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Sexta-feira, 18/3/2005
Autores novos
Julio Daio Borges
+ de 11700 Acessos
+ 12 Comentário(s)

Quem me conhece sabe que eu sou um entusiasta da minha geração. A geração que surgiu através da internet, como eu costumo falar. Falei já, até, de uma geração que vai mudar o panorama das letras brasileiras. E, no fundo, eu continuo acreditando nisso, mas, às vezes, quando leio os livros ou as seletas de contos dos meus contemporâneos, me desanimo. Não só por eles, que publicaram. Mas por mim e por todos os outros que, com ambições literárias ou não, permanecem inéditos.

Eu escrevi, meio na base da gozação, meio a sério, que somos "apocalípticos, disléxicos e desarticulados", mas, embora seja uma boa piada, e até convincente por sinal, sei que o buraco é mais embaixo. Beeem mais embaixo. Então este texto é uma tentativa de identificar as falhas na nossa formação e o porquê delas redundarem em produções literárias, muitas vezes, tão sofríveis — que eu não sei se têm salvação.

Tentei, uma vez, explicar como nascemos no vácuo pós-ditadura e como a televisão ocupou um lugar muito maior do que deveria ocupar, na nossa formação. E, de fato, por mais que eu não seja de esquerda, nem muitos menos uma viúva de 68, o vácuo está aí para quem quiser enxergar. A produção cultural do País praticamente se encerrou no final dos anos 60 e — outra coisa que ninguém pode negar — assistimos a um renascimento só a partir dos anos 90, a começar pelo cinema.

Então, você imagine crescer nos anos 80. O que havia sobrado de conteúdo intelectual? Alguns sobreviventes da MPB que, mesmo que tivessem sido exilados, já haviam voltado — embora qualquer "conteúdo" que tivesse restado já havia sido devidamente neutralizado, ou então o seria pela efusão do rock BR. Foi a década do Realce, de Gilberto Gil, tão xingado por Caetano Veloso, foi a década dos especiais do Roberto Carlos, mais romântico do que nunca, foi a década do relativamente insosso Chico e Caetano (para não dizer que a Globo implicava com o primeiro) e foi a década da morte da Elis Regina, e da fase quase 100% ecológica de Tom Jobim ("Passarim" afora).

Ou seja, essas pessoas não tinham mais a influência que tiveram nos anos 60. Por outro lado, estava estourando uma turma barulhenta e gritona, mas que se sabia silenciada também pela "revolução cultural" brasileira: "Nos empurraram com os enlatados, de USA, de 9 às 6". Esse é um dos versos mais emblemáticos para mim dessa questão. Os outros estavam cantando: ou que usavam óculos; ou que iam para a Califórnia; ou que iam invadir sua praia; ou que eram boys (office boys). Não estou cobrando engajamento desse povo, porque pessoalmente acho uma coisa lamentável — isso de ficar raciocinando em cima de velhos padrões e de ficar querendo retroceder para 1964 ou 1968. Acontece que percebo, também, um negócio muito óbvio nesse pessoal: não sei se consciente ou inconscientemente, mas, sim, eles eram alienados. Como nós também somos; à nossa maneira, mas somos.

Continuando. Na música não havia nenhuma esperança. No cinema, também, não. Depois da explosão das pornochanchadas nos anos 70, o que nos restava era assistir a uma nesga de Sala Especial, às sextas-feiras, na Record. O cinema brasileiro havia se reduzido a produções como as de Walter Hugo Khouri, muito incensadas no momento em que ele morreu, mas que se limitavam a um hedonismo brega e metido a besta — como o Eu, de Tarcísio Meira. E, ah, claro, havia, anualmente ou bienalmente, as fitas dos Trapalhões, mas eu ainda não cheguei na televisão.

