A Crise da música ― Parte 2/3 | Rafael Fernandes | Digestivo Cultural

busca | avançada
63805 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Nouveau Monde
>>> Agosto começa com música boa e grandes atrações no Bar Brahma Granja Viana
>>> “Carvão”, novo espetáculo da Cia. Sansacroma, chega a Diadema
>>> 1º GatoFest traz para o Brasil o inédito ‘CatVideoFest’
>>> Movimento TUDO QUE AQUECE faz evento para arrecadar agasalhos no RJ
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
Colunistas
Últimos Posts
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
>>> 100 anos de Flannery O'Connor
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Lourival, Dorival, assim como você e eu
>>> Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum
>>> Festival do Rio 2005 (II)
>>> Meus melhores filmes de 2008
>>> Festa da Cerejeira
>>> Santo Antonio de Lisboa
>>> Dar títulos aos textos, dar nome aos bois
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Deitado eternamente em divã esplêndido – Parte 2
>>> Manoel de Barros: poesia para reciclar
Mais Recentes
>>> Livro O Vôo da Madrugada de Sérgio Sant'Anna pela Companhia das Letras (2003)
>>> Vitória Na Crise: Trajetórias Das Esquerdas Latino-americanas Contemporâneas de Fabricio Pereira Da Silva pela Ponteio (2011)
>>> El camino de Santiago - Guia Prática del peregrino de Millán Bravo Lozano pela España (1999)
>>> O Próximo Passo de Marcelo Cezar pela Vida E Consciência (2015)
>>> Vunesp: 860 Questões Comentadas, Alternativa por Alternativa por Autores Especialistas de Paulo Lépore, Leandro Bortoleto pela Juspodivm (2018)
>>> Vunesp: 860 Questões Comentadas, Alternativa por Alternativa por Autores Especialistas [Capa comum] [2018] Lépore, Paulo; Bortoleto, Leandro de Paulo Lépore, Leandro Bortoleto pela Juspodivm (2018)
>>> Um Dia de David Nicholls pela Intrínseca (2011)
>>> Livro O Vôo da Madrugada de Sérgio Sant'Anna pela Companhia das Letras (2003)
>>> Livro 90% Das Mulheres São Loucas de Wilson Ferraz Veras pela Baraúna (2013)
>>> Nas Esquinas Da Vida de Márcio Fiorillo pela Vida E Consciência (2017)
>>> Guia Ilustrado Zahar de Astronomia de Ian Ridpath pela Zahar (2014)
>>> O Texto Na Tv de Vera Iris Paternostro pela Campus Editora Rj (1999)
>>> Democracia: Uma Proposta De Mudança de José Antonio Rufino Collado pela Porto Das Idéias (2015)
>>> Fala, galera: Juventude, violência e cidadania no Rio de Janeiro de Maria Cecilia De Souz Minayo pela Fundação Ford (1999)
>>> Minha Imagem de Eliana Machado Coelho pela Lúmen (2013)
>>> Livro Direito E Processo de Jose Roberto Dos Santos Bedaque pela Malheiros (2006)
>>> Televisao - Ensaios Metodologicos de Elizabeth Bastos Duarte pela Sulina (2004)
>>> Ideologia e técnica da notícia de Nilson Lage pela Insular (2001)
>>> A Morte É Um Dia Que Vale A Pena Viver de Ana Claudia Quintana Arantes pela Leya - Casa Da Palavra (2016)
>>> Era No Tempo do Rei de Ruy Castro pela Alfaguara (2007)
>>> Livro Le Tour Du Monde En 80 Jours de Jules Verne pela Hatier (2011)
>>> Livro Gênio Obsessivo O Mundo Interior de Marie Curie de Barbara Goldsmith pela Companhia Das Letras (2006)
>>> Livro Questionamento de um Jovem de Ednei Nunes Gervávio pela All Print (2010)
>>> Apenas Começando de Elisa Masselli pela Lúmen (2014)
>>> Texto E Coerência de Ingedore Grunfeld Villac§a Koch pela Cortez Editora (1989)
COLUNAS

Quarta-feira, 29/4/2009
A Crise da música ― Parte 2/3
Rafael Fernandes
+ de 10700 Acessos
+ 1 Comentário(s)

A seguir a segunda parte do texto sobre a crise da música. (Leia a parte 1).

Troca de padrões
Nos anos 90 tivemos que trocar nossos vinis por CDs, sem apelação. Dez anos depois surge o MP3 como padrão. O streaming apareceu mais recentemente. O que temos que fazer, agora? Comprar de novo as músicas em MP3 porque a indústria diz que é crime copiar CD? Eu ainda tenho discos de vinil. Gostaria de me desfazer de alguns deles pela falta de praticidade. Devo jogar fora e também re-comprar em MP3, que pode se tornar obsoleto? E o que mais vem em seguida? Jogar fora os plásticos antigos e comprar outros?

