Caso de polícia | Contubérnio Ideocrático, o Blog de Raul Almeida

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Sábado, 16/5/2015
Caso de polícia
Raul Almeida
+ de 1100 Acessos

- Hoje não passo de dois!
Pouco tempo restou para a passadinha no bar de calçada da Rua São José e o encontro com o meu amigo. A saudação habitual começou com o aviso de que a conversa seria mais curta por conta do tempo escasso. As tarefas foram muitas e já estava na hora de ir para casa.
-Pois que seja!
A resposta veio acompanhada do braço estendido para o aperto de mão, sempre forte e fraterno, o sorriso e o sinal para ocupar a cadeira vazia ao lado.
-Então, porque a pressa?
-É que já está na minha hora. Não gosto de pegar a barca muito cheia. Nem é a barca. É o ajuntamento na estação que me deixa "encardido". As pessoas ficam numa expectativa enorme, embarcam correndo e ficam em frente às portas que serão abertas depois da travessia. Entram e querem sair ao mesmo tempo. Aquela afobação para nada, um comportamento que prefiro não compartilhar.
-Mas acontece em todos os horários, não é? Com o terminal cheio ou vazio a correria para embarcar sempre acontece.
- É. É mesmo. Mas não gosto de chegar depois que o sol se põe. Coisas da idade.
- Então deixa eu te contar o que acabei de escutar de um outro amigo. Freqüentávamos um boteco onde eu comprava os cigarros diários e tomava um belo chope no balcão. Um sujeito grandão e bem claro.
- "Meu pai é do Algarves, terra de portugueses com tamanho de homem", provocava como se todos os outros lusitanos fossem baixinhos. Pudera, 1,95 de altura, chegado aos esportes, uma figuraça sempre com um caso para contar, geralmente sobre namoradas eventuais, conquistas, aquela coisa de coroa solteirão. Um pouco de fanfarra e um tanto de verdade.
Um assíduo personagem dos bailes do Club dos Democráticos, Bola e Embaixadores aqui no Rio de Janeiro, não perdendo o Lord Club, Patropi, ou o salão do Mario Zan, durante o tempo em que viveu em São Paulo.
Não nos víamos desde que mudei para Copacabana. Hoje passou por aqui e fez uma festa.
A conversa foi escorregando e, sabendo da minha origem, contou-me um dos seus episódios paulistanos no Lord Club, lá na rua Brigadeiro Luiz Antonio, quase chegando na Paulista. Um baile que, vez por outra, rendia um amor de fim de semana. Gostava de mostrar as qualidades de pé-de-valsa conquistando simpatias, olhares e conversas mornas até que, numa ocasião, teve a impressão de que uma extraordinária mulher o acompanhava com o olhar. Ao tentar corresponder, nada. Ela disfarçava e virava para outro lado. Assim foi a noite toda. Voltou para o Rio no domingo com a bela figura pregada na retina.
Duas semanas depois no mesmo salão, localizou a bonitona e suas amigas, agora em companhia masculina. Ficou meio desapontado, mas não perdeu o interesse. Nada outra vez. Não conseguiu encaixar o seu charme fulminante e ainda perdeu uma outra com quem ficara durante o baile. Ao, perceber o descaso, o deixou falando sozinho. Sabe como é, na hora da saída deu um tchau, e sumiu no banheiro.
Mais um intervalo de duas semanas e, novamente, o Lord Club.
-Hoje eu falo com aquela mulher, nem que seja por desencargo de consciência. Pensou calado.
Ficou rondando perto da entrada e quando as amigas chegaram, não tinha como não ser notado. Deu certo! Parecia que ela tinha o mesmo propósito. Os sorrisos cúmplices, algo como: Você não me escapa, marcaram o momento. Logo se entenderam e o meu amigo acabou se enturmando e ficando na mesma mesa com os amigos e amigas dela, sem nenhuma complicação.
Dançaram a noite inteira, numa volúpia rodopiante com tangos cruzados, sambas sincopados, baladas e fox-trots.
O baile terminou e ainda dessa vez, não deu para o "grand complet", ficando arranjado para a próxima semana quando estariam esperando um pelo outro.
Na sexta-feira seguinte engraxou os sapatos no cruzamento da Ipiranga com São João, e foi dar aquela retocada nos cabelos mais a barba com toalha quente, navalha Solingen e Aqua Velva, no Bellini, grande fígaro do salão na galeria da rua Conselheiro Crispiniano. A coisa ia pegar fogo.
Ofereceu-se para ir pegá-la em casa mas ela não quis. Preferia que a esperasse no Club. Chegou sozinha e ele já estava lá.
-Um momento quase sublime. Coisa de filme exclamou sentado aí nessa cadeira onde você está.
Mas o melhor ainda estava por vir.
Ao contrario das vezes anteriores, quando saiam com a orquestra já guardando os instrumentos, pediu a conta bem antes do baile terminar.
Pensou em ir para o Hilton Hotel ou mesmo o Othon Palace, mas àquela hora, sem reserva e sem bagagem... Acabou convencendo ao recepcionista de um outro hotel lá na Rua das Palmeiras, igualmente de luxo, friccionando os dedos polegar e indicador num "argumento infalível": Precisavam descansar.
-Bem, acho que vou deixar o final para depois... Já tomei quatro chopes e o teu amigo ainda não resolveu a parada!
-Você nem imagina. Espere um pouquinho, a barca ainda não apitou, disse em tom de blague.
O agarra e puxa foi frenético num entrosamento daqueles que acontecem, ou melhor, aconteciam, no nosso caso há mais de 40 anos atrás.
- E, daqui pra frente nem cambalhota com salto carpado de cima do armário sería novidade, respondi.
-Pois é... A mulher foi aos cuidados e voltou maravilhosa.
Mas ele já foi e voltou derrubado.
A mulher dando choque e o cara apavorado. Tentaram de tudo, porém a tragédia já estava devidamente instalada e encenada.
Chegou o momento em que ela, muito delicadamente, manifestou sua estranheza. Estavam numa velocidade, uma atração irresistível e...
O que é que ela tinha feito para ele ficar tão desconcertado, triste, diferente.
O que é que tinha acontecido?
Escolhendo as palavras com grande dificuldade ele relutou, mas falou.
Até então entusiasmadíssimo, ficara intrigado e fora verificar de perto o objeto que aparecia no fundo da bolsa semi-aberta, colocada de lado sobre a cômoda, antes de ela ir para o banho: Um revolver 38 bull-dog carga dupla, de cano curtíssimo, carregado.
A musa andava armada! Será que tinha algum marido atrás dela? Um ex-noivo ou mesmo...
Foi um terror. Os ovos quentes, ostras, bife sangento do almoço etc., não adiantaram mais nada. O desastre foi inevitável.
Ela sorriu, levantou-se, pegou a bolsa, tirou a arma, e esvaziou o tambor. Depois, pegou uma carteira preta com o distintivo da Policia Civil e disse:
- Policia...
Eu sou investigadora de policia.
Vamos tomar café?
- Ele nunca mais foi ao Lord Club.
- O que? Que coisa mais maluca.
- É.
- Bem, agora quem vai sou eu! Semana que vem chego mais cedo.
Nos despedimos e ainda passei na banca para comprar o Globo, o Estado e a Folha.


Postado por Raul Almeida
Em 16/5/2015 às 12h32

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