Novos velhos e lagostas | Carla Ceres | Digestivo Cultural

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Quinta-feira, 13/3/2014
Novos velhos e lagostas
Carla Ceres
+ de 3600 Acessos

Outro dia, uma adolescente com filhos perguntou se eu achava justo "esses novos velhos que não querem envelhecer como antigamente". Respondi com uma evasiva qualquer e deixei que ela definisse quem eram esses novos velhos (os pais dela), como se envelhecia antigamente (ficando em casa com os netos) e como se envelhece hoje (indo viajar). A indignação em causa própria me divertiu. No fundo, porém, algo me irritava. A jovem parecia acreditar que se pode escolher e controlar, por completo, a maneira como se quer envelhecer e, pior ainda, acreditava que outras pessoas tivessem o direito de julgar essa "escolha" como justa ou injusta.

A conversa me fez lembrar que, uma vez, dentro da Disney, fui impedida de beber numa boate, porque deixei o passaporte no hotel e a moça da portaria não acreditava que eu tivesse vinte e um anos. Pra piorar, quando me perguntou "How old are you?", dei um sorriso brincalhão e respondi "Very old". Depois dessa gracinha, não houve como convencê-la dos meus trinta e seis, quase trinta e sete anos. É natural que porteiros de casas noturnas, ainda mais num parque de diversões, fiquem atentos a menores de idade querendo encher a cara. Minha aparência só complicou as coisas. Sou baixinha, estava bem magra, usava aparelho nos dentes, salto baixo e quase nada de maquiagem.

Isso já faz dez anos. Tirei o aparelho, engordei um pouco, mas continuo pertencendo ao grupo dos "novos velhos" que praticam exercícios, usam roupas descontraídas e gostam de esportes radicais. Contrariei o que era de bom-tom no tempo de meus avós, não me deixei envelhecer com dignidade após o casamento. Deixar-se envelhecer incluía não apenas ficar fora de forma e assumir os cabelos brancos, mas, também, usar roupas fechadas e cabelos presos, manter uma expressão circunspecta, gesticular menos, caminhar mais lentamente. A própria existência do ideal de "deixar-se envelhecer" mostra o quanto o visual e o comportamento das senhoras casadas de antigamente nada tinha de natural. Era tão forçado quanto o das nossas atuais pré-adolescentes que se maquiam e usam salto alto para parecer mocinhas.

A natureza não planejou que envelhecêssemos nem determinou um comportamento ideal para essa fase da vida. Se dependêssemos apenas de seus desígnios, algum predador nos mataria antes de termos rugas de expressão. Não existem leões gagás passeando pelas savanas, mas já vi alguns em bons zoológicos. Num cativeiro confortável, os animais vivem até enjoar. Nosso cativeiro se chama civilização. Ainda nem sabemos qual é o limite biológico da nossa existência. Por enquanto, em condições favoráveis, duramos pouquinho mais de um século. Alguns seres vivos, como as lagostas, só morrem se forem vítimas de acidentes, predadores ou doenças. Seus corpos não apresentam sinais de envelhecimento. Apenas continuam crescendo e procriando cada vez melhor. O metabolismo, a energia e o apetite se mantêm ao longo dos anos. Nós não chegamos a esse ponto, ainda, mas os cientistas afirmam que o primeiro ser humano a viver até os cento e cinquenta anos já deve ter nascido.

Enquanto a ciência persegue o elixir da eterna juventude, precisamos lidar com as pressões socioculturais dos vários grupos interessados em ditar o modo correto de envelhecer. O pessoal da estética, em suas propagandas, insiste que devemos desejar uma aparência jovem e que, se não a desejamos, estamos deprimidos. Os filhos nos querem em casa, como babás dos netos ou, pior, deles mesmos, mas agir assim iria contra a imagem de idoso saudável vendida pelas agências de viagens. Temos que fazer sexo sem cair na farra. A opção pela abstinência sexual prejudicaria a indústria farmacêutica. A promiscuidade colocaria em risco a herança que deveríamos deixar a nossos zelosos parentes. Querem nos obrigar a um meio termo coletivo como se existisse uma única forma de envelhecer. Pelo bem de interesses alheios, esperam que nos tornemos o consumidor padrão de nossa faixa etária.

Acontece que o desgaste físico e o amadurecimento emocional nem sempre ocorrem na idade em que supostamente deveriam ocorrer. Muitas crianças amadurecem mais cedo, por enfrentar graves problemas familiares ou de saúde. Eu fui uma dessas. Passei por péssimos bocados até ter condições de recuperar parte da saúde e levar o mundo menos a sério. Fui adulta antes do tempo, rejuvenesci depois dos trinta e agora exerço os direitos de continuar vivendo em paz e envelhecer do meu jeito. Claro que não posso controlar o processo totalmente, mas ele também está longe de ter completo controle sobre mim.

Nota do Editor
Carla Ceres mantém o blog Algo além dos Livros. http://carlaceres.blogspot.com/


Carla Ceres
Piracicaba, 13/3/2014

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Cognição Estética contra o Logos (Parte I) de Jardel Dias Cavalcanti


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