O que mais poderia haver de arte nesse cenário? A literatura, que em certa medida é aqui o que mais importa, havia morrido de vez. Todos os escritores, ou potenciais escritores, haviam sido presos e/ou exilados antes. Vamos recapitular: a patota inteira do Pasquim, Antonio Callado, Ferreira Gullar, Fernando Gabeira... Os grandes vultos de outras décadas, literatos de verdade, se se for considerar, já estavam, nos anos 80, suficientemente velhos ou então inócuos. Lembro do Drummond como o "maior poeta" apenas, e como o combalido octogenário que — opa, deixaram escapar — desejava a filha, e que se encontrava a léguas de distância de Rosa do Povo, por exemplo. Lembro também do Fernando Sabino, que fazia aparições ocasionais na televisão, mas que só voltou a escrever, de verdade, na década seguinte, para dar um tremendo de um fora, que foi Zélia, uma paixão.

Estávamos, portanto, reduzidos aos infantis e aos infanto-juvenis, da série Vaga-Lume ou similares. E os lemos, por que o que mais havia para ler? Eram, ou bem infantis mesmo (vide Marcelo, marmelo, martelo, de Ruth Rocha) ou, então, bastante fantasiosos (vide as aventuras de Xisto, de Lúcia Machado de Almeida, e A montanha encantada, de Maria José Dupré). Marcos Rey havia sobrevivido aos anos de chumbo, mas só porque embarcara numa linha meio detetivesca (O Mistério do Cinco Estrelas) ou meio romanesca (Memórias de um Gigolô). Os autores populares, ou populistas, inchavam e dominavam a cena, como Jorge Amado — que, embora fosse comunista na origem, havia caído numa fórmula, que Paulo Francis classificou como "uma mistura de sacanagem e violência, sem ao menos o vigor ideológico, o talento primitivo e forte".

A eterna briga entre dramaturgos e autores de telenovela já havia começado. Pois, como brincara Nélson Rodrigues, que morreu — como Vinicius de Moraes — em 1980, quem era mais importante: Dias Gomes ou, sua esposa, Janete Clair? Foi o boom do padrão Globo de televisão. A ponto de, na nossa geração, sem brincadeira, termos mais referências de novelas das 6, das 7 e das 8 do que literárias, por mais que tenhamos lido ou tentado ler. Talvez por peso na consciência, os Globais decidiram resgatar os autores de verdade, nas tais "Séries Brasileiras". Mas, em vez de incentivar a leitura dos nossos mestres, eles geraram a falsa sensação de já se conhecer a obra previamente (pra que ler então?). Parecido com o que os filmes fizeram.

Se o cinema nacional não existia em termos de salas de cinema, os "enlatados", da letra do Legião Urbana, tomavam conta. Crescemos sob a influência dos primeiros blockbusters de sexo e violência. Nossa geração era a primeira a descobrir o sexo depois que as comportas haviam sido liberadas (pelas gerações anteriores, das décadas de 60 e 70). Então eram aquelas comédias universitárias, ou (sub)urbanas, sobre iniciação sexual: as primeiras saídas com o carro do pai; os primeiros bailinhos (alguns bailes de formatura — os proms); e o tema ainda incipiente do sexo livre e descompromissado, de um casal que, de repente, se encontrava por acaso, sei lá, numa cidade.

A violência vinha graças ao trio Stallone, Schwarzenegger e Bruce Willis, o do Planet Hollywood, que preparava o terreno — agora não tenho certeza — para os videogames. Fomos a primeira geração amplamente consumidora de jogos eletrônicos. E a primeira, também, a ter contato com o computador pessoal (e com o videocassete). Talvez, na "programação" que vinha dos Estados Unidos, eles já previssem que a nossa geração conviveria com guerras (no front oriental) e que precisaria, portanto, deglutir e processar a violência sem sobressaltos. Os videogames, além de reforçar esses conceitos (onde a fronteira entre virtual e real já começava a nublar), introduziam suavemente o computador e a noção de rede, utilíssima na implantação do Big Brother global. Mas devo estar divagando.

Não é à toa que a década de 90 começaria com uma guerra, a do Kuwait, e, no Brasil, com a continuação de um festival de rock, o Rock in Rio II. A década de 90 foi uma tentativa, falha a meu ver, de prolongar a alienação dos anos 80. A começar pelo rock, que continuava, só que cada vez mais pesado, reforçado pelo surgimento da MTV, via grunge. A TV a cabo faria uma abertura lenta e gradual mas, "assegurada" (e talvez até sabotada) pela própria Globo (como negócio): garantiria a prevalência do horário nobre — alimentado pelas mesmas telenovelas, que continuam influentes até hoje.