Cortando as amarras do mercado
Marcia Tosta Dias, em seu fundamental Os donos da voz (que em breve deve ganhar texto meu), faz uma observação bastante interessante: "Não podemos esquecer que o negócio do disco começa com o desenvolvimento e a propriedade das máquinas de gravação e reprodução e é em torno desta propriedade que tem sempre se mantido". Podemos também incluir aí a distribuição. É algo parecido com os jornais. Sendo assim, com o avanço de estúdios caseiros, a disseminação do MP3 e as facilidades da internet, essa indústria perde seu status de controladora dos meios de produção e disseminação. A consequência óbvia é entrar em colapso. Há quem diga que as gravadoras sabem o que está acontecendo e vão resistir até 2011 antes de uma mudança radical.

Spotify
Para um amante da música, como eu, é inviável comprar tudo o que se quer para estudar e conhecer a obra de muitos artistas. É impossível em termos financeiros e de espaço. Mas como uma TV infinita, uma audioteca "infinita" é viável na internet. Por isso estou testando com entusiasmo o Spotify, que é um misto de browser e Last.fm. Por assinaturas diversas (de graça com anúncios e pago para ouvir sem propaganda) é possível acessar um enorme acervo ― apenas em streaming ― por um valor básico, como TV a cabo. Não sei se vai dar certo como produto financeitamente, mas, apesar de alguns problemas como preço (ainda é muito caro para o Brasil), interface (é boa, mas a organização e acesso às playlists poderia ser melhor) e artistas (muitos ainda não estão lá, como Beatles) é o que eu, como consumidor de música, gostaria de ter. Por uma taxa mensal eu tenho acesso a um acervo fabuloso quando eu quero, e montado da forma como desejo: por discos, artistas, tema, "mix tape" etc. E está tudo organizado num só lugar. Perco as músicas apenas se o site falir ou sair do ar. Internet envolve rapidez, comodidade, praticidade, customização e facilidade de busca ― até agora, o Spotify é meu serviço favorito para ouvir música.

Quem paga quem?
Entendo que o consumidor de música não tenha mais tanta propensão a pagar para ouvir música, como não paga para ver TV aberta ou ouvir rádio. Ou quem sabe um dia pague como outros serviços, tais quais pagamentos mensais de TV a cabo, internet, celular, como citei no caso do Spotify. Mas os prestadores de serviço devem, sim, pagar por usar a música. Afinal, sites como YouTube, Last.Fm, MySpace e outros capitalizam (ou ao menos tentam capitalizar) em cima de trabalhos alheios. Mas contra isso há o argumento de que só usa esses tais serviços o músico que quer, e que eles trazem benefícios ao usuário. Ou seja, os sites não precisariam pagar os músicos, já que eles também usariam seus serviços de graça. Mas não creio que seja um argumento válido ― se fosse assim, nem TV nem rádio deveriam recolher direitos pela veiculação das músicas na programação.

Música de graça?
Se você é um artista iniciante e atua num nicho muito específico, ou está lançando algo novo, dar música de graça pode ser interessante. Seja para divulgar o trabalho em si ou um produto correlato. Porque, como disse no texto anterior, a internet é um substituto de rádio e TV (principalmente MTV) para descobrir novos artistas. Mas tenha muito cuidado. Não só porque você pode "mimar" demais seus fãs, que não vão querer nunca mais pagar por suas músicas, como você corre sério risco de desvalorizar sua obra. Não ter sua música conhecida é péssimo, mas ela não ter valor é perigoso. Então, por mais que o futuro possa indicar a música com livre circulação, os artistas devem tomar muito cuidado ao dar de graça as músicas. Ou então devem encontrar uma outra forma de valorizar seu trabalho e esforço.

A importância do hit
Uma coisa não muda: se você é um artista, precisa de um hit para aparecer ― aquela música que pega de jeito o ouvinte. Eram os hits que tocavam nas jukeboxes. Que tocavam nas rádios ― antes do jabá. Que estavam no lado A dos LPs e que eram capazes de fazer um consumidor comprar o disco só para tê-la. E que fazem o consumidor baixar a música (ou o disco), colocá-la como toque de celular, pôr um trecho da letra no MSN etc. E, claro, são basicamente os hits que levam as pessoas ao seu show. Radiohead, São Paulo, 2009. Trinta mil pessoas. Momentos de delírio do público? "Creep" e "Fake Plastic Trees". Músicas do início da carreira, hits. Os hits não precisam ter três minutos e serem "comerciais". Devem apenas ser bons o suficiente para chamar a atenção do ouvinte. Mesmo que seja apenas num nicho, mas que a maioria dessas pessoas saiba de cor e espere por eles nos shows. E, mais do que apelar ou procurar clichês, os grandes artistas deveriam criar grandes canções, as melhores possíveis ― não apenas mais uma. Voltar ao básico, ao inicial: não se trata de negócio, mas sim de ser memorável.

