandes destaques desse filme é o protagonismo de Vera Fischer, que depois do filme ganhou ainda mais fama. Em uma entrevista dada ao J10 (Globo News), Benício diz que “como desenhei mulheres desde o início, muitas coisas da fisionomia eu melhorava, mas as vezes não precisava melhorar nada”, certamente no caso de Vera Fischer, que foi uma das musas da TV brasileira, pouco precisou ser melhorado.

Outro destaque de seu portfólio é o cartaz de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976). Dessa vez com a direção de Bruno Barreto (mesmo diretos de Flores Raras), essa é uma das histórias mais conhecidas do cinema nacional. O filme levou mais de 10 milhões de espectadores aos cinemas, contando a história de uma sedutora professora de culinária. É um dos poucos filmes da época que envelheceu bem, talvez por não ter apelado tanto quanto seus contemporâneos.

Em 2007 começou a ser produzido um documentário sobre Benício. “O Encontro de Benício com Brigitte Montford”, de Jetter Castro, não chegou a ser finalizado e não se sabe se algum dia será feito. Mas para quem gostaria de saber um pouco mais sobre o trabalho de Benício, o escritor e jornalista Gonçalo Júnior lançou em, 2012, o livro “E Benício Criou a Mulher…”, reunindo uma série de trabalhos do artista, com entrevistas e relatos de sua carreira. Vale a leitura para conhecer mais da vida e trajetória desse grande artista.

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Postado por A Lanterna Mágica
13/1/2019 às 21h17

 
A imaginação educada, de Northrop Frye

A imaginação é, e continuará sendo, a quintessência do humano; cultivá-la é uma forma de manutenção de nossa humanidade.

O crítico literário canadense Northrop Frye apresentou um conjunto de cinco palestras, todas reunidas no volume A imaginação educada, em que se define o que é a imaginação, explana-se como ela se forma e, nas palestras finais, discorre-se sobre como e qual a importância de ela ser educada.

Em primeiro lugar, a imaginação se caracteriza por ser um nível mental exclusivamente humano. Não se define por ser meramente perceptiva nem social – outros animais e insetos são capazes de perceber, de alguma forma, a realidade, assim como são capazes de se organizarem em sociedades. Mais do que isso, a imaginação responde a um esforço de modelar, mentalmente, realidades que não existem, mas que, apesar disso, se gostaria de viver. Ela trata, portanto, do que não existe, mesmo que projete isso na realidade.

“Muitos animais e insetos também têm essa forma social, mas o ser humano é consciente de tê-la: ele é capaz de comparar o que faz com o que imagina poder fazer. Começamos então a perceber o lugar da imaginação no quadro das ocupações humanas. Ela é o poder de construir modelos possíveis da experiência humana. No mundo da imaginação vale tudo que seja imaginável, mas nada acontece de verdade. Se acontecesse, sairia do mundo da imaginação para entrar no mundo da ação.” (FRYE, 2017, p. 18)

Para tanto, a imaginação possui uma linguagem específica, que é a literária. Diferente da linguagem perceptiva – que busca descrever os objetos da realidade – e da linguagem social – que expressa e comunica –, a linguagem literária se caracteriza pela capacidade associativa: torna o ser humano apto para realizar associações entre a sua subjetividade – sentimentos, anseios, angústias, emoções – com a objetividade da realidade. O emblemático verso camoniano “Amor é fogo que arde sem se ver”, por exemplo, estabelece uma relação entre o sentimento amoroso (universo humano), qualificando-o em relação a um objeto do mundo natural – o fogo.

Nesse processo, a associação de um e outro é feita por meio de uma identificação, item fundamental para o exercício imaginativo, pois almeja-se “(...) sugerir alguma identidade entre a mente humana e o mundo exterior a ela – sendo essa identidade aquilo que mais importa à imaginação” (FRYE, 2017, p. 31). Por isso, a linguagem literária é associativa e, por conseguinte, a aplicação de figuras de linguagem – símiles, metáforas, analogias, símbolos – é primordial.

“(...) o poeta não se inibe nem um pouco de usar essas duas primitivas, arcaicas formas de pensamento [analogia e metáfora], pois seu ofício não é descrever a natureza, mas nos mostrar um mundo completamente absorvido e possuído pela mente humana” (FRYE, 2017, p. 32)

Dessa forma, como afirmei no início desta crônica, a imaginação é a quintessência do humano – é uma forma de se identificar e pertencer ao mundo. Sem ela, não há humanidade.

Há várias formas de associação e identificação, mas a mitologia talvez seja a primeira e é a que dá origem a todas as outras, inclusive a literatura. Na mitologia existe uma associação entre um elemento ou fenômeno natural com alguma divindade, “(...) um ser que é humano em sua forma e caráter gerais, mas aparenta possuir alguma ligação especial com o além – um deus solar, um deus da tempestade em um deus-árvore” (FRYE, 2017, p. 32). Destarte, a narrativa dessa divindade explica e, mais do que isso, dá sentido à realidade observada.

A literatura, por sua vez, reverbera as estruturas da mitologia, mas sem a crença. Devido às transformações de ordem social, cultural e histórica, narrativas mitológicas podem se tornar desacreditadas; todavia, os heróis e seus feitos representam arquétipos até hoje plasmados e reconfigurados em obras literárias. Em razão disso, Frye enfatiza e reitera o ensino e o estudo dessas estruturas, pois fundamentam as obras formadoras da cultura Ocidental: “A literatura fala da linguagem da imaginação, e os estudos literários devem treinar e aprimorar a capacidade imaginativa” (FRYE, 2017, p. 116).

Uma imaginação educada, portanto, é aquela que não apenas conhece as narrativas que moldam o humano através de seu olhar para o mundo natural, mas também é capaz de aplicar esse olhar associativo, seja para se identificar e, assim, pertencer ao mundo, seja para se proteger contra as ilusões – diria: contra as ideologias – que alguns setores da sociedade tentam manipular e desumanizar o homem.