O que eles não previam, ou previam mas subestimavam, era a internet, a partir da metade da década anterior. Na verdade, a "programação" já começaria a falhar através das injunções do cinema nacional — embora grandes ícones, como Cacá Diegues, tenham se convertido à agenda de apenas divulgar o Brasil no exterior, como marca.

A era eletrônica dos anos 2000 democratizaria os meios de produção, deixando a coisa correr, fora de controle — e uma geração inteira abriria os olhos, como se despertada do coma, para verdades ancestrais...

Mas eu não queria transformar isto num documento político (já transformei?). Apenas queria mostrar, e me empolguei um pouco (confesso), que não temos formação intelectual para nos lançar rumo à literatura — apesar da internet. A internet, às vezes quando eu olho, me parece uma faca nas mãos de um bebê. Ou o acesso irrestrito, à mais poderosa ferramenta de comunicação já inventada, a uma geração que, vamos admitir, não sabe se expressar, não sabe organizar o próprio pensamento, não sabe de onde vem e, muito menos, para aonde vai. A minha geração.

Quando eu comecei a escrever, vou admitir igualmente, lá na longínqua década de 90, não tinha formação literária alguma. Tinha vontade. Então meus "contos" saíam como uma mistura malfeita de Comédias da Vida Privada de Luis Fernando Verissimo, que eu lia no jornal (que nem literatura é — que é excelente crônica, isso sim), com livros de terror do Clive Barker e do Stephen King (que é o que eu conhecia bem, depois de ter sofrido as injunções cinematográficas da ficção científica — aliás, nem falei sobre isso), com laivos de música popular (rock principalmente), com pitadas de comédia universitária norte-americana. Esse era o produto, sofrível, da minha imaginação. Um refugo, liquefeito, do que eu havia consumido, quando criança e adolescente, em toda a década anterior, a dos anos 80.

Felizmente, nos anos 2000, através do Digestivo, pude despertar da hibernação (como muita gente está virtualmente despertando, eu vejo). Li o que me havia sido negado, ou o que nem sequer havia chegado até mim, nas décadas anteriores. Vale recordar que o monopólio das editoras, 10, 20 anos atrás, era o mesmo dos canais de televisão: só existia aquilo e pronto. Sem opção. Ocorre que essa percepção do mundo em volta, e do que existia antes de nós, apenas confirmou minha falta de preparo, e a de meus contemporâneos, para atacar as letras comme il faut.

Assim, quando me caem nas mãos os contos ou romances dos meus colegas de redação virtual, eu enxergo neles as mesmas falhas que enxergava na minha produção inicial. E eles ficam bravos. E não aceitam que eu venha a criticá-los. Infelizmente, porém, hoje eu sei o que é literatura — e sei que eles não estão fazendo literatura de verdade. Porque não têm formação para tanto.

Logo, se o sujeito é "poeta", vai puxar inspiração nos compositores populares. Ora, apesar de sua grande importância política (nos anos 60) e comportamental (nos anos 80), eles não são poetas. Cazuza não é; Chico Buarque não é. Muito menos Caetano Veloso e Renato Russo. Em vez de o sujeito ir lá ler Manuel Bandeira, João Cabral de Mello Neto e Carlos Drummond de Andrade, vai, no máximo, ouvir Vinicius de Moraes, rir com os trocadilhos de Paulo Leminski (que era muito hábil nisso mas só nisso) e incorporar alguma informação publicitária, de slogans e piadinhas breves, que nos são bombardeadas de hora em hora. Você me desculpe mas não tem como sair poesia daí.

Agora, se o cara quer ser "contista", vai mamar obviamente no Verissimo, que eu já citei. Mas que não escreve conto. Ou vai usar as referências cinematográficas que cresceu recebendo; mas diálogo de filme, ou até roteiro, por mais genial que seja, não é literatura. Portanto, em vez de ler — aqui é fácil — Rubem Fonseca, Machado de Assis ou Guimarães Rosa, o cara prefere se debruçar sobre os "contistas" interneteiros que, se não estão tão perdidos quanto, estão até mais perdidos do que ele.