Ter ou não um "álbum"
A questão aqui é se é válido ter um punhado de canções lançadas simultaneamente dentro de um contexto ― não importa em qual formato. Para pessoas acima de 25/30 anos existe uma quase dependência em esperar que seus artistas favoritos lancem álbuns ― é uma questão de padrão e hábito. Mas, realisticamente, são poucos os que realmente se sustentam do começo ao fim com a mesma qualidade. Bob Lefsetz escreveu um texto já famoso defendendo o fim desse formato. Seus argumentos fazem sentindo: o conceito de álbum apareceu por causa da tecnologia ― simplesmente a capacidade de armazenamento dos discos aumentou e ficou lucrativo lançar álbuns de um só artista em vez de junções de singles. Uma outra tecnologia, a internet, permite romper com isso. Mais: com a acirrada competição por atenção na rede, os músicos deveriam se preocupar em desenvolver duas ou três músicas marcantes (os hits) em vez de tentar juntar dez ou doze só para preencher um disco e promover um lançamento. Dave Allen também escreveu algo nesse sentido. Já Scott Perry fez o contraponto, defendendo o formato álbum: os fãs querem um pacote de músicas de uma vez e, afinal de contas, é importante que o artista apresente suas ideias dentro de um contexto e que esteja cercado de certa "mitologia" ― algo que o conjunto de canções pode trazer.

Nota do Autor
Em breve a parte 3 ― e final ― desta série de textos.


Rafael Fernandes
São Paulo, 29/4/2009

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Sebastião Rodrigues Maia, ou Maia, Tim Maia de Renato Alessandro dos Santos
02. Meus álbuns: '00 - '09 ― Pt. 5 de Rafael Fernandes
03. Chiquinho Inteligente de Elisa Andrade Buzzo
04. Espelho de Aline Pereira


Mais Rafael Fernandes
Mais Acessadas de Rafael Fernandes em 2009
01. 10 músicas: Michael Jackson - 22/7/2009
02. A Crise da música ― Parte 1/3 - 25/3/2009
03. Chinese Democracy: grande disco - 25/2/2009
04. A Crise da música ― Parte 2/3 - 29/4/2009
05. A Crise da música ― Parte 3/3 - 8/7/2009


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

ENVIAR POR E-MAIL
E-mail:
Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
10/5/2009
09h12min
Penso que isso tudo foi planejado pela própria indústria que precisa cada vez mais de lançar coisas novas. Com o CD virgem e um gravador para reproduzir as músicas, começa a era da pirataria. Depois, com a facilidade da internet, tornou-se ainda mais fácil de se conseguir músicas sem pagar um tostão. O CD, para o músico, hoje, é apenas um cartão de visitas para os seus shows. Quem sabe voltaremos aos vinis...
[Leia outros Comentários de Marcos Arrébola]
COMENTE ESTE TEXTO
Nome:
E-mail:
Blog/Twitter:
* o Digestivo Cultural se reserva o direito de ignorar Comentários que se utilizem de linguagem chula, difamatória ou ilegal;

** mensagens com tamanho superior a 1000 toques, sem identificação ou postadas por e-mails inválidos serão igualmente descartadas;

*** tampouco serão admitidos os 10 tipos de Comentador de Forum.




Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Advocacia nos Tribunais Homenagem a Aristoteles Atheniense
Maria F. P. C. Pereira e Raquel D. Silveira
Del Rey
(2012)



Anatomia De Um Desastre
Claudia Safatle, João Borges e Ribamar Oliveira
Penguin
(2016)



Livro Literatura Estrangeira A Escolha Até Onde Devemos Ir Em Nome do Amor?
Nicholas Sparks
Novo Conceito
(2012)



Wiersbe Novo Testamento - a Bíblia Explicada de Maneira Clara...
Warren W. Wiersbe
Geografica
(2020)



A Evolução Semântica da Maternidade
Renato Alves Moretto
Academia Campista de Letras
(2005)



Uma Mulher de Seu Tempo
G. J. Scrimgeour
Círculo do Livro
(1982)



The Wines of France: The Essential Guide for Savvy Shoppers
Jacqueline Friedrich
Ten Speed Press
(2006)



O Que Faz de um Degas um Degas?
Richard Mühlberger
Cosac & Naify
(1993)



Grandes Mistérios do Tio Patinhas 9
Walt Disney
Abril
(1991)



Chão de Vento
Flora Figueiredo
Geração Editorial
(2005)





busca | avançada
63805 visitas/dia
2,1 milhões/mês