Ser empurrado na fila de entrada de um jogo de futebol ou de um megashow, ainda vá lá. Mas em fila de aeroporto? Fila de banco? Ser atropelado na saída do vagão de metrô? Está ficando cansativo. Não sei se o passar dos anos me deixou menos tolerante, ou se foi uma mudança de hábitos das pessoas mesmo, mas tenho a forte impressão de que estamos habitando uma sociedade menos civilizada... Fiquei chocado uns dias atrás com o atropelamento que sofri na saída do metrô no ponto final.
Peguei o metrô na Califórnia para ao aerporto, e lá, no ponto final, primeiro saem os passageiros de dentro do vagão, enquanto quem quer entrar espera pacientemente. Depois que o trem esvazia, todos entram pacientemente, com esbarrões, mas sem atropelamento. Já na estação da Miguel Lemos, eu e minha namorada fomos literalmente atropelados na saída do vagão. Me senti no Velho Oeste, como uma manada de búfalos vindo na minha direção, com uma diferença: não estava montado num cavalo.
O sistema "eu primeiro" é pior para todos. Uma velhinha que ia sair na mesma estação ficou presa e quase foi esmagada. Outros que entravam arranharam os braços na porta do vagão. E assim por diante. Custa tanto esperar alguns minutos a mais, numa estação com ar condicionado, para que as pessoas saiam? Será que, na vida da maioria das pessoas, este minuto fará alguma diferença? O que se precisa nas grandes cidades do país não é um Bolsa Família, e sim um "Vale Educação em Casa".
Registro o protesto: chega de ser atropelado! Senão vou passar a trazer equipamento de futebol americano quando freqüentar locais com fila.
Post Scriptum
Acreditem, fui empurrado até numa fila de lanchonete no aeroporto de Congonhas!
Há tempos queria que alguém se manifestasse sobre isso, pois me sentia a única incomodada. Façamos um abaixo-assinado: chega de atropelamento! Eu também estou cansada (e olha que sinto isso apenas pelo que passo no metrô da zona leste de São Paulo...). E tenho outra tese bizarra: acredito que esta pressa às vezes também seja um tipo de competição sem sentido obscura na mente de quem vive na metrópole cinzenta. Vamos lá! Ninguém é melhor que ninguém apenas porque entrou ou saiu primeiro de um meio de transporte absurdo! Para que o sorrisinho de satisfação e a postura imponente? E o pior é que, depois de atropelar para sair, muitas vezes a pessoa sai andando com um andar vagaroso e elegante! Onde foi parar a pressa! Qualé! E digo mais: as pessoas precisam cada vez mais aprender a simplesmente andar sem esbarrar nos outros! Um pouco de coordenação motora ou senso de espaço, por favor! E não vem com a desculpinha: "Não gostou? Pega um táxi!" E tenho dito!
Onde moro não tem metrô e a situação também é caótica. Achei que fosse fator cultural da minha região, mas é generalizado, global, epidêmico! Hoje nos deparamos com a onda crescente de vandalismo e assaltos a instituições de caridade. Cidadãos que invadem creches, escolas, asilos para roubar farinha, ou simplesmente para quebrar tudo. Somos menos civilizados, perdemos valores como respeito e cordialidade, esquecemos o que significa compaixão ou empatia. E somos cada vez mais numerosos, queremos cada vez mais e mais depressa, precisamos ser mais que os outros, senão não seremos ninguém. Valores nutridos pelo consumismo e capitalismo substituem os morais religiosos e políticos. Os ideais mudaram e a qualquer minuto a humanidade chegará a um ponto em que será necessária outra era glacial ou dilúvio para que haja alguma mudança significativa em nosso jeito de ser GENTE!
Apóio inteiramente que se pregue e pratique a boa convivência nos ambientes e transporte público; agora, por favor, dá pra deixar o bolsa-escola fora disso? Será impossível fazer um comentário desse tipo sem ser classista? Você mesmo acrescentou que suas experiências desagradáveis se dão, muitas vezes, bem longe do famigerado "povo"...