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Segunda-feira, 2/7/2001
Luz, Câmera, Adeus Ealing
Arcano9
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Os chineses diziam, em sua milenar filosofia, que há apenas uma coisa constante na vida de todas as pessoas, na natureza, no planeta, no tempo e no espaço. E esse elemento constante é a mudança, ou "transmutação". Pois é, colega: eu escrevo agora para você e amanhã não estarei aqui. E você talvez não possa mais ler o Digestivo Cultural.

Eu sabia disso, mas foi só recentemente, fazendo minha mudança de casa aqui em Londres, que eu percebi que a sabedoria chinesa, graças a Deus, pode ser aplicada a longo prazo. "Transmutar" de casa é um porre - talvez você já tenha vivido a tortura. Eu não quero pensar em passar por isso de novo por um loooooongo tempo. Especialmente sem um carro, como ocorreu comigo por aqui.

Estressante, desgastante, extenuante que foi carregar malas e malas para meu novo lar em Plaistow, no leste londrino, pelo menos uma dádiva todo esse trabalhão me concedeu. Encaixotando as coisas, por um momento, numa bonita tarde de sol e céu azul na capital britânica, sentei-me em minha cama para enxugar o suor e contemplar os raios dourados das quatro da tarde, que atravessavam a janela e se aconchegavam no carpete bege surrado. Puxa. Onde é que eu estou? Por que nunca olhei em volta? Em volta neste bairro tão bonito, neste subúrbio tão encantador?

Ealing, zona três, oeste. Se você já viveu em Londres, talvez discorde. Quais são os melhores lugares para se viver nesta cidade? Os mais chiques, os mais badalados, os mais caros? O melhor para se viver é sempre o lugar onde você está tranqüilo - e eu, bem, na medida do possível, com meu trabalho chato e poucas horas de sono diárias, estava em paz sim, em Ealing. Quanto aos lugares mais chiques, badalados, etcétera, no norte estão Highgate e Archway, à beira do bucólico Hampstead Heath. No sul, ficam as mansões de Surrey, lá e além de Croydon. No leste há as Docklands, desabrochando como cheirosas flores de brejo, nas margens outrora infectas do Tâmisa, e no oeste... além dos tradicionais Mayfair e Kensington, perto do centro, estão as limpas, plácidas, e reconfortantes águas do mesmo rio, antes de atravessarem Londres. As águas que banham os maravilhosos subúrbios de Kingston-upon-Thames, Richmond, Twickenham, Isleworth, Brentford, Kew... tudo pertinho de Ealing.

Guarda-chuva à mão (elementar, não vamos ser tão imprudentes!) desvendo a Broadway. A Broadway e a Mall são as principais ruas de Ealing, que é um dos finais da linha vermelha e da linha verde do metrô, no oeste. Sim, na saída da estação a eutrofização londrina te contamina já à distância, as adolescentes cuspindo e gritando fuck, o medigo local, o inevitável vendedor de Big Issue (a revista para arrecadar dinheiro para os sem-teto). Mas vencendo os arrecifes da podreira, o sorriso dos narcisos tardios ecoa prazeirosamente em meu espírito. As flores amarelas, as batatas fritas amarelas no melhor fish and chips, o melhor para mim, o melhor dos meus invernos, longe da família, longe de vocês. Lembro-me das noites de vento frio e garoa gelada, perto do pub Town House e do North Star. Ah, delícia! Você precisa conhecer esses pubs! Quer uma pint? Mais tarde? Eu pago, eu pago. Por minha conta.

Descortina-se o Ealing Green, uma pracinha, o pedaço que mais ignorei em dois anos de Ealing. Ironicamente, o pedaço famoso deste subúrbio. Eu não sabia, mas este bairro e um conjunto de casas no Green representam uma tradição de grande orgulho para os londrinos: o cinema.