“A primeira coisa que a imaginação faz para nós tão logo começamos a ler, escrever e falar, é lutar por nos proteger das ilusões com que a sociedade nos ameaça. A ilusão, claro, é ela mesma produzida pela imaginação social, mas é uma forma invertida de imaginação. O que ela cria é o imaginário, que (...) se distingue do imaginativo” (FRYE, 2017, p. 122)

Por conseguinte, uma forma artística restrita à técnica facilita a formação de ilusões, pois deixa de lado o olhar associativo que humaniza. Retomando a analogia de Ortega y Gasset, em A rebelião das massas, a fruição artística é como um olhar através do vidro de uma janela: a paisagem corresponde ao mundo natural enquanto que a janela equivale à própria arte. Uma concepção restrita à técnica deixa de olhar para a paisagem, isto é, para o mundo natural e, consequentemente, aquela identidade e todo processo humano se restringe à janela, isto é, ao modus operandi.

Com isso, não quero dizer que o trabalho técnico é desimportante; ao contrário, pois seu desenvolvimento – que não é evolutivo – permite expandir as formas de representação e, assim, de identificação com a realidade. Mas, reitero: isso acontece quando o olhar para o mundo não é abolido pelo exclusivo olhar à técnica.

Sendo assim, a imaginação responde ao ímpeto humano de formular ideias e sistemas mentais que representam um mundo em que se gostaria de viver; um mundo em que existe um pertencimento pleno. Para isso, lança-se mão de uma linguagem apropriada, que é a literária.

“O ponto simples é que a literatura pertence ao mundo que o homem constrói, e não ao mundo que ele vê; pertence ao seu lar, não ao seu ambiente” (FRYE, 2017, p. 23)

Portanto, se afirmei que a imaginação é a quintessência do humano, e se através do processo imaginativo o homem se humaniza, constrói o seu mundo a partir de sua capacidade imaginativa, é possível também afirmar que o humano é a quintessência da imaginação.

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Postado por Ricardo Gessner
13/1/2019 às 17h43

 
Mon coeur s'ouvre à ta voix



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Postado por Julio Daio Borges
12/1/2019 às 16h07

 
O Cinema onde os fracos não tem vez


Existe um cinema que, embora tenha atingido seu ápice nos anos 1930, começou ainda nos anos 1900. Foi com O Grande Roubo do Trem (The Great Train Robbery, 1907) que o western chegou às telas. Criado por Edwin S. Porter, que operou câmeras para Thomas Edson, o filme com pouco mais de 11 minutos deu origem às histórias que se tornariam grandes obras. Ver um western é ver a história dos Estados Unidos sendo contada.

Aliás, foram filmes de Ethan e Joel Coen que me inspiraram a escrever essa matéria. Os irmãos são responsáveis por dois filmes que levam o western ao seu auge. O primeiro é Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country for Old Man, 2007), um suspense que além de um bela fotografia, conta com excelentes atuações de Javier Barden e Josh Brolin. Outro filme é o recente A Balada de Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs, 2018), longa que reúne seis histórias que resgatam as características desse gênero clássico e o homenageia de forma célebre.

ONDE NASCERAM OS FORTES

John Wayne é referência quando se fala de western, mas ainda era desconhecido quando entrou em cena em No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939), uma das grandes obras primas dirigidas por John Ford. Esse foi só o primeiro trabalho que uniu os dois artistas. Depois do estrelato mundial de Wayne, os dois tiveram uma parceria que durou meio século. Mencionando rapidamente outras obras que uniram a dupla, estão Rastros de Ódio (The Searchers, 1956) e Rio Grande (1950), esse segundo no Brasil recebeu o título Rio Bravo, sabe-se lá porquê.

Os filmes de John Wayne e John Ford era o que chamamos hoje de Cinemão, feito para entreter o público. Mas havia um sujeito austríaco que fazia seus filmes mais políticos e por isso ganhou destaque na época. Seu nome era Fred Zinnemann (mesmo diretor de O Dia do Chacal) e o filme em questão é Matar ou Morrer (High Noon, 1952), clássico que rendeu o Oscar de Melhor Ator para Gary Cooper. O xerife William Kane (interpretado por Cooper) é o herói incorruptível que todos almejam ser. No filme um perigoso fora da lei deve chegar na cidade no trem do meio dia, o sujeito acaba de ser liberado da prisão que Kane o mandou. Então o recém casado xerife deixa sua lua de mel para depois e fica na cidade, adverso ao conselho dos cidadãos, para enfrentar seu rival.

A figura de William Kane é o que o EUA define como a imagem do homem norte americano, tanto que uma versão do filme foi guardada em uma cápsula que deve ser aberta em 2213. Matar ou Morrer é tenso a todo momento, deixando o bang-bang de lado e investindo em uma dramaticidade incomum para o gênero. Mas ainda assim, mesmo com trocas de tiro só na última cena, é um dos melhores westerns já feito e que possui enorme significância para o cinema e sociedade americana.

Outro diretor importante nos westerns dos dias de hoje é Quentin Taratino. Famoso pela quantidade de sangue unidos a sua técnica singular, o diretor entrou no jogo com Django Livre (2012), filme que busca muitas referências para montar uma verdadeira jornada do herói, repleta de plot twists. Outro ótimo filme do diretor, que levou o prêmio de Melhor Trilha Sonora em diversos festivais que participou, é Os Oito Odiados (Hateful Eight, 2015). Assim como Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992), temos uma trama montada dentro de um único cenário, com pouquíssimas cenas externas, onde o verdadeiro vilão é o suspense psicológico.

O VELHO OESTE MACARRÔNICO

Com tudo, a Era de Ouro dos westerns não se limitou aos EUA. Alguns países da Europa aproveitaram o embalo e lançaram suas versões e a mais conhecida é o Spaghetti Western, o velho oeste italiano. Com o fim do western americano, que durou até os anos 1950, o faroeste macarrônico ganhou destaque e também revelou grandes atores e diretores. Um dos grandes nomes foi o diretor Sergio Leone, que traz em sua filmografia filmes como Por Um Punhado de Dólares (Per un Pugno di Dollari, 1964), Por Uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollare in Più, 1965) e Era Uma Vez no Oeste (C’era Una Volta in West, 1969).

