Hugo Cabret exuma Georges Méliès | Wellington Machado | Digestivo Cultural

busca | avançada
44843 visitas/dia
2,1 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Eduardo Sued - 100 anos || Galeria Mayer Mizrahi
>>> Comédia sobre barulho estreia em meio a reação de SP à poluição sonora
>>> Festival da Linguiça de Bragança celebra mais de 110 anos de seu principal produto, em setembro
>>> Rolê Cultural do CCBB celebra o Dia do Patrimônio com visitas mediadas sobre memória e cultura
>>> Transformação, propósito, fé e inteligência emocional
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Ozzy Osbourne (1948-2025)
>>> Chegou a hora de pensar no pós-redes sociais
>>> Two roads diverged in a yellow wood
>>> A dobra do sentido, a poesia de Montserrat Rodés
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
Colunistas
Últimos Posts
>>> Tom Brown, fundador da Anthropic
>>> Beraldo e D'Avila comentam Dino e a Magnitsky
>>> Into the Void by Dirty Women
>>> André Marsiglia explica a Magnitsky
>>> Felca sobre 'adultização'
>>> Ted Chiang sobre LLMs e veganismo
>>> Glenn Greenwald sobre as sanções em curso
>>> Waack: Moraes abandona prudência
>>> Jakurski e Stuhlberger na XP (2025)
>>> As Sete Vidas de Ozzy Osbourne
Últimos Posts
>>> Jazz: música, política e liberdade
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Cócegas na língua
>>> Futebol: 10 mandamentos e 5 mitos
>>> A deliciosa estética gay de Pierre et Gilles
>>> Vagas Llosa no YouTube
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> O Próximo Minuto, por Robson Pinheiro
>>> Entrevista com Spacca
>>> Charges e bastidores do Roda Viva
>>> A biblioteca de Rodrigo Gurgel
>>> O belo e o escalafobético
Mais Recentes
>>> O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse? de Bart D. Ehrman pela Pocket Ouro (2005)
>>> A Psicanálise Dos Contos De Fadas de Bruno Bettelheim pela Paz E Terra (1996)
>>> Instituições De Direito Romano de Luiz Antonio Rolim pela Revista dos Tribunais (2003)
>>> Tributo a Antonio Carlos Alves Braga José Renato Nalini Org. de José Renato Nalini Org. pela Revista dos Tribunais (2001)
>>> Direito Penal Linguagem E Crise de Ricardo Dip pela Millennium (2001)
>>> La Mode - Art Histoire & Societe de Grazietta Butazzi pela Paris-hachette (1983)
>>> Fountain Pens de Jonathan Steinberg pela Apple Press (1994)
>>> The Bikini de Pedro Silmon pela Virgin Books (1985)
>>> Introdução ao materialismo dialético de Thalheimer pela Ciencias Humanas (1979)
>>> Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional Flávia Piovesan de Flávia Piovesan - pref. Henry Steiner - Apres. Antônio Augusto Cançado pela Max Limonad (1996)
>>> O sentido do Filme de Sergei Eisenstein pela Jorge Zahar (1990)
>>> A forma do Filme de Sergei Eisenstein pela Jorge Zahar (1990)
>>> Brasil em tempo de cinema de Jean-Claude Bernardet pela Civilização Brasileira (1967)
>>> Arte e Cinema de Rudolf Arnheim pela Edições 70 (1989)
>>> Teoria Geral Do Direito Comercial - introducao a teoria da empresa de Paulo Roberto Colombo Arnoldi pela Saraiva (1988)
>>> Conte Outra Vez + 1 Livro De Brinde de Vários Autores pela Letra E Ponto (2012)
>>> Cinema E História de Marc Ferro pela Paz E Terra (2010)
>>> Secrets Of The Bible People de Kamal Salibi pela Interlink Pub Group Inc (1988)
>>> Identidade Síntese das Múltiplas de Carmen Lúcia Sales Miranda pela Cabral (1998)
>>> Estudos Socine De Cinema Ano III de Mariarosaria FAbris e outros Orgs pela Sulina (2003)
>>> Filosofia e Princípios da Arquivística Audiovisual de Ray Edmondson pela Cinemateca (2013)
>>> Como Usar O Cinema Na Sala De Aula de Marcos Napolitano pela Contexto (2003)
>>> Amor eterno de Siri Srimad Bhaktivedanta Vana Gosvami Maharaja pela Bhaktivedanta Vana Maharaja (2016)
>>> A arte do vídeo de Arlindo Machado pela Brasilense (1988)
>>> A Imagem-tempo: Cinema II de Gilles Deleuze pela Brasiliense (1990)
COLUNAS