Dos romancistas, então, putz..., nem quero falar. Se o sujeito não domina a forma curta, que é o conto, como é que vai dominar a forma longa, que é o romance? Aí saem livros macarrônicos que os resenhistas abandonam logo no primeiro parágrafo (com razão) ou que não lêem at all...

A solução seria que houvesse editores como antes. Editores de livro. José Olympio e Ênio Silveira, por exemplo, em suas respectivas épocas, foram editores; um da editora que levava o seu nome e o outro da Civilização Brasileira (ambos selos, hoje, da editora Record). Um editor que me passa pela cabeça, e que passa pela cabeça de todo mundo a partir da década de 90, é o Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras. É a ele que devemos, refresquemos a memória alheia, Diogo Mainardi (o escritor), Fernando Morais e Ruy Castro, os biógrafos, todo o último Rubem Fonseca e até algumas bombas (que me desculpe o Luiz Schwarcz, mas é verdade) como Jô Soares, Chico Buarque e Caetano Veloso (em livro). Como sabe quem acompanha o setor livreiro, ele revolucionou o mercado editorial local.

Para o nosso azar, a editora dele cresceu, foi comprada parcialmente por um grande grupo financeiro, e hoje o Luiz Schwarcz tem mais responsabilidades (e deveres) de empresário do que de editor. Não vai nos ajudar. Sorry.

E as pequenas editoras? As pequenas editoras que se formaram, neste recente boom, são: ou pertencentes a pequenos grupos de escritores, que se ocupam de se promover uns aos outros; ou permissivas demais, projetando um lucro futuro, em cima de autores jovens (ou seja: não vão dizer a eles que eles são ruins; vão primeiro publicá-los, ganhar dinheiro em cima, vender seu passe para grandes editoras — se for o caso —, e depois tchau).

A solução, então, é se jogar debaixo da ponte? Não. Acontece que: ou nós veremos escritores geniais se formando por si mesmos ainda nesta geração (o que, em algumas civilizações, até acontece); ou então vamos ter de esperar um amadurecimento geral (de escritores, de editores e de leitores) para garantir uma estrutura, e uma formação, a gerações vindouras. Eu adoraria abrir os livros dos meus contemporâneos e me encantar com eles, mas, tirando duas raríssimas exceções, de Fabrício Carpinejar (na poesia) e de Michel Laub (na prosa), isso não acontece agora.


