O sol se põe em São Paulo | Rafael Rodrigues | Digestivo Cultural

busca | avançada
41875 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> “O Menino Bach visita o Brasil”, apresentações de teatro de bonecos chega hoje ao Espirito Santo em
>>> Terreiros Nômades leva a cultura Guarani com Márcio Cacique a escolas da Zona Sul
>>> “cicatriz”: escritor Breno Ribeiro retrata em “thriller familiar” as dores da perda de um filho
>>> LIVROS EM MOVIMENTO TERMINAIS PINHEIROS, PIRITUBA E CAMPO LIMPO PROMOVEM AÇÃO DE FOMENTO À LEITURA
>>> Circuito Arte e Cidade apresenta: Cidade Espetáculo - Aventura nos Três Poderes
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
Colunistas
Últimos Posts
>>> Sultans of Swing por Luiz Caldas
>>> Musk, Moraes e Marçal
>>> Bernstein tocando (e regendo) o 17º de Mozart
>>> Andrej Karpathy no No Priors
>>> Economia da Atenção por João Cezar de Castro Rocha
>>> Pablo Marçal por João Cezar de Castro Rocha
>>> Impromptus de Schubert por Alfred Brendel
>>> Karajan regendo a Pastoral de Beethoven
>>> Eric Schmidt, fora do Google, sobre A.I.
>>> A jovem Martha Argerich tocando o № 1 de Chopin
Últimos Posts
>>> O jardim da maldade
>>> Cortando despesas
>>> O mais longo dos dias, 80 anos do Dia D
>>> Paes Loureiro, poesia é quando a linguagem sonha
>>> O Cachorro e a maleta
>>> A ESTAGIÁRIA
>>> A insanidade tem regras
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Risca Faca, poemas de Ademir Assunção
>>> O Cabotino reloaded
>>> Anzol de pescar infernos, de Ana Elisa Ribeiro
>>> Internet 10 anos – 1996
>>> O Leão e o Unicórnio
>>> Serviço de Aviltamento do Consumidor
>>> Amazon! Google! Help me!
>>> A aposentadoria anunciada de Steve Ballmer, sucessor de Bill Gates
>>> Solidão Moderna
>>> Um Daumier no MASP
Mais Recentes
>>> Introduction to the Reading of Lacan - the Unconscious Structured de Joel Dor pela Jason Aronson (1997)
>>> A Ladeira Da Saudade de Ganymédes José pela Moderna (1983)
>>> The Evolution of Psychoanalysis - Contemporary Theory and Practice de John Gedo pela Other Press (1999)
>>> Essais Sur La Théorie de La Science de Max Weber pela Plon (1965)
>>> Jacques Lacan de Anika Lemaire pela Routledge & Kegan Paul (1982)
>>> Livro Identidade Juventude E Crise de Erick H Erikson pela Guanabara (1987)
>>> Leer Es Resistir de Mario Mendoza pela Edito Planeta (2022)
>>> Perestroika de Mikhail Gorbachev pela Best Seller
>>> Dinos do Brasil de Luiz E. Anelli pela Peiropolis (2021)
>>> Frida de Jonah Winter pela Cosac & Naify (2009)
>>> Como e Por Que Ler Os Clássicos Universais Desde Cedo de Ana Maria Machado pela Objetiva (2002)
>>> Vicky de Helena Lima pela Lago de Historias (2017)
>>> Entre Sonhos e Dragoes de Adriana Carranca pela Companhia das Letrinhas (2022)
>>> Mais Felizes do Que Sempre de Helena Lima; Anabella Lopez pela Lago de Historias (2016)
>>> O Pequeno Livro do Charuto de Marvin R. Shaken pela Dba (1997)
>>> Amal e a Viagem Mais Importante da Sua Vida de Carolina Montenegro pela Caixote (2019)
>>> As Incriveis Aventuras de Nirobe na Terra do Não de Janine Rodrigues pela Piraporiando (2021)
>>> Dictionnaire de la Civilisation Égyptienne de Georges Posener pela Fernand Hazan (1959)
>>> Um Filme é um Filme - o Cinema de Vanguarda dos Anos 60 de Ruy Castro; José Lino Grünewald pela Companhia das Letras (2001)
>>> Teoria da Musica de Bohumil Med pela Musimed (1986)
>>> Livro Einstein Reflexões Filosóficas de Irineu Monteiro pela Martin Claret (1988)
>>> Livro Macmillan Essential Dictionary For Learners of English Com CD de Macmillan Education pela Macmillan (2003)
>>> Contos de Dinossauros de Ray Bradbury pela Ofícios (1993)
>>> Tributação da Economia Digital de Tathiane Piscitelli pela Revista dos Tribunais (2018)
>>> Direito Penal Ilustrado Parte Geral -2 Livros de Denise Cardia Saraiva pela Ediçoes Ilustradas (2000)
COLUNAS

Sexta-feira, 4/7/2008
O sol se põe em São Paulo
Rafael Rodrigues
+ de 7000 Acessos
+ 5 Comentário(s)

Às vezes adiamos leituras simplesmente por achar que não vamos gostar. E, se não há prazer na leitura, ao menos de literatura, para quê ler? Para dizer que leu? Sou terminantemente contra isso. Se eu começar a ler, por exemplo, Moby Dick, e não gostar, paciência, coloco o livro de lado e parto para o próximo. Claro que vou chorar o dinheiro e o tempo perdido (mais o dinheiro que o tempo), mas paciência. Há sebos demais por aí e gente disposta a pagar algum por um livro recém-comprado. Mas é óbvio que isso não acontecerá comigo. Afinal, tenho um gosto refinado, e jamais diria que não gostei de Moby Dick. Tem como não gostar de Moby Dick?