Lá na praça, a um passo da Broadway e da Mall, fica a sede dos Estúdios Ealing. Eu já havia visto o cartaz na entrada, mas reconheço que nunca dei muita bola, parecia um museu ou coisa parecida. Foi então que, numa das infinitas viagens com malas pesadíssimas da mudança para o leste, o Evening Standard informa que os tais estúdios no subúrbio londrino haviam acabado de receber sinal verde para um projeto de revitalização no total de 50 milhões de Libras. Com o dinheiro serão construídos novos escritórios de produção, serão feitas reformas nos estúdios e será comprado o mais avançado equipamento, tudo com o objetivo de trazer de volta uma era de ouro para Ealing, cujo ápice e epitáfio se deu em 1955 com o excelente The Ladykillers, estrelando Alec Guinness e Peter Sellers.

Ealing era o coração pulsante da produção cinematográfica inglesa no final dos anos 40 e nos anos 50, produzindo basicamente comédias de costumes. Os registros locais indicam que os estúdios foram construídos em 1931. Em 1938, o produtor de teatro Basil Dean, responsável pelo empreendimento, abandonou a direção dos estúdios entregando o leme para Michael Bacon, que implantou uma nova visão gerencial para o cinema produzido em Ealing. Ele se propôs a produzir filmes de alta qualidade, que provocassem reflexões e discussão, com os orçamentos mais baixos possíveis. Na época da Segunda Guerra, Ealing produzia basicamente curta-metragens patrióticos e longas ufanistas de guerra, nada particularmente novo. No pós-guerra, porém, os estúdios começaram a lançar títulos com atores promissores como Alec Guinness, em filmes que ambicionavam mostrar o cotidiano dos britânicos, relaxando e fazendo rir. Não faltaram critícas cáusticas à sociedade na produção desta época. Kind Hearts and Coronets (1949), com humor negro e um roteiro requintado, conta a história de Dennis Price, que durante o filme procura matar um a um os membros da família D'Ascoyne, todos eles interpretados por Guinness. Já em The Man in the White Suit (1951), Alec Guinness interpreta um cientista que, ao desenvolver um tecido indestrutível, passa a ameaçar a indústria têxtil britânica. Depois veio o tal The Ladykillers, em que Guinness encarna o professor Marcus, líder de um grupo de gatunos que envolve uma viúva num assalto.

Depois do seu auge, os Estúdios Ealing não se aposentaram. O local foi comprado pela BBC em 1955 e em 1995 pela Escola Nacional de Cinema e Televisão (NFTS). Durante todo o período, Ealing continuou sendo usado para fazer filmes ou partes de filmes, alguns dos quais provavelmente você conhece. Nos últimos anos vinha-se discutindo propostas para modernizar os estúdios e falou-se até em fechá-los.

Agora, a pergunta: Como eu só descobri tudo isso no meu último dia por lá?

Não tenho uma resposta. Talvez você seja como eu - não me interesso muito pelo nome dos estúdios, vou ao cinema para ver atores de quem eu gosto, ou adaptações de livros que eu li, ou para conferir filmes que me falaram que são bons. Pois, é, mas olha que curiosíssimo (mais elementos inexplicáveis no meu "Tao" de mudança). Há algum tempo eu fiquei sabendo que estavam filmando por aqui na Inglaterra A Importância de Ser Ernesto, com Rupert Everett, Colin Firth e Judi Dench. Me empolguei - adoro Oscar Wilde. O que eu só descobri na matéria que li no Evening Standard é que o filme está sendo feito em Ealing. Outra notável: George Lucas esteve lá no início de junho, supervisionando a filmagem de algumas cenas do próximo episódio da saga Guerra nas Estrelas.

Well, fascinado que estou por te decifrar, o adeus é inevitável. Bye, bye, Ealing. Entro no metrô da linha vermelha e as portas se fecham. Te conheci, antes tarde do que nunca, eu te conheci. Acho que agora, pelo menos, eu vou tentar prestar mais atenção ao bairro onde vivo. Ou vou me mudar com mais freqüência, para que, impulsionado por essa nostalgia inevitável, me force a conhecer as esquinas de todos os dias.