Julio Daio Borges
São Paulo, 18/3/2005

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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
18/3/2005
03h34min
Parabéns pelo texto – os seus têm sido os melhores do Digestivo (e não vai me classificar como o “Me Engana Que Eu Gosto” ou o “Super Amigo”...) Um comentário (divagação?): Virou moda, sobretudo aqui no Brasil, falar do nada. Já vi cronista ocupando a cara e nobre página dos nossos jornais começando textos com um “não sei bem sobre o que escrever hoje”, ou um “não entendo nada” disso ou daquilo. Alguns até se orgulham da ignorância, por exemplo, de temas políticos, econômicos, científicos, filosóficos. Dizem que é a “resposta dos sensíveis à globalização fria e desumana do mundo de hoje” (aí, sim, estão divagando...) E, enquanto um Gore Vidal, ou um Philip Roth, um Updike, lançam-se sobre os grandes temas da humanidade, sem temores, aqui ficamos no jogo fácil do "croniquismo" (Rubem Braga, gênio do gênero, nos deve essa, mas ele tem crédito de sobra). Escritores de gerações mais velhas, talvez cansados das desilusões do mundo real, têm padecido desse medo. Os mais novos, nossos blogueiros candidatos a escritores, por exemplo, idem. Neste caso – e aí entra seu texto –, são mesmo vítimas da surrada formação intelectual que tivemos.
[Leia outros Comentários de Heberth Xavier]
18/3/2005
17h19min
Julio, é preciso coragem para se dizer incapaz. Sou de uma geração bem anterior à sua. Sou nascido nos anos 50. Muito velho, talvez, para meter minha colher de pau nesse angu. Mas, diante do seu texto, fico mais à vontade para dizer que, já escrevi sobre o tema em meus comentários, me assusto, incrível, mesmo passando pelas mudanças que minha geração passou, com a voracidade com que esses jovens se lançam às páginas brancas. Daí, perdoem-me se sou repetitivo, a questão colocada por Richard Senneth em "Declínio do Homem Público": "por que há tantos poetas e menos leitores de poesia?" Não tenho fórmulas, receitas ou certezas. Minha geração participou de movimentos sufixados por "ismos", que a mim serviram para que eu carregue a seguinte questão: "mundos ideais se existirem, só em nossas vãs cabeças." Entretanto,a porta da literatura era aberta para nós por Monteiro Lobato. A ele se seguiam: Manuel Antonio Almeida, Taunay, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Clarice Lispector, Lima Barreto... No cinema vivemos "O Cinema Novo", Glauber e outros, no teatro o grande mestre, entre outros, Ziembinski, na música Ary Barroso, Noel Rosa... Mesmo providos de uma pequena bagagem não nos atrevíamos a sair com nossos cadernos a querer transformá-los em espelhos de nossos autores. Cadernos que só se fechavam após muitas horas de cadeira. Hoje, parece-me que vivemos a ânsia das páginas brancas que devem ser preenchidas como a produção em série de "chips". Mas, penso que nem tudo está perdido. Repito, desculpem-me os leitores: há duas formas de se ler o holocausto uma pela visão do Primo Levy e outra pela visão do Imre Kertész. Você colocou a questão, penso que já demos um grande passo.
[Leia outros Comentários de luiz fernando]
19/3/2005
12h24min
Olá, gostei muito do que li acima, e se me permite, vou fazer um comentário. Essa "retrospectiva" não se aplica a todos, é a minha opinião. Muitos da nossa geração - também tenho 26 anos, e sou brasileiro - não gostavam, quando mais jovens, de Legião ou Hollywood; "consumiam" cultura européia e asiática; e é preciso distinguir, creio, a vida pessoal de cada um do contexto histórico vivido. Como fiz faculdade de História, na USP, creio que conheci muita gente que poderia ser incluída no rol de importantes intelectuais; e infelizmente, para nosso azar, conheci poucos que se aventuraram literariamente. (Tenho um amigo, porém, argentino, que tem uma vasta bagagem cultural e é escritor - um ótimo escritor, por sinal). Concluindo: sempre vão ter os "egóticos", como diz o Ruffato, e os que vêem, na literatura, um sentido autêntico e genuíno. Mas não creio que seja apenas uma pessoa ou outra desse último grupo - em termos de nossa geração; e também acho que o Brasil tem historicamente uma inexpressividade cultura-intelectual, em nível mundial, que faz com que nos obrigue a lutar para evoluir nesse cenário todo. (Você próprio pode ser considerado um literato genuíno, ao lado de Michel Laub e Carpinejar, não?) Um abraço, Denny
[Leia outros Comentários de Denny Yang]
20/3/2005
17h37min
