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Quinta-feira, 24/6/2010
Oversharing: que negócio é esse?
Vicente Escudero
+ de 17900 Acessos


GRETA GARBO: Eu quero ficar sozinha, Mark...
MARK: Só se for comigo.

Redes sociais exploram uma atividade econômica de interesse público e devem ser tratadas com o mesmo rigor legal dispensado a outras empresas que armazenam bancos de dados de informações privadas. Se o criador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, não foi informado disso, ou acredita que quinhentos milhões de pessoas não se importam em ter as informações de seus perfis compartilhadas com outros sites, é melhor abrir rapidamente o capital da empresa na bolsa de valores e pedir para os investidores começarem a assinar os cheques das indenizações de cada uma das class actions que vêm por aí.

A maioria das redes sociais nasceu com o propósito banal de permitir a seus membros que dividissem algumas informações, fotos e mensagens com amigos, sem se preocupar em compartilhá-las com outros sites ou terceiros.

Participar delas é uma escolha individual, naturalmente.

E isso tem uma razão bem simples: não são todos que querem ter suas informações divulgadas abertamente, permitindo a devassa diária da privacidade, seja por um amigo, um desocupado mal-intencionado ou um estelionatário pronto para aplicar algum golpe.

Depois de alguns anos, elas se multiplicaram. Todas as pessoas que você conhece criaram um perfil. Algumas redes cresceram valorizando a fidelidade de seus membros, respeitando os limites legais (Orkut), outras desapareceram no meio do caminho (ConnectU) e apenas uma delas quer ditar as regras do jogo, ser a dona da bola, do campo e, acredite ou não, dos jogadores: Facebook.

Foram seis anos estendendo seus tentáculos por todo o território dos Estados Unidos. Hoje, a maior rede social do mundo já fechou contratos com mais de quinhentos milhões de pessoas no mundo todo para armazenar suas informações. E mudou, constantemente, os termos de cada um deles.

As configurações dos perfis de seus membros, nos primórdios do Facebook, eram limitadas à máxima publicidade interna da pesquisa no próprio site. Hoje, o perfil padrão compartilha com toda a internet o nome do membro, seus posts, fotos, rede de amigos e indicações de sites, restando de fora desta publicidade plena apenas as informações de contato e a data de aniversário. Toda esta transformação ocorreu sob os olhares desconfiados de uma pequena parte dos usuários nestes últimos seis anos, culminando na enxurrada de críticas do início deste ano.

Pior do que não resolver estes abusos foi a forma como as alterações foram apresentadas por Zuckerberg. Nas palavras do sujeito que entregava cartões de negócios supostamente contendo a singela frase "I'm CEO... bitch!", as alterações nos perfis dos usuários realizadas unilateralmente pelo site representam uma nova forma de navegar na web e dividir as informações com o público. Um observador atento, conhecedor de todas as alterações ao longo do tempo nos padrões de compartilhamento das informações dos perfis, poderia identificar no discurso revolucionário a hipocrisia de quem alterou a rota do barco antes mesmo de sair do porto, sem avisar a tripulação. O discurso oficial do Facebook tem sido uma mistura de eufemismos e boas intenções que tentam esconder o desejo não de dominar a internet, mas de ser a internet. Hoje você utiliza seu navegador e compra alguns livros na Amazon. Daqui a alguns anos, você vai se conectar ao Facebook para comprar alguns livros no aplicativo que roda no site, customizado de acordo com suas informações pessoais e com o conteúdo escolhido por alguém do Facebook.

Censores? Entre os meses de abril e maio de 2009, as mensagens particulares enviadas através do site, que continham links do PirateBay foram bloqueadas sem nenhuma explicação. Ao contrário das contas de e-mail comuns, em que os arquivos são analisados em busca de vírus e os spams são separados em uma caixa específica, o sistema do Facebook impedia o envio das mensagens e informava ao remetente que não havia sido possível entregá-la pela identificação de conteúdo abusivo. Alguns analistas levantaram a hipótese de que o site estaria infringindo a lei sobre escutas telefônicas e de dados ao analisar o conteúdo das mensagens, alegando ainda que a medida também seria abusiva pois os arquivos do sistema de torrents não são produto de pirataria ou ilegais em sua totalidade.

Os efeitos destes atos praticados pelo Facebook estão ligados diretamente ao fenômeno do oversharing, a exposição de informações em excesso na internet. No caso das redes sociais, uma exposição sem considerar os limites da privacidade e os problemas decorrentes de sua violação. Enquanto a maioria das pessoas não sofre suas consequências nefastas, a publicidade total de conversas, fotos e informações pessoais parece não ser um problema. Mas quando se olha para o oriente, especificamente para a China, onde milhares de funcionários do governo estão vasculhando diariamente a internet para vigiar o comportamento dos cidadãos, especificamente sobre suas opiniões políticas, não é confiável permitir que um terceiro disponibilize publicamente, sem aviso prévio, todas as opiniões de chineses sobre a democracia e o mal que faz a sua falta.

O Facebook é uma boa rede social pelas pessoas que a integram e não pela forma desorganizada que é administrada. Mark Zuckerberg e seu alto escalão não imaginam as consequências judiciais que podem sofrer com essa escalada de rompantes autoritários na direção da empresa, durante todos esses anos. Assim como as informações públicas dos usuários do Facebook, todas as decisões tomadas pelo Facebook são analisadas por toda a internet, ainda que o CEO e sua equipe pareçam acreditar no contrário, como no caso da doação feita por Zuckerberg à candidata declarada a concorrente do Facebook, a startup Diáspora.

Vale ressaltar que todas as mudanças nos padrões de publicidade das informações dos usuários do Facebook, até hoje, sempre foram defendidas em discursos maçantes pelo CEO, com o mesmo argumento vazio de que havia chegado a hora de mudar a forma de compartilhar as informações na internet, diminuindo a privacidade ao mínimo. Mas duas perguntas nunca foram respondidas por Zuckerberg: por que as pessoas precisam de menos privacidade e qual a vantagem desta mudança para a sociedade.

Alguém precisa informar Zuckerberg e sua trupe que o oversharing de decisões atabalhoadas e as constantes violações da privacidade dos usuários do Facebook vão tornar os passados irreversíveis e os futuros imutáveis. Para aqueles que utilizam o Facebook e para seus criadores...


Vicente Escudero
Campinas, 24/6/2010

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