O movimento na Itália (e uma parte na Espanha) durou quase duas décadas e levou grande nomes em seus filmes. Entre eles está um ator que parece ser um dos maiores adoradores do gênero, Clint Eastwood. O ator e diretor participou de muitos filmes na época, tendo como principal personagem o Pistoleiro Sem Nome na trilogia do dólar, que além dos filmes já mencionados, fecha a série com Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo, 1966).

O VELHO SERTÃO

O que muitos não sabem é o que o Brasil também teve lá seus westerns. Na verdade, está mais para “nordesterns”, já que o cenário principal é o cangaço. Isso ficou claro em um dos primeiros filmes, O Cangaceiro (1953). O filme dirigido por Lima Barreto ganhou Cannes e a partir dele um ator chamado Maurício Morey viu potencial para o Brasil entrar no bang-bang. No ano seguinte, 1954, o ator estrelou Da Terra Nasce o Ódio, dirigido por Antoninho Hossri, seu irmão, que na época trabalhava como médico. A produção já ganhou destaque ao estrear no imponente Art Palácio, algo que era difícil de acontecer com produções pequenas. Seu sucesso foi tamanho que em 1958 o filme The Big Country, do diretor William Wyler, estreou no Brasil com o nome Da Terra Nascem os Homens, fazendo referência ao filme de Morey.

O nosso nordestern durou um bom tempo, passando pelo Cinema Novo bahiano, as pornô chanchadas paulista e as comédias de Mazzaropi. Mas um outro título que recebeu destaque foi o filme do diretor Osvaldo de Oliveira, Rogo a Deus e Mando Bala (1972). O filme mostra a batalha entre uma quadrilha de foras da lei e um grupo de justiceiros. O filme se inspira no oeste macarrônico da Itália, mas seus elementos e canções mostram que é um autêntico western tupiniquim.

WESTERN PARA REUNIR A FAMÍLIA

Nos EUA a TV também teve seu momento western. Os seriados era o que reunia a família na sala de estar durante alguns minutos do dia. Duas séries adaptadas são Os Pioneiros e Bonanza.

Os Pioneiros trazia uma família que migraram até Minnesota em busca de uma vida melhor, no ano de 1800. O seriado é uma adaptação dos livros de Laura Ingalls Wilder e ficou no ar entre 1974 e 1983. Outro seriado importante para o gênero é Bonanza. Com 14 temporadas transmitidas entre 1959 e 1973, a série seguia o dia a dia do viúvo Ben Cartwright, interpretado por Lorne Greene, um rancheiro que vive em defesa e cultivo de sua propriedade, em Nevada.

Mas para quem procura por séries mais atuais, temos duas boas opções, uma mais engajada na comédia e outra digna de uma jornada western. O primeiro é O Rancho, série de comédia protagonizada por Ashton Kutcher, mas embora seja o mais famoso, ver Sam Elliott como um velho ranzinza que implica e reclama de tudo já vale a pena. A outra opção é Godless, uma série clichê onde a mocinha em busca de justiça e vingança encontra um heróis desgarrado. Embora caia na mesmice, é uma ótima produção.

Em sua Era de Ouro só nos EUA foram produzidos quase 700 filmes do gênero, se juntarmos isso aos filmes lançados na Europa e no Brasil teremos milhares de westerns, são muitos filmes para assistir. Além dessa quantidade de obras, o western foi essencial para que o cinema mundial crescesse. O Grande Roubo do Trem mudou a maneira de como contar histórias e filmes como Matar ou Morrer são referências até hoje. Com isso, quem sabe num futuro não tão distante vemos mais filmes do gênero ganhando a tela grande, já que a pouco tempo atrás eles eram referência e enchiam salas de cinema.

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Postado por A Lanterna Mágica
7/1/2019 à 00h05

 
ARCHITECTURA

Talvez por gosto talvez por teimosia

ergui neste deserto a moradia


Na casa um girassol alucinado

revive em flor delírios do passado


Neste porão oculta-se em degredo

uma finada infância com seus medos


Ali repousam agora as velhas musas

na tessitura dos véus que encobrem as rugas


Numa xícara de arte em porcelana

me fitam gueixas de longas pestanas


E na janela aberta para a rua

vejo São Jorge e seu dragão na lua


De tinta e de papel minha morada

ora aparece e logo se apaga


Ayrton Pereira da Silva



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Postado por Impressões Digitais
1/12/2018 às 10h41

 
Palestra e lançamento em BH

Sábado, 1o de dezembro, às 10h30, o projeto Ideografias convida a professora e escritora Ana Elisa Ribeiro para uma palestra intitulada "Das margens impossíveis de ensinar a escrever", no Memorial da Vale, com entrada gratuita. Na sequência, haverá o lançamento do livro "Livro - edição e tecnologias no século XXI", pelas editoras Moinhos e Contafios. A obra reúne ensaios da autora sobre estudos do livro e da leitura e é o primeiro volume da coleção Pensar Edição. Assina a quarta capa o professor argentino José Luis de Diego. A obra já está em pré-venda pelo site da editora.

LeP



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Postado por Ana Elisa Ribeiro
28/11/2018 à 00h06

 
A Claustrofobia em Edgar Allan Poe - Parte I

Durante madrugadas ébrias, chuvosas e frias, passo a noite em claro e um livro aberto. Entre o clarão de um raio e estrondo de um trovão, não sei se o que aparece no vidro da janela é a silhueta de Edgar Allan Poe, com dentes assustadoramente alvos, rindo-se enquanto sobrepõe tijolos para fechar qualquer saída, ou se o livro que tenho nas mãos é de uma ave de rapina cuja assinatura é “Nunca mais”. Desperto. Era um pesadelo? Olho ao redor e vejo-me num quarto fechado, sem portas nem janelas...