(Não, eu já disse, NÃO QUERO me mudar de novo tão cedo).

Para ir Além

Ealing Studios

Notas

Pobreza de Vanguarda

É impressionante, mesmo já tendo terminado há seis meses, o quanto o intenso século XX é ainda capaz de me surpreender. De que forma? Arte, por exemplo. Eu não acreditava que houvesse algum movimento do qual eu simplesmente não tivesse ouvido falar. Pois foi aberta na Tate Modern uma mostra com os nomes mais importantes da chamada Arte Povera, ou "Arte Pobre", uma vanguarda surgida na Itália nos anos 60. O tal movimento é pobre não porque fala exclusivamente de pobreza ou porque surgiu em algum cortiço de Nápoles (o que é errado, em ambos os casos), mas sim pela predileção no uso de materiais do dia-a-dia nas obras, como grãos de café e lama. Os artistas também usavam fontes de energia, como carvão, e até mesmo animais vivos nas instalações. Parece simples, mas até então isso não havia sido feito - e representou uma revolução. Algumas obras que me chamaram a atenção: o iglu de lama de Mario Merz e a curiosa Yearly Lamp de Alighiero Boetti, uma caixa de madeira contendo uma lâmpada que se acende aleatoriamente por 11 segundos todos os anos. A exposição prossegue até 19 de agosto.

Rússia Império, Russia País

Dez anos do fim da União Soviética em dezembro - e os russos ainda se sentem soviéticos. Putin diz a Bush que não vai aceitar a inclusão dos países bálticos na Otan e que um novo sistema antimísseis americanos vai desencadear uma nova corrida armamentista. A verdade é que o gigantesco país euro-asiático se tornou refúgio do pior do capitalismo - leia-se máfia, prostituição, corrupção - e muita gente tem saudade dos tempos em que o mundo devia genuíno respeito a Moscou. Geoffrey Hosking, no seu recém-lançado Russia and the Russians: a History, descreve os dilemas do país, que busca desesperadamente sua identidade. A Rússia é Rus', o país original, cuja sede um dia foi Kiev e logo depois passou a ser Moscou; ou é Rossia, o vasto império que engoliu o mar de Aral e as estepes mongóis? O autor sustenta que, preocupada em manter seu status de gigante poderosíssimo, a Rússia não teve tempo de desenvolver e consolidar suas instituições mais básicas. Como se isso não bastasse, a Rússia marca a fronteira entre o Oriente Médio, a Europa e a Ásia - e o rico caldeirão de culturas, religiões e etnias certamente explica a propensão do país aos conflitos. Russia and the Russians: a History foi publicado pela Penguin, 25 libras.

Big Tédio

Big Brother 2 no Channel 4 aqui da Grã-Bretanha. Novo sucesso... mas na primeira vez era mais legal. O número inicial de participantes permaneceu o mesmo (10), a casa em que estão confinados aumentou, e o impacto da novidade já era. E, sem a novidade, você começa a se sentir um idiota assistindo por meia hora às pessoas escovarem os dentes, vestirem cuecas, conversarem sobre a sexualidade dos outros. Contudo, se há uma coisa que mudou e foi bom foi o fato de terem sido incluídos no grupo, desta vez, dois gays - um bem afeminado. Ele é a alegria da casa. Mas, como disse Salman Rushdie num excelente artigo sobre a TV de Realidade no The Guardian de 9 de junho ("Reality TV: a dearth of talent and the death of morality - Salman Rushdie on the perils of voyeurism"), vai chegar um momento em que os produtores desse tipo de atração vão ter que criar perigos reais para os participantes enfrentarem, a fim de surpreender e excitar o telespectador. Eu sugiro soltar crocodilos famintos dentro da casa.


Arcano9
Miami, 2/7/2001

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