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COLUNAS

Terça-feira, 10/2/2004
Teoria da Conspiração
Fabio Silvestre Cardoso
+ de 11200 Acessos

Há cerca de dois anos, o jornalista norte-americano Daniel Pearl foi assassinado por radicais islâmicos em Karachi, no Paquistão. Sua morte gerou comoção em toda opinião pública mundial, tanto pela forma como foi morto (Pearl foi decapitado), como pelo aparente motivo de sua morte: ele era americano e judeu, razão "justa" numa jihad (que significa guerra santa; designa o dever mulçumano de defender o islã de inimigos e infiéis). No entanto, há controvérsias. É o que tenta provar o novo livro do filósofo francês Bernard-Henri Levy (mais conhecido como BHL na França), notório por ser franco-atirador e polemista nato. Em Quem Matou Daniel Pearl? (Ed. A Girafa, 468 págs), o filósofo ensaia uma reportagem romanceada sobre o assassinato e também acerca do cenário sombrio que, em tese, encobriu as verdadeiras razões da morte do jornalista norte-americano.

Deste modo, vale a pena ressaltar o interesse e a obstinação de BHL para contar a história. São expressas no prefácio, aliás, verdadeiras declarações de comprometimento com a reportagem em questão. Conforme diz o próprio autor: "Este livro começa em 31 de janeiro de 2002, dia da morte de Daniel Pearl, jornalista norte-americano seqüestrado e decapitado em Karachi... Contarei como e por que decidi naquele dia dedicar o tempo que fosse necessário [...] para elucidar o mistério de sua morte. É o relato dessa investigação, dessa busca da verdade, que constitui o tema deste livro."

Com efeito, para realizar essa reportagem, BHL foi ao Paquistão, aos Estados Unidos, a Sarajevo, a Kandahar e a Londres. O estilo adotado pelo autor para descrever os cenários e narrar os fatos remete ao "jornalismo literário", cujas técnicas lembram um romance de ficção, com diálogos e a participação do narrador em primeira pessoa. É o estilo predileto de alguns dos grandes nomes do jornalismo mundial, como os norte-americanos Gay Talese e Norman Mailer. Ocorre que, antes de utilizar tais ferramentas para descrição de personagens e cenários, esses autores se destacam pelo apuro e precisão na checagem das informações. Ou seja, são livros tão bem escritos quanto precisos. No caso do livro de BHL, há uma preocupação excessiva em descrever os fatos de maneira impressionista e um certo descuido para com o aspecto factual. Dessa maneira, em alguns momentos tem-se a impressão que são os fatos que tiveram que se ajustar à narrativa de BHL.

Não fosse assim, não haveria trechos em que o autor assevera sua displicência: "Será que ele realmente disse aquilo? Será que ele realmente disse que ele disse? Ou será que estou divagando? Ou entendi mal? Não sei." Com isso, o livro - ou melhor, a reportagem - ganha um tom assaz inflamado e desliza para o tom opinativo e de livre interpretação dos fatos. Assim, embora o filósofo aponte para algumas teorias interessantes, no geral, ele não consegue avançar, dando a entender que a cada início de capítulo sua investigação começou do zero e, então, o que foi lido até ali foi desperdício de tempo. É o que acontece no capítulo "Visita aos pais coragem". Em vários momentos, tem-se a sensação de que algum fato que não foi revelado virá à tona, pois os pais insistem em rememorar as imagens do assassinato que foram veiculadas na imprensa ou, ainda, em procurar fotos que continham indícios que levariam a outro rumo na investigação. Contudo, nada de novo aparece - a não ser o detalhamento (quase) sensacionalista das feições e das lágrimas dos pais do jornalista a toda hora que se recordam do filho.

Mas é a partir da segunda parte do livro, quando o perfil de Omar Sheikh é traçado, que a tese principal da reportagem passa a ser construída: para o autor, Daniel Pearl foi assassinado porque investigava possíveis ligações entre o serviço secreto do Paquistão, cientistas nucleares paquistaneses e a rede Al-Qaeda. Assim, com base nas investigações romanceadas de BHL, a morte do jornalista teria sido um crime de Estado. No entanto, a reportagem não consegue se sustentar, pois justamente nos momentos em que as provas se fazem necessárias, o autor utiliza a imaginação para preencher o vazio de fatos. É aqui que o leitor tem a sensação de ler uma teoria da conspiração e não uma investigação jornalística, pois, apesar de bem elaboradas, as hipóteses do autor carecem de comprovação.

Além disso, é no mínimo curioso que BHL refute, ao longo do livro, a idéia do conflito de Civilizações, tal qual fora previsto por Samuel Huntington em seu livro O Choque de Civilizações. Isso porque, sempre que pode, Levy extravasa sua indignação contra o fanatismo religioso do Islã. Para quem não leu, Huntington prevê, em seu livro, justamente o embate entre o fanatismo islâmico e os ideais do Ocidente. Ainda que indiretamente, BHL corrobora a tese do acadêmico norte-americano, visto que se refere aos assassinos como sendo "Loucos de Deus", e não como sendo apenas um grupo terrorista. Ou seja, por uma via diferente, o autor acaba por apresentar uma explicação simplista para justificar sua indignação com o islamismo - novamente, apenas o estilo sustenta as opiniões.

Nota-se, então, que a investigação poderia ter alcançado um resultado bem mais interessante do que este romance-reportagem. Justamente porque o escritor francês foi aos lugares, fazendo pesquisa e entrevistas in loco - atitude cada vez mais rara no jornalismo burocrático que a maioria das redações de jornal propõe hoje em dia. Ainda assim, deixou de lado o compromisso com o fato e com a precisão das informações fornecidas no livro. São detalhes cruciais, desses que são capazes de transformar uma teoria da conspiração em hipótese provável; ou, ainda, um simples romance investigativo em grande trabalho de reportagem.

Para ir além






Fabio Silvestre Cardoso
São Paulo, 10/2/2004

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