Edgar Allan Poe é um dos meus autores de cabeceira. Chama-me a atenção em seus contos uma fixação pelos espaços interiores e pequenos. Por exemplo, em “O gato preto” o personagem principal, depois de assassinar sua esposa, para livrar-se do cadáver, empareda-o no porão de sua casa; em “O coração delator”, depois de assassinar o velho companheiro, esconde o corpo debaixo do assoalho. Em ambos os contos, diga-se de passagem, a estrutura é bastante parecida, sendo vários os elementos em comum: a fixação do personagem pelo olhar (do gato no primeiro, do velho no segundo); um estado de clara perturbação mental do narrador-personagem; sons perturbadores, ora provindos da mente perturbada do narrador (o bater do coração do velho), ora das próprias condições situacionais (o miado do gato, que o narrador emparedou sem perceber junto com o cadáver).

Tenho comigo uma hipótese: acredito que esse “espaço fechado” é uma espécie de personagem que circunda, ou melhor, assombra inúmeros dos contos de Poe, mas que não tem nome e muitas vezes é o responsável pelo tom – para utilizar conceito do próprio Poe – do texto, ou até mesmo por gerar sua unidade de efeito. De tão evidente, passa despercebido. Este personagem é o “claustro”. Digo aqui “claustro” por falta de termo melhor; na verdade, penso nas quatro paredes fechadas que, mais do que seu sentido literal, funciona como uma espécie de arquétipo.

Em “O barril de Amontillado”, Montresor – o narrador-personagem –, amargurado e rancoroso por certas injúrias cometidas por Fortunato, tece uma armadilha para abandoná-lo numa câmara subterrânea, supostamente um depósito de vinhos onde haveria um “barril de Amontillado”. Provavelmente o conto é a principal fonte – ou barril? – que Sir Arthur Conan Doyle bebeu para escrever “A nova catacumba” ou Lygia Fagundes Telles para escrever “Venha ver o pôr do sol”. Montresor numa emboscada acorrenta Fortunato nessa câmara, fecha-a e segue, satisfeito de sua vingança. Toda a ação de “O poço e o pêndulo”, como sugere o título, se passa numa espécie de poço – um espaço fechado e misterioso. E talvez o conto que chega ao mais extremo nesse sentido seja “O enterro prematuro”, que versa sobre a fobia do narrador em ser enterrado vivo.

Ora, diante desses poucos exemplos ensaio que, mais do que um recurso literário utilizado por Poe, é, como disse no início, uma espécie de personagem. Um fantasma que assombra manifestando-se sob as mais diversas formas. E o “claustro” não se restringe ao espaço em si, também é sua manifestação, ou melhor, sua influência ou ligação sobre os personagens, como em “A queda da casa de Usher” ou em “Ligeia”, uma espécie de Feng-Shui macabro. E mais ainda, o claustro nem mesmo precisa ser um espaço físico: pode se associar à mente perturbada do personagem.

Acredito que o “claustro”, agora transposto para a condição humana, é um arquétipo. Trata-se do horror em ser levado, sem perceber, por uma força misteriosa que oprime e não oferece nenhuma perspectiva de saída. Vivo, consciente e sem saída, num lugar para sempre desconhecido, sem saber como chegou ali. O medo da morte torna-se um afago. Sem portas, sem janelas. Sem passado nem futuro. Isso é o “claustro”. Também pode ser inferno, eterno-retorno, imutabilidade... Pode se dar num espaço literalmente claustrofóbico ou a céu aberto, nas circunstâncias aparentemente mais insignificantes, mas é onde o abismo se abre. Tudo depende das circunstâncias ou da fertilidade mental de quem (não) pensa. Poe, nesse sentido, expõe as entranhas da vida. Seguimos sem saber como ou para onde, sobre uma jangada que acreditamos existir, fixos em miragens que por nós mesmos se transmutam a cada momento. Quando acordamos, estamos ali, num lugar fechado, sem portas nem janelas. O último gesto é gritar para escutar a própria voz.

To be continued...

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Postado por Ricardo Gessner
25/11/2018 às 14h29

 
Heróis improváveis telefonam...



Roça do Vó Manoel, óleo sobre tela dessa neta.



Heróis improváveis ligam de número que você nunca imaginaria atender. Claro, de outro Estado que não o seu. Claro que em um dia de nada, de chuva, sem passarinhada (só as loucas das andorinhas) e chuva daquelas que você reza para jogar as mangas Doce de Leite do vizinho no seu chão. Se você acha que chuva é para encher os rios, engana-se. É pra manga cair. Principalmente a Doce de Leite, um bebezinho. Cai.

Presto atenção também em cores que não sei o nome, mas principalmente presto atenção em vento, nuvens, sabiás de setembro, sol, lua. Presto atenção para lembrar do que era bom, paz, sossego. Dos dias na roça, dos avós, das tramelas, cancelas, porteiras e palavras que não existem mais fisicamente por aqui. No meu mundo urbano cinza monstro.

Hoje o Chukichi Kurozawa me ligou. Eu fiquei com aquela cara de “peraí” mineiro. Isso tudo porque confessei prestar atenção na sua ausência do programa de domingo que assisto por afetividade guardada, o Globo Rural. Escrevi, conversando primeiramente com um robô, onde deixava minha dúvida. A dúvida não era como criar abelhas, como fazer muda de Cambuci. Era cadê o Chukichi. Que durante todos esses anos era chamado para resolver as dúvidas dos leitores e... pá, sumiu. Parecia até coisa de Minas mesmo: cadê isso que tava aqui? Sei não, sumiu. Sumiu é a explicação que mineiro aceita, se aparece, apareceu.

Carinhosamente recebi a resposta por e-mail, que ele ainda continua salvando as mais horríveis dúvidas com as mais lindas respostas. Se a planta é doce, comestível, da família de nome louco em latim... Já memorizo o preço da saca de café Arábica e Conilon. Latim ainda é difícil.

