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Sábado, 13/6/2015
Violência sexual no cinema
Guilherme Carvalhal
+ de 1300 Acessos

A série Game of Thrones recentemente foi alvo de uma série de críticas devido às cenas de violência sexual. As críticas pontuam o problema moral de apresentar em um veículo tão disseminado entre as pessoas o estupro justificado como arte, seja por questões estéticas, seja por reproduzir um comportamento que é comum em tempos de guerra, principalmente quando se fala em uma sociedade em que os valores são diferentes dos atuais.
Mostrar mulheres violadas não é uma novidade no cinema. Das cenas assim, duas são bastantes emblemáticas, uma no filme Sob o Domínio do Medo e outra em Irreversível. São dois filmes polêmicos produzidos por cineastas que costumam abordar temas pouco palatáveis em seus trabalho e que foram alvos de muitas críticas.

Sob o Domínio do Medo é uma obra de Sam Peckinpah. Esse diretor tem como característica uma espécie de aversão ao ser humano, mostrando-o sempre em seu pior lado, no qual a violência é sempre um aspecto principal. A trama do filme retrata o casal David (Dustin Hoffman) e Amy (Susan George), que está se mudando para a cidade natal dela. Chegando ao local, o casal se depara com os amigos de Amy, incluindo um ex-namorado, e começa a ser vítima de atos de violência que vão crescendo até a total agressão. E nesse meio Amy acaba sendo violentada pelos moradores da cidade.

Essa cena provoca muita revolta por aparentemente Amy gostar do ataque, expressando cara de prazer em determinados momentos. David é mostrado sempre como um homem fraco e dúbio, nunca se defendendo das pequenas violências que recebe. Já os moradores locais representam esteriótipos mais brutos. Então Amy encontraria prazer no contraponto ao marido que possui. A maneira como o casal é mostrado tem por intuito gerar tal impressão no espectador.

Sob o Domínio do Medo não é um filme especificamente sobre a violência sexual e nem sobre Amy. O personagem principal é David, que de pessoa frágil vai se insuflando até confrontar todos os moradores, em uma longa cena de violência ao final. Amy então é exposta como histérica e incapaz de suportar pressão emocional, o que aumenta ainda mais o coro de críticas contra o filme. Afinal de contas, para demonstrar a escalada de David de pessoa comum até uma espécie de herói foi realmente preciso mostrar sua esposa sendo violentada e reduzida ao mais patético estágio?

Em Irreversível, obra de Gaspar Noé, a premissa tem sua semelhanças. A obra, contada de traz para frente e com uma fotografia espetacular, mostra o triângulo amoroso entre Alex (Monica Bellucci), Marcus (Vincent Cassel) e Pierre (Albert Dupontel). Os dois disputam o amor de Alex, mostrado em pequenas cenas do cotidiano, com predileção dela por Marcus. O ápice do filme é a longa cena de estupro (cerca de 15 minutos) com direito a muito espancamento e xingamentos em um beco escuro. Os dois descobrem o que houve e partem em uma busca no submundo atrás do bandido.

Gaspar Noé é um diretor sem medos e sem papas. Ele mostra violência com realismo e sem maiores preocupações, tanto é que Irreversível foi vaiado no Festival de Cannes. Novamente a mulher violada faz parte da escalada de violência por parte do homem, esse representado como seu protetor. A diferença é que enquanto em Sob o Domínio do Medo o estupro é um detalhe, em Irreversível ele é parte indispensável da obra, sendo o ponto de ruptura dos outros dois personagens com sua tranquilidade e vida pacata. Tanto é que Pierre, mostrado como mais contido e tímido, destrói a cabeça de um cara com um extintor de incêndio (e o diretor mostra a cena com detalhes).

Além esses dois filmes mais fortes e polêmicos, em muitos outros se pode notar o estupro como parte da história. Em Ensaio Sobre a Cegueira há a cena em que as mulheres precisam se deitar com homens em troca de comida. A cena faz parte de um todo maior, que é a barbárie em que o mundo entra após a epidemia de cegueira surgir. Os valores sociais se perdem e assim a violência sexual acaba acontecendo. Nesse caso o estupro não tende a ser encarado como mera exposição ou evento simplório, mas como parte integrante da história.

Um outro filme que também aborda a questão da violência sexual é o filme Duas Mulheres, de Vittorio De Sica, adaptado do livro homônimo de Alberto Moravia. Essa obra retrata mãe e filha fugindo dos bombardeios na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Um dos pontos nessa fuga é quando são encontradas por soldados marroquinos e estupradas por eles. O filme não mostra cenas, mas deixa bem claro o que aconteceu.

