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Sábado,
28/11/2015
Gabbeh: a voz das mulheres sem voz - Filmes
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
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Não falarás de ti nem do mundo.
E a pesada voz do silêncio calou todas mulheres
daquela aldeia. Então, as tecelãs deram voz a si mesmas
urdindo o encantamento dos tapetes falantes.
Eu, tecelã das minhas origens,
aprendi a narrar mitos e fatos.
Ao tempo do filme, espalhei minha história
no chão que aguardaria meus passos à hora da saída.
Ao tempo do filme, entrelacei pontos e malhas
nos desenhos do meu tapete de palavras de lã.
Ao desfiar a matéria e as voltas dos novelos
todos me fazem perguntas que me despertam a fala:
─ Quem és?
─ Filha dos nós e pontos de areia.
─ Como te chamas?
─ Tecelã da Espera.
Eu, origem das minhas histórias,
rastreio o movimento dos teares e dos planetas.
Em busca do tempo evadido de si mesmo
minha tribo nômade atravessa desertos,
ruas, cidades. E não chega a lugar nenhum.
Irreverente, ante outras vozes dirigidas a mim,
misturo caprichos à minha fala dúbia:
─ Que ofício te completa as horas?
─ Burilar palavras.
─ Pra que servem as palavras que esmerilhas?
─ Para amansar a alma dos pés.
Nas cores desenhadas, apascento o clima dos desertos.
A cada dia, lavo o amor com tintas do cuidado.
─ Não sentes fome?
─ Me alimento de desejos.
Eu, tecelã do sol, aprendi a conduzir
as horas do plantio e do alimento.
Em tempos de penúria, meus cavalos e sonhos
carregam peso e leveza do vazio. Nas miragens
dos espelhos, colho provisões de água e frutos.
Ao tempo do filme,
avistei meu clã em nômade travessia
conduzindo pelas ruas carros e dúvidas.
Ao seu rastro, me fiz tecelã das lendas
que espero viver.
Hoje e sempre.
Depois do filme.
Postado por Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
Em
28/11/2015 às 10h50
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