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Quarta-feira, 2/4/2003
Você Leitor Hipócrita, Meu Semelhante, Meu Irmão!
Alessandro Silva
+ de 4200 Acessos
+ 1 Comentário(s)

Bem, quero dizer algo em relação à guerra, mas não serei hipócrita: não vou comentar imbuído de maniqueísmo essa nova tragédia.

Há algo por trás da guerra e que merece ser considerado: você, leitor, acha surpreendente os efeitos da violência em nível internacional, e isso sobremaneira te choca a tal ponto de não entrar na sua racionalidade: você condena e pede paz; e acaba por dizer que os homens podem resolver suas questões através do diálogo e que direitos humanos estabelecidos por uma autoridade de perfil kafkiano estão sendo violados.

Bem, é assim que você enxerga e desse ponto de partida é que pede paz.

Por trás de sua exigência esconde-se outra coisa: uma vida doméstica. E, diante dessa eventualidade, a saber a guerra, essa é a questão central: porque você limita-se a condenar a guerra?

As pessoas naturalmente exaltam o corpo. Se o leitor não, não deixa de participar desse consenso. Mas quando o físico domina a coisa mental, é inevitável condenar a violência.

Bem, acredito que você, leitor, é hipócrita até a raiz de seus cabelos. Você sabe que a guerra é conseqüência de um excesso de força; você sabe porque não hesita em dominar: isso é parte de sua natureza. Se é um excesso de força e não apenas mais um truque baixo, mais uma manobra militar para intimidação, por que condenar a guerra?

Não é verdade que os mais sadios, os que excedem em força, buscam dominar de forma asfixiante o menor?

Se você está no trabalho, ok, não há problema em fazer um empregado limpar os teus sapatos, mas quando a coisa chega no ponto mais alto, então que cesse a brincadeira?

A coisa é muito mais séria quando trata-se de matar pessoas certo?

Mas a morte só é coisa de outro mundo para os demasiadamente asseados. Quem caminha pela rua e advinha os riscos que a cada segundo corre, sabe que o sangue não vale nada.

Pois o homem é só um verme. Mesmo maquiado ou sofisticado, quando irado revela-se: é ainda demasiado selvagem.

Se é assim, porque chorar por esses pedaços toscos de carne que estão sendo retalhados por fuzis?

Você acorda na iminência de portar uma doença muito grave e desconhecida, isso te ameaça e você pode morrer daqui uma semana: quem compreende essas coisas simplesmente deixa de ser, doa-se: quem diante disso sustenta ainda o orgulho de quem diz que a guerra é coisa de primatas, sabe que no fundo o que exalta é sua própria potência mental.

É dessa exaltação de si no orgulho que brota o julgamento moral: mas devemos calar diante da guerra se mais uma vez não quisermos nos macaquear, usar algo nobre para novamente exaltarmos a nossa potencialidade: pois é impossível julgar; o que julga é parte interessada.

Sempre esperamos que o egoísmo humano não desça até aí: que se fale da guerra para a exaltação do próprio intelecto; mas temos um problema: somos jornalistas; ou seja, somos idiotas caricaturando; no desvão de imparcialidade que habita aquilo que escrevemos, em nossa pretensa objetividade é que esconde-se o que há de menos imparcial: pois quando falamos da guerra, estamos tocando um momento solene, e isso naturalmente nos soleniza.

Com efeito, o nome da guerra é elevado demais para que através dele não ergamos a nossa importância.

Não obstante, não é algo que devamos calar; pois a grandeza dos acontecimentos perdoa nosso egoísmo. Se a história possuísse consciência, não reprovaria os nossos brinquedos, a saber nosso jornal diário e nosso positivismo: entenderia como uma grande camponesa que nós necessitamos de impressionar os outros, de exercer a nossa força sobre os outros, nem que para tanto condenemos a força nos outros, nem que para tanto falemos mal da guerra que travaríamos por muito menos.

Certamente a Grande Mãe, a História, também está a par de que hoje as nossas armas - ou os nossos brinquedos - não são mais a espada e a bola de ferro, e sim a palavra escrita e a domesticação dos sentidos: ela, A Grande Mãe, entende que foram trocados os papéis, que a nossa guerra secreta é contra o impulso para a vida, é contra a exuberância, contra a vitalidade: ela sabe que a arma que nós usamos para condenar a guerra é tão possante quanto os fuzis, a saber, que a escola, a imprensa, a biblioteca e o livro movem a maior de todas as guerras contra nós: e justamente proporciona, através de nossa escravidão diante do saber e do sofismo, a maior de todas as armas: nosso alexandrinismo, nosso excesso de informação como bomba atômica diante dos estertores do corpo.

E temos um Deus, e esse Deus chama-se Renè Descartes. Com efeito, um impulso natural como o impulso à guerra deve ser condenado pela mente; afinal, a racionalidade pode solucionar.

Nós tentamos ocultar essa verdade: que o ensino, que essa disciplina escolar, que nossa política nos torna baratas tontas; que esse excesso de informação promove o charlatanismo e o obscurantismo; mas nos calamos diante disso porque o conhecimento é a nossa arma.

Mas a verdade que deveríamos entender é essa: que o racionalismo torce a nossa visão dos fatos; que a guerra que enxergamos como doentia é tão somente efeito de uma outra doença: do racionalismo. A guerra não é uma doença; há outro algo merecendo essa pecha...


Alessandro Silva
São Paulo, 2/4/2003

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01. Estado de Sítio, de Albert Camus de Ricardo de Mattos


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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
25/4/2003
18h30min
Parábens, Alessandro. Você não é hipócrita e nem democrata!!! Acho que depois dessa guerra, não deveriam enterrar as leis internacionais, como muitos fizeram em protestos pelo mundo,e sim a opinião pública. Afinal, para que ela serve? E mais ainda, o jornalismo realmente existiu? Os jornais existem? Nós, jornalistas, existimos? Quem vai saber...
[Leia outros Comentários de Izabela Pires Raposo]
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