Terça-feira, 27/3/2012
Hugo Cabret exuma Georges Méliès
Wellington Machado
+ de 9900 Acessos

O espectador não deve ir ver A invenção de Hugo Cabret (Martin Scorsese, 2011) por causa da indicação ao Oscar. O filme tem todos os ingredientes de que a Academia gosta: uma criança encantadora como personagem principal, um cachorro enxerido, um velho mal-humorado, momentos de tensão, tiradas engraçadas e muita fantasia. Difícil não remeter ao apelo infantil de Roberto Begnini em A vida é bela (1997). Só que o guri Hugo Cabret é esperto. Órfão de um relojoeiro, aprendeu o ofício com maestria e é o responsável por acertar os relógios de uma estação de trem em Paris. Como não tem dinheiro, vive furtando croissants nas lanchonetes e surrupia quinquilharias de um velho desiludido, dono de uma loja de reparos em brinquedos.

A invenção de Hugo Cabret marca a estreia de Martins Scorsese (Touro indomável, Táxi Driver, Cabo do medo) no formato 3D, com tudo o que o diretor tem de bom e de vulnerável. Não é novidade que o diretor é um hábil roteirista. Isso foi provado no rocambolesco Depois de Horas (1985) - infelizmente pouco valorizado pela crítica e praticamente ignorado pelo público. "Hugo Cabret" não é diferente. O filme tem uma narrativa bem equilibrada, sem entraves ou excessos. Toda cena é crucial para compor o emaranhado de acontecimentos e reviravoltas.

Mas Scorsese cede ao que há de mais condenável - e evidente - no cinema hollywoodiano: o excesso de "momentos de tensão". O diretor foi (inadvertidamente, espero) tomado pelo vício do cinema americano comum e pelas artimanhas da narrativa de entretenimento. Chamo de "momentos de tensão" aquelas cenas levadas às últimas consequências, no limiar do "último segundo", no qual o personagem principal se safa por um fio. Steven Spielberg acentuou essa artimanha em seus filmes (vide a série Indiana Jones) e criou uma espécie de "molde mental" nas platéias, sobre o qual é alicerçado grande parte dos filmes de entretenimento americano. Infelizmente, Scorsese abusa dessa artimanha à Spielberg.

Mas deixemos isso de lado, pois é o que faz ganhar Oscar. O que interessa no filme, o fio narrativo, é um boneco desenhista movido a corda: um autômato que o pai de Hugo Cabret insistia em consertar. A empreitada é perseguida pelo garoto, a fim de descobrir o desenho que o boneco iria produzir. Por uma série de peripécias habilmente entrelaçadas por Scorsese, Hugo consegue reaver a última peça que faltava para mover o autômato: uma chave em forma de coração. O desenho traçado pela geringonça é uma cena do filme Viagem à lua (1902), do diretor Georges Méliès (1861-1938).

E eis que o grande público do século 21, sentado em confortáveis poltronas, nas mais modernas salas de projeção que a humanidade pôde produzir, em meio a baldes de pipoca e refrigerante, embebido pelas aventuras e fantasias de Hugo Cabret, embarca em uma viagem ao passado, mais especificamente a uma pequena sala do século 19, onde é projetado o primeiro filme da história do cinema, A chegada do trem à estação Ciotat (1895), realizado pelos irmãos Lumière. Na ocasião, as pessoas se abaixaram na sala de projeção, temendo a entrada do trem no ambiente. Apesar da incrível invenção que colocava uma série de fotografias em movimento, os próprios Lumière não punham lá muita esperança naquilo, já que as imagens "apenas" retratavam a realidade crua. O cinematógrafo, recém-inventado, teve sua morte decretada pelos próprios Lumère.