Essa pequena e boba introdução serve apenas para dizer que adiei a leitura de um livro de Bernardo Carvalho o quanto pude. Sempre achei que não ia gostar dele ― do autor, no caso. E, caramba, não gostar de um autor contemporâneo é pior que dizer que não gosta de Machado. Vocês pensam que não, mas é verdade. Abram a boca para dizer que não gostam daquela jovem moça de São Paulo; ou daquela outra (já não tão jovem assim) de Porto Alegre; ou então daquele rapaz, revelação carioca. É uma espécie de suicídio literário-social: você diz isso e te viram as costas, chamam de maluco e sem noção, colocam seu nome em portas de banheiro acompanhado de palavras nada agradáveis e começam a comentar por trás "ele não bate bem do juízo...".

Então, se eu lesse algum livro de Bernardo, não gostasse e dissesse isso publicamente, fariam fogueiras com as páginas impressas da minha resenha ou post e é provável que eu precisasse sair do país e tudo. Mas, ainda bem, isso não vai acontecer. Até porque os leitores de Bernardo Carvalho não fazem parte do Movimento dos Literatos Revolucionários, cujos integrantes têm idade mental de uma criança de 11 anos e são fãs de autores com a mesma idade mental que eles. Além disso, li um livro de Bernardo Carvalho e gostei.

Foi O sol se põe em São Paulo (Companhia das Letras, 2007, 168 págs.), que havia comprado em 2007, por causa do título e da capa. Às vezes faço isso, compro livros por causa do título e da capa. Não faz muito tempo, conheci um livro chamado Concreto armado, eu te amo, das áreas de Engenharia Civil e Arquitetura. Tem coisa mais linda que um título assim? Concreto armado, eu te amo. É de um romantismo que não existe mais. Sei sobre engenharia civil o mesmo que aquele cara que construiu um monte de prédios misturando com farinha de trigo com cimento, mas juro que fiquei com a maior vontade de comprar o livro, só por causa do título. Ah, outra coisa que faço também é demorar de ler os livros que compro ou ganho. Mas, enfim, voltemos a O sol se põe em São Paulo, que é um romance muito bom.

O título faz uma quase alusão ou alusão às avessas ao Japão, país também conhecido como "terra do sol nascente". O Japão é presença forte do romance, o que me levou a fazer várias vezes a mesma pergunta, diante do espelho: "se em 2008 comemoramos os 100 anos de imigração japonesa no Brasil, por que diabos não adiaram a publicação do livro por 1 ano?" Pensei que, dessa forma, o livro teria mais chance ainda de aparecer na mídia. Mas, depois de receber do espelho o silêncio como resposta, desisti de saber e me resignei a apenas continuar lendo o dito cujo.

No romance, um escritor frustrado ― na verdade, um aspirante a escritor frustrado, o que é pior ainda, já que ele não tem nenhum livro publicado ― serve de ghost writer para Setsuko, a velha japonesa dona do restaurante japonês que ele freqüenta. Na verdade, não chega a ser um ghost writer, pois ela quer lhe contar sua história, mas quem a publicará ― ou não ― será ele, e não ela.

Descendente de japoneses, o escritor quer distância do Japão. Ao menos é o que ele diz. Mas, se realmente tivesse ojeriza à terra do sol nascente, por que iria regularmente a um restaurante japonês? E por que aceitaria dar forma justamente à história de uma japonesa?

Respostas são necessárias, mas nem sempre são fáceis de encontrar. Mulher direta e sem meias palavras, Setsuko é, também, paradoxalmente, repleta de mistérios e silêncios, muitas vezes deixando lacunas em seus relatos. Sua história é quase inacreditável, e o escritor quase sempre fica perplexo com algumas das revelações que a velha japonesa lhe faz.

Em determinado ponto do romance, ela, Setsuko, desaparece. Vende o restaurante e vai embora, não se sabe para onde, sem terminar de contar sua história. Para o escritor, deixa o pagamento referente ao livro que ele deve terminar de escrever e um pedaço de papel com um endereço no interior de São Paulo, para onde ele se encaminha. É nesse ponto que os mistérios de Setsuko começam a ser revelados, e é também quando o escritor dá início à experiência mais importante de sua vida, que definirá seu rumo dali para diante.