Não bastasse o orgulho que fiquei da resposta assim por e-mail, hoje me ligou! Eu que trago todas as férias na roça colada nas minhas melhores alegrias. Eu que tomo café olhando algum lugar porque lembra a cancela da cozinha e a gente olhando o quintal. Eu que fiquei presa no paiol porque esqueci de fechar a tramela e a Mimosa entrou (a vaca que meu avô amansou para seguir a gente). Aprendi que num palheiro não se acha agulha e muito menos a saída se uma vaca gorda entrar. Paiol aqui é onde se guarda palha, deixo claro. Ou era, já nem sei mais. Hoje em dia deve ser Straw Place, regulado certificado carimbado pela Anvisa.

Eu que já me perdi em planilhas do Excel e até para isso já imaginei, se meu amigo consultor do Globo Rural Chukichi Kurozawa respondesse o meu “queisso?”... Saberia! Ele que quando chamado, com uma simples fotografia, sabe... Ele que vem voando cheio de livros com desenhos de frutos e folhas, feitos à mão e pousa com sua resposta: pode comer que é bom. Ou isso veio da Índia... ou... Como pode alguém saber tudo?

Eu que quando triste de marré deci, em Belo Horizonte, olhando pela janela do vigésimo sexto andar, resolvi entre todas as opções da noite ir no show do Rolando Boldrin, no Minascentro. Sozinha na fila e pensando que estou fazendo aqui. Eu que soube. Eu que trouxe de volta aquela alegria simples da gente infância. Das prosas, dos cheiros, dos chamamentos das criações. Eu que um dia antes atravessando a Contorno esqueci do nada como era mesmo o mundo, não sabia atravessar a rua e o sinal vermelho me deu espanto e não soube ligar o telefone, discar, nem falar nada eu soube Esqueci como se lia. Porque o Excel surta a gente. Eu que triste, estava deixando de saber e acreditar. Eu que fui resgatada naquela noite pela simplicidade da roça.

Não sei quantas vezes o agro, a roça ainda vão me resgatar. Eu que hoje nem pedia resgate, voei. Desde o telefone tocar e eu desligar ainda com cara de “peraí”, estou cá pensando nas minhas referências, às somas que nos tornamos. E veio um cheiro de café, queijo, fogão à lenha, lamparina, chuveiro à serpentina, leite, quintal, açude. Hoje sei que o que vem da terra, entra no coração. Hoje sou aquele quintalzão cheio de folhas estalando debaixo dos meus pés, impossível brincar de pique-esconde. Quanto mais corre mais barulho faz. Tenho que contar, eu recebi um telefonema do Chukichi Kurozawa! Eu sou um barulho bom hoje...



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Postado por Blog de Aden Leonardo Camargos
21/11/2018 às 21h22

 
Um lance de escadas

Há décadas vivo na Irlanda, mas sou natural de Toledo, Espanha. Nasci numa família de camponeses – tínhamos algumas poucas cabeças de gado, uma granja modesta e uma pequena plantação de leguminosas. Lembro-me de aos cinco anos de idade já trabalhar na preparação da terra. Depois, em torno dos sete anos – nunca soube ao certo o motivo – meus pais me mandaram a um fazendeiro vizinho, para que eu fosse alfabetizado. Era um sujeito delgado e um tanto excêntrico, que vivia mais pelos seus livros do que para sua fazenda. Amadís de Gaula foi a base para minhas primeiras construções sintáticas e para as lições de história; meu vizinho discorria sobre a época dos feudos, sobre criaturas míticas e heróis. Com isso, não apenas fui alfabetizado, como também adquiri sólido repertório cultural.

Quando completei os estudos e fui liberado pelo meu preceptor, decidi tentar a sorte noutra região. Por um lado, gostava de trabalhar naquela terra, mas cresceu em mim certo pendor de abstração e, assim, decidi viver noutro país. Comuniquei minha decisão aos meus familiares, ao que responderam:

- E a governança da fazenda?

- Deixem os mais novos como responsáveis.

Como já haviam percebido que o território imaginativo era o mais cultivado, desejaram-me boa sorte. Antes de sair do meu povoado, decidi fazer uma visita ao meu antigo mestre; encontrei-o em sua casa, imerso em sua mesa de trabalho, com pilhas de livros para todos os lados. O quarto estava escuro e meu vizinho, mais franzino do que antes; pálido, resmungava trechos de Espejos de caballería. Chamei-lhe pelo nome, ao que ele responde apenas com um gesto de cabeça.

- Estou saindo do vilarejo.

Meu vizinho, encarando-me com ar pensativo, respondeu dando de ombros:

- Em breve nos veremos. – e voltou à sua leitura sem dizer mais nada.

Sua sobrinha relatou-me que estava preocupada com o tio; encontrava-se naquele estado há alguns meses – comia pouco, falava menos e não se importava com nada a não ser suas leituras.

- Talvez esteja se dedicando a algum estudo. – sugeri. A moça assentiu com certo ar de estoicismo, mas sem demonstrar esperança. E assim segui viagem.

*



Quando passei pela região de Salamanca, participei de uma perseguição a um tal de Lazarillo. Acusavam-no de ter roubado todo o vinho de seu mestre, um comerciante de tecidos. Depois de um dia inteiro de buscas, acharam as ânforas todas vazias na própria casa do comerciante, enquanto que o Lazarillo jamais foi encontrado.

*



Depois de dois anos de vida retirante, fixei-me num vilarejo da Irlanda. Fui recebido numa paróquia onde lecionava e cuidava das obras do prédio em troca de moradia e alimentação. Nesse entremeio, como a estrutura da igreja precisava de algumas reformas, contratei um pedreiro de renome – também conhecido por suas bebedeiras – era Tim Finnegan.