Cara, não vou fazer considerações nem digressões sobre o conteúdo dos seus escritos, nem concordar ou discordar de nada. Já deve haver muita gente fazendo isso. Desejo apenas expressar um "feeling" pessoal sobre o conteúdo (talvez ancestral) da sua psiquê literária: Tu é bom para cacete!!! É do ramo! Nasceu para a coisa. Pode prosseguir... Isso não é pouco... nesses tempos, sobretudo. Espero que não se envaideça, pois é justamente esse o problema de uma minoria intelectal no Brasil - a vaidade. Gosto do seu jeito de colocar as coisas, pois não é arrogante e sempre faz sua mea-culpazinha diante dos temas que pretende abordar, fazendo cruzamentos, associações, estabelecendo elos e paralelos diversos, enfim, argumentando como um legítimo homem do pensamento e não apenas como "intelectual". Cientistas e professores hoje reconhecem os erros cometidos por seus predecessores, mas são considerados apenas precursores. Temos imensas bibliotecas repletas de livros impressos em todos os idiomas, mas ninguém se acha autorizado ou mesmo habilitado para eliminar um só volume com inúteis fantasias ou estultícias escritas com evidente intuito de pôr-se em evidência. Com presunção acadêmica, os próprios homens se subdividem em classes e graus, dando prudentemente às Academias o posto de honra. Há um grave perigo no ar, que ameaça os homens e toda a Criação divina: não reconhecer os próprios erros... isso significaria, em outras palavras, perpetuá-los e agravá-los. Isso impede a evolução, o progresso para o aperfeiçoamento e ainda que esse meu "feeling" esteja tomando a dimensão de um discurso científico, é assim mesmo que a literatura deveria ser abordada daqui para a frente, com rigor científico, sob a pena de se tornar um fóssil cultural... Um abraço, Marta
[Leia outros Comentários de Marta Verlain]
27/3/2005
15h56min
Olá, Júlio. Tenho prestado mais atenção às coisas que você escreve e devo dizer que, neste caso, sou obrigada a concordar. Acredito ser de uma geração pouco posterior à sua - sou de 83 - mas tenho muito desta sensação de desgarramento em mim: faltam balisas culturais com as quais possa me identificar e que possa chamar de grandes balisas. Somos de um tempo que não deixará clássicos - e sinto que isto têm muito a ver com tudo o que você disse no artigo; não deixaremos clássicos não apenas por não pensarmos mais no problema - e temos que dar mãos a bolos a Ítalo Calvino por puxar nossas orelhas - não pensamos em coisas que tenham alcance para além de mundos restritos. O problema não é engajamento ou coisa parecida, mas sim a falta de um todo. Temos mais poetas que leitores de poesias não porque somos incapazes de ler poesias, mas porque cada poeta quer falar de seu mundo e apenas disto - o leitor não consegue extrair dali mais do que um mundo exterior ao seu, com o qual não consegue se comunicar. Não existem mais pessoas como Carpentier ou García Márquez simplesmente porque estes construíam suas narrativas sem o desejo de explicitar apenas seu mundo interior - e talvez por isto não haja mais uma grande literatura nestes tempos sombrios. Há que se esperar pela chegada de novos nomes, capazes de pensarem isto e construir, deste monte de histórias pequenas e desconexas, algumas históricas capazes de dizer a todos, aquilo que todos tentavam dizer a ninguém por dialogarem apenas consigo mesmos. Mas ainda assim, o sentimento de desgarramento é grande.
[Leia outros Comentários de Viviane Alves ]
30/3/2005
00h50min
A saturacao que voce descreveu, pessoas saturadas de informacao sem consistencia e afligidas por falta de inspiracao, e' bem parecido com os problemas que se enfrentam nas areas de pesquisa de engenharia, onde qualquer ideiazinha ja deu origem a 100 publicacoes... Ate' hoje nao sabem como combater isso. Eu tambem acho que talvez o que falte no Brasil e' um espectro de escritores. Pessoas que nao escrevam ja' para serem "o proximo Drummond", "filho de Chaucer" ou coisas assim. As grandes obras nem sempre se basearam na criacao de um estilo ou escola. Talvez, quando publicarmos bons livros de entretenimento, com os Grishams e Cooks nacionais, aparecam tambem os grandes escritores... E ah, um fator que voce nao tocou, mas que me afetou muito quando estava na escola, foi a falta de uma boa biblioteca. E olha que eu era membro de tres (incluindo a da escola). Bibliotecas agradaveis e bem estocadas sao o melhor convite para descobrir novos autores e livros, e se educar.
[Leia outros Comentários de Ram]
30/5/2005
16h54min