Contra a própria vontade, vai ao Japão. O país que o recebe nada tem de caloroso ou acolhedor. Muito pelo contrário. As pessoas não lhe dão atenção e são atravessados, desconfiados, os olhares que lhe dirigem. Sua irmã mora na terra do sol nascente há alguns anos, mas não o deixa conhecer sua casa e as condições nas quais vive (ou sobrevive). Depois de anos sem se ver, os irmãos passam apenas algumas horas juntos, pois ela não pode se ausentar sequer um dia do trabalho. Quando ele precisa de alguma ajuda, sempre a recebe de um estrangeiro, não de um japonês. O Japão de Bernardo Carvalho não é aquele Japão que costumamos ver na tevê, onde pessoas vão para ganhar bem, juntar dinheiro e voltar para o país de origem. É um país como qualquer outro, sem fantasias ou ilusões. É nessa terra estranha e fria que o escritor terá de buscar as origens de Setsuko e sua verdadeira história. Uma missão difícil para alguém que sente o fracasso impregnado na alma. Mas talvez a única chance de redenção para alguém que não fez nada de valoroso em toda a vida.

O sol se põe em São Paulo é literatura e, além disso, é sobre literatura. Sempre que têm oportunidade, a velha japonesa e o escritor fazem comentários sobre o assunto. E assim como Setsuko não é quem o escritor pensava, uma obra literária muitas vezes não é o que parece ser. Assim como uma pessoa tem diversas facetas, as tem também um poema, um conto, um romance. Pessoas são como livros, e vice-versa. Dessa forma, a literatura é vida, e deve ser escrita/lida/vivida da melhor maneira possível. Tanto vida quanto literatura precisam valer a pena. E O sol se põe em São Paulo vale.

Termino de escrever esta resenha com o sol nascendo lá fora. Talvez isso signifique alguma coisa. Talvez não signifique nada. Vai saber...

Para ir além






Rafael Rodrigues
Feira de Santana, 4/7/2008

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Eu & Ferrugem de Adriana Baggio


Mais Rafael Rodrigues
Mais Acessadas de Rafael Rodrigues em 2008
01. Caio Fernando Abreu, um perfil - 28/10/2008
02. Meus melhores filmes de 2008 - 30/12/2008
03. As horas podres, de Jerônimo Teixeira - 21/3/2008
04. Jovens blogueiros, envelheçam (extras) - 2/5/2008
05. Jovens blogueiros, envelheçam - 18/4/2008


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
4/7/2008
14h31min
Mas esse seu primeiro parágrafo é um nariz de cera sem vergonha, hein?
[Leia outros Comentários de Ze Rubem]
4/7/2008
16h27min
Deu vontade de ler o livro, abraços!
[Leia outros Comentários de Guga Schultze]
5/7/2008
20h47min
Há livros que lemos e gostamos, já outros, não. Sabemos daqueles que não lemos e odiamos assim mesmo. Sugiro, inclusive, uma boa definição para "clássicos" (como "Moby Dick"): são os que adoramos sem ter lido. Quanto a mim, estou com Wendy Cope que considerava "escrever para entreter" uma sugestão apavorante. Escrevia, segundo ele, para fazer as pessoas ansiosas e miseráveis; para piorar sua indigestão. Se não me sinto perturbado por uma leitura, olho desconfiado para o livro.
[Leia outros Comentários de Abdalan da Gama]
6/7/2008
19h14min
"Tem como não gostar de Moby Dick?" Mas os capítulos "técnicos" desse livro são tão chatos...
[Leia outros Comentários de Jonas]
7/7/2008
14h57min
É, Bernardo Carvalho entrou na minha fila, logo atrás de Alexandre Plosk e Tatiana Salem Levy. E Moby Dick não seria MOBY DICK sem os capítulos "técnicos". Muito menos sem os capítulos "viajantes", como The Whiteness of the Whale (A Brancura do Cachalote), The Battering-Ram (O Aríete), The Fountain, etc. Acabei de reler. É cada vez mais impressionante.
[Leia outros Comentários de Montana]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Autoengano
Eduardo Giannetti
Companhia de Bolso
(2005)



Duluth
Gore Vidal
Rocco
(1987)



Psico-Oncologia
Carmen M. Bueno Neme
Summus
(2010)



Como Conversar Com Um Fascista
Marcia Tiburi
Record
(2017)
+ frete grátis



Psicologia da Aprendizagem - Vol. 9
Clara Regina Rappaport (coord.)
Epu
(1984)



Acesso aos Servicos de Saude em Municipios da Baixada Santista
Maria Mercedes Loureiro Escuder Org e Outros
Instituto De Saude
(2008)



Autor e Autoria no Cinema e na Televisão
Org. Jose Francisco Serafim
Edufba
(2009)



Itrends
Achiles Batista Ferreira
Intersaberes
(2014)



O Livro da Tranqüilidade
Olívia Benhamou
Martins Fontes
(2003)



Livro Pare de Correr Atrás do Tempo Seja o Dono do Seu Tempo e da Sua Vida Praticando a Administração de Tempo
Boris R. Drizin
Timing
(1988)





busca | avançada
41875 visitas/dia
1,9 milhão/mês