Certa ocasião, estávamos trabalhando na reforma de uma das torres do prédio. Tim Finnegan, ébrio, trabalhava no topo de sua escada de cem degraus. Cantava, como sempre. Eu, embaixo, vigiava o trabalho de todos quando, de repente, gritos interromperam a canção de Finnegan. Dois homens aproximavam-se a cavalo: um vinha na frente, silhueta magra, vestia uma armadura de cavaleiro empunhando uma lança, como se pretendesse atacar um inimigo; o outro, seguia atrás, roliço, segurando seu chapéu enquanto gritava ao outro palavras ininteligíveis.

Durante alguns segundos não soube se ria ou se me preparava para uma briga, mas percebi que o alvo não seria eu. O cavaleiro se aproximava cada vez mais, até acertar a escada de Tim, derrubando-o. O pobre pedreiro soltou um grito inefável e atingiu o solo, desfalecido.

- Em nome do poderoso Finn MacCool, o gigante Benandonner está derrotado! – bradou a estranha figura. E continuou:

- Frestón não é páreo! Enfim, dedico essa vitória à minha querida amada Dulci... – dizia o estranho, quando interrompi:

- Ei! Veja o que fizeste! Mataste o pobre Tim! – Mas não pude continuar, pois tamanho foi meu espanto ao perceber que aquela estranha figura era meu antigo mestre. Seu companheiro, que finalmente se aproximava, era outro vizinho.

Ao perceber meu olhar de surpresa, o cavaleiro disse:

- Não há do que agradecer-me. Avisei-te que nos encontraríamos.

- Mas o que aconteceu, Alon...

- Chamo-me Dom Quixote de la Mancha, o Cavaleiro da Triste Figura. E este aqui é meu fiel escudeiro, Sancho...

- ... Panza. Sei, o conheço. – completei.

Lembrei-me daquela longínqua imagem de sua figura, enredada em seus livros, o olhar fixo e a fala desconexa. “Está louco”, pensei. Para não demonstrar meu nervosismo, comecei a falar:

- Mas como tens passado, Alon... digo, Dom Quixote? Pelo que observo, foste nomeado cavaleiro, não? Conte-me, como foi? Pois quando saí de Toledo eras fazendeiro.

E, assim, meu antigo preceptor relatou todas as suas aventuras, enquanto Sancho devorava lascas de queijo com pedaços de pão. O cavaleiro contou-me suas aventuras pela Espanha, Arábia, Grécia; contou-me que um livro havia sido publicado, relatando parte de suas aventuras. Alguns anos depois tive a oportunidade de ler os dois volumes, escritos sob a pena de Benengeli, mas publicadas sob o nome de Cervantes.

Contudo, a maior parte de suas aventuras não estavam registradas; em nenhum dos dois volumes sequer é mencionada a saída de Quixote da Espanha. Creio que estejam perdidas em papéis não traduzidos, quem sabe. De qualquer modo, o encontro de Dom Quixote com Tim Finnegan, ou melhor, com o “gigante Benandonner” não está registrado, por isso, deixo minha contribuição.

Gostaria de concluir com uma observação: a despeito de tudo, Tim Finnegan segue como sempre – bêbado, alegre, trabalhando no topo de sua escada. Um dia ele confessou-me um segredo: durante uma estadia em Salamanca, roubou algumas ânforas de vinho. Bebeu todas e, quando se viu perseguido, fugiu até onde suas pernas o levaram.

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Postado por Ricardo Gessner
18/11/2018 às 14h33

 
232 Celcius, ou Fahrenheit 451

Você é feliz?

Uma pergunta aparentemente banal como essa foi o bastante para que Guy Montag, de bombeiro exemplar se transformasse num subversivo social procurado pelas autoridades. A situação em que uma pergunta é feita, combinada à porosidade do indivíduo interrogado, podem ocasionar mudanças profundas, tanto na índole, quanto no modo de compreender a si mesmo.

Ray Bradbury não é conhecido como um autor psicológico, nem seus romances submergem às profundezas da mente humana; entretanto, o eixo temático do livro Fahrenheit 451 se desenvolve a partir do momento em que a pequena Clarisse McClelland faz a famigerada pergunta ao seu vizinho Montag: “você é feliz?”. Um modesto convite à reflexão; um caminho aberto em direção às profundezas da condição humana.

A história de Fahrenheit 451 se passa numa sociedade em que a leitura é crime capital, sob pena de incendiar os livros e a residência do meliante, com sua subsequente prisão. A cada nova descoberta de livros escondidos, os bombeiros são acionados e seguem ao local, não para combater um incêndio, mas para provocá-lo. O trocadilho com o termo em inglês – fireman, literalmente, “homem-fogo” – é intraduzível: aplicado para nomear aqueles que combatem o fogo, no livro se refere aos que o provocam-no, invertendo o papel como representação simbólica da inversão de valores que esse livro revela. Nessa sociedade futura, os bombeiros desempenham função tripla: 1) incendiar as casas para 2) manter a sociedade pacificada, longe de qualquer livro e, assim, 3) eliminar todo e qualquer vestígio de ressentimento: “Eles [os bombeiros] receberam uma nova missão, a guarda da nossa paz de espírito, a eliminação de nosso compreensível e legítimo sentimento de inferioridade: censores, juízes e carrascos oficiais”.

Incinerar livros e proibir sua leitura é um gesto de manutenção da paz, da felicidade pessoal e do bem-estar social, mantida pelos bombeiros. Nesse ínterim, Guy Montag, chefiado pelo capitão Beatty, até então é um combatente exemplar. Disciplinado, respeitoso e dedicado, sempre manifestou seu trabalho com orgulho. Contudo, sua vida se transformou quando a pequena Clarisse lhe pergunta se é feliz. Montag, enfrenta um período de crise quando passa a observar e intuir a estranheza que compõe a sociedade em que vive e ajudou a preservar. Pela primeira vez, a paz que sempre se orgulhou de manter cede lugar a um mal-estar.