Nesse caso, existem outras abordagens além da violência sexual em si. Existe um clima de guerra reinante, no qual as ordens sociais vigentes não valem mais, o que abre espaço para que aconteçam agressões de todo tipo. Um ponto crucial é o fato de uma criança ser violentada. Outro, é a especificação de serem soldados marroquinos os autores da violência. Dificilmente alguém encontra referências em algum filme de soldados desse país participando da Segunda Guerra Mundial, e quando ela ocorre é justamente em uma cena de estupro coletivo. Isso pode sugerir algum tipo de preconceito colonial, mostrando no marroquino a figura do bárbaro (se é que isso seria válido diante das tragédias do nazismo).

A lista de outros filmes é enorme. Para lembrar alguns pode-se citar Meninos não choram, Preciosa, e até Laranja Mecânica, no qual o estupro faz parte da personalidade extremamente violenta do personagem principal.

Olhando na outra ponta, é preciso pensar também nos filmes nos quais homens são vítimas de violência sexual. Alguns que vem à memória são A Outra História Americana, Um Sonho de Liberdade e Toda Nudez Será Castigada. Em duas séries de TV aparecem situações desse tipo de violência, Oz e Sons of Anarchy. Em todos esses casos a violência sexual acontece dentro de prisões. Ou seja, as regras são outras e as relações sexuais não seguem a mesma orientação heterossexual do ambiente externo. Além disso há o fator punição, como se passar por esse tipo de agressão fosse parte da tragédia pessoal vivida por cada um dos personagens.

Em Má Educação, Pedro Almodóvar aborda a história de um garoto violentado por um padre dentro de uma escola religiosa. O filme pega o gancho das muitas denúncias de pedofilia contra parte do clero católico e acaba sendo uma certa denúncia social, mesmo com as cores que o diretor espanhol dá para seus filmes. Em semelhança com os filmes já citados, existe o fator da instituição repressora (nesse caso, a escola) que deixa a vítima cerceada de ferramentas de defesa e não há alternativa exceto submeter-se.

Amargo Pesadelo aborda o homem sendo violentado sexualmente de maneira diversa, apesar de manter semelhanças com os demais filmes. Sua trama mostra um grupo de amigos que viaja para a zona rural dos Estados Unidos para praticar canoagem. Em meio aos conflitos com os moradores locais, um deles é violentado. Aqui, as vítimas se encontram fora de seu reduto (como na prisão e na escola) e o ataque tem caráter de alteridade (como em Duas Mulheres). É o outro incivilizado quem comete a agressão. O adendo é o caráter punitivo contra o estuprador, que é morto por um dos viajantes, o que não ocorreria tão facilmente no ambiente repressor.

É emblemático também o filme Saló ou Os 120 Dias de Sodoma, de Pier Paolo Pasolini. Esse filme é bizarro e extremamente polêmico, chegando a ser proibido em alguns lugares na época de seu lançamento. Aqui a violência sexual é plenamente descontrolada, atingindo a todo sem distinção de sexo. A história mostra uma Itália controlada pelos nazista onde quatro senhores forçam 16 jovens de ambos os sexos a passar por uma série de práticas sexuais pouco apropriadas a serem vistas por quem tem estômago fraco.

Pasolini é um dos cineastas mais livres que já existiram, não tendo nenhum receio em jogar o lado negativo do ser humano da maneira mais crua. Esse filme não é uma mera demonstração de violência, mas um refletir sobre a maldade sem nenhum tipo de pudor. É escrachado e forte, mas seu choque visa algum tipo de reflexão.

Violência sempre fez parte das artes. O cânone da literatura ocidental, a Ilíada, é uma história de violência. O cinema, com seu impacto visual, leva a abordagem a um outro patamar. Ele envolve as pessoas de uma forma diferente e justamente por isso se questiona qual impacto causado ao mostrar cenas assim.

A violência sexual é um crime grave e é válido pensar seu uso em caráter estético. Da mesma maneira, arte é o espaço para a livre criação, então não pode haver barreiras ao que se mostra. É um debate importante e que aos poucos precisa ser mais e mais amadurecido, por um lado para que a violência sexual não seja encarada como algo banal e por outro para evitar qualquer medida de censura contra a arte.


Postado por Guilherme Carvalhal
Em 13/6/2015 às 17h09

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