Caro Dário, adorei seu texto e me senti mais feliz ainda, como poeta, de nos anos 90, ao invés de estar vendo TV a cabo e "brincando" na internet, rasgar as ruas do suburbio carioca acompanhado de jovens marginais e pequenos traficantes. Claro, com o "ecce homo" no bolso da calça. Talvez, por isso, fosse tão insosso para mim ler Rubem Fonseca (um ex-cana). Sem preconceito, claro. Ou devemos ter todo o preconceito do mundo por isso? Mas deixemos para outra hora todas as histórias tristes que já houvi da boca de desde jabutináveis até jovens estudantes sobre a passagem do nosso romancista-mor pela policia no final dos anos sessenta. Estou sendo político, caro Dário? Acho que não. Apenas higiênico... Fiquei quatro meses sem computador. Ah, que delícia! E hoje, ao reencontrá-lo, ví as mesmas coisas de sempre: O Marcelino e suas fofocas do mercado, O Terron e sua pseudo-genialidade blasé e essa grande construção que é Fabrício Carpinejar. Um dia desses eu ouvi uma brincadeira de um editor que ele era pior que o pai e melhor que a mãe, como poeta. Acho que a brincadeira é bem mais séria. Depois de ler algumas traduções de Trakl feitas por um amigo, fico embasbacado ao ouvir que o jovem edipiano gaúcho é um grande poeta. Jurei que nunca mais o atacaria. Talvez por um fundo de piedade cristã mal resolvida em mim... Mas não consigo. Acho-o completamente fraco e não sei se, ao invés de ser filho do Nejar fosse o rebento de um taxista da periferia de Porto Alegre, conseguiria algum espaço em uma grande editora. Mais que Marcelino Freire, Nelson de Oliveira, ou a triste Clarah, Fabro é, para mim, a grande farsa da literatura brasileira atual. Seu problema familiar, ao invés de ter um peso trágico, soa como um lamento juvenil. Apenas isso. Porém, se Fabro for realmente um grande poeta (e não apenas uma construção dos Josés Castellos da vida), estamos realmente derrotados como geração, e o Dr. Marinho nos enterrou vivos com louvor. "... de tudo aquilo que se escreve, só me interesso por aquilo que é escrito pelo próprio sangue..." É isso aí, o velho viandante, sempre.
[Leia outros Comentários de silvio barros]
29/6/2005
12h44min
Caro Julio, poucos textos despertaram-me a genuína vontade de ler, identificando-me com suas idéias e, paralelamente, esbaldando-me em sensações diversas de humor e tristeza causadas pelo estereótipo da realidade em que vivemos (mas, por vezes, esquecemos de fazer viver). Só não sei se os nomes inexistem ou se o marketing social diminuiu-lhes significativamente as chances de evolver, mesmo que de forma anestésica e não percebida. Parabéns! Um abraço do Samir
[Leia outros Comentários de Samir Bayoud Jr]
10/8/2005
18h46min
Olá; Diogo Mainardi é sim uma bomba, mas o Chico escreve muito bem, é um escritor de mão cheia, a meu ver e, com exceção de seu último livro, Budapeste, meio chatinho, os outros são excelentes, principalmente Benjamin. Agora, Diogo Mainardi é de direita e escreve com o fígado, não dá... Pior que ele só o Jô Soares e olha lá! Abraço! Isa Fonseca :.)
[Leia outros Comentários de isa fonseca]
31/12/2005
00h15min
gostei muito do texto que voce escreveu, parabens. com muita clareza, argumentaçao e, pricipalmente, coragem, voce colocou, a meu ver, o "dedo na ferida". escrever no brasil nao é facil. mais dificil ainda é conquistar a tao sonhada formaçao a que voce se refere, pois num pais que privilegia as novelas, como faze-lo?? dificil!! mais uma vez, parabens
[Leia outros Comentários de rita]
4/7/2006
15h12min
Prezado Julio, caramba! Esse é apenas o primeiro dos textos que você me recomendou. Sou 9 anos mais velho que você. Porém você é pelo menos 9 anos mais precoce que eu! Vou continuar minha aventura para ver até onde o destino me leva.
[Leia outros Comentários de Fabio Damasio]
3/11/2006
07h35min
Caro Julio, estou chegando atrasado à esta discussão. Venho do reloaded. Mas vamos ao que me interessa: concordo em número, gênero e grau com a necessidade de se pautar a crítica a partir da grande poesia, seja ela canônica como a de Drummond e João Cabral de Mello Neto ou essencial como a de Manuel Bandeira. O duro aí é a tal angústia da influência. Dia desses eu fui reler o genial "Uma Faca Só Lâmina", do João Cabral, e me deu vontade de nunca mais escrever nada, e me deu vontade de escrever mais. Que conflito! Mudando de assunto. Por falar na necessidade de bons editores, por que o DC não dá uma mãozinha nisso selecionando inéditos pra gente? É isso. Abraço!
[Leia outros Comentários de Héber Sales]
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