Diante de um obstáculo, basicamente há duas saídas: 1) não enfrentá-lo, ignorá-lo, fugir, desistir; ou 2) reconhecer sua existência e enfrentá-lo, atitude que exige preparação para superá-lo, sem garantia de sucesso. A primeira solução é praticamente indolor, no máximo uma pequena câimbra ao virar de costas. A segunda requer coragem e persistência para enfrentar um processo pouco prazeroso.

Ler é uma atividade intelectual; normalmente expande nossa capacidade de abstração e percepção, tornando-nos conscientes de limitações, de que somos mortais, imperfeitos, mas que, por outro lado, nos serve como uma arma de ataque contra essas limitações; conscientes de nossas falhas, ao menos sabemos o que precisamos superar. O hábito da leitura se alinha a esta atitude; no entanto, a sociedade retratada em Fahrenheit 451 escolheu a primeira saída. Dessa forma, não ler é uma proteção contra o sentimento de inferioridade gerado pela consciência inteligente da condição humana; é um meio para não enfrentar nem reconhecer nenhum tipo de injúria, defeito ou dificuldade, mesmo que combatê-las implique uma melhoria pessoal. Em síntese: ler nos faz pensar; pensar gera desconforto; logo, corte-se o mal pela raiz e proíba-se a leitura.

O chefe dos bombeiros – ressalto: cuja missão é manter a paz de espírito – afirma que o “sentimento de inferioridade” é “compreensível e legítimo”. Socialmente, significa a necessária e obrigatória manutenção da mediocridade; evitar que ela se torne consciente: “O livros servem para nos lembrar que somos estúpidos e tolos”. Representa a insegurança de assumir-se limitado e, assim, evitar qualquer angústia e melancolia subsequente. Ao relembrar os tempos de escola, Beatty menciona o aluno “excepcionalmente brilhante”, que sempre recita e responde as perguntas corretamente, enquanto os demais permanecem “sentados com cara de cretinos, odiando-o” e, depois da aula, vingam-se com violência, atacando aquele que é dedicado ou talentoso. Nessa atitude, vê-se que a eliminação do ressentimento é uma forma dialética de manifestá-lo. A sociedade pacífica de Fahrenheit 451 é aparente, pois suas raízes estão fincadas em conduta similar.

A eliminação de tudo o que nos coloca em lugar inferior representa uma atitude evasiva e covarde, mas que foi instaurada como obrigação para manter o bem-estar social. Além disso, como a lembrança está associada aos tempos da infância, a ação, por conseguinte, é igualmente infantil, definindo adultos que se comportam como crianças mimadas. Rejeitar o enfrentamento de dificuldades; colocar-se num lugar de uma superioridade confortável, mas aparente; não arcar com qualquer responsabilidade ou culpar a sociedade por todo defeito, representam a preponderância do ressentimento. A sociedade que elimina todo elemento que evidencia um problema a ser resolvido resulta numa sociedade infantil, mimada e ressentida, como o é em Fahrenheit 451. Seus habitantes divertem-se com “passatempos sólidos” – veja-se a saborosa contradição em termos, para não ofender a mentalidade limitada dos habitantes –, proporcionados pelos programas anestesiantes de televisão.

A proibição da cultura livresca é resultado de um processo silencioso e lento, em que a leitura foi gradativamente deixada de lado em detrimento de outras atividades que requerem pouco esforço e oferecem prazer imediato; “Aí está Montag. A coisa não veio do governo. Não houve nenhum decreto, nenhuma declaração, nenhuma censura como ponto de partida. Não! A tecnologia, a exploração das massas e a pressão das minorias realizaram a façanha, graças a Deus. Hoje, graças a elas, você pode ficar o tempo todo feliz, você pode ler os quadrinhos, as boas e velhas confissões ou os periódicos profissionais”.

Este é o ponto nodal de Fahrenheit 451: a leitura foi proibida em nome da paz e da felicidade; um meio de coibir o ressentimento. Houve um processo de acomodação entre o que era oferecido às massas – programas anestesiantes de rádio e de televisão – junto ao nivelamento por baixo, em que os parâmetros são estabelecidos segundo os vícios de muitos, não as virtudes de poucos. Quem pretende subir o nível é logo descartado: “Os que não constroem, precisam queimar. Isso é tão antigo quanto a história e os delinquentes juvenis”. Ou seja: se você não constrói, precisa destruir; exatamente como os firemen, cuja tradução literal – homens-fogo – abarcaria o sentido mais preciso.

Felicidade e prazer fáceis se tornam a finalidade da vida, não importa se isso implica retrocesso intelectual ou estagnação cultural. A única direção proibida é o aprimoramento, visto que isso implica pensar e, portanto, em dor. Tudo o que se pede é um “passatempo sólido”: “se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum”.

Nesse quadro, chamo a atenção ao importante papel desempenhado pelas minorias. Em nome de um “bem-estar” absoluto, em nome da “justiça social”, reivindicações de minorias ressentidas se tornam inquestionáveis, condenando-se qualquer perspectiva diferente. O resultado é uma visão de mundo simplista e parcial. A higienização em nome do bem aplicada em larga escala, resulta na promoção da mediocridade em detrimento da alta cultura. Shakespeare é abolido, pois uma elite com critérios elitistas (socialmente injustos) não tem o direito de considerá-lo melhor do que Paul Rabbit. “Todos devem ser iguais. Nem todos nasceram livres como diz a Constituição, mas todos se fizeram iguais. Cada homem é a imagem de seu semelhante e, com isso, todos ficam contentes, pois não há nenhuma montanha que as diminua contra a qual se avaliar”.

Se algum poeta, com maestria, desenvolve artisticamente as inquietações mais abissais da condição humana, logo é eliminado. Shakespeare não pode provocar nenhum sofrimento, nem pode ser considerado melhor do que outro. Na verdade, se o poeta provoca algum incômodo, mínimo, por estimular o pensamento, deve ser considerado ainda pior. Na fala de Beatty, o homem deixa de ser “imagem e semelhança de Deus” para ser apenas “imagem de seu semelhante”, isto é, de outro homem. Deus, imortal e perfeito, é o avesso do humano; jamais deverá ser cultuado nessa sociedade.