O cinema certamente não existiria hoje, com suas pipocas e poltronas confortáveis, não fosse um curioso espectador que provavelmente também se abaixou em uma daquelas sessões em 1895. O inquieto ilusionista Georges Méliès procurou saber como é que funcionava aquela maquininha que projetava imagens, e deu um novo suspiro no desânimo dos Lumière. O escalafobético Méliès começou a recortar as películas, emendá-las, sobrepô-las, e fez da realidade crua da estação Ciotat um mundo de sonhos e imaginação. Estava inventada a trucagem. Estava inventada a ficção e a fantasia. O primeiro filme colorido da história do cinema não foi feito nos anos 30, mas por Georges Méliès - colorido à mão, quadro a quadro.

Charles Chaplin, Orson Welles, Eisentein, Buñuel, Kubrick, Spielberg e Scorsese teriam de batalhar outra profissão, não fosse Georges Méliès, que levou a cabo o invento dos irmãos Lumière. Esse mágico, que perdeu o encanto com a depressão causada pela Primeira Guerra (1914-1917), viu seus projetos fracassarem, levando-o à ruína financeira. Desiludido, queimou filmes, rasgou storyboards (foi o pioneiro nessa técnica também), derrubou cenários e o estúdio de vidro que usava para captar melhor a luz.

Georges Méliès se enclausurou, abandonou a vida pública e entrou em depressão. Tornou-se um velho mal-humorado, indo ganhar a vida como reformador de brinquedos quebrados na estação em que Hugo Cabret roubava croissants e recuperava um autômato que reproduziria a imagem de uma bala de canhão atingindo o olho da lua no filme Viagem à lua.

A cena da lua, juntamente com vários outros retalhos recuperados de filmes de Méliès, emociona a plateia do século 21, que, estupefata, questiona se o mágico realmente existiu ou se foi criação da mente de Scorsese - este diretor que também faz storyboard para seus filmes e usa e abusa das trucagens (agora feitas digitalmente). Martin Scorsese, um diretor do século 21 que, após filmar clássicos como Táxi Driver e Touro indomável, não se deixa atropelar pela evolução tecnológica, desafiando preconceitos puristas. O diretor estreia no formato 3D em grande estilo, fazendo a neve tocar nossas pupilas, o cão quase morder nosso nariz, e nos conduz a um voo noturno por uma Paris cintilante. História e tecnologia se aliam, fazendo de "Hugo Cabret" uma porta que nos conduz a um só caminho: a paixão pelo cinema.


Wellington Machado
Belo Horizonte, 27/3/2012

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Memórias de um caçador, de Ivan Turguêniev de Ricardo de Mattos
02. A Auto-desajuda de Nietzsche de Andréa Trompczynski


Mais Wellington Machado
Mais Acessadas de Wellington Machado em 2012
01. Hugo Cabret exuma Georges Méliès - 27/3/2012
02. De onde vem a carne que você come? - 15/5/2012
03. Daniel Piza: uma lanterna cultural - 24/1/2012
04. Memória externalizada - 3/7/2012
05. Pina, de Wim Wenders - 24/4/2012


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Percursos Perspectivas na Formação de Professores das Séries Iniciais
M. Fátima Abdalla M. Cecília Ferreira Sérgio Leite
Oficina Universitária
(2007)



Mãdhurya Kãdambini
Srila Visvanatha Cakravarti Thakura
Do Autor



Averrois. O Aristotelismo Radical - Coleção Logos
Unknown
Moderna Paradidático
(1994)



Anton Diabelli - Sonatina Op. 168, N. 3 para Piano
Revisado por Prof. Sylvia Tavares
Musicais Guanabara
(1977)



Business Marketing Management: a Strategic View of Industrial And
Michael D. Hutt, Thomas W. Speh
Thomson
(2004)



Copyfight Pirataria e Cultura Livre 390
Adriano Belisário
Azougue Editorial



Povos de Rua
Cristina da Costa Pereira
Luziletras
(2003)



Finanças Públicas
Angelo do Nascimento Nogueira
JusPodivm
(2009)



Clara rosa vê vermelho
Paula Danziger
Rocco
(2002)



Wall Street Institute School of English- Survival 2
Wall Street
Wall Street
(2008)





busca | avançada
44843 visitas/dia
2,1 milhões/mês