O resultado de tudo isso é a decadência cultural. “A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?”.

Esse excerto é um resumo do que encontramos atualmente. Veja-se a censura no ensino de gramática padrão, tomando-se o cuidado para não incorrer em preconceito linguístico; veja-se a substituição da desinência de gênero por caracteres supostamente neutros, para evitar a supressão machista do masculino e, assim, legitimar a igualdade; veja-se os Parâmetros Curriculares Nacionais, que questionam o ensino de Machado de Assis alegando que os alunos não entendem por que ele é literatura e deve ser ensinado. Ora, se as explicações não fazem sentido aos alunos, isso demonstra o despreparo do professor junto à sucatização dos cursos de licenciatura, que não tem capacidade de justificar qualitativamente a diferença de um Dom Casmurro de um O Alquimista, nem argumentar a importância da cultura literária na formação humanística e educacional de uma pessoa. Além disso, questionar o ensino de algo sob alegação de não fazer sentido ao aluno é fundamentar a imbecilização, assim como justificar a infantilização. Isso me lembra de um relato de Theodore Dalrymple a respeito do ensino público britânico, em que um acadêmico sugeriu a mudança ortográfica, visto que a maioria esmagadora dos jovens estudantes não escrevia conforme o padrão. O erro de antes, agora mascarado em eufemismos da novilíngua, é reapresentado como algo natural e, assim, ao invés de ser corrigido é instaurado como nova regra.

Enfim, se as explicações do porquê Machado é literatura não fazem sentido aos coitados dos alunos, isso não é problema da Literatura. Particularmente, nunca entendi o sentido de se calcular forças aplicadas em roldanas e bloquinhos, então deveríamos reformular o ensino de Física. O acesso a Shakespeare, Milton, Dante, Machado, a alta cultura de maneira geral, é direito de todos; é patrimônio da humanidade. Privar esse acesso é elitismo, não o contrário. Não é exagero supor que o mundo caminha para Fahrenheit 451.

Quando Clarisse McClellan pergunta a Montag se ele é feliz, a indagação brota dentro de uma sociedade em que a felicidade é obrigatória e literalmente inquestionável, daí o espanto de Montag. Contudo, trata-se de uma felicidade que deita raízes em solo arenoso, o que reverte a pergunta num gesto nada banal. O olhar de Montag é direcionado para perceber toda a aridez ao seu redor: sua mulher cada vez mais demente e rodeada por televisores que dejetam “passatempos sólidos”; a memória das pessoas, cada vez mais defasada; a ausência de respeito pela vida de outrem, exibida em ações homicidas, seja pelos habitantes, seja pelos programas televisionais. A pergunta de Clarisse brota como uma planta suntuosa num terreno tomado por ervas daninhas, cuja beleza está sujeita a ser sugada pelo ressentimento das demais.

Como afirmei algumas linhas acima, não seria exagero considerar que nosso mundo caminha para um Fahrenheit 451. O comportamento alienado da esposa de Montag no romance equivale ao dos usuários de smartphones, cujos olhos estão a todo momento vidrados nas telinhas brilhantes. É cada vez mais raro estabelecer uma conversação duradoura, isto é, de cinco minutos, sem que o interlocutor desvie os olhos para o aparelho. Com isso, a mente está cada vez mais habituada a lidar com o universo virtual e passa a se esquecer do mundo concreto. A memória, o raciocínio, as capacidades cognitivas superiores, enfim, se atrofiam gradualmente. No início do romance, Montag, ao chegar em casa encontra sua esposa em estado de coma; ela havia tomado, involuntariamente, uma overdose de remédios, pois se esquecera de que já havia se medicado anteriormente. O mais assustador é que não foi a primeira vez, segundo o relato da narração. É o resultado de uma vida confortável, sem ressentimentos, sem decepções, sem compromissos, recheada de televisores e “passatempos sólidos”, mas que configura alguém sem anseios, sem ambições, sem cultura, sem memória e, em síntese, sem personalidade.

Simbolicamente, a amnésia de Mildred corresponde a um suicídio cultural, mesmo que involuntário. É comparável ao incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018. Séculos de história se perderam. Séculos da memória nacional se foram. E ao contrário do que manifestaram os brasileiros, ninguém se preocupou, nem se preocupa, de fato. A primeira manifestação do então prefeito Marcelo Crivella foi dizer que iriam restaurar a fachada, que ficou relativamente bem preservada. Em seguida, nas redes sociais, começaram as acusações em que jacobinos acusavam girondinos da culpa pelo incêndio e vice-versa. A discussão entre um lado e outro ainda persiste, mas os referenciais já mudaram algumas vezes e ninguém mais se lembra do que aconteceu.

Conforme Montag adquire consciência do que se passa, sente-se responsável pelo cenário e, aos poucos, percebe a importância de combatê-lo. Assim, recorre a única pessoa que parecia ter um mínimo de consciência: Faber, um professor de inglês (equivalente a um professor de Literatura) aposentado, descartado quando os cursos de ciências humanas perderam sua relevância e deixaram de ser procurados. Faber sabe da importância da leitura e aceita auxiliar Montag.

Com isso, formam uma dupla equivalente à do papel e caneta, cujos nomes – Montag e Faber – são de marcas correspondentes. Além disso, faber é um termo latino, que significa “aquele que produz ou fabrica”. O homo faber, nosso antepassado histórico que desenvolveu a competência de fabricar seus próprios instrumentos de caça, retorna nessa sociedade neo-primitivista.

A união de Faber com Montag, do lápis com o papel, é fundamental tanto no romance quanto na vida. Um não funciona sem o outro e essa união simboliza o novo livro que poderá ser escrito – e quem sabe lido – fora da aridez social que representa Fahrenheit 451. Não necessariamente será um livro de papel, mas de carne, osso e espírito – completo, portanto – graças à consciência da mediocridade reinante.

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Postado por Ricardo Gessner
11/11/2018 às 09h20

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